Capítulo 17 - Parte I
A tensão circulava dentro do laboratório. A pressão pessoal dada por si mesma fazia Shuri andar de um lado para o outro da sala. Visão mantinha sua concentração nos monitores para dar finalizar os ajustes da máquina. A presença dele ali fez todo o sentido, uma vez que era a pessoa mais habilitada para ajudar a cientista wakandiana.
Levou duas horas para colocar em ordem. Shuri achou uma eternidade ao imaginar o risco que os demais estavam levando enquanto Thimba ainda estava vivo. Não era difícil pensar em atrocidades que o asani poderia estar fazendo com seus parentes. Por isso, o nervosismo ganhava força nela.
Com tudo pronto, os dois seguiram para o palácio com as armas não-metálicas. Visão sobrevoou a Capital escura com um amontoado de espadas, arcos, flechas e lanças. As ruas estavam mal-iluminadas devido ao toque de recolher dado pelo novo líder. A ameaça atingia qualquer wakandiano que não estivesse autorizado a sair depois de oito horas da noite. Uma tentativa de conter possíveis rebeliões.
Shuri viu sua casa nos braços do herói vermelho, mantendo-os seguros no ar ao passo que guiava as armas até o local combinado. O vingador alertou Wanda de que as deixaria no telhado da prefeitura a uma quadra do palácio. A movimentação dos guerreiros inimigos era violenta com equipamento bélico de ponta financiado pelas atividades ilegais dos asanis. Foi por um triz que Visão e a rainha não foram pegos quando pousaram no telhado. O local era onde estava a maior concentração deles.
Por um súbito momento, Shuri rezou para Bast, pensando na segurança de seus amigos. Se a deusa iria aparecer novamente, aquele seria o momento ideal para dar as caras. Infelizmente, não era a rainha quem ditava como as coisas iriam funcionar, muito menos esperar que haja uma conexão direta entre ela e Bast - por mais prático que fosse -.
- Não consigo chamar Bucky - declarou ela, tocando no comunicador.
- Pelas últimas informações, os comunicadores do Capitão Rogers e Bucky estão desligados - comunicou Visão. - Uma forte chance deles terem sido capturados.
Thimba então detinha dos dois soldados americanos. O medo de Shuri estava estampado no rosto ao lembrar do que o asani havia dito sobre Bucky em seu último encontro. Para ele, o americano era uma peça do jogo, a qual poderia ser descartada facilmente. Manipulada conforme houvesse interesse das peças mais importantes do tabuleiro.
Apesar do jogo se vencer após a perda do rei, a rainha era indiscutivelmente a peça mais articulada. As possibilidades eram tantas que mostravam seu poder sobre as outras. Shuri não pensava divergente ao apontar a similaridade na prática. Lidar com o inimigo que recebia a ajuda de Mkango era aceitar uma partida de um trapaceiro. Thimba roubaria se fosse necessário para conseguir alcançar seus objetivos. Matar seria o de menos.
- Thimba vai usá-los como reféns - disse ela, aflita.
- Wanda, Samuel - chamou Visão no comunicador. - Vocês estão vindo?
- Chegaremos dentro de vinte minutos - respondeu a feiticeira.
O herói olhou para a rainha que o observava atentamente.
- Podemos começar uma distração antes do efetivo ataque - sugeriu ele.
Ela virou para o céu negro coberto de nuvens. As poucas luzes das casas e de prédios comerciais eram o que rendia para ter uma visão melhor da Capital. Seria naquela noite, pensou Shuri. Wakanda retomaria para as mãos de um legítimo.
- Tenho algo em mente.
Quando ela mencionou sua ideia, o vingador ficou em dúvida. Porém, naquela altura do campeonato, a melhor decisão era seguir Shuri. A posta valeria a pena. Precisava valer. Ele repetiu isso para si enquanto andava pelos corredores do palácio. A suspeita era que o pouco movimento no segundo e terceiro andar era fruto de um requerimento na sala do trono. Thimba estava segurando seus homens em ameaça verdadeira aos americanos presos.
Visão foi puxado pelo braço para entrar em um quarto grande na ala oeste. Pelas cores, ele sabia que estava no quarto de Shuri, uma versão rainha teen. Ela seguiu para o closet, separando um vestido preto longo e um salto a altura. Além das roupas, a maquiagem e o cabelo também eram acessórios importantes naquele momento.
O disfarce precisaria estar bem feito para funcionar.
- Está silencioso - constatou ele, vendo-a pintar-se. - Não é um bom sinal.
- Visão, me dê alguns minutos - tentou relaxá-lo. - Ganharemos um tempo dobrado.
Os olhos serenos dela refletiam no espelho uma Shuri inquieta que não acreditava nas próprias palavras.
- O que lhe perturba? - Ele se aproximou, tocando o ombro desnudo.
- Sei que Romanoff foi atrás do meu irmão, mas também estou preocupada com minha mãe - ela respira fundo. - Espero que esteja salva.
- É por isso que estamos aqui, Shuri - disse Visão, tranquilizando-a.
☼
Thimba tomou o queixo de Bucky com as mãos. Segurou firme para que ele não saísse. Os lábios ensanguentados eram o que menos doía em seu corpo. Ferido pela tortura manual arquitetada pelo asani, ele e Steve estavam feridos e presos enquanto escutavam o discurso insano de um líder endiabrado. Os dois não estavam sozinhos, pois M'Baku estava tão ferido quanto ao lado deles.
O capitão estava com uma facada letal no tórax que comprometia severamente sua vida. O silêncio tinha seu preço, por isso, Bucky começou a questionar a decisão em nome do amigo. Sacrificá-lo estava fora de questão. O tempo passava e ficava mais doloroso manter a boca fechada. Para o soldado invernal, aquele era um dia comum em sua vida quando estava nas mãos da Hydra, entretanto, não era assim para Steve.
Qual dor seria maior do que ver o melhor amigo sofrendo?
A raiva o consumia ainda mais, deixando o autocontrole romper a barreira da civilidade. A selvageria dentro de Bucky se libertaria de uma vez ao revelar que o soldado era um monstro. Suas preces corridas foram interrompidas quando uma bela imagem apareceu na porta da sala. Em um vestido longo preto e brilhante acompanhando por uma capa, uma Shuri entrou no cômodo com os braços levemente levantados.
Ele ficou sem entender o porquê dos asanis não a prenderem, mas a resposta veio em seguida, quando um homem encapuzado entrou em seguida. Diferente da rainha, ele se camuflou em preto com os outros guerreiros, mesmo que Bucky reconhecesse o vermelho em sua pele de qualquer lugar.
- Shuri! - gritou o líder jabari, em socorro.
O medo no rosto dos asanis era nítido, além do afogo em não conseguir se mexer. A rainha interpretava o poder ao movimento de Visão como uma sincronia ensaiada. Sua presença incomodou Thimba que largou Bucky para dar-lhe atenção.
- Ora, ora - ele abriu um sorriso irônico. - Se não é a rainha medrosa.
A respiração dela não se ateve ao desafio. Lembrou do papel que estava interpretando e rapidamente deu um sorriso elegante em resposta.
- Não são os meus olhos que indicam temor - disse ela, ao parar no meio da sala cheia de capangas pasmos.
- Quem dirá os meus - refutou ele de imediato, ainda fitando-a. - Vejo que algo está diferente em você, quase não te reconheci quando entrou.
O tom zombeteiro não fez a expressão de Shuri mudar.
- Talvez não você, mas seus leais súditos estão repensando na ideia.
A fúria tomava espaço em Thimba com a declaração, uma vez que ele conseguia ler os pensamentos de seus seguidores. A conexão não se dava da mesma forma com os americanos nem mesmo com a rainha. A especulação recaia mais uma vez em Visão e seus poderes telepáticos.
- Nem ousem! - Amedrontrou o inimigo aos seguidores, enfurecido. - Vocês me devem por isso! Eu vou tirar mostrar o que um asani abençoado por Mkango pode fazer.
Antes que ele se aproximasse de Shuri, Visão o impediu, fazendo parecer que fosse ela. O feito fez com que Thimba ficasse abismado. Seria realmente Bast no corpo da rainha? A história seria outra, pois sempre acreditou que a deusa fosse egoísta o suficiente para se importar com seus súditos. Juntar-se aos wakandianos era um sinal de que estava a dar favoritismo a uma tribo.
Anos e anos se passaram, Thimba contou com a sorte de uma criança jogada no mundo dos homens ambiciosos. Condenado por uma família que fora amaldiçoada pela deusa, ele aprendeu a não temer a morte. Aprendeu a não confiar em ninguém. Aprendeu que nenhuma vida valeria mais do que a sua.
A culpa de tudo tinha um nome, mas era sagrado demais para falar em voz alta. Atribuiu a responsabilidade para quem estava distante, quem não poderia acudí-lo quando mais precisasse. A raiva de décadas, apesar de tudo, contava com um extra até então ignorado. O temor por Bast.
- Como?! - Completou ele, em praguejo.
- Eu disse, meu caro Thimba - a voz de Shuri era diferente, mais polida. - Irá pagar pela força que transcende meu corpo. Pelos seus antepassados que erraram e por você, quem repetiu o erro ainda pior ao tirar vida de wakandianos.
Os pés do asani partiram calmamente em direção a ela, embora Visão tentasse pará-lo. Do outro lado do cômodo, Bucky lutou contra as braçadeiras de ferro reforçado que o prendiam.
- Não pode ser verdade - o asani assumiu um tom de dúvida.
Ao vê-lo mais perto, Shuri arriscou em elevar as mãos para trazê-lo de joelho aos seus pés. Thimba não esperava por isso, aterrorizado como uma criança que havia perdido os pais. A mão delicada dela tocou levemente sua face.
- A ignorância tem limites - disse ela.
O que aconteceu em seguida não estava nos planos de ninguém. O estouro vindo da multidão fez com que todos se alarmassem. A resposta não era boa em nada para os salvadores de Wakanda, pois o teatro tinha acabado.
- Líder, a aberração é quem a controla! - Gritou um asani, empurrando vingador vermelho para o campo de visão de todos. - A rainha não tem poderes - falou eufórico. - Bast não está com ela!
Thimba se levantou abruptamente, pegando-a pelos cabelos.
- Mentirosa! - Bravou ele, antes de olhar para seus e acrescentar em ódio: - Destruam todos.
Espero que tenham gostado! Deixe seu voto e comentário para ajudar no feedback, por favor. Afinal, se está lendo até aqui é porque gostou, certo? Não seja um leitor fantasma (: . Próxima segunda, lanço o próximo capítulo. Confesso que vai valer a pena a espera. Att
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