Capítulo 7
Desgosto nunca vem sozinho
Eu não sabia que direção tomar. Ir para casa, para pensar em tudo que acabou de acontecer, eu ficaria louca. Pensei em pegar o carro e ir embora para meu apartamento e esquecer toda essa história. Mas por quê? Eu não precisava fugir.
A Geise! Será que ela estava por ali. Peguei o celular, liguei.
— Geise, sou eu, você está onde?
— Aqui na loja da galeria, aconteceu alguma coisa? — perguntou ela preocupada.
— Estou indo aí, tem um tempo para conversar?
— Claro, estou te esperando.
Poucos minutos eu entrei na loja e ela arrumava umas roupas sobre o balcão. Anita, atendia uma senhora, mostrava-lhe camisas e batas. Um senhor se encontrava sentado em uma poltrona e mexia no celular.
— Oi — falei me encostando ao balcão quase a frente dela.
— Que cara de desânimo é essa? — perguntou mais baixo — Onde estava?
— Fui à missa! — respondi. — E advinha?
— Não gostou? — perguntou, olhou para a cliente que nos observava.
— Sim. Adorei. O padre é ótimo. Muito bom...
— Não!!! É ele? — perguntou com os olhos arregalados.
— O próprio! — Abaixei a cabeça no balcão, depois levantei o olhar. — Eu mereço isso?
— Não acredito. A minha intuição estava certa então — ela falou como se estivesse apenas pensando alto. — Ainda bem que já descobriu e desencana logo. Não é mesmo?
— Sei lá. Eu ainda tinha esperança de não ser o mesmo.
Ela me encarou e percebeu que eu realmente me sentia mal com a situação.
— Anita, eu vou sair para tomar um suco, quer alguma coisa? — perguntou.
— Não, pode ir, qualquer coisa eu te ligo — respondeu.
Saímos em direção à praça e paramos em uma casa de sucos e tapiocas.
— Agora fale o que está pegando? — perguntou direta.
— Não sei... Juro que não sei. Eu gostei dele. Pior, gostei muito dele. Meu Deus!! Perdoe-me — Olhei para o céu como se Ele estivesse lá. —, mas por que ele tinha que ser padre?
— Deia! Pare com isso! Você não pode estar apaixonada pelo Padre Jeremias — Olhei quase chorando para ela. — Ou pode?
— Ai Geise... Por que vim parar aqui? Devia ter dado meia volta e ido embora. — Debrucei na mesa. — Vim até aqui para pensar e resolver minha vida. Acho que acabei por complicar mais.
— Fala sério mesmo? — Segurou na minha mão ao perguntar. — ou está de brincadeira comigo?
— Pior que não estou. Quer dizer, digo a verdade.
— Lascou então!
— Lascou.
— E agora? O que vai fazer?
— O que você acha? Enviar a minha decepção no saco e ir embora. Enfrentar os meus outros problemas, que já não são pouco, esquecer homens e entrar para um convento.
— Deixa de drama muiê! Daqui a pouco você encontra um parceiro para você chamar de seu.
— Até parece que é assim senhorita bem resolvida. Cadê o seu? O gigante? — perguntei.
— Vixi! Até parece! Estou longe de resolver minha vida amorosa, mas não reclamo.
— Claro! Você tem tempo para isso. Eu, no entanto, já estou com prazo de validade vencendo, se não resolver minha vida vou ficar para titia mesmo. Já sou, na verdade!
— Quanto drama! Até parece. Você é pouco mais velha que eu e fala como uma senhora de meia idade.
— Falo sério. Veja a Ana, pouco mais velha que eu e tem três filhas.
— Não vale como comparação, casou menina quase, não tinha nem dezoito anos. Quando ela casou você foi para a faculdade.
Nosso suco chegou e ficamos quietas por um momento, depois ela falou como se descobrisse um novo continente.
— Você já pensou se ele também estiver neste dilema quanto a sua vocação?
Olhei atenta para ela sentindo uma luz no final do túnel, para em seguida ela quase apagar.
— Você acha isso, ou quer me animar? — perguntei.
— Veja bem... O Di chegou a comentar uma vez que acha o padre um pouco triste, me fez achar que talvez ele não tenha muita certeza da escolha feita.
— Sei não... Ele fala com tanta verdade, leveza... Parece ter uma sabedoria que não pertence uma pessoa comum. Não sei se acredito nisto.
— Às vezes, pode ser que ele tenha tudo isso mesmo, mas mesmo assim falta outra coisa, um amor diferente. Um amor maior.
— Geisiane, não faça isso comigo! Sei que é minha amiga, quase irmã na verdade, mas não precisa tentar ser legal assim, não preciso de ninguém para me enganar. Eu já faço isso sozinha.
— Deia! — exclamou brava — Você acha que eu faria isso com você! Falei o que eu acho. Você sabe a história dele?
— Não! Por que tem algo que eu precise saber? — perguntei já curiosa.
Neste instante, o celular dela tocou com uma mensagem de Anita.
— Vou precisar ir para loja, tem bastante gente lá agora.
— Vá, eu vou ficar aqui mais um pouco, eu pago a conta. — Ela levantou e deu-me um beijo na testa. — Mas, se lembre que vai me contar essa história.
— Pergunte para maínha, ela saberá falar melhor que eu.
— Pode apostar que vou perguntar.
Acabei de tomar meu açaí, paguei e fui para minha casa, precisava ficar sozinha e pensar. Resolvi não ir à casa da Geise procurar informação do Jeremias, ou melhor, Padre Jeremias.
Deitei na rede e acabei adormeci.
Acordei com um sobressalto. Por um momento eu nem sabia onde eu estava de novo, olhei por todos os lados para situar-me, então as lembranças caíram como uma avalanche. Percebi ser tarde pela posição do sol e eu não havia comido nada. Não era à toa que meu estômago parecia colado nas costas. Agora, pensar em fazer alguma coisa, eu não tinha vontade alguma.
Escutei um barulho vindo do portão e era a Sônia, pois ela tinha a chave e entrava a qualquer hora.
— Deia! – gritou ela — Você está em casa, fia?
— Oi, Sônia! Estou aqui fora! — respondi e me levantei.
— Sumiu dia todo, a Geise disse que você queria falar comigo, mas não apareceu lá em casa.
— É verdade Sônia, mas não era nada... Eu acabei dormindo, acordei muito cedo hoje... Na verdade faz dias que não sei o que é dormir uma noite inteira. — expliquei. Pensei será o que a Geise falou para ela.
— Então eu aposto um acarajé que não comeu nada o dia todo. — Olhou feio para mim.
— Afinal que horas são? Não comi mesmo, vou pegar uma fruta. – falei indo a cozinha.
— Fruta? Para quem não comeu ainda? Nada disto! Venha comigo, eu fiz pamonha hoje — falou já me puxando de volta. — Já passa das seis.
— Mas não quero nada doce, vou preparar uma omelete.
— E quem disse ser doce? É pamonha salgada, tem de carne seca, camarão e se sobrou, calabresa. Juntei as sobras e fui fazendo recheio.
— Hum... Neste caso eu posso mudar de ideia. Faz tempo que não como pamonha salgada. Maínha gostava de fazer para o Teco, depois que ele foi para o sul, ficamos sem.
— E como está ele? Onde mora mesmo?
— Acho que bem. Mora no interior de São Paulo, Ribeirão Preto. — Bateu saudade. — Falo que vou visitá-lo, mas ainda não fui.
— E o Tico? Ele de vez enquanto aparecia aqui, agora deu uma sumida.
— Ele está no interior, fica mais na fazenda que na cidade. Mês passado ficou comigo em Fortaleza por uma semana depois foi para Pipa.
— Tico e Teco. Esses dois aprontavam, né? — Riu. — Chegavam ser piores que todos os meus juntos.
— Verdade... E eu sofria com eles.
— Vamos?
Saímos abraçadas para casa dela.
Depois de experimentar de todas as pamonhas, eu pude perceber que precisava voltar a me alimentar nas horas certas, pois acontecia de abusar toda vez que a fome me consumia.
— Cadê a Geise? Não veio ainda?
— Aquela ali nunca tem horário certo, a loja do Futuro à noite tem mais movimento. Quero ver até quando ela vai aguentar essa vida.
— O importante é ela gostar do que faz, assim acaba se divertido ao trabalhar.
— Verdade... Sua mãe sempre foi assim. Saudade daquela danada. Quando ela volta, você sabe?
— Não! Parece que tia Norma não está boa. Eu tenho até medo... Essa doença tem levado tantas pessoas.
— Nem me fale! Eu não gosto nem de pronunciar o nome.
— Sônia... Quando o Padre Jeremias veio aqui para vila? — Fiquei me segurando, mas acabei fazendo a pergunta.
— Hum... Acho que já tem uns três anos ou mais. Foi depois que o padre Vitório ficou doente e precisou de ajuda. O bispo da diocese o nomeou pároco e o padre Vitório tornou-se aquele nome que não me lembro da vila.
— Então já tem bem tempo. Eu não o conhecia. Ele é muito legal. Conversei com ele hoje. — Olhei sem graça para ela. — Ontem ele me pegou no flagra.
— O que você fez? — Arregalou os olhos.
— Chorava na igreja — falei mais que depressa. — Eu fui conversar um pouco com Deus e derramei em lágrimas e ele veio oferecer uma palavra.
— Você se abriu com ele? Ele te deu bons conselhos?
— Não contei meus problemas, mas conversar me fez muito bem.
— Por ele ser jovem, às vezes, pensamos que não pode ajudar — Sentou com um suco de cajá na minha frente. — Sei que é besteira, mas no início não tínhamos muita confiança.
— É sempre assim mesmo com os novatos, no meu trabalho também acontece. Os novos autores precisam provar ser bons o tempo todo. Os veteranos por terem o nome já conhecido, muitas vezes conseguem uma coluna, ou uma publicação com mais facilidade e, nem sempre por uma boa obra.
— E isso é justo?
— Não é, mas o mercado editorial está cada vez mais concorrido e não podemos arriscar em um desconhecido mesmo a obra sendo muito boa. Precisaria de muito investimento para lançar um novo nome no mercado, isso porque os outros já vendem somente por ter nome conhecido.
— Entendi, ou pelo menos acho, mas mesmo assim não é justo — falou —, pois nome, sobrenome, títulos de nobreza, tudo uma grande porcaria, não diz quem a pessoa é.
— Verdade Sônia... Tenho lido tantas obras boas, mas muitas vezes temos que recusar ou não podemos fazer parceria.
Ficamos em silêncio por um tempo, então ela falou:
— Sabe que pensei... Vou chamar o Padre Vitório e o Jeremias para vir jantar aqui na segunda, você viria e conhecia melhor eles. O que acha?
— Segunda-feira? Mas segunda à noite eu já fui embora! Não pode ser amanhã?
— Final de semana é muito corrido para eles, sempre que chamamos é em dia de semana.
— E eles aceitam assim sempre? — Pensei que eu poderia fazer um convite. — Mesmo domingo?
— A comunidade se reveza nestes convites. Sempre eles vão à casa de uma família. Eu os convidei e sempre vieram. — Parou um pouco pensativa. — Por que não fica, Deia?
— Por quê? Por que não sei... Quem sabe?
"Só ele cura os de coração quebrantado e cuida das suas feridas. " Salmos 147:3
🖤🖤🖤🖤🖤
E agora o que Andrea irá fazer?
Ficar ou correr?
O mais certo é ir embora sem nem olhar para trás. Mas quem disse que a Andrea faz a coisa certa?
O que é certo na verdade?
Até mais... Um beijo a todos.
Lena
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