9. Letícia
Até que Ruth tem senso de humor. Olha só que engraçado: ela resolveu ficar doente na minha primeira semana de trabalho. Não é hilário?
Estou suando de tanto nervosismo quando chego ao amplo e claro escritório da Bernardi CMB. O escritório fica em um prédio de fachada histórica e preservada, típico da época em que Aroeiras ainda era uma cidade pacata com poucos prédios glamourosos. Este era um deles, mas hoje o glamour deu lugar a um estilo antiguinho que acho fofo. Por dentro, porém, é o mais moderno dos escritórios: elevadores de última geração ladeiam uma escadaria em espiral que sobe ao lado dos grandes janelões que proporcionam uma vista generosa do parque. No térreo, há um pequeno mercado Di Esquina, que funciona como uma loja conceito.
Os andares podem ser divididos pelos seus habitantes. A Bernardi CMB tem dois tipos de funcionários: os que saem às 17h e os que só vão embora às 21h. O primeiro andar é ocupado por equipes que não lidam diretamente com o Sr. Bernardi. São pessoas que descem a escada alegremente no fim do dia e, nas quintas-feiras, ocupam uma mesa comprida e barulhenta no bar do fim da rua.
Já o segundo andar, onde ficam os gerentes, diretores e chefes em geral - com exceção de mim e de Ruth - está cheio daquelas pessoas que passam mais tempo tentando provar que merecem um aumento do que, realmente, merecendo um.
Todos trabalham no mesmo ambiente, sem divisões. Até mesmo Matias tem uma mesa no final do salão, da qual ele deve ter uma vista de todo o andar. Mas Ruth já me contou que ele prefere ficar na sala que, inicialmente, era apenas uma sala de reuniões. Agora, funciona como o escritório particular do CEO.
Nossas próprias mesas são separadas do restante do andar por portas de vidro. Ruth me contou que elas foram instaladas durante a pandemia. Como Ruth é idosa, Matias queria que ela não saísse de casa. Mas ela não aceitou parar de trabalhar. Para oferecer uma proteção extra aos mais velhos, as divisórias de vidro foram a solução ideal.
Perguntei a Ruth se ele também acabou usando mais o escritório fechado por causa do vírus e recebi uma resposta misteriosa que só me deixou ainda mais interessada em descobrir os detalhes: "O Sr. Bernardi se torna mais reservado a cada ano que passa".
Por quê?
Qual o motivo dessa solidão?
Como me aproximar dele?
É claro que não fiz essas perguntas, mas acho que com jeitinho consigo arrancar mais informações da senhora... Só que terei que esperar já que a garganta dela está inchada demais para deixar qualquer fofoca escapulir.
A mesa vazia de Ruth me dá calafrios assim como as divisórias de vidro que tornam impossível qualquer tentativa de me esconder. Assim que me sento, um subgerente do setor alimentício me questiona sobre a presença de Matias em um evento assim que ele retornar da viagem.
Não faço a menor ideia se esse evento está nos planos do CEO ou não, e tento procurar na agenda online que estou começando a montar com Ruth, mas não há nada... Provavelmente, a informação está na agenda de papel cheia de rabiscos e post its que a senhora usa para organizar os compromissos do CEO.
Esse era o tal método diferente que ela mencionou na entrevista.
Eu deveria ter adivinhado.
E não adianta nada procurar pelo caderno aqui: Ruth leva a agenda para casa por medo de fuxiqueiros no escritório.
Bufo na minha mesa, perdida em telefonemas e pedidos de reunião com o "Sr. Bernardi" que não faço ideia se devo atender ou não.
Quero tirar uma penca de dúvidas com Ruth, mas ao mesmo tempo quero poupá-la. Na última vez que ligou pra cá, mal consegui entender uma palavra do que ela disse. Sua garganta está tão inflamada que não vou me surpreender se ela perder totalmente a voz.
Apesar da confusão, não sei exatamente como, o sol começa a se pôr atrás do lago, indicando que sobrevivi ao meu primeiro dia de trabalho sozinha.
Já são 20h de um dia caótico em que não almocei e mal me levantei para ir ao banheiro, perdida em ligações e e-mails que levo tempo demais para compreender, quando recebo uma notificação de WhatsApp.
O número desconhecido diz apenas um singelo "Oi". Salvo o número no celular como Estranho 2, já que o Estranho 1 já existiu um dia, e vejo a foto de um homem de costas encarando a vista do lago de Aroeiras ao amanhecer.
O número é de Aroeiras e o homem usa um boné, mas consigo ver alguns cabelos loiros. O porte atlético e a cor dos cabelos são suficientes para que eu reconheça Luca. Percebo que o lago parece estar a metros de distância e lembro algo que ele comentou sobre fazer trilhas com os primos.
Sair pra jantar, uma boa conversa ou apenas sexo casual seriam perfeitos para salvar esse dia infernal, mas nenhum desses estaria de acordo com meu plano.
Ignoro a mensagem.
O subgerente do setor alimentício - agora sei que ele se chama Augusto - já encontrou mais três motivos para me atormentar. Através dos vidros, vejo quando sua cabeça se vira na minha direção mais uma vez. Ele é atraente: moreno e com cabelos cacheados que caem sobre os olhos. Nossos olhares se cruzam mais uma vez e isso é o suficiente para fazer com que ele se levante e venha até a minha mesa. Estou preocupada que ele vá me dar mais trabalho, mas ele apenas sorri e me chama para um café.
Um caso com Augusto reforçaria a imagem que quero construir. Seria perfeito. Porém, uma aliança grossa e dourada reluz no seu dedo indicador. Odeio homens traidores e, apenas de me imaginar nessa situação, sinto nojo.
Declino o convite com um sorriso educado. O celular vibra novamente enquanto ele insiste. Digo que não bebo cafeína depois das 18h e ele se inclina com as mãos na mesa. Pergunta se quero ouvir um segredo. Não quero. Quero que ele suma. Mas respondo um "é claro" entusiasmado.
O segredo é que ele também não bebe cafeína depois das 18h.
Rir quando, na verdade, se quer dar as costas e ignorar é um talento difícil de se cultivar.
Tento não revirar os olhos e dou um sorrisinho provocante. Não preciso ir pra cama com ele para que o escritório inteiro me ache uma safada. Mexo numa mecha de cabelo e arrumo a postura para valorizar meu decote: - Então, por que me convidar?
- Achei que você estivesse precisando de um respiro...
Eu não preciso de nada - exceto da saúde de Ruth. Mas é bom ter um aliado.
O celular toca de novo e eu viro a tela para a mesa, aceitando o café. Escolho uma cápsula descafeinada. Perco uns 15 minutos me esforçando para parecer alguém com quem Augusto poderia transar sem muito esforço. Preciso que ele acredite que sou fácil e espalhe isso por aí.
Quando vejo meu celular vibrando de novo, o dispenso e volto pra minha mesa.
Mais uma mensagem de Luca: "Estou te ligando..."
Sinto pena do quanto preciso ser fria, ele me parece um cara bem legal, mas... Em minha defesa, eu não passei meu número pra ele. Deixei bem claro que não queria mais nada.
- Como conseguiu esse número?
- Eu tenho meus contatos.
- Quase ninguém tem esse número...
Como ele conseguiu isso?
Acho que desde que voltei para Aroeiras apenas minhas amigas, minha avó e Ruth me ligam.
- Tem algum problema em nos falarmos por whatsapp? Sei que é seu telefone pessoal, mas acho mais ágil...
- Ok, você pode falar por aqui, mas tem uma regra.
Dessa vez, a resposta demora mais um pouco e me sinto culpada.
- Regra?
Consigo imaginar um sorriso confuso no rosto de moleque.
A verdade é que Luca não é um homem que se desperdice... E, bem, posso cumprir meu objetivo até com mais eficácia se eu souber como levar essa situação sem amarras.
Preciso me aproximar de Matias Bernardi. Intimamente. Mas sei, após muitas semanas de cautelosa pesquisa, que ele tem pânico de relacionamentos e não se envolve com uma mulher de Aroeiras há mais de uma década. Ele só deixa uma mulher se aproximar quando tem certeza de que ela não tem interesse em nada sério.
É aí que o Luca entra.
Sei que ele e Matias são primos.
Sei que eles conversam.
E sei que já saíram com as mesmas mulheres - mulheres que não queriam nada sério com nenhum dos dois.
Me sinto mal de usar o Luca dessa forma, mas... A fama dele em Aroeiras é de não ser um cara muito sério. Além disso, sei que ele é um grande fofoqueiro.
Luca vai contar a Matias que dormiu com a sua nova secretária.
Ele vai contar a Matias que a nova secretária dele é fácil e descompromissada.
Se ele é o típico homem - como espero que seja - não vai usar palavras bonitas para me descrever.
Ele vai dizer que sou uma grande piranha.
E é exatamente isso que eu preciso que ele faça.
- A regra é: só sexo. Nada mais.
- Sexo?
Ele parece um papagaio. "Regra"? "Sexo"? Pelo jeito, o loiro tem dificuldade de compreensão e olha que estamos conversando com texto. Tem como ficar mais claro do que isso?
- É que não quero nada sério no momento. Uma noite sem compromisso e só.
- Vc quer uma noite sem compromisso comigo?
- Se for sem compromisso, não precisa ser uma só...
Uma nova mensagem aparece na tela.
- Acho que essa conversa está um pouco inadequada...
Ele ainda está digitando quando resolvo que vou tornar essa conversa ainda mais inadequada.
Vou dar motivos para Luca dizer o quanto posso ser piranha e ainda vou me divertir um pouco.
Já está tarde e as luzes do andar estão começando a se apagar. O subgerente ainda está presente, porém distante o bastante para não perceber quando deslizo a mão por dentro da minha saia, puxando-a para cima até que eu possa ver o começo das minhas coxas. Uso uma calcinha preta de tule transparente. Passo os dedos por cima do tule, enquanto posiciono a câmera. A foto sai sem flash, mas consigo ver minhas unhas brancas - ainda estou tentando impressionar Ruth - sobre o tule preto.
Envio a foto com a mensagem: - Inadequada o bastante pra me fazer pensar em vc.
Dessa vez, a resposta não demora: - Quero ver o que tem embaixo dessa mão...
- Então, vem ver...
- Estou longe, me mostra mais...
- Não consigo aqui... Ainda tem gente no escritório.
- Vá pra um lugar mais reservado...
Agora, a conversa está realmente me deixando excitada. Tento encontrar um pouco de privacidade no banheiro, mas as duas cabines estão ocupadas com mulheres do RH que parecem estar se arrumando para ir para o bar da esquina.
Volto pra minha mesa, sem sucesso.
- Não tem lugar reservado aqui... É tudo aberto.
- Tem uma sala ao seu lado.
- Eu não tenho a chave...
- Não tem chave 🤫
A sala do CEO não tem chave? Quase pulo da cadeira! Estou doida pra entrar lá! Percebo que, agora, o andar está praticamente vazio.
Discretamente, caminho até a mesa da Ruth, fingindo que estou vendo algo em suas anotações. Com a outra mão, giro a maçaneta silenciosamente. Com um último olhar para o salão, entro sem fazer barulho. Me vejo no escuro e ligo a luz da lanterna do celular até encontrar o interruptor.
A sala é bem simples. Tem uma mesa maior, onde devem acontecer as reuniões, já que é cercada por oito cadeiras de rodinha, e uma mesa de madeira, perto do que parece ser uma janela, mas que está fechada e coberta por uma cortina de linho. Atrás dessa mesa, tem uma poltrona de couro confortável e de aparência cara.
Não tem nada em cima da mesa, com exceção de alguns itens de escritório como uma caneta Mont Blanc e uma caixinha com cartões de Matias Bernardi, CEO da Bernardi CMB.
Nenhum porta-retrato.
Nenhum souvenir de viagem.
Embaixo da mesa, encontro um gaveteiro.
Qualquer item pessoal de Matias deve estar dentro desse gaveteiro.
Do lado da mesa tem um abajur de chão. Apago a luz e tateio até ele. A luz mais aconchegante do abajur é suficiente para jogar um brilho amarelado na sala, sem denunciar a minha presença do lado de fora.
Me sento na cadeira estofada de Matias e rodo no meu eixo. Gosto da sensação. Tiro os sapatos.
O celular vibra de novo: - Está dentro?
Estou me sentindo ousada.
Muito ousada.
Afasto a minha calcinha e deixo um dedo desaparecer entre as minhas pernas. Envio mais uma foto para ele com a mensagem: - Sim, senhor.
Ele não hesita:
- Boa menina. Vamos brincar de O Chefe Mandou?
Essa ideia me agrada: - Já estou no ambiente para isso... Só não conte pra ele. 🤫
Luca pode dizer a Matias que sou uma safada, mas se ele disser que invadi seu escritório para fazer sexo por mensagens, acho que perderei meu emprego.
Perder o emprego está dentro dos meus planos, mas só depois que eu conseguir o que eu quero.
- O Chefe Mandou vc relaxar.
Abro os primeiros botões da minha blusa e mando uma foto: - Assim?
- Um pouco mais...
- Essa porta não tem chave... E se alguém entrar?
- Pode ter certeza de que se alguém entrar vai ser demitido.
- Kkkkkk espero que não, eu estou aqui...
- Pq o Chefe Mandou vc entrar. Agora, o Chefe Mandou vc abrir a última gaveta.
- Tem chave...
- Destrancada...
Abro a gaveta e percebo que ele está certo. Ela está vazia, com exceção de uma garrafa de Chivas.
- Um tesouro! Como sabia que tinha isso aqui?
- Como assim? O Chefe sabe de tudo.
Dou risada, enquanto tento imaginar o motivo do Luca saber onde o primo esconde a garrafa de bebida no escritório, mas logo chego à conclusão óbvia quando me lembro que os dois estavam juntos na boate. Ele me contou que tinha uma relação de amizade com os primos.
- Já fez muita pré aqui? Com seus primos?
- Conhece meus primos?
- Na verdade, ainda não. Mas sei quem são, né? Eu te mostrei um pouco... Não vou ver nada?
- Calma, ainda não terminei... Você abriu a gaveta. O Chefe Mandou vc colocar uma peça de roupa aí dentro.
Eu poderia tirar a blusa, ou até mesmo a minha saia, mas meus dedos correm até o fecho do sutiã. Por dentro da blusa, eu consigo tirá-lo e jogo na gaveta.
A blusa é branca e, sem o sutiã, consigo fazer uma foto perfeita do contorno dos meus mamilos.
- Sua vez.
Ele começa a me a ligar. É uma ligação de vídeo, mas ainda escuto alguns funcionários do lado de fora da sala. Tenho medo de ser ouvida e estou sem fones. Recuso.
- O Chefe Mandou você atender.
- Tenho uma regra.
- Mais uma?
Dito as regras de como vai ser:
- Vou atender, mas no mudo. Sem áudio. Não quero que me escutem.
Ele também tem regras para acrescentar: - Tá bem. Sem áudio. E sem rosto.
- Tem medo de que eu tire um print dessa sua cara safada?
- Vai me deixar ver a sua cara safada?
- É claro que não...
Estou disposta a ir bem longe pra conseguir o que eu quero, mas não preciso ter um print com meu rosto circulando por aí. Ainda pretendo ter alguma reputação depois disso tudo.
- Me parece justo - ele responde e me liga novamente.
Dessa vez, eu atendo. O vídeo está silenciado e tudo que eu vejo é seu corpo em cima de uma cama desarrumada. Ele usa um short de moletom e me surpreendo com seu abdômen definido. Eu devia estar muito bêbada mesmo pra não lembrar que ele era gostoso assim.
Miro a minha câmera para os botões da minha blusa e abro um a um, enquanto ele se toca por baixo do short.
- Tira a blusa - ele digita.
- E se alguém entrar?
- Foda-se todo mundo.
Rio baixinho e, apesar de não ver o seu rosto, pelo jeito como sua barriga treme, percebo que ele também. Deixo a blusa cair na cadeira e abro o zíper da saia. Giro a saia para frente.
Ele se remexe na cama: - Tira.
Balanço um dedo na frente da câmera.
- Deixa eu ver você.
Balanço o dedo de novo e digito: - Não estou vendo nada... Não é justo...
Imediatamente, ele abaixa o short o suficiente para eu ver bem mais do que eu me lembrava. Agora tenho certeza de que eu estava bêbada demais para aproveitar esse homem como eu merecia.
- E agora, Chefe? - provoco.
- Se toca pra mim - ele manda. Não vejo seu rosto, mas percebo que ele se recosta em travesseiros, enquanto sua mão sobe e desce lentamente.
Eu o obedeço, mirando a câmera com precisão.
Deslizo os dedos até o meio das minhas pernas, por dentro da calcinha. Essa brincadeira mexeu comigo um pouco mais do que eu pensava. Reclino a cadeira, me aconchegando no couro, enquanto meus dedos fazem círculos no mesmo ritmo em que ele se toca. Não trocamos mais mensagens e sua mão está ocupada demais para fazer qualquer print, então relaxo.
Coloco os pés sobre a cadeira e equilibro o celular entre os meus joelhos. Sei que ele gosta do que vê, porque seu ritmo aumenta. A câmera mostra meu corpo esparramado na poltrona, meus mamilos rígidos, uma mecha de cabelo longo e preto descendo entre os meus peitos até a minha cintura.
Ele para pra digitar e imagino que vá mandar uma mensagem bem brega de homem. "Goza pra mim, gata" ou alguma porcaria assim, mas recebo mais uma ordem: - Apoia o celular no porta-cartão.
Obedeço, posicionando a câmera com cuidado para não expor meu rosto. Dobro as pernas para trás, me ajoelhando no couro macio. Apoio os cotovelos na mesa, proporcionando uma visão dos meus seios, da minha barriga e, por fim, da minha calcinha preta.
- Como eu queria estar sentado nessa cadeira...
Me apoio mais uma vez pra digitar: - Vou imaginar que é você aqui.
Faço isso.
Meus dedos me tocam enquanto eu imagino que aquele abdômen sarado na tela do celular está, na verdade, bem atrás de mim. Imagino que sento no colo dele devagar, enquanto as rodinhas da cadeira vem e vão de acordo com o nosso ritmo.
Minha imaginação pode ir bem longe.
Longe demais.
Meus joelhos falham quando um tremor toma meu corpo. Apoio os antebraços na mesa, meu cabelo escorre pelas minhas costas, pressiono meus dedos mais uma vez, arfando enquanto espasmos percorrem minhas pernas.
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