pista 8: crianças
Delaware, EUA
21 / 9/ 2023. 11:00 AM sab.
Nos degraus da delegacia espero impaciente os meninos, já entrei, fui até minha sala, voltei, não consigo me manter parada, a ansiedade toma conta de mim.
Um caminhão para na frente da delegacia, um senhor sai dele, ele é alto e seus cabelos estão bagunçados, a barba para fazer e olheiras me mostram que não liga muito para própria aparência.
Felície abre a porta da delegacia e me cumprimentar, sorrio pra ela, o barulho chama atenção do motorista do caminhão que nos encara como se visse um fantasma, Felície vai até ele e começam a conversar, percebo que ele evita me olhar .
Não consigo analisar mais pois vejo o carro de Spencer parar e a ansiedade volta de uma vez.
Spencer e mikael saem do carro , Spencer com o seu típico visual , a blusa social branca por baixo de um casaquinho de couro e a gravata "típico visual de nerd" penso.
Já Mikael parece um zumbi, ele tem um cachecol que cobre o entorno do rosto, um óculos escuro grosso, sua camiseta é de um tom claro e está toda amassada.
— Ei tá bem ? - pergunto assim que eles se aproximam
Tenho impressão de que ele me olhava irritado mas por trás daquele óculos é impossível ter certeza, não me surpreende a resaca o pegar de jeito agora .
— Ele eu entendo - diz apontando para Spencer que sorri - mas você deveria estar tão mal quanto eu !
— Um : eu não bebi tanto
dois :tomei dois analgésico antes de vocês chegarem
três : eu tô animada.
— Eu vou querer um também - Mikael diz se referindo aos analgésicos e apóia a cabeça, que deve estar explodindo por causa da resaca, no ombro de Spencer, ele por sua vez não o impede, isso sim me surpreende, ele geralmente evita qualquer contato físico .
— E ai ? O que era tão urgente assim ? - Spencer me questiona e eu lembro o por que da minha animação.
Vejo Felície assinar uns papeis e entrega-los ao caminhoneiro que devolve duas caixas a ela
— Felície! - chamo e os meninos me encaram curiosos, Mikael franze o rosto, acho que o grito o incomodou um pouco.
— Sim ?! - vejo suas bochechas corarem ao encarar Mikael, mas ela logo desvia o olhar
— São as provas do caso Angelis?
— São sim , acabaram de chegar da prefeitura .- ela diz tão baixo que me esforço para entender .
— Ótimo - pego as caixas de sua mão
— Prestem atenção ! - começo a falar e os meninos me seguem atentos, voltamos para dentro da delegacia, Felície da os ombros e faz a volta , acho que vai para a sede do lado já que não entra na homicídios com a gente . - eu tava pensando ...
— SPENCEEEEE, oi gatinho - Mia corre pra abraçar Spencer que foge dela, como Mikael ainda estava parcialmente encostado nele o menino quase caí
Ela revira os olhos e volta para sua cadeira
— Uma hora eu te pego! - ela diz e solta uma risadinha
Vejo que pensa em pegar sua revista mais um olhar meu e ela desiste e se arruma na cadeira da recepção.
— Aí a minha cabeça ! -Mikael murmura e se apóia em mim, assim seguimos pra sala.
Spencer corre e entra na minha sala, nossa agora, mas em fim, ele vai para sua mesa e eu para minha , Mikael se senta no sofá
— A voz dela é muito irritante - Mikael acaricia as temporas
— Agora imagina ser perseguido por isso! - Spencer revira os olhos e olha entre a persiana pra ter certeza que sua perseguidora não está vindo atrás dele, e eu me limito a rir
— Em fim gente! Lembram do brinde de ontem?
— Eu nem lembro de ontem ! - mikael diz e Spencer parece se incomodar um pouco
— "A um novo jeito de ver tudo isso " - spencer repete - você que fez o brinde, jura que não lembra?!
— Tá tudo bagunçado aqui dentro- ele rodeia a própria cabeça
— FOCO! Em fim, eu estava pensando - corto antes que comece a conversa paralela - não precisam ir atrás de provas nova, e sim rever as antigas , quero refazer TUDO que os outros detetives fizeram, quero um novo testemunho do garoto, novas fotos da cena do crime, outra análise atrás de digitais e fibras nas pistas, quero rever cada gravação da loja no dia que a menina sumiu e nos dias seguintes, pelo menos três dias antes e três dias depois do desaparecimento.
— Pensou tudo isso por causa de um brinde? Você é um gênio! Mas não sei se vamos achar algo novo.
— Depois de um certo tempo nisso você aprender a achar idéias nos lugares mais inusitados.
— A para, eu tenho quase o mesmo tempo de polícia que você, e não cheguei nem perto de uma revelação assim! - Spencer questiona
— Eu tenho pelo menos 6 anos a mais que você! - digo
— Não é possível ... Quantos anos você tem?
— Que pergunta!
— Você não tem 30 anos! - spencer parece confuso
Eu o olho e dou os ombros
— Jura? Pensei que tínhamos a mesma idade! - Mikael questiona
— Vocês são dois fetos!
Spencer é adiantado pelo que li na ficha dele, entrou na polícia a dois anos e pouco, já mikael ainda está fazendo o segundo ano de estágio.
Começamos a abrir as caixas e dividir as funções, lá tinha uma escova de cabelo rosa, um saquinho de provas com os cabelos que foram achados na escova, algumas roupas infantis que devem ter sido usadas pelos cães nas buscas, o dvd ( sério um dvd ? Fazia anos que eu não via um desses ) com o testemunho do menino, um saco com as contas da chupeta e a chupeta, e o resto eram documentos, paços de cada detetive que reabriu o caso .
— Vamos fazer assim, Spencer, localiza - leio o nome na fita - Noah
— A testemunha - ele confirma
— Isso, quero conversar com ele de novo, ter certeza do que ele viu, mesmo que talvez seja um tiro no escuro por que provavelmente ele não deve se lembrar, Mikael, leva os cabelos e as contas para Felície, quero uma análise detalhada, fio por fio, conta por conta, use toda a tecnologia forence que tivermos, não importa o quanto demore, depois busque o aparelho para tocar o dvd, assista-o, preciso que anote tudo que achar importante, eu vou analisar isso- digo me referindo a papelada dos outros detetives- em algum lugar alguem deixou passar algo, preciso saber o que.
Eles concordam e começam com suas funções, assim que Mikael sai da sala Spencer se vira pra mim
— Colocou ele com a Felície de propósito?
Dou uma risada
— Pobre menina, essa hora já deve ter virado um tomate, nem pensei nisso, mesmo eu achando que fariam um bom casal .
Spencer se move desconfortável na cadeira, Continuo a falar com um tom mais sério
— Mikael é um bom menino, mas querendo ou não o caso é pessoal pra ele, se houve uma negligência ou algo do gênero a família dele pode processar todo o departamento, honestamente não o culparia se fizesse, afinal olha isso ...
Passo o primeiro arquivos pras mãos de Spencer, ele lê e continuo a falar
— Faziam só 6 meses que a garota tinha desaparecido e ele queria encerrar o caso - falo me referindo ao primeiro detetive da época - eu conheço os números, pode acreditar, sei que sem um pedido de resgate em 24 horas é quase impossível achar a vítima viva ,mas sério, SEIS MESES! é muito cedo para fechar um caso .
— Detetive Zaick não ? - Spencer questiona, sei que por conta da memória fotográfica ele deve se lembrar da ordem dos detetives envolvidos nesse caso, mas algo no seu tom me fazia perceber que conhecia o tal detetive.
— Conheceu ele?
— Foi o detetive no caso dos meus pais também, mesmo antes da perícia do carro ele deu o caso encerrado como "falha mecânica " acho que ele nem sabia o que isso significava , mas não reclamei , ganhei um bom dinheiro da seguradora - ele diz sério, mesmo que tente um tom mais relaxado o assunto mexe com ele a ponto de diminuir seu tom de voz, parece culpado e distante, como se um peso invisível caísse sobre seus ombros e cada vez aumentasse um pouco, a cada palavra o vejo mais tenso e aí eu notei .
Todo esse tempo eu tive uma pequena insegurança em reabrir o caso Angelis, medo de ser egoísta, de estar fazendo pelos motivos errados, ego ou arrogância, medo de reabrir uma ferida muito profunda para a família, mais aí estava a diferença, no tom de Spencer, se um dia o caso de seus pais fosse reaberto algo me diz que ele não iria suportar, que talvez isso acabasse com ele, ele não se importava com o verdadeiro motivo do acidente, ele só queria esquecer, diferente da família Albuerre .
— Ele era um péssimo detetive, um bêbado e corrupto , foi preso por roubar o armário de provas uns anos antes de você chegar .
— Que estranho você já estava trabalhando aqui ?
— Não, foi a 3 anos 7 meses
Rio, as vezes ele é tão inteligente pra umas coisas mais no geral tem muita dificuldade de entender o tom ou perguntas subentendidas .
— Eu quis dizer se algo que o fez ser preso teve haver com o caso Angelis
— Ah , não , foi muito tempo depois, ele roubou dinheiro, devia estar devendo pra algum agiota .
Ficamos em silêncio um tempo mas logo Spencer me chama
— Aly? Acha que o que descobrimos pode machucar o Mike? Tipo ... Ele é sempre tão sorridente e feliz, odiaria ver aquele sorriso sumir.
Me viro pra ele e concordo, ele estava pensando o mesmo que eu, como será que isso tudo afetaria a família de Mikael , e principalmente como afetaria o próprio Mikael, tínhamos medo dele desistir , disso ser de mais para ele, mais para Spencer parecia pior, ele tinha um cuidado especial, queria preservar aquele sorriso mais que qualquer um .
— Eu não sou feito de vidro - ouvimos Mikael , não sei a quanto tempo ele estava na porta da sala . - não vou quebrar, estou nessa tanto quanto vocês, eu sei que não vamos achar ela viva, provavelmente morreu ainda quando criança, pensei muito nisso , e estou pronto, só quero que isso acabe logo e pode deixar meu sorriso não vai sumir tão fácil ! - ele sorri, um sorriso aberto e contente que esconde toda a dor de suas palavras
Ninguém nunca está pronto pra uma morte na família, mesmo que esteja se preparando a anos .
Sei que ele vai reagir de alguma maneira quando acharmos o corpo ou o culpado, só não sei, como .
Nós sorrimos também , cada um escondendo suas próprias inseguranças e medos por traz de uma máscara feliz e determinada mais a verdade é que ninguém sabe o que esse caso pode vir a desenterrar .
A partir daí começamos a discutir qualquer trivialidade, qualquer coisa que nos distraísse, vez ou outra tocando dados sobre o caso, até que uma hora o caso era só o que falávamos, tentando juntar as peças de um quebra cabeças incompleto.
Logo o toca dvd chegou, sei que tinha pedido pra Mikael analisa o dvd, e depois de seu discurso eu sabia que ele conseguiria fazer isso, mas a verdade é que estavamos todos curiosos
O dvd fez um barulho e logo começou o vídeo de um lado a criança e do outro um homem de mais ou menos uns 40 anos recostado na cadeira, olhos profundos cabelo mal arrumado, uma blusa de palmeira em um tom de laranja brilhante suja e desgastada aberta até a metade da grande e redonda barriga, parecia que estava no final de um churrasco e não em um local de trabalho
A sua frente estava o garotinho, ele era tão pequeno, Algo em mim ficou mexido, meu coração se apertou ao ver as pequenas lágrimas se formarem ao lado de seus olhos e escorrerem pelas bochechas gordinhas, ele mal tinha altura pra alcançar a mesa do interrogatório, parecia tão frágil.
— Ele não divia ter um advogado com ele ? - mikael tenta susura como se estivesse vendo um filme no cinema
— Isso é o de menos - Spencer se levanta de sua mesa e senta no sofá ao lado de Mikael - ele é de menor , onde está o responsável por ele? Cadê os pais desse garoto ?
— Isso é uma violação - meu coração se apertava ao ver a pequena criança chorar - ele tá apavorado, claro que não ia dar nada útil, e mesmo se desse, não poderíamos usar em um tribunal, esse é o depoimento mais irregular que eu já vi
A criança mal conseguia pronunciar as palavras e o maldito detetive o tratava como se ele fosse o culpado, era perceptível a falta de interesse no caso, suas perguntas eram genéricas e as respostas da criança eram rápidas como se buscasse se livrar de um castigo
— Eu "num" sei tava dento do mercado - o pequeno diz e eu só queria apertar aquelas bochechas
— Então você não conhecia ele ? - o detetive questiona .
— Tio, eu tô "atlasado" pra "icola".
— Cê tem quantos anos pivete ? - ele questiona a criança
O pequeno faz um 4 e depois corrige rápido pra um 5, abrindo a mãozinha gordinha na frente do rosto
— E como você sabe que tá atrasado ?
— Quando o relógio tá no " marelo"- ele mostra o relógio preso no pulso , a tela de vidro é toda colorida pintada de diversas cores - tia Celeste leva eu pra " icola", junto com a "angi" e já tá no rosa .
— Você tem que aprender a falar - o delegado murmura e olha pra câmera atrás dele - você não vai me dar nada de útil né?
— eu naum sei, ela tava lá, aí bum - ele faz o "bum" com as mãos como se algo explodisse - sumiu, tia tava comigo, a gente Naum achou ela .
— Perda de tempo, você não viu nada.
— Tio, eu ajudei a achar a "angi" ? Tô com saudadi dela .
— SOME DAQUI! - o detetive grita sem amor nenhum e meu coração se quebra ao ver as lágrimas da criança.
O grito chega a me assustar, tudo que eu queria era defender ele , mostrar pra aquele idiota como era legal ficar apavorado .
A criança para antes de sair da sala parecendo juntar toda sua coragem e vira pro bêbado que eu me nego a acreditar que tem a mesma profissão que a minha .
— Vai deixa o papai ir com o Noah ?
— Acredita em mim , você estaria bem melhor sem aquele drogado - Zaick gospe as palavras e a criança franze o rosto
Ele anda ate a câmera e a desliga , olho para os meninos me lembrando de onde estava
— isso conta mesmo como testemunho ?
— Nem de perto - Spencer diz - vem me ajuda, precisamos achar esse menino.
Vejo os dois irem para a mesa de spencer, e eu tento organizar as ideias, preciso pensar bem em tudo isso, esse menino provavelmente nem vai querer falar com a gente depois de ser tratado assim, preciso de um jeito de convencê-lo.
Preciso clarear as ideias, me levanto e vou em direção a porta.
— Vou dar uma volta, querem alguma coisa ?
Spencer se vira pra mikael e diz
— Quero café, com creme .
— Chato! - Mikael empurrar ele e volta a digitar
— Relaxa, não precisa trazer nada não - Spencer diz pra mim
Sorrio e reviro os olhos, vou andando pela delegacia, vejo dois dos três babacas discutirem sobre atender ou não uma reclamação de barulho, o outro e Nolan tinham saído de manhã na patrulha.
Saio da delegacia com calma e lembro do relógio do menino, achei genial pintar as horas pra ele não se perder, alguém gostava muito dele, me surpreende ele estar sozinho naquela sala.
Escuto o telefone tocar
— Alô ? - atendi sem ver o nome da pessoa mais logo reconheço a voz
— oi meu anjo ...
— Pai, oi - continuo - como o senhor está?
— Com saudades da minha pequena, sua última visita foi meio curta
— É ... Também estou com saudades do senhor
— Vem almoçar aqui ! Faço o que você quiser , s se quiser convidar alguém ... Alguém que queira me apresentar ...
— PAI! - sorrio pela sua insistência nesse assunto - o senhor não desiste
— Eu quero NETOS! - mesmo tentando manter a voz séria o escuto rir
— Um dia, por enquanto não!
— Se continuar assim eu nunca vou conhecer eles!
— Exagerado!
— Demorada!
Rimos um pouco e logo eu me recupero
— Eu passo aí amanhã pra jantar, pode ser?
— Combinado!
Me despedi dele e sorri, olhei pro sol brilhante a cima da minha cabeça, vim andando sem rumo e agora mal sei onde estou, ouso vozes, gritos finos, me viro pra traz e um sino alto e estridente toca, estou parada na frente de uma creche, reconheci ela do dia que fomos para o bar\restaurante .
— Crianças - sorrio de lado, minha cabeça dói um pouco e uma sensação boa me invade, como se o lugar fosse famíliar.
Eu nem ia postar hoje mais estou animada, essa obra ganhou em segundo lugar o concurso diamante azul 💙
Quando eu escrevi e postei o primeiro cap e não esperava nada disso, nem esse tanto de leituras e comentários muito menos um prêmio
Só tenho que agradecer a todos que estão acompanhando essa história, obrigadinho ❤️
- Sunny
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