Era tarde da noite.

Estávamos espremidos no banheiro minúsculo de meu apartamento, Jungkook sentado no assento, contornando figuras imaginárias nos azulejos azuis bonitos e falando-me sobre seu dia, sobre como o voo havia sido exaustivo e sobre a senhora boazinha da cadeira ao lado que havia lhe oferecido um cobertor para que ele usasse como apoio para o pescoço, enquanto eu tomava banho, rindo de suas caras e bocas. Aquele espaço era totalmente diferente do conforto dos hotéis caros que ele estava acostumado, não parecia em nada com seu dormitório luxuoso e bonito, mas ainda sim, era como se ele fizesse parte do lugar, como se tivesse sido feito em tamanho e proporção para se encaixar ali: entre os papéis de parede floridos e azulejos portugueses cafonas do meu pequeno banheiro.

— Posso lavar seus cabelos, Noona? — Ele perguntou, como se eu fosse capaz de dizer não para ele, ou como se aquele pedido não estivesse entre os tantos que eu jamais negaria. 

Deslizo a porta do box, e ele entra de pés descalços, fazendo graça até mesmo quando coloca o shampoo na palma da mão e o espalha entre meus cabelos, sussurrando bobagens sobre cabelos sedosos como aqueles apresentadores bobos da TV. Fechos os olhos, seus dedos deslizam delicadamente pelos fios, descem em meu pescoço, sobem pela nuca, adentram, massageiam, quase um ritual que ele faz questão de seguir à risca. Fico imaginando o que se passa na cabeça das garotas lá fora, quando imaginam que tipo de homem ele é, quando questionam o que ele é capaz de fazer: se aperta forte os quadris alheios quando fode, se é capaz de fazê-las delirar, perder o juízo, dar alguns minutos no Céu. Será que seria decepcionante para elas saber que ele está longe de ser esse homem? Sorrio ao pensar nisso. 

A água leva os resquícios de shampoo junto com a ajuda de suas mãos habilidosas e depois, deslizando a toalha para secar os fios úmidos. Seu nariz suavemente desliza por meu pescoço, sua boca por meus ombros, costas, toda a extensão de pele que ele é capaz de alcançar, marcando-a, contornando com seus lábios quentes, causando arrepios, um frenesi.

— Eu gosto do seu cheiro...— Contorno meus braços em seu corpo grande, marcando um beijo em seu peito. Ele é como o verão até mesmo nos dias frios, seu sangue ferve nas veias, queima, como amor quando entra em combustão, como estrelas e Supernovas que nascem e morrem todos os dias, quente, como só ele é.

[...] 

Calçada em suas meias de baseball surradas e vestida em sua camisa branca, estou sentada na varanda, ao seu lado, ouvindo-o tocar uma melodia inédita, a voz bonita ecoando pela casa e sussurro para ele que aquela letra deveria ser sobre mim. Ele ri, tão perto dos meus olhos que posso observar cada detalhe seu, a pequena falha no dente frontal, a cicatriz delicada riscando o rosto, as pintas bonitas que adornam sua pele dourada e até mesmo mesmo uma barba rala que surge aqui e ali em seu queixo, como ele pode ser tão bonito? Seus olhos brilhantes se fecham no mesmo instante que aproximo meus lábios dos seus, beijando-lhe com tudo que meu coração sente, cada fagulha daquela sensação sufocante de que ele pode escapar por entre os dedos como em um sonho, e eu quero que ele me permita ficar. Sua língua tem gosto de balas para tosse, daquelas azuis ardidas e refrescantes, e quero beijá-lo inteiro, tocá-lo inteiro, sussurrar preces aos braços, mãos, boca e olhos, contornar suas curvas e adorá-las, pertencê-lo naquelas horas e em tantas outras que me forem agraciadas, porque o que sentia era amor, e precisava deixá-lo saber que cada gota, cada pedaço ínfimo e reduzido à pó daquele sentimento era só dele, feito do seu nome, sua cadência e melodia. Quando os zeros do seu relógio se alinham, danço ao som de sua música, ao som de sua voz, de olhos fechados, madrugada à dentro, como se nada naquele mundo pudesse me atingir, é engraçado como o amor pode te fazer invencível, intrépido, sagaz, e naquela noite nós também fomos tudo isso.