Psicose
O fim de semana chegou mais rápido do que eu esperava. Já era manhã de sábado e eu nem tinha escolhido uma roupa para meu encontro com Fábio. A vida de uma mulher é deliciosamente difícil!
"Sem desespero, Luana, aja com naturalidade."
O dia estava claro, céu limpo. A brisa de outono soprava leve e preguiçosa, fazendo as folhas amareladas se balançarem suavemente nos galhos das árvores. O outono aqui é mágico!
O dia de beleza foi uma comédia. Mamãe adora quando pintamos as unhas, e cuidamos do cabelo, uma da outra. E é claro que nesse dia cozinhar está fora de questão. Ela ligou e pediu comida. Quando a campainha tocou estávamos com o cabelo cheio de creme, e máscara de pepino no rosto. O entregador quase teve um ataque, se controlando para não rir na nossa cara!
O dia passou voando, mas valeu a pena! Estávamos belas, hidratadas, e perfumadas! Eu resolvi apelar para o bom e velho pretinho básico, com sandálias de salto. Mamãe resolveu me copiar - mas ela ia pra outro lugar com as amigas, então não seríamos um par de jarras caminhando pela cidade.
Fábio chegou bem na hora, e logo na chegada me entregou uma caixinha prateada.
- Achei a sua cara, então resolvi comprar. - Disse, ao me entregar o embrulho delicado. - Espero não soar desesperado!
Sorrindo, eu abri a caixinha. Era um cordão, com um pingente de flor, ambos prateados. Eu amei, era realmente lindo!
- Obrigada! É lindo! Me ajuda a colocar? - Perguntei, entregando a ele o cordão.
Ele puxou suavemente meu cabelo, passou o cordão pelo meu pescoço, e prendeu o fecho. Foi um daqueles momentos singelos que vemos em filmes, mas que está fora de moda hoje em dia. Foi um belo começo!
- Aonde você vai me levar? - Perguntei, curiosa.
- É surpresa! - Abrindo a porta do carro pra mim, ele sorriu.
Um presente romântico, um gesto cavalheiresco, agora só falta me levar para a floresta encantada e me apresentar à Branca de Neve!
Notei que estávamos subindo a serra, quase saindo da cidade. Já estava ficando ansiosa quando avistei um restaurante não muito distante de onde estávamos. E como suspeitei, fomos para lá.
O restaurante tinha uma área externa linda, um terraço aberto, com vista para a cidade. Foi fantástico ver a cidade lá de cima, sob a luz alaranjada do fimde tarde, e as lâmpadas como milhares de vagalumes iluminando a noite. Se aquilo não era coisa de conto de fadas, não sei mais o que era então!
Nós conversamos sobre tudo. Era tão fácil falar com ele! Não tinha muros erguidos. Era uma pessoa acessível, de coração aberto. E o meu coração estava amando aquela magia.
- Sabe, Luana, eu estava ansioso pra te ver; e essa noite está sendo tão melhor do que eu pensei... - Ele hesitou um pouco nesse momento. - Não quero apressar as coisas, mas não posso deixar você escapar! - Aquele sorriso de menino fez meu coração dar um salto no peito. - Eu quero que hoje signifique algo importante para você, como está significando para mim!
E então ele ficou me olhando, querendo uma resposta. E eu fiquei olhando para ele, querendo dar essa resposta. Eduardo não saía da minha cabeça, mas ele não me queria - pelo menos é o que eu acho!
- Pode acreditar - Comecei a dizer, sem saber como ia terminar. - significa muito para mim também. Essa noite está sendo mágica, e eu estou me sentindo uma princesa.
- Mas... - Previu ele, resignado.
Naquele momento eu vi que não tinha porque acabar com uma chance de um relacionamento normal. Ele não estava me pedindo em casamento, nem mesmo em namoro!
- Mas nada! - Terminei, confiante. - Eu também quero que isso signifique algo. Com calma podemos descobrir.
Seu rosto se iluminou. Ele pegou minha mão, e beijou suavemente, como um príncipe faria! Mal podia esperar para contar da minha noite para a Cacau!
A volta foi maravilhosa como toda a noite. Estávamos a vontade um com o outro, não mais naquela tensão do primeiro encontro. Foi um elo formado pela natureza de nossas almas leves; como uma amizade profunda e doce. É a decisão certa!
Enquanto passávamos pelo centro da cidade, vi minha mãe, se despedindo de suas amigas na saída de um restaurante, e resolvi voltar caminhando com ela para casa. A noite estava tão bonita, valia a pena andar um pouco. Fábio pareceu não se importar. Na despedida ele disse mais uma vez como a noite tinha sido especial; se aproximou lentamente, e me beijou. Um beijo suave, cheio de carinho. Um beijo de príncipe!
Saí do carro, atravessei a rua, e alcancei minha mãe, que já estava andando.
- Ué, veio a pé? Cadê a carruagem do seu príncipe? - Perguntou ela, olhando para os lados.
- Eu estava no carro dele sim - Respondo, revirando os olhos. - mas te vi, e quis caminhar com você. A noite tá tão bonita!
- Hum... ok. - Disse ela, desconfiada. - Então, vamos, me conta tudo!
Saímos andando de braços dados. E enquanto eu contava sobre o cordão, o restaurante, a vista linda, eu o vi. Ele estava sorrindo como eu nunca vi; estava saindo do cinema com um homem - que imagino ser o seu pai. Ele tem covinhas, e os olhos ficam pequenininhos quando ele sorri. Parece outro Eduardo. Ele...
- Filha.. Você tá me ouvindo? - Mamãe me arrancada dos meus pensamentos sobre o sorriso do Eduardo. - Luana, essa noite parece ter sido maravilhosa, e esse garoto parece perfeito. Não faz sentido você ter preferido voltar para casa andando comigo.
- Mas a noite tá linda...
- Eu sei disso, filha. Mas você poderia estar admirando a beleza da noite com ele. - Minha mãe é muito esperta! Não dá pra esconder nada dela. - O que está te confundindo?
- Ai mãe, eu estava no encontro perfeito, com o cara perfeito. Mas eu queria mesmo era ter assistido Psicose.
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