Foi difícil, mas a vida foi voltando ao normal. Fábio não deu mais notícias, Eduardo e eu nos tornamos invisíveis um para o outro - na medida do possível - e eu estava conseguindo admirar a beleza das flores de novo. Não vou mentir, eu ainda penso nele, mas não tenho mais esperanças de que ele goste de mim. Cacau me liga todos os dias pra saber como eu estou.

A vida segue, mas eu me sinto cada vez mais sozinha!

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O fim das aulas chegou, trazendo um verão quente e sem chuva - o que eu estava odiando! O primeiro ano não foi como eu esperava, mas pelo menos minhas notas foram boas! E, com as férias chegando, Cacau e eu planejávamos como gastaríamos nosso tempo. Eu estava ansiosa para sair da cidade e respirar ar diferente. Não quero parecer dramática, mas ficar encontrando Eduardo depois de ter levado um fora daqueles não era nada legal.

Mas.. chega de chorumela! Tá chegando a hora de preparar passeios, e curtir a vida!

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Laurinha veio falar comigo, durante uma das últimas aulas, sobre uma festinha de fim de ano, e o tão famoso amigo oculto. Não nos falávamos há tempos. Não discutimos, nem nada, apenas nos distanciamos, pouco a pouco, depois do meu rompimento com Fábio. Eu só não fazia mais parte do grupo. Disse a ela que participaria. Seria legal terminar esse ano letivo muito louco com uma festa!

Depois do intervalo ela voltou com os papeizinhos do amigo oculto. Meu amigo oculto era o Bernardo, um nerd descolado louco por acessórios tecnológicos; não seria difícil escolher um presente. Agora era só comprar uma roupinha nova e pronto!

O legal do amigo oculto é a ansiedade pelo presente que vamos ganhar, e ao mesmo tempo, o medo de que presente será esse!

A verdade é que esse será um dos poucos momentos de confraternização do qual farei parte. Logo que cheguei conheci Fábio, e passávamos muito tempo juntos. Foi um ano um pouco chato, na verdade. Acho que preciso fazer mais amigos, me envolver mais, então vou começar pela festinha!

Quando cheguei em casa liguei pra Cacau pra contar da festinha, e pra ela me dizer o que vestir.

"Pra começar, Luana, corte esse cabelo, e faça de novo a franja; você tá parecendo a mulher das cavernas, nem dá pra ver direito seu rosto de tanto cabelo!"

Essa foi a abordagem delicada que ela escolheu para me ajudar, ou me traumatizar, ainda não entendi. Mas ela estava certa, meu cabelo está mesmo enorme. Parece que o mundo parou depois do fora que Eduardo me deu. Como uma boa menina, marquei horário no salão, aproveitando para fazer as unhas também. Não sei porque, mas quero estar bem nessa festa.

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Os dias passaram rápido. Como esperava, todos os meus resultados foram positivos, então eu poderia curtir minhas férias sem preocupações.

A festinha seria no sábado e eu ainda não tinha um vestido, então teria que recorrer ao guarda roupa de festa da mamãe. Ela não usa nada de lá há séculos, então acho que não tem problema fazer uma busca!

Bom.. a festa não é nenhum baile de formatura, então um pretinho básico e uma sandália baixa resolvem o problema. Misturando uns acessórios, vai ficar legal!

Estou super curiosa para saber quem me tirou.

Estou pronta. Cabelo devidamente cortado, unhas feitas, olhos delineados e um gloss rosa claro, vestido preto rodado, e uma sandália dourada baixa. Será que exagerei? A ideia me deixa nervosa. Melhor ir logo antes que eu desista da roupa e vá de jeans e camiseta.

Chegando na festa, que foi marcada na escola mesmo, agradeço à Deus por estar vestida como todos; nem mais, nem menos. A decoração estava bem legal, umas luzes penduradas, mesas enfeitadas com flores... eles sabem mesmo fazer uma festa! Logo que cheguei Laurinha veio ao meu encontro.

  - Oi, Luana, que bom que veio. Você está linda!

  - Obrigada! - respondi. - Você também está! - e era verdade. Ela estava com um vestido saltinho, florido, que lhe caiu muito bem.

  - Bom, agora só falta o zangado chegar para podermos começar o amigo oculto. - quando ela disse "zangado" meu coração parou - Nós preferimos fazer a entrega dos presentes no começo da festa, pra poder ficar livre depois!

  - Ótima ideia! - respondi automaticamente. Não achei que Eduardo fosse. Ele não é sociável. Não fazia sentido. - Tem ponche?

  - Tem sim. Mas é totalmente sem graça. Se quiser algo digamos... mais forte, posso te ensinar o caminho das pedras. - Laura sorri e dá uma piscadinha.

  - Por enquanto não. Talvez mais tarde. - respondo a picadinha.

  - Ok. Se mudar de ideia é só me procurar. - responde, já indo embora.

Quem diria. Laurinha parecia tão certinha! Caminho até a mesa do poche e pego um copo, e vejo que o ponche é mesmo sem graça. Muito sem graça. Mas continuo bebendo, e quase engasgo quando vejo Eduardo chegar todo arrumadinho, e de braço dado com uma garota. Uma garota? Não acredito no que vejo. Acho que vou precisar de algo mais forte pra sobreviver a essa festa. Preciso encontrar Laurinha já!

Justo quando mais preciso encontrar Laura, ela desaparece. A imagem dele entrando de terno preto, gravata vinho, e aquele cabelo lindamente despenteado, de braços dados com aquela loura desmilinguida que eu nunca vi mais magra, não saía da minha cabeça. Eu precisava do tal algo mais forte.

Depois de muito procurar, finalmente encontrei Laurinha com uma turminha, num dos corredores da escola.

  - Laurinha! - chamei.

  - Olha quem já mudou de ideia. - disse ela sorrindo. - Sabe se o zangado já chegou? Quero fazer logo a troca dos presentes pra gente poder começar de verdade a festa.

  - Já chegou sim. Acabou de chegar, na verdade. - respondo olhando pro copo que ela tem na mão. - O que é isso que você está bebendo?

  - É ponche. Quer? - diz, me oferecendo o copo.

  - Não, obrigada. Eu tô tentando terminar o meu há um tempão. - mostro meu copo pela metade pra ela - Bem que você disse que era sem graça.

  - Me dá seu copo aqui que eu vou melhorar esse ponche pra você. - diz ela, já pegando o copo da minha mão - Bê, Luana quer um ponche incrementado! - então Bernardo aparece com uma garrafa sem rótulo e despeja o líquido transparente no meu copo. - Prontinho, Luana. Divirta-se.

  - O que é isso que ele colocou no meu copo? - pergunto, cheirando o ponche.

  - Uma coisinha mais forte. Você vai gostar. - diz Laurinha, sussurrando - Se quiser mais depois é só procurar o Bernardo. Agora vamos lá fazer logo esse amigo oculto!

Chegamos ao salão onde todos estão conversando, ou dançando. Corro os olhos à procura de Eduardo, e o encontro encostado na parede com cara de velório, enquanto a desmilinguida fala sem parar no ouvido dele. Involuntariamente viro todo o conteúdo do meu copo de uma só vez na boca. O líquido desce queimando minha garganta e deixando o gosto doce do poche no final. A sensação é gostosa, e alivia a tensão causada por aquela lagartixa loira dependurada no ombro do Eduardo.

De repente Laurinha pega o microfone e pede que desliguem a música um pouco para a troca dos presentes. Pede que todos se reúnam para que não haja necessidade de usar o microfone, e eu agradeço internamente.

E então ela mesma começa. E assim, os amigos começam a ser revelados. A cada discurso feito, cada presente entregue, aquela lagartixa loira cochica algo no ouvido de Eduardo. Aquilo estava me deixando muito irritada, e o fato de estar com ciúme me deixava cada vez mais irritada. Precisava de mais ponche batizado. Eu estava virando o segundo copo quando ouvi "o meu amigo oculto é o Eduardo". Nem ouvi o discurso, só o nome dele. E aí ele foi receber o presente sorrindo. Eduardo sorrindo? Será que eu já esrou bêbada e não percebi? E aí era a vez dele dizer quem tinha tirado.

  - Bom, vocês sabem que eu não sou muito sociável, mas, essa pessoa merece um discurso, pois, por causa dela eu tirei minha única nota dez do ano todo. - disse ele, sorrindo aquele sorriso lindo que eu adoro - Ela é nova na cidade, adora chuva e fazer trilha. Alguém adivinhou? - houve um silêncio então ele continuou - Minha amiga oculta é você, Luana!