Difícil de entender
-Como assim, Ana? Vocês se falaram? Me conta isso direito! - Cacau sempre afoita por uma boa fofoca!
-É, mais ou menos. Eu fui atropelada por uma bicicleta, e ele me ajudou!
- Bicicleta? Que coisa brega! - Disse ela, caindo na gargalhada.
- Isso mesmo, tripudia! Dança em cima dos meus ossos! - Dramatizei!
Contei toda a história para ela.
- Esse cara é estranho! Mas, se te conheço bem, agora mesmo é que tá caidinha por ele! - Cacau me conhece bem!
Não é como se eu estivesse apaixonada, mas ele despertava uma curiosidade em mim. Esse jeito zangado era fachada. Eu sabia que, no fundo, ele era um cara legal!
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No dia seguinte, na escola, foi como se nada tivesse acontecido; ele entrou mudo e saiu calado, como sempre. Aquela sensação era muito frustrante.
Laurinha me chamou para sair com ela e sua turma no fim de semana. Como eu só saía sozinha - e na chuva - desde que tinha chegado ali, resolvi aceitar.
Coloquei um vestidinho leve, estampado, com uma jaquetinha curta bege, e sandálias sem salto. Minha mãe apareceu, e ficou me olhando com cara de orgulho, tipo: ela fez amiguinhos! O toque de recolher era as 23hs. Como ainda era cedo, teríamos bastante tempo.
Nos encontramos na entrada do pequeno cinema da cidade. Assistimos um filme de comédia romântica, que eu nunca lembro o nome, e fomos comer uma pizza no restaurante onde Eduardo trabalha.
Nós éramos seis. Quatro meninas e dois rapazes. Eles eram bem bonitos, e nenhum era da nossa escola. Eles frequentavam a escola militar da região, ou coisa do tipo, e eram bem inteligentes.
Quando chegamos no restaurante, um deles - Fábio - sentou do meu lado. Ele era alto e forte, mas sem exageros; tinha olhos e cabelos pretos, e um belo sorriso contrastando com sua pele dourada. Era fácil conversar com ele.
Quando Eduardo veio à nossa mesa, ele olhou para mim, e para Fábio, que estava bem próximo à mim. Nos serviu bem, mas muito sério. Fábio não pareceu notar, ou não se importou.
Nós conversamos, rimos, comemos. A noite passou num piscar de olhos. Infelizmente já estava quase na minha hora de ir embora. Nos despedimos, e Fábio me deu seu número de telefone e me pediu que ligasse, ou que ao menos mandasse um torpedo para ele ter meu número. Carinhosamente me abraçou, e foi embora sorrindo. Eu também fui embora sorrindo. Era bom sair com gente legal!
Quando contei pra Cacau, ela teve uma breve e comovente crise de ciúmes, mas ficou feliz por eu estar me divertindo, e conhecendo garotos normais! E era verdade, eu também estava feliz com isso; apesar de não conseguir tirar Eduardo da minha cabeça.
Segunda feira. Cá estou eu atrasada, correndo pela rua, para não perder a primeira aula. Quando finalmente chego, abro a porta, esbaforida, e todo mundo olha para mim - inclusive a professora.
- Pronto, agora ficou certinho! - Disse ela, me entregando uma folha.
- Desculpe, professora, mas o que está certinho agora? - Indaguei.
- A conta, srta. Agora podemos fazer o trabalho em dupla. Sente-se ao lado do sr Eduardo, ele vai te explicar tudo.
Eduardo? Como assim? Desnorteada, me sentei ao lado dele, que nem tentou disfarçar o descontentamento por ser obrigado a fazer dupla comigo.
- Sobre o que é o trabalho? - Perguntei.
- Tá tudo escrito na folha que ela te deu. - Respondeu ele, entre os dentes. - É só ler.
Eu fiz o que ele recomendou educadamente. O trabalho era longo. Teríamos que nos reunir fora da escola para fazer. Quando a aula terminou eu fui atrás dele a fim de marcar um dia para fazermos a pesquisa, mas ele desapareceu no ar, e não voltou o resto da aula.
No dia seguinte, antes que a aula começasse eu o cerquei no corredor.
- Bom dia. Precisamos marcar um dia para fazer o trabalho. - Disse tudo de uma vez antes que ele fugisse.
- Tanto faz. - Respondeu ele. - Tô pouco me lixando pra esse trabalho.
- O problema é o trabalho, ou sou eu? - Perguntei irritada.
- Você? Por que você seria um problema? - Disse ele, com indiferença. - Só não tô a fim de fazer, e pronto.
- Olha, eu posso pedir para a professora me trocar de dupla, ou me deixar fazer o trabalho sozinha, já que eu te incomodo tanto. Não se preocupe com isso. - Falei quase aos berros, e saí andando.
- Ei! Luana, espera! - Veio ele correndo atrás de mim. - Pode ser hoje, depois da aula. Me encontra na biblioteca, ok? - Disse, e saiu andando, quase correndo na verdade.
- Ok! - Disse a mim mesma.
No fim da aula lá estava eu, na biblioteca, esperando. Odeio esperar.
Para não ficar parecendo uma idiota, sentada sozinha, peguei os livros que precisaríamos para a pesquisa e resolvi começar sozinha. De repente a fome apertou, e eu percebi que estava lendo há quase duas horas. Me levantei furiosa, e fui embora.
No dia seguinte, nada dele na aula. Já era quarta feira, e o trabalho era para a próxima segunda. Não acredito que ele não apareceu na aula, só podia ser brincadeira! Eu teria que tirar essa história a limpo. Não ficaria sem nota por causa dele.
Fui ao restaurante no fim da tarde, e lá estava ele. Quando me viu, logo tentou fugir, mas eu fui mais rápida, e o intereptei antes disso.
- Será que a gente pode conversar?
- Eu tô trabalhando agora. Não posso. - Sussurrou ele, achando que se livraria fácil de mim.
- O restaurante tá vazio. Você pode muito bem me dar cinco minutos do seu precioso tempo. É tudo que eu preciso.
- Tá bom. - Ele cedeu. - Vem comigo. - Disse, e me levou por uma porta lateral para perto da árvore maravilhosa que eu vi pela janela quando almocei ali. - Pronto. Fala.
- Você é bem cara de pau mesmo, né! Tá agindo como se não soubesse porque eu vim aqui. - Disse eu, irritada. - Você me deu o bolo ontem. Fiquei duas horas te esperando. Qual é o seu problema?
- Eu tive um imprevisto. - Falou rapidamente.
- E custava me avisar?
- Olha, garota, eu não pude ir, tá legal! - A resposta foi ríspida. - Eu tenho coisa mais importante pra fazer, do que passar a tarde na biblioteca fazendo um trabalho idiota. Não deu pra ir! E agora eu tenho que trabalhar. - Virou as costas e me deixou lá, sozinha.
Saí de lá arrasada. Não acredito que aquela árvore tão linda foi cenário de tamanha estupidez. Como eu queria a Cacau comigo agora! Ela saberia o que fazer. Saberia o que dizer. Pelo menos eu não me sentiria tão desprezada!
Cheguei em casa, tomei um banho, me deitei para ler e acabei dormindo. Acordei com o som da campainha, insistente. E quando abri a porta, para minha surpresa, lá estava ele, com as mãos nos bolsos da calça, olhando para os pés.
- Oi. Ainda dá tempo de fazer o trabalho?
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