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JOUI JOUKI ________________________
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Eu sempre fui ensinado a ser grato a tudo e a todos que tenho à minha volta. A natureza, a minha família, e até a minha própria existência. Sempre fui ensinado a ser grato ao tempo também, ele proporciona momentos únicos em nossas vidas. Momentos que devemos aproveitar enquanto podemos, foram muitos os ensinamentos que meu pai explicou detalhadamente, segui-los soou praticamente como uma ordem.
Eu não poderia decepcioná-lo de forma alguma.
De certo modo, estou seguindo os seus ensinamentos. Talvez de uma forma errada, existe uma forma errada de se viver? Aproveitar o momento...é o que estou fazendo, oras!
Às vezes sinto que ele está se remoendo em seu luxuoso caixão, tentando arrombar a porta e cavar até a superfície. Acho que se ele pudesse, de fato, voltaria a vida apenas para me dar o maior sermão. Eu sei que faço coisas que mancham sua imagem, e que não deveria ser o que sou, mas antes de ser um Jouki...sou humano.
Ele não entenderia isso, e não o culpo. Meu avô nunca entendeu o significado de felicidade, e por isso ensinou ao meu pai o que achou que era, assim como o pai dele também lhe ensinou.
Eu só quebrar esse maldito ciclo...só quero descobrir o que é a felicidade.
"Ela não parece estar aqui..." - Observo o fundo do copo pensativo, mesmo tendo quase certeza que não encontraria, o procuro em uma dose de uísque, afinal, só teria a certeza absoluta se tentasse.
"Meus argumentos estão piores que o da Liz-senpai" - Faço uma careta sentindo o amargor descendo por minha garganta, enquanto procuro a jovem com o olhar.
Ela me trouxe para uma de muitas festas que frequenta, junto a Thiago a jovem dança livremente sem música alguma, estão bêbados, porém felizes.
"Aqui até que é legal" - Afirmo comigo mesmo, observando o lugar. O maior dormitório do prédio A possui a Gal Sal, o mimado do papai, riquinho privilegiado, tatuado rebelde, dentre outros títulos que o emo possui pelos corredores.
Apesar de não ser tão querido por grande parte do colégio, quando se trata de uma pequena festa envolvendo bebidas e drogas, todos estão à disposição para um momento de confraternização. É incrível a capacidade que todos desse lugar possuem de serem hipócritas e falsas.
Só estou na Nostradamus pelos estudos, bom, ou é o que eu deveria, na teoria.
"Por que estou aqui?" - Ligo meu celular, vendo que já passou do horário de dormir, mais uma de muitas regras que estou quebrando do colégio.
— Tá tudo errado... - Murmuro baixinho, arrependido de minhas escolhas.
De novo, é claro.
— E o modo arrependido amargurado foi ativado! - Ouço de forma descontraída Liz exclamar, olho para a jovem que cambaleia em minha direção com o auxílio de Thiago.
— Você bebeu demais Joui, dá pra ver isso quando você começa a se entristecer até com o ar que respira - Complementa Thiago, mas ao contrário de Liz, o jovem me encara com certa preocupação.
Eu não sei o que tenho, só sei que é verdade. Afogo todas as minhas dores em uma garrafa e o que deveria trazer dormência ou esquecimento, me faz relembrar o quão patético eu sou.
— Nem parece o Joui otimista que carrega a equipe E - Olho para o lado, onde Arthur estava sentado esse tempo todo com seu celular em mãos. — Você tem dois lados, brother! E sendo bem sincero, prefiro te ver sóbrio.
— Real - Thiago complementa Arthur, deixando Elizabeth deitada no sofá, e mesmo bêbada pra um cacete ela continua a conversar, dizendo coisas sem nexo e rindo de suas próprias piadas. — Cê não quer dormir não, minha querida?
— Que dormir o que! A noite tá só começando, haha! - Exclama Liz tentando se levantar, em um desequilíbrio repentino Arthur a segura, aconselhando a mesma.
— Liz, tá na hora de irmos para o dormitório, se o zelador decidir fazer uma ronda extra geral vai se foder, cê sabe disso.
— Qual é, já estamos fodidos! - Vejo o indicador da jovem em minha direção, que mesmo fora de si, começa a dizer a mais pura realidade.
Eu posso ter sim dois lados, assim como Elizabeth também possui. Acho que todas as coisas mais sinceras que a mesma já disse foi quando bêbada, o álcool faz coisas inimagináveis conosco.
— Thiagão tá lidando com a falência da família - Sem reação Thiago encara Elizabeth, que começa a listar todos os problemas acumulados em nossas jovens cabeças. — Arthur tá em burnout desde que se conhece por artista - O Gaudério a solta abruptamente, fazendo a mesma cair no sofá. — Eu tenho aturar as merdas do meu tio, que vai por mim, não é nada fácil!
Seu olhar se direciona a mim, e antes que ouvisse o que a jovem tem a dizer, viro outro copo em um suspiro cansado.
— E o Joui...ah, nosso Jojo! Nem vou comentar porque ele já tá na merda. - Agradeço a mesma com um sorriso simples, aliviado por não ter levado um murro de palavras sinceras dessa vez. — A questão aqui é que não tem como piorar, por isso relaxem! Vamos beber e aproveitar a noite!
— Você não precisava ter listado nossos problemas, era só falar essa última parte - Reclama Thiago de braços cruzados.
— Nem me fale, me sinto um bosta agora - Arthur encara o nada pensativo, mas volta a realidade a ver um par de olhos conhecidos. — Mas ela tem razão... - Com um sorriso de canto o guitarrista guarda seu celular, pegando sua jaqueta e trilhando outro rumo.
— Para onde cê tá indo cara?? - Pergunta Thiago confuso, observo Arthur se misturando entre os outros alunos, indo de encontro a um jovem loirinho extremamente popular repleto de tatuagens.
— Aproveitar a minha noite, é claro! - Afirma o jovem, causando risadas e comemorações em Elizabeth.
— Haha, é isso mesmo! O Arthur já sacou como as coisas são!
— Que coisa... - Volto a encarar o meu copo de forma pensativa.
— Relaxa Joui, se te conforta eu também não sou lá aquele exemplo de filho, sabe? Carregar um sobrenome importante às vezes é difícil... - Thiago acaricia meu ombro, me servindo mais um pouco de bebidas.
— Não me leva a mal, Thiago-sensei...mas no momento tô muito afim de ter uma conversa motivacional, entende? - Digo de forma sincera, porém com a leveza.
— Entendo...bom. Eu vou dançar com a Liz e tentar gastar a energia dela, essa garota precisa dormir urgentemente - Em meio a risadas Thiago recebe soquinhos em seu ombro pela jovem, que parece não entender o que o mesmo disse, mas recebeu o comentário como uma provocação.
— Certo, eu irei para o meu dormitório...em breve... - Digo bebendo o último gole que restava no copo. Me levantando logo em seguida.
•••
Meus passos ecoam pelos corredores, por mais que eu me afasto do quarto 22-A, onde a festa secreta-nem-tão-secreta de Gal acontecia, a música e risadas ainda eram altas. Me pergunto como ainda não descobriram desses eventos barulhentos que acontecem com frequência durante a madrugada.
Acho que até um surdo ouviria, ou talvez seja algo da minha cabeça.
"Por que dói tanto?" - questiono o óbvio enquanto encaro a porta do meu dormitório pensativo, eu devo abri-la?
As chances de ouvir um sermão da minha colega de quarto são tão altas que só em pensar nisso minha dor de cabeça aumenta, mas não tenho escolha.
No fim das contas eu estou totalmente errado. Essas festas clandestinas e as válvulas de escape que procuro nelas não vão me levar a lugar algum.
Eu sei disso, mas mesmo assim...
Não consigo mudar....
Olá, leitor!
Agradeço desde já por estar lendo minha história, deixe sua 🌟 caso queira!
📓 Total de palavras: 1290
⚠️ Capítulo revisado, mas pode conter erros na escrita!
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