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Capítulo 2 - Sem saída

"E a grande verdade é que eu nunca deixo você ir." — Mary on a cross / Ghost

        A luz fria do corredor piscava enquanto os enfermeiros empurravam a maca onde eu estava preso. Minhas mãos e pés estavam amarrados, e a sensação de impotência era sufocante. O teto parecia cada vez mais distante, e eu me sentia afundando dentro de mim mesmo.

— Vocês vão me dopar de novo? — murmurei, sem muita esperança de uma resposta que me importasse. Minha voz soou fraca, quase um sussurro, como se eu estivesse falando com um estranho no espelho.

— Só estamos te levando para um lugar mais tranquilo, Luan — disse a enfermeira, sem nem olhar para mim de verdade. Era uma resposta automática, robótica, como se ela tivesse dito a mesma coisa dezenas de vezes naquele mesmo dia. Não importava. Nada do que ela dissesse faria diferença.

      Fechei os olhos e tentei respirar fundo, mas o peso no meu peito era insuportável. E eu sabia o motivo. Mesmo de olhos fechados, eu podia sentir. Ele estava ali. Heitor. Sempre estava. Caminhando ao lado da maca, a passos silenciosos, como uma sombra que não se descola de mim.

"Você é um fracasso, Luan. E agora vai ser mais um drogado à base de remédios. Que piada."

       A voz dele perfurava minha mente como um eco. Um eco de tudo que eu não queria ouvir, mas sabia que era verdade. Tentei afastá-la, mas ela voltava, mais forte, mais cruel. Meu corpo todo tremia, e eu sabia que os enfermeiros não faziam ideia do que estava acontecendo dentro da minha cabeça. Para eles, eu era só mais um paciente problemático.

        A maca parou. Abri os olhos e vi a porta de metal à minha frente. Eles abriram a porta e me levaram para dentro do quarto. Branco. Sem janelas. Só uma cama e uma cadeira. Era sufocante. O ar parecia mais denso ali dentro, como se o próprio ambiente quisesse me esmagar.

— Vamos te deixar descansar um pouco — disse a enfermeira, ajustando as cintas nos meus pulsos e tornozelos. — O médico vai te ver logo.

E então ela saiu, e a porta se fechou com um clique seco, me deixando sozinho. Sozinho, não. Nunca estou realmente sozinho.

— Descansar? — a voz de Heitor encheu o quarto, sarcástica, debochada. — Você acha que vai descansar, Luan? Nunca mais.

        Meu coração acelerou. O quarto parecia ficar menor a cada segundo, as paredes se aproximando de mim. Eu sabia que ele não estava ali, pelo menos não fisicamente. Mas a sensação era real. Ele estava em todo lugar, dentro de mim. Sempre.

       Fechei os olhos com força, tentando me convencer de que era só minha mente me traindo, mas a voz dele era tão clara, tão presente.

— Talvez eu devesse me juntar a você — sussurrei para o vazio, sem nem perceber que estava falando em voz alta. — Talvez seja mais fácil assim.

Por um segundo, o ar ao meu redor ficou mais pesado, mais denso. E eu juro que senti a mão de Heitor no meu ombro. Fria, como a morte. Uma parte de mim sabia que era impossível, que ele não estava ali de verdade, mas outra parte... outra parte acreditava.

— É isso que você quer? — ele sussurrou, a voz suave, quase acolhedora. — A única saída, Luan. Nós dois, como sempre foi.

        Minhas lágrimas começaram a rolar, e eu tremia tanto que mal conseguia respirar.

— Eu não posso... eu não posso... — mal consegui dizer, sufocado pelos soluços.

        E então, a risada dele preencheu o quarto. A mesma risada que me atormentava todas as noites, que ecoava nos meus sonhos, transformando-os em pesadelos.

— Você não pode fugir de mim, Luan. Eu sou tudo que você tem.

       E ali, naquele quarto branco e sufocante, com a escuridão crescendo ao meu redor, eu comecei a acreditar que ele estava certo. Eu nunca vou escapar.

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