Senti-me tola por meu ciúmes, mas algo no modo como a garota miúda de cabelos longos pretos e magníficos olhos azuis correu delicada até Francisco e jogou-se sobre seu pescoço ao vê-lo, me tornou ainda mais alerta.

Eu não era ciumenta, vira Francisco abraçar inúmeras conhecidas. Contudo, esta tal de Núbia, estava a me dar nos nervos.

É fácil saber quando outra mulher está dando em cima de seu namorado, basta olhar para os sorrisos em excessos, os toques de leve e, principalmente, os olhares de fuzilamento que lançam para você, a namorada oficial.

Abracei-me nele como se quisesse mostrar quem eu era. A garota me olhou com desdém, ao me cumprimentar com extrema educação e nos convidar a partilhar de sua mesa com sua amiga que não parecia interessada em nossa presença.

Quando Francisco não nos apresentou, o cutuquei na cintura indignada. Ele sorriu como se percebesse sua falha e me explicou que esta era a nova funcionária da farmácia, onde ele era o farmacêutico.

Eles se viam todos os dias, constatei com raiva. Ao mesmo tempo me senti mais tranquila, por ele não ter comentado dela antes. E principalmente, por ele se manter carinhoso comigo na presença dela. Pelo jeito, a olhudinha podia estar impressionada por meu homem, mas ele não estava por ela.

Mesmo assim era difícil manter meu controle, sentia o sangue ferver dentro de mim a cada risinho que ela jogava para meu namorado.

— Me empresta, um pouquinho, Francisco? Eu adoro esta música. — Núbia me encarou se fingindo inocente, sua voz era delicada, como se pedisse um minúsculo favor. — Só essa música!

— Cai fora, mulher! — Eu explodi ao agarrar seu pulso e afastar sua mão da de Francisco. Eu o deixava dançar com muitas mulheres, mas não com uma que dá em cima dele desse modo. Minha voz se elevou.

Francisco me olhou chocado de modo recriminatório. Senti-me um pouco envergonhada, afinal nunca havia feito uma cena dessas. Por que Núbia mexia tanto com minhas entranhas?

— Desculpe! Não quis interferir. — Núbia olhava para ele com olhos úmidos de cãozinho faminto, o que me dava vontade de socar seu rosto.

— Só uma dança, não faz mal a ninguém. — Francisco segurou a mão dela e me encarou com seriedade. Levou-a para dançar ao me deixar sozinha, dividindo a mesa com uma desconhecida.

Tive vontade de gritar e sapatear, enquanto Núbia rodopiava pelo salão com meu namorado. Teria ido embora tomada pela raiva, se não tivesse o desejo de manter meus olhos atentos a todos os movimentos de Francisco para ter certeza de que nenhuma mão saísse do lugar ou nenhum lábio se tocasse por descuido.

Ao terminar a música, quando ele se sentou ao meu lado. Meu humor era azedo, mordi o lábio para não dizer uns palavrões para a tal Núbia, principalmente quando ela sorria para meu namorado e comentava como ele era um dançarino perfeito.

Francisco agradeceu, tenho certeza que ele acabaria por dançar com ela novamente se eu não o tivesse feito me levar para a casa.

O modo empurrado que ele dirigia, fez com que qualquer esperança de que essa fosse à noite especial se desfizesse.

As nossas palavras no carro eram apenas farpas: "Ela está dando em cima de você, não percebe?", "Nunca pensei que fosse uma ciumenta louca.", "Como você foi grosseira, Núbia é apenas uma colega."

E ficamos nessa discussão sem fim, até eu sair do carro e bater a porta com força. Entrei em meu apartamento sem olhar para trás. Furiosa com Francisco por deixar que uma mulher interferisse em nossa noite especial, sem saber se teríamos outras noites para fazermos as pazes.