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ANA SOUZA
O amor não vem com um aviso, ele só acontece de repente com você. Ele também não avisa quando vai embora, ele só vai. Nada veio como aviso em minha vida, nem mesmo minha gravidez na adolescência, eu não fui instruída sobre oque acontecia quando se deita com alguém do sexo oposto, nunca se foi conversado ou ensinado algo assim, então digamos que seu parceiro se torna seu instrutor, então você se deixar ser ensinada. Eu costumava pensar que o amor era um mar de rosas, que eu teria um príncipe no cavalo branco me esperando para irmos morar em sua grande torre, isso que nos ensinam, que o amor é belo. Então você acredita cegamente e se entrega, e quando o resultado desse amor cego chega para você, você percebe que estava sonhando sozinha. Fui deixada pelo homem que eu achava ser meu príncipe encantado, ele não aceitou muito bem a ideia de ser pai, oque não fazia muito sentido na minha cabeça de menina com 17 anos, se ele me amava como dizia e fazia tanta juras, por que não estava feliz com o fruto do nosso amor, ele poderia cuidar de nós como já havia me prometido antes se eu saísse da casa dos meu pais, o que seria diferente. Eu imaginei que ele só estivesse assustado com a ideia, eu também estava não era para menos, mas já fazia três meses que não obtia notícias suas, minha barriga já começa a criar volume e minha mãe já suspeitava pela falta de sangue. Minha vida estava uma bagunça, mas só então no nascimento de Camila que percebi que estava realmente sozinha, ele havia nos deixado, levou minha alma com ele e me deixou com nossa filha. Passava várias noites acordadas na janela esperando seu retorno, eu sabia que algum dia ele voltaria, então eu só esperava, horas e noites na janela apenas esperando. Até que as horas se transformaram em dias, meses e longos anos, não acho que vivi procurando um amor, eu vivia procurando o MEU amor, e ele nunca chegará. Mas as vezes o destino nos prega peças, e o amor mais uma vez não nos avisa que iremos se apaixonar, nem por quem ele só faz acontecer. Relutei muito para não me aproximar de Marcos, sabia sobre sua reputação ele bebia muito e pagava menos, sua dívida com os bares do nosso bairro era um verdadeiro estrondo, mas ele foi gentil, me levava flores todo dia de manhã enquanto eu ficava esperando na janela, eu não esperava ele mas chegou um dia em que eu já não sabia mais quem eu queria que aparecesse, e então ele chegava, cambaleando e um pouco inerte das coisas ao seu redor, mas sempre com uma flor nas mãos. A tristeza foi se formando em esperança novamente, me dando esperanças de ser amada de verdade, e deixei de lado todos os seus defeitos, cada noite mal dormida valia quando eu o via passar pela porta, ele tinha me escolhido, alguém finalmente tinha me escolhido. Com o passar dos anos as brigas foram se tornando rotina, uma rotina turbulenta mas do que eu queria reclamar, eu já tinha alguém que voltava por mim e que aceitou minha filha. Camila não via o mesmo que eu, ela insistia em dizer que ele não iria mudar, me contava coisas absurdas sobre ele, eu sei que ela possuía muito ciúmes de Marcos e que ela queria seu pai no lugar dele, mas ela tinha que aceitar a realidade igual eu aceitei. Eu sabia que ele olhava para as mulheres do bairro, ele é homem e eu entendia isso, mas sei que jamais iria me trair igual Camila me contava, a garota tinha uma imaginação muito fértil, era instável e egoísta, a minha felicidade com Marcos não significava nada para a mesma, nem meus anos em depressão. Eu deveria imaginar que iria terminar assim, mas eu não queria ver que criava um monstro comigo, que iria contra o amor da minha vida, eu conseguia sentir um buraco se formando em baixo do chão, pronto para me engolir e me levar de novo para a escuridão mas eu á levaria comigo.
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CAMILA SOUZA
O meu dia não começou nada bem, depois do episódio com o namoradinho da minha vizinha do 212 meu humor caiu igual uma avalanche, não pude ter o privilégio de um banho logo pela manhã, o que não faria eu mudar meu rumo hoje, eu precisava de um emprego. Eu não era a pessoa mais fluente em espanhol, mas eu conseguia me virar muito bem o idioma não era o problema, a questão grave é, Madrid era muito certa nas questões de imigração, eu precisava urgentemente de um emprego.
O tempo parecia estar gostando de brincar comigo, eu tenho consciência do frio de Madri mas não tinha muito sobre as chuvas, o que fez com que eu mudasse totalmente meu destino após rodar a cidade inteira de Vallecas á procura de algum emprego de garçonete, faxineira e oque mais tivesse disponível, mas nada acontecia, sempre era o não que eu ouvia, "não precisamos de garçonete aqui", "não estamos contratando ". Já se passavam das 14hrs e a chuva não dava trégua, muito menos meu estômago implorando por comida, eu estava desde o dia anterior sem fazer nenhuma refeição era comer ou comprar passagem para o transporte público e isso me geraria emprego, optei pela passagem.
Mas como eu havia dito, o tempo e o destino tiraram o dia para brincar comigo, minha falta de conhecimento com a grande cidade me fez parar em Salamanca um bairro nobre, o lugar exalava dinheiro puro, glamour, leveza e felicidade a diferença era gritante do pequeno e sujo bairro de Vallecas, o lugar exalava medo, escuridão e pobreza.
Me sentia dentro dos filmes europeus, aonde a menina ficava maravilhada e perdida na beleza da cidade a sua frente, as ruas iluminadas, calçadas pintadas, casas históricas e prédios de vidro era um verdadeiro paraíso. A cada esquina que eu virava era uma descoberta diferente, parecia que eu estava caçando tesouro e não tinha um mapa em mãos, mergulhava na adrenalina de ir aonde o vento me levava, esquecendo da chuva que antes me atormentava agora parecia um mera detalhe de um filme clichê qualquer da Netflix. Acabei entrando em uma rua sem saída, meu cérebro me indicava a dar meia volta e explorar outras ruas mas meu espírito aventureiro finalmente estava livre, eu encarava a grande porta acolchoada vermelha com certa curiosidade, em cima eu visualizava a grande placa em Neon " Pub de la Santa", não resisti.
Continuei caminhando em direção ao Pub, com passos largos, ansiosa para oque me esperava do outro lado da grande porta vermelha, eu era uma garota perdida conhecendo o mundo pela primeira vez e essa sensação fazia com que meu coração batesse tão acelerado, que por um segundo achei que sairia do peito, minhas mãos suavam frio quando encostei os dedos na maçaneta retangular forçando para dentro, fechei os olhos assim que senti o cheiro de menta no ar e os forcei para abrir novamente.
O lugar era escuro, fazendo assim que somente o palco com uma enorme barra de pole dance fosse bem iluminado, dois sofás de couro preto era direcionado bem em frente ao palco, atrás eram inúmeras mesas com cadeiras na cor marrom e ao lado um pequeno bar, com balcão de mármore e diversas bebidas que nunca ao menos vi na vida, tudo era novo demais pra mim e um pouco excitante.
Esse é o tipo de lugar que não ligaria para sua nacionalidade, eu tentaria a sorte de um emprego aqui, aprenderia a fazer drinks e a recepcionar, eu precisava disso.
Me sentei no banco alto em frente ao bar, que piscava por conta de algumas garrafas led espalhadas por toda a parede, mas oque realmente me chamou a atenção foram as semelhanças do homem da pequena foto meio rasgada no fundo, os cabelos escuros, olhos castanhos e a pequena covinha na bochecha direita, sei que não as herdei de Ana e muito menos sei as herdei de meu pai, nunca vi nada sobre sua pessoa nem mesmo seu nome, suspirei fundo intrigada com tudo isso e com a demora de aparecer alguém por aqui.
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Os minutos se transformaram em horas e ninguém dava as caras no Pub, já estava com a bunda dormente de tanto ficar sentada no banco e meu lado aventureiro resolveu atacar, levantei destemida a explorar cada canto do local, eu batia as unhas levemente na coxa nervosa com a sensação de ser pega bisbilhotando, meus olhos reviravam todo o ambiente a procura de algo interessante para me entreter, caminhei para o lado do grande palco e lá estava, uma escada de caracol escondida detrás da curtida de cetim preta. Mordi o lábio inferior com a grande descoberta a minha frente, me sentindo em um verdadeiro filme de detetive, subi os degraus rezando para que o que eu encontrasse lá não me fizesse perder a chance de ter um emprego aqui.
Eram portas e mais portas, todas de cor vermelho sangue e aqui em cima era ainda mais escuro do que andar de baixo, era gelado e assustador, um grande corredor era iluminado para indicar o caminho para cada porta, me atrevi à abrir a primeira. Uma grande cama redonda ocupava bom espaço do quarto, o piso parecia ser de madeira e as paredes à prova de som, o pequeno frigobar ao lado da cama me fez pensar que esse era um quarto vip, e o espelho tomando conta de todo o teto só me fez ter mais certeza. Me virei para trás e fiquei chocada com o grande detalhe que deixei passar, uma parede repleta de chicotes, brinquedos eróticos de todos os tipos, mordaças, algemas, cinta de pênis e máscaras, uma me encantou, era escura como a noite, o local dos olhos era mais parecido com orelhas de gatos, cumpridos e finos, a área do nariz era fechada com apenas dois buracos na direção da narina, também cobria toda a área da testa deixando somente a boca exposta, nem eu me reconheceria usando isso. Peguei a mesma na mão acariciando seus detalhes pratas na lateral, uma vontade absurda de experimentar tomou conta do meu corpo, nesse momento não me importava aonde eu estava, do que me aguardava ou quem, me atenção estava focada na máscara em minhas mãos, segurei a pela lateral e fui aproximando com cuidado para mais perto da minha face, fui ajeitando aos poucos, passei a fita prata por cima da orelha e amarrei atrás de minha cabeça deixando a bem firme, ergui meu pescoço para cima buscando contato com o grande espelho, me surpreendi com o que vi.
— Seria perfeito se fosse assim - sussurrei para mim mesma sem tirar a atenção do meu reflexo no espelho.
E então a porta se abre.
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