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- eu não sei porquê você aceitou isso!__ senhora Cristina ( minha patroa) resmungou.

- senhora, eu não podia deixar minha prima na mão, ela disse que precisava de alguém de confiança... Se não fosse por isso, eu não ia a esse casamento...__ falei limpando os pratos recém lavados.

- ela que procurasse outra pessoa! Afinal de contas ela soube do vosso término, sabe dos seus sentimentos por aquele cão do Edgar e ainda assim te chamou para seres madrinha! Ela fez de propósito! Só você não quer aceitar...__ reclamou servindo o sumo no copo.

- é família...__ respondi baixo tentando segurar minhas lágrimas. Foi tudo tão rápido que eu nem acredito, até mês passado ele jurava me amar e agora vai casar com a minha prima. Eu não sei que tipo de macumba* me lançaram, mas parece ser forte.

- assim que o convite é válido para duas pessoas?! Quem vais chamar?!__ questionou tomando um gole do seu sumo.

- sinceramente não sei... Tenho medo de estar sozinha lá, de chorar e de pensarem que sou invejosa. Queria muito ter uma amiga para me dar forças... Mas amigas eu não tenho...__ lamentei limpando minhas mãos no pano.

- sabe, eu não vou fazer nada no final de semana e nem a Tânia, podemos ir contigo para te dar forças... E você sabe que nós somos tuas amigas!__ respondeu pegando meu ombro com um sorriso singelo no rosto. Minha patroa é um anjo, ela é muito mais que uma patroa, é uma irmã, amiga, mãe... Tudo de bom...

- eu vou amar vos ter lá... Não vou conseguir suportar tudo sozinha... Vou buscar o convite!__ avisei me afastando. Fui até o quarto, e levei o convite para ela e sua filha Tânia que também é um anjo.__- aqui está! Não sei nem como agradecer por tanta gentileza e cuidado...__ falei sorrindo sem graça.

- é simples, continua cozinhando divinamente para nós!__ respondeu deixando um beijo na minha testa e eu sorri.

Minha patroa saiu e fiquei sozinha a cozinhar e a pensar na minha vida. As coisas nunca foram fáceis para mim, sempre fui dedicada em tudo que fiz, sempre fiz as coisas com amor, carinho e dedicação, mas sempre no fim eu levava uma patada da vida. Cursei gastronomia e tenho sonho de abrir um restaurante mas as condições financeiras nunca foram favoráveis.
Meus pais? São vivos e felizes no norte do país com os meus 2 irmãos.
E eu estou no sul procurando oportunidades, já que aqui é a capital, trabalho não deve faltar. Minha mãe é do sul e meu pai do norte, mas fazem 5 anos que foram viver para o norte, a princípio eram férias mas depois quiseram ficar por lá!

Eu vivia com a minha tia Julieta mas depois que comecei a trabalhar para família da dona Cristina mudei de residência.

Edgar foi meu primeiro em todos os sentidos e eu amei aquele jovem... Ahhh como amei... Eu tinha planos para nós, uma casa, dois filhos, um restaurante para mim e uma carreira de sucesso como o melhor advogado do país para ele. Sempre nos demos bem, partilhávamos tudo, medos, conquistas, alegrias, frustrações... E de repente tudo foi por água abaixo... Doeu, doeu demais pra mim... Tentei ligar uma vez ele só me magoou mais, disse que sempre fui uma fracassada, sonhava alto demais e que eu não era o suficiente para ele, que eu não tinha os atributos que ele queria ( bunda e peito)... Mas não foi isso que me disse a 2 anos, ele disse que eu era tudo que ele queria e era a mulher perfeita para casar, eu o apoiei e sempre o incentivei a não desistir dos sonhos dele e agora que conseguiu tudo, fui descartada e trocada por uma mulher com atributos e com um emprego dos sonhos ... Eu mereço isso, por ter sido burra e tapada!

No final do dia, depois de terminar com os meus afazeres, fiz um banho e me preparei para ir á casa da minha prima Maria que ficava na zona urbana. Vesti um vestido longo floriado e fiz um rabo no meu cabelo crespo, calcei minhas sandálias e me despedi da minha patroa.

Caminhei até a paragem que não estava tão lotada como das outras vezes e peguei um auto carro... Pelo menos consegui um assento desta vez... Pensei comigo mesma ao entrar no mesmo. Conectei meus fones de ouvido e comecei a escutar Back to you de Selena Gomes que acaba com a minha sanidade mental me fazendo lembrar dos bons momentos que tive com Edgar! É impossível não chorar, pelo menos para mim porque sou um poço de fragilidade, sensibilidade, e emotividade... Queria não poder me sentir péssima mas meu coração não me permite!

Depois de 1h cheguei ao meu destino... Com as mãos suadas, pele arrepiada, coração acelerado e com o estômago embrulhado vejo o noivo todo feliz e sorridente conversando com a tia Marta, a futura sogra dele... É tão estranho tudo isso, ninguém da família o confrontou por ter namorado comigo e estar noivo da minha prima sem mais nem menos...

- boa noite...__ saudei educadamente.

- Ana meu doce... Que bom que você chegou! Como está?!__ tia Marta falou me puxando para um abraço exageradamente apertado.

- estou bem e a tia??__ perguntei me afastando.

- também estou bem... A Maria te espera lá dentro!__ avisou e eu assenti caminhando para dentro da casa.

- não vai saudar seu cunhado?!__  parei ao escutar a voz nojenta de Edgar e revirei os olhos.

- boa noite cunhado...__ falei entre dentes forçando um sorriso e saí sem que ele respondesse.

- priminha... Que bom te ver... Ahhhh você é meu anjo da guarda... Eu estou aqui me matando de tentar engomar essa roupa... Mas eu não consigo... Eu não nasci pra isso... Engoma pra mim!__ Maria desatou a falar e deu um sorriso que me pareceu extremamente forçado.

- claro... Mas se você vai casar, já devia saber as coisas básicas...__ resmunguei me posicionando em frente a passadeira e coloquei minha mochila sobre a cama.

- não preciso não... Afinal de contas pessoas como você existem para fazer esses trabalhos!__ respondeu seca e no fim deu um sorriso cínico e eu dei de ombros.

- está pronta para o dia de amanhã?! Eu sei que seus sentimentos pelo Edgar ainda são vivos, mas amanhã eu preciso que você disfarce perfeitamente... Não vai querer ficar com a fama de invejosa nem?!__ perguntou calçando os chinelos e então caminhou até a batente da porta do quarto.

- sinceramente ainda não entendo o porquê de você ter me dado essa função...__ resmunguei irritada.

- não existe pessoa mais indicada, você conhece tanto o noivo como a noiva... Então terá palavras bonitas para o discurso de madrinha!... Vou ali ficar com o meu noivo... Beijos...__ minha prima sorriu destilando seu veneno e eu me limitei em soltar o ar brutalmente pelas narinas.

Maria nunca foi minha melhor prima e muito menos minha amiga... Sempre esbanjou sua superioridade financeira, seu status social, sua beleza e sua lista longa de pretendentes... Sempre fez questão de humilhar por eu ser simples, não ter  estudado na melhor faculdade e por ter só andado com um homem... E eu sempre fiz questão de ignorar cada comentário desnecessário e fútil... Nunca lhe dei espaço e nem o gosto de me ver chorar por causa de suas provocações... E o mais intrigante é que eu sempre fui boa com ela, sempre estive com ela e enxuguei as lágrimas dela... Sempre a apoiei e sempre fui uma boa prima... Não sei onde falhei...

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Macumba- feitiços...