Capítulo 8
Thierry e Milena estavam sentados no banco de uma praça. Ela lia com atenção uma coluna do jornal e ele olhava as pessoas na praça. Mais de dois meses haviam se passado desde o dia em que haviam se conhecido. Mais de dois meses ficando, o fogo os consumindo. Milena aprendera a fazer um strip-tease com Thierry, e os dois se entretinham durante as noites, cada um tentando atiçar mais o outro. Mas algo estava faltando. E ambos sabiam o que eram.
Ficantes sérios... quanto tempo mais aquilo duraria? Era óbvio que os dois não poderiam fingir por muito mais tempo que estavam longe de serem isso. Muitos homens e mulheres haviam passado pela vida de ambos, e nenhum deles se interessara por esses. Conversavam, tinham uma boa sintonia... o que os impedia?
Milena sabia que Thierry tinha medo de se envolver com ela. E ele sabia que ela estava se cansando daquele medo dele.
Uma loira passou, atraindo a atenção de Thierry por um momento. Milena ergueu os olhos.
- Silicone - ela disse. - Se quer peitos naturais, olhe a ruiva mais adiante.
Thierry deu uma risada.
- Ensinam isso nas aulas de psicologia?
- Estudamos anatomia nas aulas de psicologia. Mas não é difícil saber que uma mulher de manequim 38 não pode usar sutiã número 46. É contra as leis da natureza.
Thierry a beijou. Milena largou o jornal e se acomodou melhor para receber o beijo. Os dois se acomodaram e ficaram olhando o nada.
- Meu irmão perguntou quando iria conhecer o cara que está comigo há mais de dois meses - disse Milena. - Damien também está interessado.
- E o que você respondeu?
- Que, da última vez que apresentei um homem para meu irmão, ele terminou na cama dele, e que eu não iria repetir o erro. De qualquer maneira, foi o melhor que eu pude fazer. Nosso relacionamento não permite apresentações para familiares.
- De fato.
Milena apenas suspirou. Não esperava mais do que aquela resposta. E exatamente por esperar aquela resposta que se sentia tão enfadada.
OK, ela não era uma mulher romântica cujo amor e compromisso vinham em primeiro lugar. Mas estava havia dois meses e meio com o mesmo cara. Mais de dois meses dormindo com o mesmo homem, apenas com ele e mais ninguém. E ainda tinham o mesmo relacionamento de quando se conheceram. Estava cansada. Queria avançar naquela relação ou terminá-la de vez, mas tinha medo de perguntar. Medo do que ouviria de Thierry caso o colocasse contra a parede. Imaginava que ele não tinha uma opinião ao seu respeito. E que ele temia ouvi-la.
"Diabos, Milena Raven com medo? Situação preocupante."
Estaria ela se apaixonando por Thierry Blanc? Pensou rapidamente e sondou sua mente. Sim, estava. E que bom para ela, podia ter qualquer homem e estava com o único que era um stripper e não a levava a sério.
Mundo irônico.
Mas, se havia algo que Milena não era, era covarde. Não se contentaria com uma pseudorrelação, uma relação onde ela não ficasse satisfeita. Ou os dois chegavam num acordo ou tudo terminava. Simples, razoável e prático. Depois diziam que as mulheres que eram complicadas.
Calma, ela fitou Thierry no rosto. Suspirou e falou, como se apenas levantasse o assunto:
- Sim, nossa relação é informal demais. Pretendemos torná-la séria um dia?
O termo "nós" fora devidamente empregado. Decisão conjunta, era o que queria dizer.
Thierry franziu a testa.
- Por que a pergunta?
- Ora, Thierry, uma moça gosta de manter uma agenda. Gostaria de saber o que me aguarda nos próximos meses. Uma situação sempre tão informal ou... algo sério?
Thierry sorriu.
- Ter algo sério com você, Milena? A devoradora de homens? Acho complicado. Sinceramente, não acredito que você seja do tipo que queira se casar. Devemos continuar sendo ficantes, até nos cansarmos um do outro... e depois seguimos nossos caminho. Sem traumas... sem passado.
Milena abriu a boca por um momento. Esperava outra resposta. Não uma declaração de amor, até porque era cedo, mas algo do tipo: "Hum, quem sabe?" Ou algo tipo "um dia falaremos no assunto, afinal estamos indo bem". Mas não aquele corte frio e cruel.
Separou-se de Thierry rapidamente e se virou para o horizonte. Inferno. Havia se apaixonado uma vez, e aquilo havia gerado traumas. Agora estava disposta a arriscar de novo, e Thierry sequer queria lhe dar uma chance. Se fosse sensível, Milena choraria como doida. Mas sendo uma mulher de fibra, simplesmente sorriu, enquanto buscava as palavras certas para aquela situação.
- Entendo... eu sirvo para ficar na sua cama enquanto você tiver vontade... mas jamais serviria para ter algo sério com você.
- Milena... - ele se ergueu e se postou ao lado dela. - O que você quer dizer... achei que estávamos de livre acordo que seríamos apenas ficantes.
- E estamos. Mas não sou de ficar com um homem só e investir numa relação que não tem futuro. Se é para eu apenas ficar, fico com meio México, não só com você. Eu sirvo para transar com você, sirvo para te escutar, mas ter algo sério comigo... você não quer.
- Você esperava o quê? Você é a mulher mais rodada do México. Espera realmente que alguém te leve a sério?
Milena ficou perplexa. Respirou fundo e mentalizou, enquanto Thierry se dava conta do que dizia. Ela olhou para ele.
- Entendo. Você é um stripper, vende seu corpo para os olhos de todos, até dos gays. Deve ter comido meio mundo também, mas você pode porque é homem, e eu não posso porque sou mulher.
- Não sou santo. Mas sou menos rodado que você.
- Pois permita que eu te diga uma coisa, Thierry Blanc: sou rodada? Sim. Vou para a cama com muitos homens? Óbvio. Tive relacionamento com vários homens ao mesmo tempo? Óbvio. E todos eles se classificavam como ficantes sérios. Você nunca se perguntou por que tinha exclusividade? Por que desde que nos conhecemos eu nunca saí com mais ninguém, ainda que nossa condição permitia, mesmo sendo definida como séria?
O silêncio de Thierry indicou tudo. Ele não havia pensado em nada daquilo. O desgraçado a vira como uma mulher necessitando de homem a todo custo, que o trocaria no primeiro momento. Convivera com ela por mais de dois meses e passava longe de conhecê-la. Homens... suspirando, ela ajeitou a bolsa no corpo.
- Não, você não pensou. E eu achando que podíamos ter algo mais substancial, mesmo que tudo ocorresse aos poucos.
- Milena, não me entenda mal... eu nunca pensei...
- Nunca pensou no quê, Thierry? Que eu pudesse gostar de você? Você entrou nesse caso achando desde o começo que eu ia brincar com você?
- Entenda meu lado... pelas descrições de Lucynda...
- Pelas descrições de Lucynda, eu era sua alma gêmea. Eu realmente não sou santa. E não acredito em romance, mas isso não quer dizer que eu não possa gostar. E eu estava gostando de você. Achei que você poderia me entender, afinal é stripper, lida com gente louca como eu... e também vive tendo casos. E os terá, porque teme que as mulheres o ludibriem. Vá fazer análise, Thierry Blanc. Você está precisando. Eu recomendo. Eu devia estar desconfiada... afinal, você se preocupou com seu desempenho sexual na primeira vez que dormimos juntos... Fui tola demais... Acreditei que fosse pelo momento, mas... você sempre me viu como alguém tão sem sentimentos... e eu não me dei conta.
Ele a encarou, ainda sem palavras. O que poderia dizer? Podia se bestemar apenas contra si mesmo. Milena o encarou e olhou com tristeza.
- E o pior... é que Lucy tinha razão. De minha parte, ela tinha razão. Mas nada dá certo quando tudo parte de um só. Adeus, Thierry. Espero que encontre a mulher perfeita para você.
E ela saiu sem dizer mais nada. Thierry ficou estático vendo-a partir. Precisava dizer alguma coisa, convencê-la a ficar... mas não sabia o que dizer. Nada do que dissesse naquele momento a convenceria.
.......
Fernando observava com cuidado o arranjo das mesas e a decoração do salão. Observou a disposição das rosas brancas em cada mesa, verificou os tecidos e a porcelana usada. Cada detalhe da decoração. Estava perfeito. Justamente como Margareth queria. Cada detalhe, cada vírgula.
Lucynda parecia que havia se esforçado ao máximo para que tudo saísse perfeito. E havia saído. Não havia nem um fiapo fora do local, tudo estava exatamente igual à revista que Margareth mostrara para ela dois meses antes. Exceto que a mulher que organizara aquilo queria destruir o casamento dele.
Ele observou Lucynda e Juan ajeitarem os detalhes finais, enquanto Margareth dava sugestões. Observando ainda Lucynda, Fernando se perguntou se Douglas não estava mentindo.
Naqueles dois meses, Lucynda demonstrara apenas a mais pura simpatia e amizade. A observara diversas vezes, tentando captar aquele brilho malévolo no olhar, e tudo que encontrara fora a mesma boa vontade de sempre.
Também havia observado as mudanças nela. Lucynda sempre fora uma pessoa viva e brilhante, mas, a cada dia que se aproximava do casamento, ela se tornava mais pálida e apagada.
Arrependimento ou tristeza?
Pensava sem cessar sobre qual era o verdadeiro sentimento de Lucynda. Arrependimento por tentar se vingar deles ou tristeza pelo casamento que nunca acontecera? Talvez as duas coisas ao mesmo tempo.
Ele nunca parara para pensar no que ela havia sentido quando a abandonara no altar. Achara que ela ficaria bem. Agora, observando-a disparar cortesias, um sorriso falso no rosto, mal aparecendo ao lado de Margareth, que brilhava de vitalidade, ele se perguntava se ela realmente estava bem.
Afinal a vingança é um sentimento muito profundo. Se ela de fato gastara meses planejando a ruína do seu casamento, conforme Douglas dissera, poderia haver bem mais do que desprezo e ódio.
Poderia ainda haver amor.
Lucynda conversava com Margareth e mostrava como havia achado a porcelana francesa que ela tanto queria, como as flores estavam belas... Margareth sorria, um sorriso suavemente forçado. Afinal, não era aquela mulher que queria destruir o casamento? Tentava agir com naturalidade e aparentemente conseguia, porque Lucynda não questionara seu comportamento.
- E acredito que seja isso - disse Lucy.
- Cobrimos todos os detalhes - disse Juan, que estava ao lado dela. - O casamento sairá perfeitamente bem depois de amanhã...
- Oh, tenho certeza que sim... - Margareth falou. - Meu casamento... O casamento com o qual sempre sonhei... não é maravilhoso, Lucy?
- Claro que será maravilhoso, querida. Afinal, você merece.
- Vindo de você, Lucy, é um grande elogio. O que me lembra... - ela passou para Lucynda um embrulho - seu vestido de madrinha.
- Eu... não realizei as provas neste vestido, Margareth, já tinha providenciado um por conta...
- Oh, querida, não se preocupe. Esse era meu vestido, aquele que eu usava quando você e Fernando... quase se casaram. Estou te entregando ele porque sempre achei seu gosto tão maravilhoso... gostaria muito que o usasse como prova de que enterramos o passado.
Lucynda recebeu o vestido com as mãos vacilantes. Aquele vestido lhe lembrava seu casamento... como ele terminara. Não conseguiu conter a emoção. Viu que Fernando a observava com atenção. Emocionada, deixou verter umas lágrimas e encarou Margareth.
- Claro que usarei, como prova da minha boa vontade.
Margareth ficou surpresa.
- Verdade? Não acha doloroso demais?
- Passado é passado, Margareth, devemos enterrá-lo. Eu... vou provar para ver se é necessário apertar alguma coisa. Já volto. Juan... faça companhia à nossa cliente e lhe explique os últimos detalhes enquanto provo o vestido.
Juan observava Lucynda com um olhar estranho. Ela passou por Fernando e saiu do salão em direção ao seu escritório.
Observando que Juan e Margareth estavam entretidos em uma conversa sobre cristais, Fernando saiu discretamente do salão em busca de Lucynda.
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