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Capítulo 7

Todos já tinham ido embora quando Thierry e Milena saíram da sala. Naquele exato momento, Fernando ainda descobria que sentia ciúmes da ex-noiva, e Lucynda e Juan conversavam sobre propostas de emprego e sobre os bons tempos. Milena agiu com displicência, se sentando em um dos sofás da recepção. Thierry se sentou do lado dela.

- E agora? - ela disse.

- Agora? - Thierry repetiu.

- Sim. Já discutimos a triste vingança de Lucynda e nosso papel nela. Teremos um daqueles silêncios constrangedores nos quais ambos ficam quietos até que os gemidos entrecortam o silêncio cruel e frio na cama?

- Credo.

- Foi o que eu pensei quando ouvi o telefonema. Mas e agora?

- Agora... a gente improvisa. Falamos das nossas incríveis profissões, mas não do nosso passado, família...

- Família: amo e odeio. Meu irmão roubou meu namorado e meus pais morreram de overdose. Mas tenho primos bacanas e adoro todos eles. Você?

- Nada muito melhor. Minha mãe era beata da igreja. Nem preciso te dizer que fui deserdado, condenado ao fogo eterno do inferno e à danação eterna diversas vezes. E nem tenho primos.

- É, você está pior que eu.

- Nunca reclame da sorte.

A partir daí a conversa fluiu livremente. Ambos se pegaram falando de ex-namorados, trabalhos infrutíferos... Thierry contou sobre quando dançara em um bar gay. Milena franziu a testa.

- Tem certeza que o cara que te cantou e te convidou para um programa não era meu ex? Damien e Jonas tem cara de curtir um ménage...

Riram das desgraças e conversaram bastante sobre eles mesmos. Mas em nenhum momento discutiram o relacionamento. Conversaram até o momento em que ouviram passos descendo a escada. No instante seguinte, Lucynda e Juan desciam, ambos sorrindo calmamente.

- Juan Renoir... - disse Milena. - Quem diria?

- Lhe devo dez dólares, Milena - ele disse.

- Pelo quê? - perguntou Lucy.

- Apostei com ele que ele voltaria rastejando aos seus pés - disse Milena. - E não me enganei.

- Bem, a situação foi diferente. Ele veio rastejando por um emprego.

- Veio rastejando, e isso não muda - ela estendeu a mão e recebeu o dinheiro de Juan.

Thierry apenas cumprimentou Juan com um aceno. Os dois se conheciam do tempo em que Juan namorava Lucynda. Sorrindo, Juan se sentou do lado da ex-namorada.

- Aquela ruiva... - ele disse - Margareth Lisbel... é ela a...?

- A broaca que roubou o noivo de Lucy? - disse Milena. - Ela mesma.

- Tem cara de anjo... não me parece ser o monstro que vocês descreveram.

- Só o que me falta, Juan. Você defendendo Margareth Lisbel. Faça-me o favor - Lucy disse muito irritada. - Se quer manter seu emprego, aconselho a nunca defendê-la.

- Não estou entendendo... você não a estava ajudando?

- Você não soube? - disse Thierry. - Tudo isso é parte de um plano... de vingança.

- Vingança? - repetiu Juan.

- Pretendo destruir o casamento de Margareth Lisbel e Fernando Hernandéz - falou Lucy. - Tenho planejado isso nos últimos sete meses. Agora poderei fazer o que planejei.

- Lucy... Margareth pareceu uma menina tão boa... não acha que está exagerando?

- Eu acho que você está querendo perder o emprego que conquistou, Juan. Se gostou tanto de Margareth, peça um emprego para ela. E se algo sobre essa vingança sair daqui, eu juro que o destruirei profissionalmente. Posso ter gostado de você, posso respeitar você, mas nisso você não vai se meter.

Lucynda se ergueu e saiu do salão. Thierry fitou Juan com atenção.

- Aconselho a não se meter no assunto, Juan... Lucynda merece sua vingança. Não a atrapalhe.

- Não quero causar a fúria de Lucynda. Tenho mais medo dela do que gostaria de admitir.

Thierry e Juan encerraram o assunto. O que eles não esperavam era que a conversa que acabavam de ter tivesse sido entreouvida.

.........

Fernando estava muito irritado. Margareth tomava um banho de chuveiro, cantarolando. Ele só conseguia pensar na conversa e no que Juan e Lucynda poderiam ter feito. Estava irritado, pensando que Lucynda poderia ter dormido com ele.

Não conseguia se entender. Lucynda era parte do seu passado. A deixara porque não a amava e amava Margareth. Então... por que sentia ciúme? Seria desejo por um corpo feminino? Afinal, Margareth era virgem e queria entrar na igreja como tal. O que queria dizer que ele estava havia mais de sete meses sem fazer sexo.

Seria essa a razão? Duvidava.

Fernando se levantou. O que quer que estivesse sentindo por Lucynda, sem dúvida não era amor. Como poderia amar uma pessoa mesquinha e vingativa como ela? Exceto... que Lucynda se mostrara compreensiva, e ele quase se casara com ela sete meses antes.

E depois diziam que as mulheres eram complicadas.

Fernando estava decidido a esquecer o assunto. Nada mais de ver ou pensar em Lucynda. Sim, era uma boa decisão. Esperaria Margareth sair, com seu pijamão azul e ficaria com ela a noite inteira. E assim ele se esqueceria do que o afligia.

O toque do telefone cortou sua linha de pensamentos. Atendeu, renovado, sabendo que tudo iria dar certo.

- Alô?

- Fernando Hernandéz quem está falando?

- Ele mesmo. Quem fala?

- Aqui é um amigo. Apenas vim dar um alerta. Tomem cuidado com Lucynda.

- Cuidado com Lucynda? Quem está falando?

- Toda a bondade e compreensão dela é fachada. Ela planeja se vingar de você e de sua noiva.

- Quem fala?

- Se quer saber os detalhes, me encontre amanhã no café em frente ao hotel onde esteve hoje.

- Espere. Com quem...?

- Amanhã. E se quiser, leve sua noiva junto.

E a pessoa desligou, deixando um Fernando Hernandéz muito intrigado.

.........

Fernando e Margareth já estavam no café esperando pela pessoa misteriosa. Margareth ainda se negava a acreditar.

- É óbvio que alguém está fazendo isso por despeito. Lucynda não seria capaz.

- Lucynda é capaz de fazer mais coisas do que imagina, minha querida. Se esse homem estiver falando a verdade, ele irá aparecer.

Margareth não disse mais nada, e Fernando pediu um suco para os dois. Olhava para o relógio a cada cinco minutos. Ao final de quinze minutos, o informante ainda não havia chegado.

- É óbvio que aquilo foi um trote, Fernando - disse Margareth. - Acho que devemos ir.

Fernando se mostrava relutante. Mas acenou com a cabeça.

- Acho que você tem razão. Vamos, Margareth. Agora podemos ficar sossegados. Vamos embora.

Margareth sorriu e pegou a bolsa. Fernando deixou umas notas para pagar os sucos. Ambos já estavam prestes a deixar o café quando viram um homem que entrava. Alto, moreno e incrivelmente bonito. Tanto ou mais bonito quanto Fernando Hernandéz. O homem lançou um olhar para ambos. Em seguida, perguntou, hesitante:

- Fernando Hernandéz?

- Eu mesmo. Você é?

- Meu nome é Douglas. Sou o homem que telefonou ontem para a sua casa. Desculpem o atraso, fiquei preso no trânsito - ele se voltou para Margareth. - Você deve ser Margareth.

Margareth olhou hesitante para Douglas.

- Sim, sou eu mesma.

- Não há como não reconhecê-la. Lucynda me falou muito de você e de como "aquela ruiva maldita" havia lhe roubado o noivo. Podemos nos sentar?

Os três se sentaram na mesa onde Fernando e Margareth haviam estado. Fernando fixou seu olhar em Douglas.

- Quem é você?

- Sou ex-namorado de Lucynda.

Margareth e Fernando se olharam.

- Outro? - ela perguntou.

- Sou mais um da lista. Mas com ela terminei recentemente. Para ser mais preciso, fazem apenas três dias.

- Em relação ao que disse no telefone ontem... - falou Fernando.

- Sim. Acho melhor pedir outro suco, Hernandéz. Temos muito o que conversar.

Fernando, entretanto, não pediu nada. Na realidade, estava se sentindo indignado. Por um momento, um breve momento, acreditara que havia se enganado a respeito de Lucynda. Que fora injusto com ela. Agora estava comprovado que nunca, nunca aquela mulher merecia ser amada na vida. A prova disso eram os inúmeros ex em sua vida. Não sabia os motivos de Douglas para querer entregar Lucynda, mas deduziu que fosse consciência. Fitou o rapaz e se perguntou por que ele e Lucynda haviam terminado.

Perguntou-se como havia sido o namoro dos dois. Se Lucynda demonstrava na cama com ele ou com Juan o fogo e a paixão que tinha com ele. Se, depois de cada noite de amor, os dois ficavam conversando, enquanto esperavam o fogo reacender, até o momento em que dormiam um nos braços do outro, exaustos e saciados.

Perguntou-se se Lucynda se entregara de corpo e alma a cada um deles.

Não, claro que não. Não era ele mesmo o culpado pelo ódio de Lucynda, o fato de ela ter tantos ex em sete meses? Não era ele o alvo de toda a fúria de Lucynda, que queria se vingar dele e de Margareth? Estava preocupado com os sentimentos de Lucynda e não com o que ela pretendia fazer. Forçou sua mente a acompanhar as palavra de Douglas, que havia começado a falar.

- Há alguns dias, Lucynda disse que deveria terminar comigo. Quando questionei o motivo, ela disse que tinha assuntos pendentes em seu passado e que eu não compreenderia - ele fez uma pausa. - A fiz falar, e ela confessou que ainda estava indignada com o que você havia feito com ela. Disse que havia chegado a hora da vingança. Se eu fosse capaz de ajudá-la, ela ficaria comigo tão logo a vingança terminasse. Se eu não aceitasse, se vingaria sem mim.

Margareth olhou para Douglas.

- E o que você fez?

- A vingança dela é absurda demais. Achei-a doente e louca por causa da perseguição, e terminamos. Contudo, ontem fui procurá-la para ver se havia alguma chance entre nós. Ouvi quando conversava com um grupo e com um ex dela.

- Juan - disse Margareth.

- Exato. Ouvi quando Juan questionou a conduta de Lucynda, pedindo para que ela se esquecesse da vingança. Ela não só se negou, como ameaçou destruir o rapaz profissionalmente. Juan, creio eu, simpatizou com você - ele disse olhando para Margareth. - E é um bom rapaz.

Margareth apenas deu de ombros.

- Não posso negar que estou chocada. Não pensei que Lucynda faria isso. Meu amor... o que vamos fazer?

Fernando ouviu com metade da atenção. A outra metade pensava ainda no mal que havia feito para Lucynda odiá-lo tanto, a ponto de prejudicar outros para que sua vingança saísse perfeita. Fitou Douglas.

- Você a namorou. O que acredita que ela fará?

- Você foi o noivo dela. Creio que tem mais chance de responder.

- Acredito que ela fará algo escandaloso, que manche minha moral e da Margareth para sempre. E será na festa... algo como... fazer uma cena, ou algo assim.

- Não acredito na segunda parte. Creio que Lucynda não dará uma de ex-noiva possessiva. Não é do estilo dela.

- Então... - disse Margareth.

- Creio que ela fará de tudo para tornar o casamento um desastre. Arruinar a festa. Acabar com a noite de vocês. Deixar todos angustiados - Douglas ficou sério. - Se querem minha opinião, se afastem dela.

- Não - disse Fernando. - Agora que sabemos, Lucynda não poderá brincar conosco. Estamos preparados. Ela pretende arruinar a festa? Estaremos prevenidos. Contrataremos um salão reserva. Quando ela acreditar que nos arruinou, daremos nossa festa feliz em outro local e a deixaremos lá com cara de babaca.

- Genial - falou Margareth. - Lucynda merece isso. Por ter nos enganado.

- Eu não faria isso - Douglas disse. - Lucynda é uma pessoa perigosa. E esperta.

- Mas ela não sabe do que você nos falou - falou Fernando. - Então... vamos fingir que ainda não sabemos de nada. Deixá-la pensar que está no comando. E quando ela achar que nos destruiu, acabaremos com a sua felicidade e riremos dela. Como ela quis fazer.

Douglas nada disse. Fernando jamais ia admitir, mas se negava a aceitar conselhos dele. Era um desconhecido... e o ex de Lucynda.

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