Capítulo 2
Lucynda e Milena caminhavam pela famosa loja de departamentos da cidade. Lucynda se dirigia para a sessão de vestidos de noiva. As duas falavam baixo para ninguém ouvir o que diziam e porque Milena era bastante conhecida. Mas, ao contrário de ser reconhecida pelo rosto, cabelo e semelhanças físicas, ela era reconhecida nada mais nada menos do que pela voz.
- Você realmente pensou em tudo, querida - Milena observou o vestido de noiva que Lucynda deixou separado com a dona da loja enquanto tirava o cheque para pagá-lo. - Você realmente calculou tudo.
- Eu sei - calmamente Lucynda preencheu o cheque. - Sou metódica em minhas vinganças. Você sabe como isso termina, Milena. Ainda vai me ajudar?
- Claro que vou - sorrindo, ela fitou a amiga e abaixou o tom de voz. - Tenho o perfil de uma mulher amarga e que não ama nem a si mesma, embora todos saibam que o que eu menos sou é amarga e sem amor. Mas acredite, Fernando pensará que você se utilizou de meu desastroso caso amoroso para convencer a te ajudar.
- Realmente, se fosse qualquer mulher, ela teria ficado aos pedaços - Lucynda acenou para a vendedora e se dirigiu para a saída com a amiga. - Mas como é você... ficou apenas deprimida e saiu rindo da situação.
- Como não sair? Damien era um babaca indeciso. Fiquei surpresa quando ele me trocou e depois simplesmente me perguntei como não tinha me dado conta antes. E hoje tomamos café juntos toda as sextas-feiras na casa de meu irmão. E tudo ficou em família.
- Oh, sim, e que família! - Lucynda riu. - Confesse, você pensou em vingança.
- Claro que pensei. Ser trocada não é fácil. Você é a prova disso. Ser trocada por um homem é pior ainda. E quando esse homem é seu irmão, a coisa fica completamente fora de rumo. Mas eu sou Milena Raven, sexóloga, psicóloga e mulher. Damien se apaixonou por Jonas? O que eu poderia fazer? Apenas aceitar ou me matar. Gosto demais da minha vida, então... aceitar foi a melhor solução.
- Acho que eu teria me matado.
- Bem, o que posso dizer? Não sou você - Milena passou os dedos pelos cabelos. - Conversei com meu irmão, soltamos umas lágrimas e agora vivemos felizes para sempre, eu pegando meio México e eles no amor eterno e pensando em casar no exterior. A vida é exatamente isso. Claro que eu destilo meu veneno contra os homens no meu programa... Ouvi cada coisa e dei cada conselho que faria você se arrepiar, Lucynda.
- Já ouvi e já me arrepiei. E agora me dei conta de que esqueci minha chave no balcão da loja. Me aguarda um minutinho?
- Tenho escolha? Temos seu plano doido para fazer, esqueceu? Falando nisso, como pretende simplesmente aparecer no hotel onde Fernando fará o casamento e dizer que foi uma coincidência?
- Mas isso é tão simples... a parte mais fácil do plano, minha cara. Farei uma visita de rotina ao hotel.
- Visita de rotina? Você...
- ...faço parte da rede da qual sou gerente - disse Lucy completando a amiga e sorrindo.
- Mas... ele não sabe?
- Oh, não, querida. Ele sempre soube. Mas acho que meu querido ex-noivo está tão ocupado tentando fazer minha ex-amiga ter o casamento perfeito que alguns detalhes lhe passaram despercebidos.
Milena deu de ombros resignada, enquanto Lucynda sorria.
- Homens... têm distúrbios sérios de personalidade, são autodestrutivos e ainda por cima, otários. Sério, para que precisamos deles? Já sei a resposta. Para nos obrigar a fingir um orgasmo quando nós mesmas podemos obtê-lo sem tanto incômodo e "encheção" de saco. Acho que, no fim, nós somos as otárias.
Após tal brilhante declaração da amiga, Lucynda apenas pôde voltar à loja cheia e tentar resgatar sua chave. Milena se escorou na parede do lado de fora, pensando na vida, nos seus cachos, em tudo que pudesse diminuir a demora que Lucynda provavelmente teria para chegar ao caixa. Estava quieta, murmurando uma canção, quando se deparou com um homem à sua frente. O homem a encarava fixamente, mais tentando ouvir sua voz do que a observando. Milena cruzou os braços.
- Se veio me assaltar, quero informá-lo de que tenho curso de defesa pessoal e sou perita em dar chute no saco.
- Não quero assaltá-la. Apenas quero que me diga se seu nome é Milena Raven.
Milena suspirou. As vezes era reconhecida pela voz. O homem tentara escutá-la para ter certeza, e ela não fora discreta em sua conversa com Lucynda. Sorrindo, resolveu não mentir. Se era um fã, seria um prazer ouvir um elogio. Se não era um fã, seria um prazer destratá-lo.
- Sim, sou Milena Raven.
- Thierry Blanc - ele estendeu a mão, que Milena apertou. - Minha namorada costuma ouvir sempre seu programa. Acho que ligou para você uma vez.
- Hum, certo - ela disse, sem saber o que dizer.
- Devo dizer que acho interessante seus conselhos. Ouvi seu programa quando ela telefonou... achei incrivelmente gentil da sua parte dizer que aos vinte e cinco anos, um homem que já chega no estágio de fazer sexo duas vezes por semana tem problemas de impotência ou possui uma amante, ou simplesmente a parceira não é boa de cama.
Milena se segurou para não rir. Definitivamente não era um fã. Segurou o riso e encarou o homem com toda a seriedade que conseguiu reunir.
- Estudos comprovam isso... e agora estou intrigada... qual é o seu caso?
- Não acho que deveria dar esse tipo de informação para a mulher que arruinou meu namoro.
- Arruinei? Bem, então você deveria ter dito que sua ex-namorada ouve meu programa. Mas bem, quanto ao seu caso... quando os homens se negam a dizer, sem dúvida é a impotência. Vinte e cinco anos e duas por semana é de dar dó. Qualquer bêbado em um bar consegue mais do que isso. Honestamente, estou surpresa que ela não o tenha largado antes.
- Bêbados em bares... parece o seu tipo de homem. O que se pode esperar de uma mulherzinha vulgar que coloca o sexo acima do amor?
- Meus tipos de homens são todos, meu caro. Até um gay foi meu namorado. Chocado? Não, não tenho vergonha de dizer isso. Quanto ao sexo, aprenda que sexo e amor andam juntos. Se você não sente prazer com a pessoa, como pode amá-la? E se a ama, como pode não querer tê-la ao seu lado com a satisfação estampada no rosto? Eu deveria ter desconfiado quando Damien não queria mais do que uma vez por semana. Talvez seja esse seu caso... não, não é. Seu caso é que você é um idiota. Não amava sua namorada e tinha medo de terminar com ela. Então a incentivei a fazer isso. Deveria me agradecer e procurar alguém que realmente goste e alguém que você gostaria de ter em sua cama. Ou se conformar com o fato de que a impotência está chegando.
Suavemente ela se virou e saiu dali, deixando Thierry abobalhado e espantado. Milena entrou dentro da loja. As coisas iam se complicar mais ainda, e não era aconselhável que ela atraísse atenção para si. Não pôde ouvir a risada de Thierry nem o olhar que ele lhe lançou.
- Talvez você esteja certa, Milena Raven... - ele disse para si mesmo. - Talvez eu precise descobrir meu tipo de mulher... mas vamos começar pesquisando você. Conseguiu me intrigar. E poucos conseguem isso.
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