Capítulo 10
- Responda-me, Lucy... - continuou Milena, inquiridora - esse beijo foi proposital?
Lucynda apenas lançou um olhar para a amiga.
- Não precisa responder. Já entendi - suspirou. - Isso vai dar muita confusão.
- Como se eu não soubesse. Complicado isso...
- Pensando em desistir?
Outro olhar. Novo silêncio.
- Não farei mais perguntas - Milena disse.
- É melhor. Por que está aqui, Milena? Não deveria estar com o Thierry?
- Deveria, mas ele fez a gentileza de me lembrar que eu comi meio México, e eu o mandei passear. Você não me disse que ele era um idiota insensível.
- E ele não é - ela disse rindo. - Se ele te disse isso, é porque ele tem medo de você. Eu também pego meio México, e ele jamais me disse nada.
- Medo de mim? Eu tenho cara de serial killer?
- Você tem cara de quem faz um homem como ele ficar de joelhos por você. Pode apostar que, assim que ele perceber que você é a mulher da vida dele, irá fazer algo que a deixará surpresa. Confie em mim, eu o conheço. Dormi com ele. OK, esqueça a última parte. O conheço.
Milena encarou a amiga.
- Falar de mim é a maneira que você encontra para não falar do que aconteceu aqui, não, Lucy?
- Achei que não iria me perguntar mais nada.
- Não estou perguntando. Estou afirmando.
- Esta conversa deverá ficar para outra hora, Milena. Não agora. Agora devo sair daqui e provar esse lindo vestido... serei madrinha de um casamento depois de amanhã. Esqueça o que viu, esqueça esse beijo... não foi nada de mais.
Lucynda fez um movimento para sair da cobertura, sendo seguida por Milena.
- Incrível... Ou você está mentindo mal ou estou sendo perspicaz demais. Diga-me a verdade, Lucynda.
Lucynda se voltou mais uma vez para a amiga.
- Até a verdade tem hora certa para ser dita, minha amiga... ou admitida.
Milena deu de ombros, derrotada.
..........
Fernando descera para o salão, desolado. Por que raios havia feito aquilo? Melhor não pensar. Se Lucynda não queria pensar no assunto, por que ele deveria pensar?
Observou Margareth e Juan ainda conversando. Uniu-se a eles.
- Amor... onde você esteve? - perguntou ela.
- Por aí, Margareth, por aí... Que mal lhe pergunte, que ideia foi essa de pedir para que Lucynda usasse o vestido que você ia usar no meu casamento com ela?
- Ela não quer vingança? Apenas pensei em dar o troco...
- Margareth, isso não afeta apenas Lucy, a mim também. Vê-la naquele vestido... trará muitas lembranças - Juan suspirou, mas Fernando não lhe deu atenção. - Lembranças para você também...
- Para mim traz boas lembranças. Traz lembranças do dia em que assumimos nosso amor para todo o mundo.
- Para você, sim, mas para mim, me lembra como fui um canalha, e lembra a Lucynda todo o motivo dessa vingança. Peça a ela para não usar o vestido, Margareth...
- Não! Você está se preocupando demais com os sentimentos dela. Quero que Lucynda sofra, quero que ela veja que, no fim, eu ganhei. E terei isso, Fernando. Te amo, faria tudo por você, mas tenho direito a isso. E não pretendo discutir. Lucynda não usará o vestido a menos que ela me peça.
Naquele momento, Lucynda apareceu com Milena no salão. Margareth se calou e ficou vermelha, parecendo um pimentão. Fernando suspirou. Juan ficou quieto, como se ele fosse um abajur do salão.
Lucynda andou, passou por Fernando e o fitou. Viu que ele também carregava resquícios daquele beijo. Se voltou para Juan.
- Juan, preciso de sua ajuda na gerência. Hum... se importam de terminar de ver o salão sem nós?
- De maneira nenhuma, querida - disse Milena.
Juan fitou Lucynda.
- Você está bem?
Ela tocou suavemente o rosto dele.
- Já estive melhor. Mas obrigada.
E, deixando um Fernando perplexo e enciumado, ela saiu de braço dado com Juan, enquanto Milena os seguia serenamente.
Dois dias depois
A noite estava quente, mas não tão quente que as pessoas pudessem derreter nos vestidos ou com vento irritante que requisitasse xales e casacos. Uma noite perfeita para um casamento.
Lucynda caminhava pelo salão, cumprimentando convidados, sorrindo, bancando a gerente do hotel e a melhor amiga da noiva. Sorriu para um tio de Margareth que a conhecera e para alguns parentes de Fernando.
O vestido que Margareth lhe pedira para usar estava apertado nos seios e um pouco largo na barriga, mas, apesar disso, Lucynda estava linda. Caminhava com tanta graça que nem parecia para aquelas pessoas que ela havia sido abandonada num altar para seu noivo fugir com a mulher com quem se casava naquele momento.
Juan sorria também, bancando o anfitrião do hotel, mas não apenas aquilo. Lucynda o trouxera como seu acompanhante. Num canto do salão, Milena bebericava uma bebida, evitando olhar para Thierry, que estava engravatado como um pinguim servindo obedientemente drinques para todos. Em alguns momentos, ele se aproximara dela, mas Milena se afastara para tão longe do balcão quanto possível, e Thierry, estando trabalhando, não podia ir atrás dela.
Lucynda estava escorada com Juan ao seu lado. Observou o cenário e suspirou. Todas as peças da vingança estavam a postos.
Fernando, ao lado de Margareth, recebendo os convidados e conversando com o Juiz de Paz e o Padre que os casaria, também observava Lucynda e seus amigos, até mesmo Juan, embora Margareth vivia dizendo o quão bom ele era e que não estava envolvido na tramoia de Lucynda.
Ele se perguntava se ela levaria sua vingança até o fim.
Lucynda se perguntava a mesma coisa. Milena, tomando um Martine, não pensava em nada. Como sempre, já sabia a resposta.
Lucy estava serena, ainda observando o local, quando ouviu uma voz suave. Margareth a chamava em voz baixa e acenava para ela ir até eles. Rápida, ela se aproximou do casal, que ainda conversava com o Padre e o Juiz de Paz.
- Queremos apresentar minha madrinha, Lucynda Peters - disse Margareth. - Lucynda, estes são o Padre Felipe e o Juiz Alberto... as pessoas que me tornarão mulher de Fernando para sempre.
Lucynda sorriu e estendeu a mão para o Juiz e beijou a mão do Padre.
- Muito prazer em conhecê-los.
A mãe de Margareth, que fitava Lucynda, olhou para a filha.
- Filha... - disse ela, puxando Margareth para mais longe do grupo. - Acha mesmo conveniente fazer isso? Você roubou o noivo dela... agora a faz sua madrinha, com seu vestido, casando com o ex-noivo dela. Você está pedindo por um barraco.
Escandalizada, Margareth olhou para sua mãe.
- Mamãe, não exigi nada. Lucynda aceitou ser madrinha, não se importou em usar meu vestido e afirma ter esquecido Fernando.
- Você realmente acredita nisso?
- Claro que não, mas ela deseja que acreditemos. Eu apenas estou tirando proveito da situação.
- Espero que não se arrependa, filha. Conhece Lucynda e... bem, ela sabe e pode ser muito cruel.
- Eu sei, mamãe, mas estou preparada para tudo. Não importa o que ela fizer, saberei manejar. Ela ouse fazer algo e pagará caro.
- Você sabe o que faz. Ou ao menos acha isso. Então... vamos voltar para perto do grupo. O Padre já está avisando os convidados que a hora da cerimônia está chegando.
E, de fato, era o que estava acontecendo. O Padre avisou que o casamento seria feito em meia hora. Lucynda, ao ouvir aquilo, murmurou uma desculpa apressada e saiu rapidamente. Ao mesmo tempo, Milena saiu de onde estava e foi na direção da amiga.
Fernando observou as duas se movimentarem. Viu que estavam se posicionando. Sabia que a hora da vingança planejada por Lucynda estava chegando. Se sentiu triste por ela ter levado aquilo até o fim. Mas tencionava descobrir o que de fato ela pretendia fazer. E evitar, é claro. Murmurando algo, também saiu em direção a ela.
Rápida como um gato, Lucynda subiu as escadas, passando mais uma vez por Juan. Segundos depois, foi a vez de Milena e, logo em seguida, Fernando. Juan balançou a cabeça e se recostou na parede, fitando novamente Margareth, que sorria, fazendo algum último acerto. Calmamente ele pediu uma taça de Martine e a sorveu lentamente.
........
Milena e Lucynda foram para um dos salões de jogo do hotel. Devido ao casamento, o local estava vazio. As duas sentaram no sofá, perto e de costas para a porta. Fernando, observando onde as duas estavam, se postou escondido atrás da porta. Achando estarem sozinhas, elas falavam despreocupadas com o tom de voz.
- Aqui está - disse Milena, passando para Lucynda um DVD e um CD. - Sua vingança. Inicialmente, colocaremos um CD, e Thierry fará um strip-tease que deixará a dança da tequila no chão. E, depois, rodamos o DVD do seu casamento, as palavras "eu te amo" e a fuga dos dois. Justo no meio da falação do Padre. Será perfeito. Arruinará o casamento deles.
- É, eu sei.
- Você não parece animada. Lucynda, o plano é seu, você o bolou... durante sete meses.
- E bastou um mês para saber que eu não conseguiria fazê-lo. Milena... não posso. Não consigo arruinar o casamento dele. Achei que conseguiria, que o odiava mais do que tudo... mas não posso. Ainda o amo. E, se casando com Margareth, ele será feliz... então... que ele seja feliz.
Ela devolveu o DVD e o CD para Milena e escondeu o rosto nas mãos.
- Quando? - perguntou Milena.
- Importa quando? E, de qualquer maneira, você sabe. Você viu. Aquele beijo, no terraço... você perguntou se eu havia planejado aquilo. Pois bem, eu não planejei. Nem planejei a reação que ele me causaria. Não posso, Milena. Vou vê-lo se casar e o perderei para sempre. Mas não posso fazer mal a ele. Eu amo demais o Fernando.
Chorando pela primeira vez em meses desde o fim de seu noivado, Lucynda se jogou nos braços de Milena, que suspirou enquanto a consolava, sem saber que alguém as espreitava.
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