Capítulo 1
Capítulo 1
Não era muito tarde quando Lucynda se levantou. Mesmo sendo Domingo, o velho hábito de acordar cedo, exercitar-se e aproveitar o dia, ainda fazia parte da sua rotina. Pegando uma calça de ginástica e um top, ela saiu do seu prédio e ganhou a rua.
Sua corrida de uma hora três vezes por semana era sagrada. Lucynda curtiu o momento, o vento batendo no rosto, a música agradável que ouvia. Por alguns momentos, esqueceu-se da vida, concentrada apenas em manter seu ritmo e aproveitar aquele momento.
Uma hora depois, parou em frente a uma lanchonete e comprou sua água mineral. A tomou com vontade, repondo o líquido que havia perdido com o exercício.
Aproveitou para ler o jornal, que estava exposto em cima do balcão da lanchonete. Animada, leu as notícias sobre o mundo, a crise no Oriente Médio, as declarações do presidente dos Estados Unidos. Quando virou a página, se deparou com a coluna social. Interessada, percorreu aquela seção em especial, parecendo entusiasmada em saber quem saía com quem e as novas debutantes do ano.
Como se aos 25 anos fosse realmente pensar em debutantes. Mas leu página por página da extensa coluna social. O México dava grande importância a vida social alheia, logo, a seção da coluna social era tão grande quanto a parte das notícias mundiais.
Lucynda continuou com a sua leitura pacienciosa quando seu olhar se deparou com uma foto em particular. Sorrindo, finalmente leu a notícia pela qual aguardava nos últimos sete meses. Finalmente estava ali. Embaixo de uma grande foto de uma ruiva e um homem alto de cabelos escuros e olhos castanhps-esverdeados, ela leu a notícia que esperava desde sempre.
"Fernando Hernandéz e Margareth Lisbel marcam o casamento para daqui a três meses. A festa será realizada no Salão Imperial..."
Qualquer mulher ficaria furiosa em sua situação, ou ao menos amargurada. Mas Lucynda apenas conseguia sorrir. Rápida como um raio, ela saiu da lanchonete. Tinha muitas coisas a resolver.
-Você precisa de atenção? Acha que seu marido está te traindo? Quer arrumar um amante? Acredita que nunca atingiu um orgasmo? Pois aqui, na rádio Sex in Time, você pode tirar todas as suas dúvidas. E eu, Milena Raven, sexóloga, psicóloga e também mulher, estarei aqui para ajudar vocês. Atenderemos nossa primeira ligação de hoje logo após o comercial.
Milena fez um sinal e o comercial entrou. Tirando os fones, ela sacudiu a cabeleira curta e lisa e tirou a franja dos olhos. Teria dez minutos antes do primeiro telefonema. Resolveu tomar uma água para renovar a voz.
Ela nem precisou ir até o bebedouro. Quando saiu da sala, se deparou com uma mulher aparentemente alta, mas cuja altura se devia ao salto 15 centímetros que usava. Sorriu ao ver Lucynda lhe estendendo o copo de água.
-Lucynda Peters -disse enquanto pegava o copo e bebia um gole. -O que está fazendo aqui? Veio me ajudar a dar conselhos sobre sexo e finalmente aceitou meu convite para sermos parceiras?
-Obrigada Milena -respondeu Lucynda com um sorriso. -Gosto mais da vida de gerente de hotel. Vim até aqui porque precisava falar com você.
-Isso era óbvio -replicou a amiga. -O que houve?
-Se lembra de que lhe pedi ajuda... há sete meses atrás?
-Para a sua vingança? Como não me lembraria? Aceitei na hora e minha oferta continua de pé. Mas por que a pergunta?
-O momento chegou Milena. Fernando marcou o casamento. Está tudo pronto para eu agir.
Milena terminou de beber a água e jogou o copo fora.
-Você esperou demais por esse dia. Bem Lucynda, você sabe que eu a apóio e a ajudarei em tudo mas... tem certeza que é isso que você quer? Você pode se queimar nessa brincadeira... e se ainda estiver apaixonada por Fernando? Sua vingança se voltaria contra você mesma e isso não seria bom.
- Apaixonada por ele? -surpresa, Lucynda encarou a amiga que a fitava com dúvida no olhar, mas sem nenhum tipo de julgamento. -O que a faz tirar tal conclusão?
-Bem... como dizer? O fato de você estar há sete meses pensando nessa vingança até os últimos detalhes? -Milena falou com ironia.
-É, é uma dúvida justa. Lhe garanto minha amiga que eu não estou apaixonada por ele. Como estaria se ele me fez passar a maior humilhação neste mundo?
-Nós nos esquecemos das humilhações Lucynda -Milena falou em tom professoral, a psicóloga tomando conta da situação -quando ainda amamos o idiota que nos faz sofrer.
-Bem, não creio que este é meu caso. Ainda vai me ajudar?
-Se você diz... e você sabe que eu vou. Uma última pergunta Lucy, antes de qualquer coisa: e o Douglas, como fica?
Aquela pergunta pegou Lucynda de surpresa. Ela suspirou antes de dar a resposta.
-Douglas é um bom companheiro mas... ele sempre soube que eu tinha contas a acertar. Terá que aceitar ou partir. A escolha será dele.
-Entendo... -Milena na realidade não entendia. -Trocar um homem que gosta de você e quer se casar com você por uma vingança idiota... ah sim, me esqueci que depois do seu vergonhoso quase casamento você jurou nunca mais entrar em uma igreja.
-Que bom que se lembra. -Lucynda olhou para a amiga com raiva, a fim de encerrar a discussão. -Douglas é um assunto meu e bem... depois disso tudo podemos arranjar a nossa situação. Minha prioridade é me vingar do nosso iluminado casal. E quero saber se você está nessa comigo.
-Bem, você sabe que estou -Milena deu de ombros, aceitando o fim da discussão. -Deus sabe que só eu sei o quanto você chorou depois que o Fernando fugiu com a Margareth... e bem, você sabe o que faz. Algum plano em mente para começar com a ação? E quando começamos?
Lucynda sorriu, um sorriso que brilhava mais que o Sol de verão.
-Planos? Muitos. Quando começamos? Hoje mesmo.
Ele não sentia remorso. Ao menos ele se esforçava para acreditar nisso.
Fernando Hernandéz caminhava pelo salão do Hotel Palace. Observava o local, a quantidade de convidados que suportaria, o palco para a orquestra. O local sem dúvida era perfeito para a festa de casamento. Margareth sem dúvida tinha bom gosto. Aquela era sua Margareth, uma mulher doce, linda, e meiga, que estava providenciando para que o casamento dos dois fosse perfeito.
Tal qual sua antiga noiva, Lucynda Peters fizera um dia.
Fernando mais uma vez se perguntou por que Lucynda nunca havia feito nada contra ele. Ele a abandonara covardemente no altar, apenas com um bilhete e um pedido de perdão. Sumira e agora seu casamento saía nas colunas sociais. Acreditava que seu casamento com Lucynda seria um erro e que deveria ser feliz e dar a ela uma chance de felicidade. Mas aquilo não mudava o fato de ter agido como um babaca.
Contudo... Lucynda não havia feito nada. Justamente ela, a pior das mulheres, a mulher que ele mais temeria ter como inimiga. Estava ele tão enganado assim a respeito dela? Será que aquela veia malévola e cruel que ele dizia que Lucynda possuía era fruto da sua imaginação?
Bem, se o fosse nada mudava o fato de que se apaixonara pela melhor amiga da noiva.
Ainda se lembrava de como tudo havia ocorrido. O amor começara aos poucos, na convivência que ele tinha com Margareth, quando os três saíam juntos. No dia do casamento, contudo, ouviu Margareth chorando e ao questioná-la sobre o motivo ouviu a declaração de amor mais bela em toda a sua vida. E soube que também a amava.
Não hesitou em fugir do altar com ela e deixar uma nota para Lucynda. Estava apaixonado. Mas sempre temera a revanche de Lucynda. Sempre temera a vingança.
Contudo, sete meses se passaram e ela nada fizera. E agora ele se perguntava até onde estava errado e até onde fora um idiota.
Sua mente ainda divagava entre o passado e o presente quando duas mãos macias e sedosas envolveram seus olhos. Ele sorriu quando uma voz doce e meiga sussurrou em seu ouvido.
-Adivinha quem é?
-Quem mais poderia ser? -rapidamente ele tirou as mãos dos olhos e se virou, beijando a dona da voz, um beijo possessivo e bem lento -Minha incrível e maravilhosa noiva, Margareth Lisbel.
-Hum, e se tivesse errado? -sorrindo, Margareth o envolveu pela nuca -Teria beijado uma completa desconhecida?
-Como se eu não reconhecesse o seu perfeito toque. -Fernando respondeu sorrindo.
Ela deu um sorriso indicando que se dava por vencida. Fernando a abraçou pelos ombros e contemplou o salão onde realizariam a festa do casamento.
-No que tanto você pensa? -ela perguntou ao ver que Fernando estava distante.
-Estava pensando... em Lucynda -ele respondeu sem emoção nenhuma.
-Lucynda? Sei. No mínimo pensa em como teria sido caso tivesse se casado com ela.
Magoada, Margareth fechou o rosto e assumiu um semblante frio. Fernando a fez se voltar para ele e tocou seu rosto.
-Eu jamais pensaria nisso meu amor. Jamais trocaria você por ela. Estava pensando na veia vingativa de Lucynda. Ela sempre foi uma mulher vingativa e dura com aqueles que a traíam... e nós a traímos duplamente. Queria saber porque ela nunca fez nada.
Margareth pensou por um momento.
-Talvez ela não queira se vingar Fernando -Margareth disse aquilo sem convicção. -Talvez ela apenas seguiu em frente. Você sempre fez um juízo pior da Lucy, mesmo namorando com ela. Ela não é tão má assim.
-Será? -Fernando perguntou incerto. -Você não dormiu com ela por dois anos Margareth. Não sabe o que eu ouvia ela me contar.
-Oh, obrigada por me lembrar que você dormiu dois anos com minha ex melhor amiga, enquanto eu... nunca dormi com você, não é verdade? -ela disse aquilo com raiva.
Fernando suspirou. Tentara dizer uma coisa e Margareth entendera outra. Vivia se esquecendo do quanto a noiva era frágil quando o assunto era sexo. Mas o que se podia esperar de uma virgem?
-Desculpa meu amor. -Hesitando, ele se reaproximou de Margareth, que havia se afastado ao proferir as palavras. -Não quis dizer aquilo com a intenção de te magoar. Eu apenas queria dizer que conheço a Lucynda melhor que você. Não tem nada a ver com a sua virgindade. -Calmamente, ele a abraçou. -Eu sempre te respeitei e sempre vou respeitar as suas decisões.
-Ah Fernando... -Margareth se deixou abraçar e recostou a cabeça no ombro do noivo. -Não sabe como eu sinto medo... quero dizer, você teve a Lucynda, uma mulher linda e exótica que te dava tudo o que você queria e agora tem uma mulher tímida e insegura que nem consegue ir para a cama com você.
-O caso meu amor -Fernando tocou o lábio de Margareth com um dedo -é que eu amo você. E a Lucynda eu nunca amei. O que tivemos foi apenas carnal. Com você será amor. Um belo e lindo amor.
-Será Fernan? Será que amor bastará para você?
-Sempre bastou minha querida. Eu fugi do meu casamento por você. E o faria de novo. Agora pare de pensar besteiras. Vamos nos casar e nos amaremos muitíssimo. E não haverá Lucynda que nos separe. Mesmo que ela ouse tentar. Agora vamos ver os detalhes da nossa festa. Acha que as toalhas devem ser creme ou brancas? -A beijou rapidamente, enquanto a puxava para o centro do salão.
Sorrindo, Margareth o acompanhou. Ele tinha razão, Lucynda era parte do passado. Ela seria o presente e o futuro dele. Feliz, Margareth deu a opinião de porque as toalhas deveriam ser creme e ele a aceitou sem questionar. E felizes, continuaram vendo os detalhes da festa. Estava sendo um dia perfeito.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro