Engrenagens
Os dias têm sido lentos
As horas nunca demoraram tanto passar
E eu me sinto um gatilho
Prestes a estourar
Prestes a ruir
Desgastada como um vela
Onde a cera escorre pelo corpo
Queimando a si própria com o que produz
Dentro dela há um fogo
Que por si só não consegue apagar
E vai minando-a, sumindo-a, matando-a
As semanas parecem eternidades quando vistas de perto
De dentro da cidade tudo é pequeno demais
Quisera eu ver de fora da janela
De um avião, lá em cima, longe da fumaça
Do movimento, do calor, da falta de ar
Quisera eu respirar o mesmo ar das águias
Que tão alto planam
Sem se ligar com a esteira dos que vivem lá em baixo
Um ano nunca esteve tão distante
E meus dedos nunca tão longe de minhas mãos
Esticar-me é improvável
Cansando-me eu corro contra o girar do mundo
Contra o girar da minha cabeça
Presa em engrenagens que rodam rápido demais
Que me esmagam, me imprensam, me afastam de mim
A vida nunca pareceu tão lenta
E eu nunca tão parada
O mundo nunca tão louco
E os sonhos nunca tão distantes
O cansaço nunca tão presente
A vida nunca pareceu tão real
- Sirley Portela
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