A mesa
Era uma mesa quadrada, que existia num café. Como mesa era calada. Não falava, era mesa. Mas escutava. Ouvia quem se sentava, em volta dela.
Absurdo, uma mesa que ouve que escuta, e que sente.
Mas aquela ouvia e sentia e escutava. Escutava sempre.
Um dia a mesa ficou velha. Estragada. E foi retirada do café. Mas por estar suja e riscada. Não estragada, partida.
Foi para um canto. Um canto velho e sombrio como ela o estava. E estavam outras mesas, velhas, estragadas. Mas mesas que também não falavam e jamais tinham escutado, ouvido e sentido, o que os homens falavam, diziam e sentiam.
Sentiu-se deslocada, acabada e inútil.
Mas sentiu a voz da vontade. Vontade que ouvira alguns homens falar. E teve reacção. Vontade. E não se pôs como as outras, entregues ao destino, imprecavidas.
A mesa, não ficou desiludida nem vencida, nem acreditada no destino que se lhe deparava.
Riu-se talvez da sua primeira fraqueza. E das outras mesas.
Foi censurada. Que tola diriam elas.
Tempo passou. Passou como o vento, depressa. Tão depressa que a mesa, que costumava sentir, não sentiu que passara mais de um ano.Uma pequenina vida.
E ao fim deste tempo, como não estava acarunchada., vivia, o seu dono que precisava duma mesa, não viu nela uma mesa estragada. Simplesmente riscada de boa serva.
E a mesa foi recuperada.
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