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Capítulo sétimo


Um vulto tocava notas tristes numa guitarra acústica Gibson, a melhor do mundo, sentado no pequeno muro de betão que rodeava um parque de estacionamento. Tocava para a lua que estava longe, tocava sem cantar quando o sabia fazer tão bem, tocava notas soturnas e sombrias em acordes pesados.

Mark reconheceu Ritchie depois de o procurar durante a tarde toda e já tinha anoitecido quando o encontrou, finalmente, naquele parque de estacionamento, no extremo da cidade. Fazia muito frio, mas a adrenalina de ter terminado as suas buscas aqueceu-o ligeiramente e ele deixou de tremer. Aproximou-se devagar, não o queria espantar.

Ritchie parou de dedilhar a guitarra e perguntou, agressivo:

- Vieste ver-me chorar? Queres saber o que resta, depois de ter tudo destruído?

Mark mostrou-lhe as mãos.

- Ei, meu. Calminha! Quero que venhas para casa comigo.

Ritchie suspirou.

- E porque não tenho outro sítio para voltar...

- Não é isso, meu. Somos amigos, certo? Eu sou teu amigo... Está muito frio, dizem que vai nevar esta noite, não quero que durmas na rua quando isso é completamente desnecessário. Agora moras comigo.

- Poderia recuperar o que tenho, não é?

Mark já se tinha aproximado e parou ao pé de Ritchie. Cruzou os braços.

- Queres explicar-me a tua ideia?

- Não há ideia nenhuma... É só uma constatação. Eu ainda fiz alguma coisa antes de ter morrido num acidente de avião, há trinta anos. Fiz umas músicas, ganhei algum dinheiro, construí uma herança mínima do Rock 'n Roll. Terei um património... se aparecer a reclamar o que me pertence...

Calou-se. Continuava a tocar a guitarra.

- Sim, meu. Acho que é uma excelente ideia.

- Não é ideia nenhuma – insistiu, agora zangado. – Só estou a pensar.

- A tua família vai gostar de te rever.

A mão de Ritchie espalmou-se contra as cordas, silenciando-as abruptamente. Ficou um acorde desafinado a vibrar por um segundo e depois, no silêncio, escutou-se o vento.

- Talvez, Mark. Talvez... Têm estado trinta anos sem mim, o desgosto há muito que foi esquecido. Se eu regressar agora... reabrirei velhas feridas.

- Isso pode acontecer no início. Mas depois vão celebrar o milagre. Eu ficaria contente se um irmão meu regressasse depois de tanto tempo ausente.

- E vou ocupar um espaço que já não é totalmente meu.

- Ritchie, o que queres dizer? Quando perdemos alguém, esse espaço nunca é ocupado.

- A vida continua, certo? A vida continuou sem mim.

- E pode continuar e seguramente que vai continuar, agora contigo.

Apareceu um sorriso triste no rosto cansado do rapaz.

- O homem da loja de música perguntou-me se eu sabia tocar Beatles... Fiz-lhe uma careta que eu achei que tivesse sido engraçada e disse-lhe que conhecia os Crickets do Buddy Holly. O homem levou para a brincadeira e disse que eu tinha humor, que devia ser comediante. A tocar guitarra e a contar piadas iria safar-me. Disse-lhe que era um músico e que o Rock 'n Roll era a minha vida e ele deu-me duas palmadinhas nas costas. Então, compreendi que havia alguma coisa de errada comigo... Mas não é comigo, não é verdade, Mark? É com o mundo todo. Eu não sou... ninguém. Sou apenas um miúdo de Pacoima que gosta de Rock 'n Roll e que teve uns êxitos nas tabelas. Não sou mesmo ninguém. O mundo não pode adaptar-se a mim, nem eu preciso de me adaptar ao mundo.

- O que estás para aí a dizer, meu? Se queres conhecer os Beatles, vamos ouvir umas cassetes e ficas a saber quem são esses. Música porreira, digo-te já...

- Os Beatles têm música porreira...

- Foram a maior banda do mundo, nos anos 60. Toda a gente conhece os Beatles.

- Então, já não existem... como eu? Os Beatles.

- Não... O grupo separou-se em 1970 e em 1980 um dos seus membros, o John Lennon, foi assassinado em Nova Iorque. Foi daqueles dias em que toda a gente se lembra onde estava e o que estava a fazer. Como aconteceu com o presidente Kennedy.

Ritchie suspirou.

- Como aconteceu em fevereiro de 1959...

Mark ia dizer-lhe que não, a morte do presidente e do músico britânico tinham abalado mais o mundo do que o dia em que a música morreu, cantado pelo Don McLean no seu êxito "American Pie", mas não fez o comentário. Ritchie já se mostrava suficientemente desanimado. Mentiu:

- Sim, foi parecido.

Ritchie levantou-se do muro e Mark respirou de alívio.

- Vamos embora, meu. A minha mãe está a preparar um jantar especial e tudo, por causa de ti. Fico contente que te tenhas resolvido.

- Eu não resolvi nada – retorquiu Ritchie obstinado.

- Está bem... com a barriga cheia pensamos melhor, é verdade.

- Tens música contigo?

- Agora? Agora não trouxe o meu Walkman, estava preocupado demais... queria encontrar-te...

- O teu quê?

- Um leitor portátil de cassetes. Queres ouvir música comigo, esta noite? Depois do jantar, no meu quarto... Tenho um leitor porreiro, sabes? Uma boombox à maneira. Temos é de pôr num volume mais baixo do que o normal, porque o meu pai não gosta de barulho quando se vai deitar.

- Os Beatles.

- E os tipos mais recentes, meu. Os Beatles são... pois, já foram. Gosto de Bon Jovi e dos Milli Vanilli. Podemos ouvir a Madonna e o Michael Jacskon também, apesar de não serem o meu estilo. Recuamos mais um pouco e vou mostrar-te Led Zeppelin ou até os Queen.

Mas não chegaram a escutar as cassetes. Depois do jantar foi cada um para o seu quarto. Portas fechadas e trancadas. Silêncio. Algum ressentimento? Provavelmente. Necessidade de isolamento, de reflexão.

Nessa noite, Ritchie não dormiu. E Mark também não. O primeiro cirandava pelo quarto, numa inquietude deplorável e o segundo ficou a escutar-lhe cada passo e cada volta, noutra inquietude cheia de aflição e de remorso. Lá fora nevava, como o boletim meteorológico anunciara.

A preocupação de uma situação impossível minava-os e amedrontava-os. No fundo, a decisão cabia apenas a uma das partes e a outra devia acatar o que ficasse resolvido. Em muito semelhante ao que tinha acontecido na noite da tempestade. Tinha havido uma escolha que afetara duas pessoas, sendo que uma delas não pudera escolher.

Mark sabia que depois daquela noite em branco iria acontecer outra mudança. E que dessa vez era ele que devia aceitar estar na outra ponta, sem possibilidade de refutar ou de argumentar. Ele não tinha pedido autorização a Ritchie para salvá-lo e agora, ele não devia recusar a solução proposta por Ritchie. E temia, com um medo paralisante, temia perder o que já estava perdido.

De madrugada, o sol a querer nascer nesse dia gélido, escutou duas batidas na porta. Foi abrir e Ritchie entrou. Estava despenteado, exaurido, derrotado. Mais doente do que quando fora resgatado dos destroços da avioneta fantasma. Mark estendeu um braço e convidou-o para que ele se sentasse na cama, o único lugar onde o poderia fazer, mas ele recusou. Continuava com a mesma obstinação.

- Não pertenço a este mundo – desabafou Ritchie, por fim. – Não deveria estar aqui. Não sei se quero, efetivamente, estar aqui. Devo regressar.

- Regressar... queres regressar para onde?

- Para o meu tempo.

Mark negou com a cabeça.

- Salvei-te naquela noite – explicou. – Não sei o que foi preciso para abrir esse portal que te fez atravessar trinta anos. Ou seja, não tenho a capacidade de o voltar a abrir e levar-te de volta ao teu tempo. Não faço a mínima ideia do que fazer. Houve uma tempestade... se foi a tempestade, muito provavelmente terá sido, também não consigo convocar os elementos e criar uma nevasca semelhante.

- Irei regressar a Clear Lake. Talvez se me colocar no local exato onde me encontraste...

- No terreno das traseiras da pousada da minha tia, perto do milharal do senhor Hardcove...

- Talvez. Quem sabe? – Ritchie encolheu os ombros.

- Se regressares... se regressares, vais desaparecer.

- Irei?

- Ei, meu. Pois claro que vais desaparecer! – exclamou Mark elevando a voz. – Vais morrer! Não vai haver ninguém que te irá salvar nessa noite, há trinta anos!

- Talvez nunca pudesse ter sido salvo... talvez eu tenha morrido com o impacto da avioneta no solo, como aconteceu com os outros passageiros dessa viagem amaldiçoada. O facto de me teres encontrado...

- E por que motivo eu te encontrei, Ritchie Valens?! – perguntou Mark agitado, na raia da fúria. – Não conhecia a tua música até ter conhecido a Carol, precisamente em Clear Lake, durante aquelas minhas férias forçadas. A minha cena é outra, meu. Velharias dos anos 50... Pff!

- Agora... já conheces.

O sorriso de Ritchie desarmou-o. Mark expulsou o ar do peito, a sua caixa torácica diminuiu de volume e ele sentiu claramente as suas costas a se curvarem numa corcunda que lhe pesou sobre a coluna vertebral. Todo ele se esmagava perante a sua impotência e a renúncia do outro.

Depois lembrou-se que tinha de aceitar, pois Ritchie também aceitara o que ele lhe fizera.

- O que queres dizer?

- Vais guardar-me na tua memória, Mark.

- É isso o que tu queres. Foi isso que tu decidiste... ser uma memória.

- Decidi ser quem sou. Um rapaz da Califórnia que toca Rock 'n Roll e que teve um ou dois êxitos que serão eternos. Velharias dos anos 50. Disseste-o muito bem.

- Preferes que a tua música exista e tu... e tu não? Que lógica é que isso tem? Para que raio precisamos do teu sacrifício? Não preferes estar vivo e testemunhar o teu legado para a música?

- Claro que preferia! Vamos deixar os deuses decidir isso? Volto ao local do acidente e esperamos para ver o que acontece.

- Não vai acontecer nada!

- Então, ficará tudo bem. Não é assim?

- Tens confiança... tens confiança nesses deuses?

- Absoluta.

- Tu és louco.

- E adoro o Rock 'n Roll.

Ritchie sorriu-lhe.

Mark juntou as mãos, como numa prece, implorou de olhos húmidos:

- Por favor... fica. Acredito que poderás criar nova música, acredito que vais voltar a ser famoso.

- Um fantasma do passado?

- Um músico do futuro!

- A tua amiga Carol haveria de gostar de me conhecer... – atirou pensativo, entrelaçando os dedos. – E eu gostaria de ter escutado a música de que gostas. Começando pelos Beatles.

Mark achou que Ritchie estava a dar-lhe uma oportunidade única que não podia ser desperdiçada. Uma alternativa à escolha formulada naquela longa noite de insónia. Concordou, enchendo-se de esperança e de entusiasmo:

- Ei, isso é uma excelente ideia! Vamos visitar a Carol e cantas-lhe as tuas canções. Se quiseres, fazemos uma pequena angariação de fundos entre amigos e compramos-te a guitarra que tens emprestada. Começamos por essa guitarra. E depois, quem sabe? Onde te poderá levar essa primeira guitarra.

- Muito bem, Mark. Regressamos a Clear Lake. Gostaria de o fazer hoje, se não te importares.

E, de repente, Mark percebeu que tinha perdido o jogo.

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