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Capítulo segundo


A paisagem no exterior era magnífica. Um cobertor branco e luminoso estendia-se até ao horizonte, sob um céu intensamente azul, salpicado por algumas nuvens que flutuavam leves como pequenas bolas de algodão. A tempestade da noite anterior parecia ter varrido o mundo da sujidade e deixara, em vez do que havia antes, uma angelical neve perfeita, que tornava a vista bela e melancólica. Aliás, nem parecia que horas antes se tinha abatido sobre Clear Lake uma nevasca tão intensa.

Era o que Mark conseguia ver através daquela janela que cortava parte da parede do corredor do piso de cima, onde se situavam os quartos e que dava para as traseiras da pousada. Estava tudo imaculado, quieto, num estado de suspensão – como num quadro. E o seu pensamento iria formular a questão que se impunha, naquele caso em particular, que o intrigava e que destruía a perfeição vislumbrada, onde jaziam os destroços da avioneta que ele devia conseguir ver desde aquele ponto de observação, quando a porta do quarto se abriu. Mark endireitou-se e deu meia volta, colocando a janela, a paisagem e as suas dúvidas atrás de si. O médico saía do quarto, acompanhado da tia. Na sala comum estava o xerife que aguardava para poder subir até ali e fazer um interrogatório preliminar. Já tinha recolhido alguns depoimentos, entre eles o de Mark, que teve de repetir várias vezes a sua versão da história da noite anterior.

A tia mostrou-lhe uma careta, mas Mark queria entrar primeiro do que o xerife. Fez o pedido, mudo e ansioso. A tia desfez a expressão severa e fez-lhe um sinal com a cabeça, deixando a porta entreaberta, murmurando que tinha cinco minutos. Depois continuou a escoltar o médico, num silêncio tenso.

Mark entrou no quarto e encostou a porta.

Sobre a mesa de cabeceira, o rádio tocava música do estilo country, num registo baixo para não incomodar o convalescente. Na cama, recostado em três almofadas, o rapaz estava acordado e confuso, com um ar abatido. Vestia um casaco de pijama, que lhe fora emprestado e que era uns números acima dos seus, pelo que as mangas estavam largas e lhe escondiam as mãos. Sobre a mesa, junto ao rádio, numa pequena bandeja, havia um copo de leite e bolachas. Mark reparou na mancha vermelha no rosto, provocada pela neve abrasiva de quando fora arrastado. Estalou a língua. Causara-lhe aquele ferimento, mas na altura, com a aflição de afastá-lo dos destroços, não se lembrou de o voltar para evitar aquele prurido que devia doer. O médico tinha aplicado um desinfetante, a mancha estava brilhante. De resto, não lhe notou outros ferimentos. Nem um osso partido. Fora mesmo um pequeno milagre ter-se salvado do acidente aéreo praticamente incólume.

- Oi, meu...

Começou. O rapaz olhou-o, notando a sua presença pela primeira vez.

- Bom dia – respondeu, numa voz falhada. Pigarreou.

- Bom dia. Fui eu que... fui eu que te trouxe para cá. Estás na pousada da minha tia. Já acordaste...

- Sim... Já.

- Chamo-me Mark. E tu?

- Richard.

- É um prazer conhecer-te, Richard.

- Podes tratar-me por Ritchie... com um t.

- Ritchie com um t. Certo. Isso é porreiro.

- Porreiro...

- Sentes-te bem?

O queixo do rapaz tremeu.

- Não... não tenho a certeza.

- O médico tem estado a acompanhar-te. Veio para cá esta manhã. Avaliou a tua condição, fez um primeiro diagnóstico, deu-te mais do que apto para... para o que vem a seguir. – Escondeu que o xerife pretendia interrogá-lo e que só esperava a autorização médica para fazê-lo. Talvez ele já o soubesse. Talvez lhe dissesse mais tarde. – A minha tia comentou que está tudo muito bem contigo, tendo em conta o que aconteceu... ontem. Lembras-te do que aconteceu ontem?

- Sim... lembro-me.

E de súbito Richard desatou a chorar. Escondeu a cara nas mãos, envergonhado. Mark deu dois passos, sentou-se na cama e tocou-lhe no ombro.

- Ei, Ritchie... para lá com isso. Já passou. Estás vivo e isso é o que importa.

- Eu... eu... sempre tive medo de andar de avião – desabafou num soluço. – Tinha sonhos horríveis, em que o avião onde eu viajava explodia. Um primo meu morreu por causa de um acidente de avião... Depois, ontem... ou era ir no autocarro com o sistema de aquecimento avariado, ou era ir no avião que tinham fretado. Eu não queria. Foi moeda ao ar, eu ganhei... queria ter perdido. O Buddy até disse...

Chorou mais um pouco e depois calou-se. Mark sentiu-se terrivelmente culpado por não ter sido mais rápido durante a sua façanha de salvador. Podia ter resgatado mais pessoas. Apertou as mãos uma na outra, apertou-as entre as coxas. Perguntou, cabisbaixo:

- Ia mais alguém contigo, no avião? Amigos? Esse Buddy...

- Éramos três, mais o piloto. Eu, o Buddy e o Richardson. E o piloto – repetiu.

- Só te encontrei a ti, caído, na neve...

- Estão todos mortos, não é verdade?

Mark engoliu em seco. Olhou para a janela do quarto, tapada parcialmente por cortinas amarelas, com flores, que cortavam a luminosidade que vinha do dia bonito no exterior. Dali não se veria o terreno das traseiras.

- Receio bem que estejam, Ritchie. Perdoa-me.

- A culpa não é tua. Tu tentaste remediar a situação... afinal, conseguiste salvar alguém. Eu! Tu é que me vais perdoar por não me sentir demasiado agradecido, neste momento. Estar vivo, quando os outros faleceram, não me parece... uma boa coisa. Compreendes?

- Sim, claro que compreendo.

- O espetáculo correu tão bem... para depois acontecer isto.

- Espetáculo? – estranhou Mark, crispando a testa. – Que espetáculo?

- O concerto que demos ontem à noite. Aqui, em Clear Lake.

- Houve um concerto ontem à noite? Estava a nevar tanto.

- Não tocámos na rua.

- Eh... Pois, tens razão. Diz-me lá. Que idade tens, Ritchie?

- Dezassete anos.

- Ei, isso é muito interessante! – exclamou, mas refreou o entusiasmo por notar que soara ofensivo, dada a situação do rapaz que se mostrava tão melancólico. Emendou, apontando um dedo a si próprio: – Eu também tenho dezassete anos. És músico?

- Sim, sou. Nunca ouviste falar de mim? Oh, desculpa... não me apresentei como devia de ser. Sou o Ritchie Valens.

Mark torceu a boca, puxando pela memória.

- Valens? Valens... acho que me diz alguma coisa, sim... mas agora não me lembro. Estás confortável? Deves ter fome. Estão aí leite e bolachas. Se quiseres, posso ir buscar-te mais qualquer coisa para comeres.

- Está tudo bem, Mark. Obrigado.

Incapaz de sonegar aquela informação fundamental por muito mais tempo, em jeito de confidência, Mark revelou:

- É melhor comeres, meu. O xerife está quase aí e quer falar contigo.

O rapaz disse, conformado:

- Compreendo. Mas sinto-me sem fome, neste momento. E posso receber o xerife nas minhas atuais condições. Irei portar-me bem.

Então, Richard já sabia que estava prestes a ser interrogado. E estava tão calmo. Se fosse consigo, estaria um frangalho de nervos.

- Compreendes? – desconfiou.

- Sim, claro que sim. Afinal trata-se de um acidente e eu sou o único sobrevivente. Vai haver uma espécie de... de inquérito. É assim que se diz, não é?

- É assim que se diz, sim. Um inquérito. Não é bem só isso, meu.

- O que mais há? Não tive culpa de o avião ter caído. Também seria uma vítima se tu não tivesses aparecido. Tenho é um pequeno problema...

- Que pequeno problema?

Bateram à porta e Mark levantou-se da cama. Enfiou as mãos nos bolsos das calças de ganga. A porta abriu-se, a sua tia chamou-o com um aceno de mão.

- Ei, meu. Boa sorte.

O rapaz estranhou aquela despedida e escolheu não responder. O xerife cumprimentou-o ao entrar no quarto e quando Mark saiu, a tia, que nunca largara a maçaneta, fechou a porta. Ela estava apreensiva e tinha um ar fatigado. Cruzou os braços. Mark encolheu os ombros.

- Ele parece-me bem...

- Mark!

Soprou o ar com a boca, impaciente. Estava farto de repetir aquela história e fizera-o perante o xerife, depois de jurar sobre a bíblia, mantendo a sua versão e afiançando que não estava a mentir.

- Mark...

- Tia – cortou ele agastado –, já te disse que foi o que aconteceu, ontem à noite. Uma avioneta despenhou-se no quintal das traseiras, perto da plantação de milho do senhor Hardcove. Antes de explodir consegui salvar o rapaz... o Ritchie. E ele vai contar exatamente a mesma coisa, que sobreviveu, graças a mim, a um desastre aéreo.

- Mark, eu quero tanto acreditar em ti.

- Nesta fase, tia... também eu!

A tia afastou-se, pedindo-lhe para vir ajudá-la com as mesas da sala de refeições. Como não tinham hóspedes, iriam mudar as toalhas e limpar o espaço. Era de muito mau tom ficarem no corredor. Deviam afastar-se, acrescentou, pois ao estarem ali davam a impressão, muito censurável, de que queriam escutar o que se passava no quarto, às escondidas e, no fundo, tratava-se de uma investigação policial, com a sua parte de confidencialidade que eles não deviam perturbar, ou ter a veleidade de conhecer. Mark concordou. Não queria ser acusado de obstrução à justiça, ou de querer conhecer segredos em proveito próprio, quando estava também debaixo de fogo.

A seguir a tia pelo corredor, olhou, mais uma vez, pela janela que mostrava a paisagem bonita daquela manhã. No terreno das traseiras não havia sinal de quaisquer destroços da avioneta que caíra. Era como se o acidente não tivesse acontecido.

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