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001. O Bracelete

Sempre que me lembro que não sou daqui me dá uma sensação de que estou fazendo merda atrás de merda. Aliás, o meu nome é Ahri e eu nasci em uma das Coréias, mas não me considero uma coreana nata. Isso porque sou brasileira naturalizada, moro no Brasil desde que me entendo por gente, em São Paulo, no bairro Liberdade — carinhosamente apelidado de "Liba" por nós, habitantes.

Por ser um bairro tipicamente japonês, você deve estar se perguntando o que eu faço aqui. Eu nasci no dia quinze de janeiro do ano dois mil, atualmente tenho vinte e dois anos. Eu estou noiva, mas isso é só uma curiosidade, não vem ao caso nesse momento. A verdade é que eu não sou filha biológica, sou adotiva. Os meus pais adotivos são japoneses imigrantes e, quando fui adotada, a minha mãe não conseguia engravidar. Eu era bebê quando ganhei um lar, e fui escolhida por eles por causa da minha ascendência asiática. Três anos depois, com tratamento, a minha mãe engravidou e teve a minha irmã, Ayumi. A nossa diferença de idade é de cinco anos.

Até o momento em que escrevo isso, eu não sei muita coisa sobre a minha "parte coreana". Bom, eu conheço a cultura das Coréias. Os meus pais sempre apoiaram que eu conhecesse o lugar da onde eu vim, então eu já viajei para as Coréias algumas vezes. Mas eu nunca parei para conhecer, de fato, a minha história antes de ser adotada, até porque isso não faz diferença para mim atualmente e eu nunca tive a curiosidade e necessidade de ir atrás quando era mais nova.

Talvez esse pensamento mude com o decorrer do livro, não irei descartar essa hipótese neste momento.

Porém, por enquanto eu vou ficar na Ahri que eu conheço e na minha família adotiva. Então, voltando ao assunto de antes…

Aqui em casa não existe diferença entre filhas, recebemos exatamente os mesmos privilégios e o mesmo investimento financeiro. Eu não sou tratada como a filha adotiva, a coitadinha, e a Ayumi não é tratada como a biológica, a princesa. Nós somos iguais. Tirando o fato de eu ser maior de idade e a minha irmã ainda não. Por isso eu posso fazer algumas coisas a mais do que ela.

Os meus pais investem muito na nossa educação profissional. Desde nova, eu ouvia deles que nós nascemos para sermos lembrados mesmo depois que morrermos, e, para eles, a melhor forma de se conseguir tal "façanha" é através dos estudos. A única coisa que eles cobram de nós são notas boas e uma formação. Eles nos querem ver profissionalmente realizadas e marcadas na humanidade. E eu concordo com esse pensamento deles. Eu curso Engenharia Aeronáutica na ITA, que, segundo rankings internacionais, é uma das melhores instituições do mundo no ramo aeronáutico. Muita gente fica de queixo caído quando eu digo isso, mas eu só estou lá porque me esforcei demais para conseguir uma vaga.

No meu curso é preciso saber muita coisa relacionada à  Matemática e à Física. Essas são  duas matérias que tiram o sono de muita gente, mas não o meu. Eu sou muito curiosa quanto ao funcionamento do planeta, e eu já tinha para mim que não conseguiria estudar outra coisa se não fosse relacionada à área das exatas. E para vocês, leitores, vai ser importante guardar essa informação, porque é a partir dela que a minha história vai começar a ganhar sentido.

Essas duas matérias tem uma importância exímia para a minha família, isso porque, há anos, um dos nossos antepassados descobriu uma forma de viajar no tempo usando as Leis da Física e os números três, seis e nove. Bom, este antepassado sabia como fazer uma viagem para o passado ou futuro apenas na teoria. Na época ele não tinha grana para colocar a mão na massa em um projeto de máquina do tempo, mas conseguiu deixar inúmeros registros que serviram para que, com o passar dos anos, seus descendentes fossem dando continuidade e conseguissem chegar ao invento que poderia mudar o curso da humanidade. Tecnicamente dizendo, quem conseguiu finalizar a invenção foi o meu pai, Miguel, e a sua irmã, a tia Miyuki. Só que eles nunca tiveram a oportunidade de testá-lo antes. Quando houveram problemas familiares que fizeram a minha tia se mudar para o Japão, em dois mil e onze, a máquina ficou no Brasil com o meu pai e ele decidiu repassá-la para mim e para a Ayumi. Junto dela, ele nos repassou os estudos feitos até o momento e disse que a partir de agora, nós duas éramos as responsáveis por fazer daquele o projeto mais útil para a humanidade. 

Diante disso, eu e a minha irmã chegamos à conclusão de que aquela máquina deveria ser prática e rápida para quem a usasse. Ela deveria ser leve, fácil de carregar e difícil de perder. E o que se encaixaria melhor nessas condições do que um bracelete?

Mas nós só fomos cogitar a ideia de que uma máquina do tempo poderia ser um tiro dado pela culatra só depois que a interface do bracelete  estava pronta. Se aquele objeto fosse tão acessível para a população como o meu pai planejava que fosse, poderia ter um louco causando uma catástrofe no espaço-tempo — que, dentro dos nossos estudos, é a quantidade de locais que o nosso bracelete do tempo conseguiria abranger. Por exemplo, vai que um neonazista atual decide se juntar à Hitler no passado? Depois que nos demos conta de que isso poderia acarretar uma grande crise humanitária, dispensamos o plano inicial de tornar a invenção algo universal. Ela passou a ser apenas um segredo familiar que tentamos esconder até mesmo das pessoas mais próximas à nós. Até mesmo do Kenzo, o meu atual noivo.

Entretanto, num dia desses em que eu estava arrumando o meu guarda-roupa, eu acabei encontrando o invento misturado às minhas roupas. Imediatamente eu me lembrei que ele não havia sido testado, e junto da lembrança me veio a curiosidade de saber se a coisa tinha funcionado como eu imaginava que funcionaria. Então eu esperei os meus pais saírem de casa para dizer à Ayumi que iria tentar viajar através do tempo.

— Você tem certeza que isso é seguro? — Enquanto eu ajustava o instrumento no meu pulso esquerdo, a minha irmã me rondava, visivelmente preocupada. — E se você morrer? O que eu vou falar pro papai e pra mamãe?

— Eu não vou morrer — falei com serenidade. — No máximo tomar um choque muito forte. Aí você me leva para o hospital.

Por dentro, na verdade, eu estava com medo. Não sabia se tinha ajustado o instrumento direito, porque fazia alguns meses que eu não o via, sequer. Além disso, eu também estava nervosa por ser a primeira a usá-lo. Pensamentos pessimistas como "se você for parar na Idade da Pedra, não terá sinal para voltar para o seu tempo novamente" invadiram a minha mente e quase me fizeram desistir de testar o aparelho, mas a minha curiosidade não me deixou deixá-lo de lado.

Quando o liguei, apenas vi um clarão e ouvi a Ayumi gritando o meu nome ao fundo. Depois disso só me lembro de acordar no meu quarto — que consegui identificar que era o meu por conta da arquitetura, já que a primeira coisa que percebi foi a mobília diferente.

— Ayumi! — Eu chamei pela minha irmã, mas ao invés dela, uma senhorinha aparentando ser de muita idade veio ao meu encontro. Ela era baixinha, tinha a pele muito enrugada, cabelo branco e preso em um coque no alto da sua cabeça  e, o traço mais marcante para mim, olhos castanhos escuros puxados. Quando me viu, ela gritou:

— みゆき、変な金髪が目を覚ました!
(— Miyuki, a loira estranha acordou!)

Foi então que uma moça mais jovem veio correndo até o cômodo em que nos encontrávamos. Ela tinha uma pele perfeita, sem nenhum sinal de acne. Seu cabelo era preto e longo até a altura do peito, assim como as suas sobrancelhas eram grossas e bem desenhadas. Seu nariz fino contrastava perfeitamente com os lábios carnudos, cujos quais lembravam perfeitamente o formato de um coração. Por mais que o vestido verde floral que ela usava fosse simples, o caimento a fazia parecer ainda mais bonita do que já era. Ao bater os olhos sobre ela, eu senti que a conhecia de algum lugar, mas no momento eu não conseguia me lembrar qual era.

Ela também tinha olhos puxados.

A moça veio se aproximando vagarosamente de mim, enquanto isso a senhora nos deixava a sós no local e fechava a porta do quarto atrás de si. Mesmo que eu tivesse a impressão de que aquela jovem era uma boa pessoa, eu tecnicamente não a conhecia, então não pude deixar de sentir um pouco de receio sobre ela se encontrar muito próxima à mim. Por este motivo, acabei por me encolhendo na cama e entrando no meu "modo defensivo".

— Não se aproxime! Quem é você? — Acabei murmurando, mesmo que quisesse gritar tais palavras.

Ao me ouvir, a moça parou aonde estava e ergueu as duas mãos para o alto.

— Eu não quero te machucar, pode confiar em mim. 

Algo me dizia que ela falava a verdade. Foi nessa hora que eu pisquei os meus olhos repetidas vezes e dei uma breve olhada em volta. Os móveis que estavam ali pareciam não muito atuais, pois eram de madeira de sucupira. Inclusive a cama na qual eu me encontrava. Só de me remexer um pouco no mesmo lugar ela já rangia.

— Essa é a minha casa, mas está tudo diferente. Cadê a Ayumi?

Do lado oposto ao que eu estava havia uma escrivaninha com uma cadeira. A moça foi até ela, a puxou para virá-la na minha direção e se sentou.

— Parece que estamos tendo um desencontro, mas calma. Você deve estar confusa, então deixa eu me apresentar: eu me chamo Miyuki, não sei quem é Ayumi, mas acho que sei quem você é.

Miyuki. Ela tinha o mesmo nome da minha tia que foi morar no Japão.

De relance, olhei para o meu braço e notei que o bracelete não estava mais lá. O desespero bateu na minha porta no momento em que tateei os bolsos do meu short e não senti o instrumento em nenhum lugar. Eu precisava achá-lo imediatamente! Dei um pulo na hora para fora daquela cama e me coloquei de pé. 

— O meu bracelete! Ele sumiu! Eu preciso dele!

Ela parecia querer falar algo antes do meu despertar para o sumiço do instrumento. Ficou me encarando por uns dois meros segundos antes de olhar para trás, puxar a primeira gaveta da escrivaninha que se encontrava perto de si e tirar de lá o meu pertence.

— É isso?

No segundo que ela ergueu o que era meu, eu avancei em sua direção e o tomei das suas mãos. Eu não tinha a intenção de ser brusca ou algo assim, mas eu não a conhecia, e aquele objeto tinha um valor muito maior do que sentimental para mim naquele momento.

— Obrigada — ao pousar os olhos sobre a pequena telinha digital e tecnológica que a minha "pulseira" possuía, eu notei uma coisa que não havia notado antes: o número "1991" estampado na frente da data do dia que eu julgava ser aquele mesmo dia no ano de 2022, onze de junho. Foi então que a minha ficha "caiu" sobre o aparelho ter funcionado e eu senti algo como uma chama feliz crescendo no meu peito. Porém eu não iria comemorar sem tirar a prova. Levantei o meu olhar para a mulher mais uma vez e notei que ela me encarava com um semblante confuso. — Você me acharia louca se eu te perguntasse qual a data de hoje…?

— Não, acharia normal. Tem gente que faz loucura pior do que isso — com um breve dar de ombros, ela "melhorou" a sua expressão quando eu falei contigo. — Estamos no dia onze de junho de mil novecentos e noventa e um.

— Noventa e um? — De repente, aquela chama que estava se acendendo no meu peito pareceu querer explodir de felicidade pela invenção ter funcionado. E eu não fiz sequer muita questão de segurar a felicidade, também. Saí saltitando pelo quarto e segurando gritinhos finos de felicidade enquanto dizia: — Isso é incrível! Surreal! A Ayumi vai amar e…

— Será que dá para você calar a boca e me ouvir pelo menos uma vez!? — Antes eu nem estava percebendo quando a mulher tentava falar comigo, diferente do momento em que gritou essa frase. Foi ela a pronunciar que eu imediatamente calei a minha boca e voltei a minha atenção à ela.

— Desculpe. Pode continuar.

— Pois bem — ela raspou brevemente a garganta. — Nós temos um sobrenome em comum: Aikyo. Eu me assustaria com a sua chegada repentina na minha casa se eu não soubesse que você esconde um segredo… — Neste momento, a mulher me encarou seriamente e fixamente. — Que segredo é esse?

Esperta.

— Isso não é algo que eu deva contar — respondi enquanto apertava o bracelete contra o meu peito. Mais esperta do que imaginei que seria, a mulher observava os meus gestos com uma expressão serena no rosto.

— Um segredo que você está escondendo nas suas mãos?

Era a minha primeira viagem no tempo e eu já tinha falhado tão miseravelmente em esconder um segredo que era para ser muito secreto? Ou isso ou eu estava diante de uma das mulheres com o raciocínio mais ágil que eu já conheci na vida.

— Na minha família tem a receita de uma máquina do tempo e eu tenho trabalhado nela. Será que não estamos falando do mesmo feito?

A sua frase — junto com a sua fala anterior de que tínhamos o mesmo sobrenome — me fez ligar os pontos imediatamente e ter a certeza de que éramos parentes. Eu reparei melhor nos seus traços. Embora estivesse muito mais jovem do que eu a conheci, eu me perguntei como pude ser tão lerda a ponto de não perceber antes que estava diante da minha tia Miyuki!

Tia Miyuki era irmã do meu pai, como eu disse anteriormente. Eles ainda tinham mais um irmão, cujo qual nem sequer dava atenção para a própria família havia muito tempo. Na verdade, nem vou me aprofundar nele, mas eu acho bom vocês saberem um pouco mais dessas curiosidades sobre mim.

— Tia! — Assim que me dei conta de quem ela era, eu fui correndo na sua direção a abraçar. — Eu estava com saudades!

Ela ficou imóvel diante do meu gesto, mas não sem fala.

— Então além de bipolar, você é minha sobrinha? — Ela me afastou o suficiente para olhar em meus olhos e reparar o meu rosto. — Você é filha de quem?

— Do Miguel. Na verdade, eu sou adotiva, e a minha irmã se chama Ayumi. E você vai morar no Japão em dois mil e onze. Ops!

A partir daqui, vocês, leitores, podem contar quantas merdas eu deixei escapar pelos meus lábios enquanto eu estava em um tempo que não era o meu. O que podemos definir como "merdas"? Simplesmente tudo aquilo relacionado ao futuro, que eu não deveria falar no passado, mas acabei falando. 

Vale ressaltar que nada disso foi por querer. E, na minha defesa, também digo que eu sou uma pessoa muito cuidadosa com o que digo. Às vezes as palavras apenas escapam dos meus lábios por puro calor do momento, e isso é bastante complicado de controlar.

E mais: ninguém pode me julgar. Todo mundo já fez isso pelo menos uma vez na vida.

E eu acho que a minha tia estava completamente ciente de que eu era apenas uma humana confusa por não estar no seu tempo. Ela pode até ter ficado em choque com a revelação que lhe fiz sem querer, mas não deixou transparecer. Pelo contrário, pareceu que decidiu ignorar a minha fala e até me abraçou.

— Se o Miguel pôde escolher quem seria a filha dele, ele tem bom gosto. Escolheu logo uma loira bonita e gostosa que provavelmente chama atenção por onde passa.

Sobre mim, uma coisa ela disse certo. Mesmo que eu não me achasse tão bonita e tão gostosa quanto ela disse, eu realmente chamava a atenção por onde eu passava. O motivo exatamente eu não sei, mas julgo que as pessoas da grande São Paulo não são muito acostumadas a verem uma asiática de cabelo loiro cara a cara. Mas no meu tempo o kpop estava em alta, então meio que acabava influenciando  o jeito que as pessoas me viam na rua.

— Eu não acho que eu seja atraente como a senhora diz, tia — disse. Antes que aquele assunto se prolongasse, eu optei por voltar ao que dizíamos antes. — A senhora tinha me perguntado sobre o tal segredo… — Neste momento, eu tirei o bracelete de um dos bolsos do meu short, no qual eu o havia guardado, e o ofereci à mulher. — Não creio que seja mais um segredo para você, mas esse bracelete é a máquina do tempo da nossa família. 

— Interessante — ela pegou o instrumento e o examinou atentamente. — Quem teve a ideia de o transformar em um acessório?

— Foi universal, na verdade — retruquei. — Eu e a Ayumi pensamos, eu desenvolvi o design e a parte tecnológica e ela me ajudou com a programação dos botões. Porém, justamente por ela ter feito a maior parte da programação é que eu não sei como é possível que a escolha do ano seja feita. Eu não pensei em noventa e um quando saí do meu tempo.

— É possível que a sua irmã já tenha deixado o ano acertado quando terminou a programação — ela tinha um ponto. — Eu não vejo nada que faça mudar o dia ou as horas aqui, provavelmente isso só poderá ser alterado se houver uma reprogramação. Tipo a estrutura de um átomo: só muda se for mexido. A parada deve ser só a mudança de data. Você deve aparecer na hora e local que saiu do seu tempo para viajar.

Fazia sentido. Por isso eu ainda estava na minha casa, só que com a minha tia morando ali, e não o papai.

Para conseguir bater o olho e saber tão perfeitamente do que se tratava, a minha tia também deve ter ficado responsável pela programação do aparelho quando este estava na posse dela, eu deduzi. Se até mesmo dentro de casa o meu pai era um cara muito preguiçoso, por que não seria para fazer pesquisas, também?

Tia Miyuki parecia ser uma pessoa muito inteligente, e esse fato junto ao que eu não tive a oportunidade de ter muita convivência com ela antes dela mudar de país me fez ter a vontade de continuar ali por horas, na sua casa, estudando o bracelete. Mas eu não podia. Eu viajei no tempo apenas com a intenção de testar o instrumento, não poderia permanecer em um tempo que não era o meu. Aliás, eu ainda estava testando o aparelho. Se, porventura, eu acabasse não conseguindo voltar para o meu ano, eu ainda teria que encontrar uma forma de mudar a programação do ano caso a Ayumi não estivesse programado algo como 1991 < 2022. Também tinha o fato de que eu tinha acordado em uma casa diferente, ou seja, provavelmente tinha passado várias horas fora da minha própria casa. Quando eu decidi testar o bracelete, meus pais tinham saído apenas para ir ao supermercado, o que significa que àquela altura já deviam estar de novo em casa. O que a Ayumi falaria se eu passasse muito mais horas fora? Eu e ela estaríamos encrencadas!

— Tia, eu tenho que voltar para o meu tempo — pensando nisso, falei. — Eu terei que perguntar à Ayumi algumas coisas sobre a máquina. A minha viagem para cá foi apenas um teste, não posso ficar muito tempo.

— Eu sei — ela quase cortou a minha fala. — Mas você terá que voltar aqui em casa mais vezes porque eu gostei de você — um sorriso ladino surgiu nos seus lábios assim que disse isso. — E antes que você diga que não, eu vou te convencer. Antes de ir embora você vai comer um lanchinho delicioso que eu vou te preparar e lhe fazer ficar com vontade de voltar aqui sempre para comer mais.

Golpe baixo. Não sei se está bem estampado na minha testa, mas uma das minhas maiores características é adorar comer. Já ouvi dizer que é coisa de tia conquistar os sobrinhos com comidas gostosas, e tecnicamente dizendo, o Kenzo me conquistou completamente depois que me levou para comer em diferentes lugares. Então não tinha nem como eu recusar um lanchinho da Miyuki, me dêem um desconto.

Eu a segui até a cozinha e esperei sentada no balcão americano enquanto ela me preparava suco e ovos mexidos com bacon e cheddar. Somente o cheiro estava quase me fazendo aguar, eu toda hora perguntava se já estava ficando pronto. Como eu me conhecia bem, sabia que se não encontrasse alguma coisa para me distrair enquanto esperava, eu iria acabar tendo uma das minhas conhecidas "crises de fome", na qual eu fico super mal-humorada até que me dêem algo para comer. Foi então que percebi, por cima do balcão, um jornal escrito em japonês. Ao trazê-lo para perto de mim, pude reparar na manchete principal da capa: banda de guitarrista japonês faz sucesso na Grande São Paulo. No subtítulo, estava escrito que a tal banda se apresentaria naquela mesma noite em uma casa de shows que ficava no centro de São Paulo.

Não vou negar, a foto da banda estampada na página realmente me chamou a atenção. Não sei bem o motivo, mas eu senti a necessidade de saber quem eram eles.

— Tia, que banda é essa aqui?

Ao ouvir a minha pergunta, ela desprendeu os olhos rapidamente da panela para olhar para a foto que eu lhe mostrava.

— Se chama Utopia. São bem famosos por aqui por causa do japonês. Eu queria ir nesse show aí, mas não vou sozinha.

Parando para pensar rapidamente, alguma coisa me disse que eu deveria vê-los de perto para saciar a minha curiosidade sobre eles. Por mais que eu imaginasse apenas que estivesse tendo tiques desnecessários, saber o nome da banda me fez ficar ainda mais curiosa sobre os integrantes. O motivo eu não sabia exatamente. Eu só queria vê-los.

— Não seja por isso — involuntariamente, me peguei falando. — Eu vou com você.

Ela ergueu as sobrancelhas e tirou a panela do fogo. Seguiu em silêncio até o balcão, aonde pegou um prato e colocou o meu lanchinho nele e logo após me serviu suco. Se virou na minha direção, desconfiada, e me perguntou:

— Você tem certeza? Não vai sair apaixonada?

— Tia, só se vive uma vez! — Tá, talvez eu tenha me sentido ofendida. A minha intenção era só assistir ao show, não pegar alguém. — Eles devem ser muito bons para sair na manchete de um jornal, eu fiquei curiosa para vê-los ao vivo.

— Aham, sei — ela não parecia muito convencida com as minhas palavras, mas apesar disso não insistiu nelas. — Então vamos fazer o seguinte: você tem uma hora para terminar de comer, ir para a sua casa se arrumar e estar aqui na minha casa novamente. 

— Uma hora!? — Eu me assombrei com o curto tempo que ela me deu. Era praticamente impossível eu me arrumar em poucos minutos. — Por que sair tão cedo? O show começa às oito e ainda não são nem… — Como eu não fazia ideia de que horas eram, fiz uma pausa para encontrar um relógio naquele lugar. Achei um de ponteiros pendurado na parede da sala. Ele marcava quatro e cinquenta e três da tarde. — Cinco horas!

— Parece que você não sabe como o trânsito de São Paulo pode ser caótico depois das seis… — Ela me olhou com uma expressão melancólica. — Eu quero conseguir lugares bons.

Ela tinha mais um ponto contra mim, e discutir diante dessa situação seria inútil. São Paulo em si já era caótico, depois das seis da tarde ficava ainda pior. O que eu pude fazer foi terminar de comer o mais rápido possível para voltar ao meu tempo logo.

A Ayumi foi muito inteligente nessa jogada de programar o ano do bracelete, e eu teria que dizer isso diretamente para ela uma hora. Mas não naquele momento. Eu consegui voltar para dois mil e vinte e dois da mesma forma que fui para mil novecentos e noventa e um — mas dessa vez eu não desmaiei e acordei na minha cama. Eu reapareci na sala de casa. E assim acabei me deparando com uma cena que nunca imaginei antes que me depararia: a minha irmã caçula sentada no sofá, chorando e explicando aos meus pais que eu havia feito uma viagem no tempo para testar a máquina fazia horas e, até então, não havia voltado.

Sentada junto da minha irmã, a minha mãe ouvia tudo atentamente, também derrubando lágrimas. Juntas, as duas estavam com os seus rostos inchados de tanto chorar. O único que permanecia sério e em completo silêncio era o meu pai.

Eu aparecer na sala atraiu os olhares de todos eles na minha direção. Assim que me viram, Ayumi e mamãe vieram correndo me abraçar, o que fez eu me sentir meio mal pelo estado de preocupação que eu as deixei. Eu as abracei de volta, e só depois de algum tempo é que elas foram se tranquilizar.

O meu pai não falou nada comigo depois que eu disse que o bracelete estava funcionando e que não tinha tempo de explicar o que aconteceu naquele momento porque precisava voltar ao passado mais uma vez. Eu tive que inventar desculpas esfarrapadas para desviar das perguntas que a minha família me deferia sobre a minha viagem para eu conseguir ir tomar um banho e me arrumar o mais depressa possível. Só depois que eu já estava pronta, o senhor Miguel veio até mim dizer o quanto a minha experiência significava para ele.

Eu sabia. E em outra hora eu adoraria ter aquela conversa com ele. Eu não queria ser mal-educada em dizer que estava com pressa, mas ele me repetindo o quanto aquela máquina do tempo era importante para a nossa família estava começando a me irritar.

Em um momento de brecha, eu o deixei falando sozinho e saí sem que ele percebesse. Do lado de fora de casa, eu me escondi atrás de um carro e fechei bem os olhos antes de acionar novamente o botão que me levaria para noventa e um. Assim que olhei novamente, notei que várias coisas haviam mudado: a pintura das casas, a fachada de algumas e, principalmente, os modelos dos carros e motos que se encontravam na rua. Para início de conversa, o carro que me escondi atrás em dois mil e vinte e dois era um Ônix branco. O que me tampava quando me dei conta de que estava em mim novecentos e noventa e um era uma Brasília amarela.

4488 palavras.

Ei, pessoinhas! Como vocês estão? Espero que todos bem!

Estou recomeçando a postagem deste livro que é absurdamente importante para mim. Estão preparados para viver as aventuras da dona Ahri com uma escrita mais bonita, detalhada e milimétrica?

A faculdade de engenharia definitivamente está me fazendo ficar muito perfeccionista, haha. Mas isso não é necessariamente considerado algo ruim por mim. Eu já aprendi que o perfeccionismo salva vidas!

Me digam, gostaram do capítulo? Quais são as suas expectativas para a história?

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