• 2 • "Perdi"
No dia seguinte, depois da prova, fui uma das últimas pessoas a sair da prova. Do lado de fora, assim que me vê, Ryujin vem correndo na minha direção.
- Unnie! - Ela grita. - Como foi na prova? Acha que se saiu bem?
- Sim. Estive estudando muito pra essa prova, então acho que fui bem. Mas achei bem difícil. Tem duas questões que assinalei uma opção por obrigação, mas na verdade estava em dúvida entre duas opções.
- Hmm, acho que também tive esse problema. De alguma forma quase sempre fico em dúvida entre C e D nas minhas provas de múltipla escolha. - Ela diz.
- Mas, de qualquer forma, como tínhamos que justificar a nossa resposta, coloquei os cálculos pra duas das respostas. Caso esteja errado, acho que posso ao menos tentar conseguir algum ponto com o cálculo da outra resposta. - Digo enquanto procuro minha carteira dentro da mochila. - Vou comprar algo na cantina pra viagem. Quer vir comigo?
- Vamos, vamos. - Começamos a andar na direção da cantina. - Unnie, você é muito inteligente. Olha, eu não tinha pensado em deixar o cálculo das duas respostas por via das dúvidas. Espero ter apenas acertado.
- Ah, mas é bem possível que isso nem adiante. Faculdades costumam ser mais duras com os pontos. Acho que só vão me dar o ponto do que eu assinalei certo. - Paramos na frente da caixa da cantina. - Um sanduíche natural e um chá gelado pra viagem, por favor.
Sorrio e entrego o dinheiro. Nos movimentamos pro lado pra dar espaço pro próximo na fila.
- Ah, hoje eu vi de novo. - Olho pra Ryujin assim que ela volta a falar. - Eu estava sentada durante a prova e notei ele olhando pra você de novo. - Ela chega mais perto de mim e diz numa vozinha animada. - E umas duas ou três vezes. Acho que em uma delas ele até sorriu.
- Ryujin, é isso que você faz com o seu tempo de prova, hum? - Olho pra ela piscando os olhos rápido e com um singelo sorriso no rosto. - Não estava prestando atenção nas questões, estava?
Ela parece ofendida.
- Unnie! É claro que eu estava levando a sério. Só que eu me cansei muito depois de algumas questões mais difíceis. Eu só estava me dando alguns minutos de descanso. E acabei vendo algo. - Ryujin tenta se explicar.
- Duas ou três vezes de descanso? - Pergunto.
- Eu estava muito cansada. Não seja má. Acho que fui bem na prova também, de qualquer forma. - Ela sorri, parecendo satisfeita consigo mesma.
Meu lanche chega.
- Obrigada. - Depois que agradeço, pego minha sacola de papel e vou andando lado a lado com Ryujin até o nosso dormitório.
- Você é muito difícil. Não vai mesmo se deixar surpreender nem um pouquinho com a minha notícia? Te trouxe boas novas e você age como se não fosse nada. - Ryujin continua tocando no mesmo assunto.
- É porque não é nada. Escute, o Jimin é uma pessoa afetuosamente complicada. Ele é de afetos íntimos e casuais, sem grandes significados e mistérios. É direto e breve. Não tem motivo pra eu ficar me atolando meus sentimentos mais ainda pensando em coisas desse tipo. Então, não me tente. - Digo séria enquanto andamos.
- Humpf. Ainda acho que não seria a mesma coisa com você. Ele poderia facilmente se apaixonar por você sem perceber. E depois notar isso aos poucos. Somos as únicas pessoas com quem ele aparentemente não pensa nessas coisas. E assim ele dá oportunidade pra sermos importantes pra ele e ele se apegar como amigo. Isso faz muita gente se apaixonar. Porém, vocês são mais grudados. Não acho que seria o caso comigo. Somos muitos mornos um com o outro, apesar de nos darmos bem. Seria você, tenho certeza.
- Certo, certo. Como queira. - Respondo, soltando um suspiro.
Durante o tempo que Ryujin fica falando sobre as conspirações amorosas dela sobre o Jimin e eu, chegamos na porta do nosso dormitório e logo entramos. Ambas tomamos um banho, cada uma na nossa vez, e depois eu me sento na mesa de estudos com a folha de rascunho da prova, onde eu tinha anotado algumas coisas pra pesquisas minhas dúvidas. Ryujin fica sentada na sua cama mexendo no celular enquanto eu revejo minhas respostas e como meu lanche.
Minutos se passam e alguém bate na porta do quarto. Eu e Ryujin trocamos olhares breves e nós duas nos levantamos, mas ela vai fazer alguma outra coisa enquanto eu vou atender. Ao abrir a porta, descubro que quem tinha batido era o Jimin. Ele olha pra mim e sorri. Sorrio de volta.
- Oi, Jimin. - Digo.
- Oi! Eu posso entrar? - Ele pergunta.
- Claro, claro. Entra. - Dou espaço pra ele entrar e assim que ele o faz, começo a empurrar a porta pra fechá-la, mas Ryujin surge segurando-a. Ela sorri de forma estranha.
- Deixa que eu fecho. Não se incomode. Vou sair mesmo. - Olho pro corpo dela e vejo que tinha de repente vestido uma jaqueta jeans e estava com sua bolsa pendurada na ombro. Olho pro rosto dela novamente com uma expressão de suspeita no rosto e semicerro os olhos. - Algum problema, unnie?
- Aonde vai? - Meu olhar mostrava pra ela que eu estava entendendo seu plano e que não aprovava nem um pouco.
- Não avisei ontem que iria ver minha amiga do curso de medicina? - Ela responde de forma desconfortável, como quem queria fugir. E eu sabia que o Jimin deveria estar nos olhando confuso pela forma que estávamos nos comunicando.
- Mas não disse hoje cedo que iam se ver de tarde? Está cedo.
- Resolvi ir mais cedo. Se me der licença. Ah, e bom dia, Jimin. - Ela faz uma breve reverência, ele devolve da mesma forma e ela sai do quarto rapidamente batendo a porta. Fico alguns segundos olho pro chão e respiro fundo.
- Vocês brigaram ou algo assim? Estão se comportando estranho. - Ele pergunta, com as mãos nos bolsos.
- Não. Estamos bem. - Recobro minha consciência e ajeito minha postura, me voltando na direção da mesa de estudos novamente. Me aproximo e me sento.
Depois de alguns minutos de silêncio, Jimin já estava fazendo o mesmo de sempre, e eu também. É o que acontece todas as vezes. Ele vem me visitar, eu estou fazendo algo relacionado aos meus estudos, ele senta do meu lado e começa a implorar por atenção e em alguns momentos fica em silêncio quando percebe que estou fazendo alguma questão ou algo assim.
Nesse exato momento eu estou lendo uma questão online parecida com a da minha prova de hoje, tentando entender o raciocínio melhor.
- Ei, minha Deusa. Tivemos uma prova hoje. Você precisa estudar? - Ele pergunta, deitado com a cabeça no meu ombro.
- Posso parar se você precisar falar algo. Só estou checando as minhas respostas. - Respondo.
- Hm...é importante? - Ele faz outra pergunta.
- Como eu disse, eu posso parar se precisar falar algo. -Digo, calma.
- Mas eu não quero te atrapalhar.
Fecho meu caderno e me viro pra ele.
- Você não me atrapalha. Até parece. - Sorrio. - Quer fazer alguma coisa?
- Hm...não sei. Você não quer terminar isso e depois nós fazemos alguma coisa? - Jimin pergunta.
- Eu estou quase acabando. Termino isso rápido depois que você for embora. Não se preocupe.
- Então pode terminar agora. Vai, vai. - Ele segura meus ombros e tenta me virar pro meu caderno.
- Não, eu já parei. - Olho pra ele.
- Então recomece.
- Jimin, vamos fazer alguma coisa ou vamos ficar discutindo que nem um casal? - Pergunto. Ele me solta e pensa por um minuto.
- Ficar discutindo que nem um casal. - Ele sorri.
Ah, ele vai começar de novo.
Para fins informativos, sinto que devo lhe avisar sobre isso. Eu e o Jimin temos uma amizade baseada em três coisas: Companheirismo, zoação e flerte. É, eu sei. Isso só fortifica tanto a opinião das pessoas sobre nós quanto meus sentimentos por ele, mas eu não consigo evitar isso. Pelo menos isso, eu realmente preciso admitir que não consigo deixar de lado. É meu ponto de burrice. Ninguém é perfeito.
Mas, verdade seja dita. É divertido. E francamente, às vezes não parece que estamos brincando. No meu caso, eu confesso que não estou realmente brincando sobre a maior parte das coisas que eu falo nessas brincadeiras de flerte. Camadas mais profundas da minha cabeça se abrem nesses momentos. E acho que meu lado tímido só torce pra zoação não ficar séria e eu precisar tomar uma atitude. Ao mesmo tempo que meu lado sério não acha que o Jimin vá mesmo fazer algo. Pelas razões que eu mesma disse ontem.
No fim das contas, nós apenas entramos na atuação do momento, dando em cima um do outro até alguém, normalmente eu, cortar a brincadeira.
- Hm...o príncipe da faculdade não conseguiu atenção o suficiente ontem na festa? Precisa de atenção da sua Deusa? - Digo sorrindo sem olhar pra ele.
- Ah, Vênus, a verdade é que ninguém preenche a falta que você faz pra mim. - Jimin me abraça enquanto eu guardo meus lápis no estojo.
Essa foi golpe baixo.
Vou ter que usar aquilo.
- Será que Park Jimin se apaixonou perdidamente pela sua Deusa? Aquele que todos pensavam ser um homem cujo coração não tem dona? - Digo num certo tom de graça.
Jimin vira seu rosto pro meu e me olha nos olhos. Meu coração pula uma batida.
Ele sorri e toca o meu rosto. Straight girl panic.
- O conceito de acharem que meu coração não tem dona é algo da sua cabeça, Vênus. Todo mundo sabe que eu sou apaixonado por você. E só não tentei nada até hoje porque não acredito que sinta o mesmo. - Ele diz tão diretamente que sinto que esfaquearam meu coração múltiplas vezes.
- Ah...
Não sei o que dizer, merda.
Perdi.
Por alguns segundos, minhas mãos tremem enquanto estou sob os olhares dele, intensos como sempre foram. Até que, de repente, ele começa a rir e se levanta da cadeira.
- Meu Deus, perdão, Vênus. - Ele diz, parecendo que vai morrer de tanto rir. - Peguei muito pesado.
- V-você...seu aproveitador dos infernos!! - Respondo, com a mão no rosto sentindo minha pele quente. - Não me fale uma coisa dessas de repente!!
- Me desculpa, minha Deusa. Não queria te assustar. - Ele se senta na minha cama. - Você ficou tão sem graça. Fiquei me sentindo mal agora. Aliás, você ainda está.
Ele me olha enquanto me abano. Olho pra ele com cara de reprovação e ele ri.
- Não sabia que você ia ficar tão tensa. Imagina se fosse verdade. O que você faria se não fosse mentira?
- Parecia que eu ia conseguir reagir de alguma forma? - Digo, indo até a mini geladeira do dormitório e pegando água.
- Se não te conhecesse tão bem, diria que você gosta de mim. - Hesito em beber minha água ao ouvir isso. Se. Hahaha. Eu gosto, seu trouxa. - Porque você faz parecer.
- Só eu? - Digo, depois de beber alguns goles de água e devolver a garrafa a geladeira. - E você? Não me faça parecer boba de cair pelo que você disse quando você mesmo fala de uma forma que faz parecer sincero.
- Ah, eu admito. Eu faço parecer mesmo. - Ele olha para os próprios pés.
- Metade da faculdade acha que temos alguma coisa, e quando você leva a brincadeira do flerte pra esses níveis, até eu fico em dúvida e começo a achar que você sente algo de verdade. - Digo, com uma coragem que não sei de onde veio pra sugerir tal coisa.
- Esperta. - É a única coisa que ele responde, e hesito em falar alguma coisa.
Olho pra ele por alguns segundos depois de guardar a garrafa na geladeira e já estar de pé novamente. Ele, sentado na cama e pleno, me olha de volta com um sorriso no rosto. E eu semicerro os olhos.
- Não vou cair nessa de novo. - Digo e volto a me sentar na cadeira. Ouço ele dar uma risadinha. - Só por causa da brincadeira, vai esperar eu terminar de checar minhas respostas. Mudei de ideia sobre te fazer esperar.
- Tudo bem. Como minha deusa quiser. Espero o tempo que for preciso por você.
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