• 1 • "A última coisa que ele é, é exclusivo"
- Eu estou indo, Deusa. - Jimin me dá um beijo na bochecha e corre pra porta, pelo que ouço. - Até amanhã!
- Até amanhã. - Respondo sem tirar os olhos da matéria da prova que estava relendo. - Estude pra prova!
Ouço um grito feminino não muito alto vindo da porta e ignoro. Eles devem ter se esbarrado de novo. Depois de alguns segundos, alguém entra suspirando no quarto, como quem acabou de levar um susto.
- Novamente saindo correndo pra uma festa em véspera de prova? - Ouço a voz de Ryujin falando enquanto ela fecha e tranca a porta do dormitório.
- Uhum. - Respondo enquanto faço anotações.
- Você deveria conversar com ele. Não entendo como esse menino consegue nota. Parece que ele nunca estuda e só vai pra festas o tempo todo. - Ouço ela se jogando na cama. - E você? Como foi seu dia?
- Foi um dia bom. Não fiz nada muito impressionante pra ser destacado, na verdade. Foi satisfatório. Eu passei a maior parte do tempo conversando com o Jimin e depois estudando até agora. - Respondo, terminando de fazer meu resumo.
- Sério? Ah, unnie, você é tão inteligente. Eu tenho estudado mais do que eu fazia antes, mas ainda assim tenho tanta dificuldade que não consigo me sentir confiante. E temos essa prova amanhã. - Ryujin solta um longo suspiro. - Porém, passei a tarde toda na sala de estudos.
- Isso é bom. Acredito que vai se dar bem. - Pego uma caneta de marcar texto na cor azul e vou destacando algumas palavras importantes do meu resumo.
- Ah, eu espero que sim. Mas vou reler mais algumas páginas antes de dormir. Pode tomar banho primeiro, se quiser. - Ela diz ao se sentar. - Já está acabando?
- Já acabei. - Guardo minhas coisas no estojo e empilho meus livros e cadernos na minha metade da mesa. Me levanto e pego uma muda de roupa e uma toalha. - Pode usar. Bons estudos.
- Obrigada. Bom banho.
Assim que tranquei a porta do banheiro atrás de mim, soltei um longo suspiro. Foi um dia cansativo. Estou acostumada a estudar, mas sempre termino o dia perto do meu limite e fico sempre muito cansada.
Entrei no box do chuveiro e liguei a água. Fiquei parada alguns segundos sentindo a água quente cair em cima da minha cabeça. Tentando relaxar. Pensando no dia que tive e deixando qualquer pensamento aleatório ir e vir.
- Ah...certo. Vamos tomar um banho pra dormir. - Digo e então começo de fato a me lavar.
Depois do meu banho, vesti meus pijamas e saí do quarto. Deito na minha cama e pego o celular pra mandar mensagem pra minha mãe. Passei o dia sem responder ela. Deve estar preocupada. Principalmente com a filha estudando do outro lado do mundo.
Rolei por algumas mensagens e respondi as dela e de alguns amigos. Depois fiquei vendo fotos deles no instagram. Uma das minhas melhores amigas também saiu do país pra fazer faculdade, mas foi pro Canadá. E eu vim pra cá, pra Coreia do Sul.
Jimin fez questão de sugerir o próprio país quando eu disse que poderia estudar fora. Depois de reclamar tanto sobre seu país de origem desde que nos conhecemos pela internet, começou a bajular todo possível ponto bom pra me fazer vir. E aqui estamos, os dois, na mesma faculdade. Não dividimos o dormitório, já que é separado entre masculino e feminino, mas nos vemos constantemente. E fiz amizade com a minha colega de quarto, Shin Ryujin, o que foi ótimo pra nossa convivência. Ela é bem dedicada nos estudos também, e apesar da dificuldade que diz ter, se sai super bem também.
E o Jimin...bem...ele não é um dos piores alunos. Mas ainda é mais relaxado do que o desejado. Ele tem um vício em festas e não para com uma pessoa. O tempo todo está pegando alguém diferente. É uma boa pessoa, mas não ouve quando digo que deveria estudar mais.
Eu realmente não ligo muito pra relacionamentos amorosos. Se eu gostar de alguém e a pessoa sentir o mesmo, eu pode ser sim, que eu fique com a pessoa, ou namore. Mas eu dou prioridade as minhas amizades, família e estudos. Então não faço questão de conhecer muita gente nova e ficar indo atrás dessas coisas. E festa não é bem pra mim. Eu não gosto de bagunça excessiva e nem barulho demais. Sem contar que esses lugares cheios de gente querendo te engolir em cada canto me dão arrepios. Daqueles bem ruins. Então, não, eu passo. Prefiro ouvir música, dançar se tiver que dançar e conversar aqui no dormitório. E eu não bebo. Então esse tipo de passatempo não tem utilidade pra mim.
Depois que Ryujin sai do banho, ela para na beirada da minha cama enquanto seca o cabelo.
- Unnie, quer sair pra comer alguma coisa antes de dormir? Mesmo que seja algo pequeno. Pra caminharmos um pouco e conversarmos também. - Ela sugere e eu deixo o celular de lago por um momento pra pensar.
- Hm...ok. Acho que não tem problema.
Ambas vestimos nossos casacos pretos de frio e nossos tênis e saímos juntas pra comer. Andando pelo campus, chegamos na área aberta onde nós normalmente almoçamos e diariamente pegamos a pequena trilha do jardim pra caminhar. Mas, agora apenas entramos na loja de conveniência da faculdade e pegamos dois miojos pra comer. Depois deles prontos, nos sentamos em uma mesinha com duas cadeiras e comemos juntas enquanto conversamos.
- Eu gosto muito da loja de conveniência daqui. Não são todas que tem esse espacinho pra fazer o miojo e sentar pra comer. - Ryujin diz enquanto pega um pouco da comida.
- Também gosto daqui. Devem ter pensado justamente nas pessoas que querem comprar o que comer e já comer direto no lugar. É prático. E pra uma faculdade onde todos estão sempre estudando, é bom ter lugares práticos assim. - Respondo enquanto assopro a fumaça do meu miojo.
- Estou pensando no que vou fazer amanhã depois da prova. Eu sempre me preocupo com isso porque não gosto de ficar pensando demais em como eu fui até sair o resultado. Então fico tentando planejar a distração na véspera. - Ryujin brinca com os legumes no miojo enquanto fala. Depois ela volta seus olhos pra mim. - Você vai ficar com o Jimin, não vai? Ele provavelmente vai querer conversar com você.
- Não sei. É provável que ele vá querer falar sobre a noite de hoje. Sobre a prova ele não vai querer conversar. Francamente, nem eu. Não temos acesso ao gabarito já na hora. Na minha escola no Brasil eu costumava checar o gabarito assim que eu saía da prova, mas nessa faculdade eles não dão acesso no dia da prova. E até que isso tem me feito bem. É melhor eu descansar depois que sair da avaliação mesmo. - Digo.
- Nem se eles dessem eu ia querer olhar. - Ela ri. - Bom, já que os pombinhos vão ficar juntos amanhã, eu acho que vou sair com a minha amiga do curso de medicina. Ela quase não tem tempo, mas costuma dar uma relaxada depois da prova. - Percebo a tentativa de me irritar ao nos chamar de "pombinhos", mas ignoro.
- Certo. É melhor que passem um tempo juntas, então. - É só o que respondo, com um leve sorriso no rosto.
- Poxa, você é chata, hein? Não ouviu o que eu disse? Sobre você e o Jimin?
- Ouvi. - Continuo comendo.
- Hm, então vocês são pombinhos mesmo? - Ela pergunta com um tom provocativo.
- Você está tentando tirar uma com a minha cara que eu sei. Sabe que nós dois não temos nada. Felizmente ou infelizmente, ele é só meu melhor amigo. - Ela semicerra os olhos.
- Felizmente ou infelizmente? - Ela pergunta. - Não sinto firmeza nessa frase.
- Não é possível sentir firmeza onde não tem. Goste eu ou não, acho ele atraente, sim. E eu já sei que ele é uma boa pessoa baseando-me no nosso tempo de amizade. Mas quando penso sobre isso profundamente, decido que talvez seja melhor assim. Não deve ser saudável pra mim pensar nele dessa forma. Sinto que ele gosta de ter o conforto de ser amigo de alguém com quem não tem essas relações casuais. Então se fosse pra decidir em um momento de razão, eu não ficaria com ele. - Explico.
- Mas admite que talvez tenha uma queda por ele. - Ryujin insiste.
- Não admito que talvez tenha. Eu tenho. - Sinto que ela fica chocada com a minha resposta.
- Essa frase sim tem firmeza. Aaah, unnie, assim você me faz imaginar coisas. Metade do campus já fala de vocês como se fossem o ponto de certeza um do outro. Eu tentava ignorar porque não achei que você gostasse dele ou que admitiria isso tão facilmente. - Ela usa uma leve voz de pirraça pra falar.
- Ponto de certeza? O que querem dizer com isso? - Termino de comer e me poio na mesa, curiosa.
- Dizem que vocês são o ponto de certeza um do outro porque é como se mesmo um dos dois ficando com várias outras pessoas e o outro não parecendo se importar, vocês no fim seriam o par definitivo um do outro. Como se vocês se gostassem mas se deixassem livres enquanto estão estudando pra ficar com qualquer um mas guardassem seus futuros um pro outro. - Ela diz, com um sorriso no rosto. - Eu sempre achei bonitinho. Mas aí eu olhava pra Park Jimin e pensava...não, não. Ele não é desse tipo, eu acho.
- Vish, eu nunca nem pensei nisso. É interessante sim, mas não é o nosso caso e nem acho que um dia será. Somos amigos mesmo, e só.
- Mas, aqui entre nós, Jimin já te olhou de forma suspeita algumas vezes. Tenho certeza que ele já pensou em você dessa forma. - Ela sussurra.
- Já me olhou de forma suspeita? Olha...não vou dizer que nunca vi isso acontecendo, mas..."algumas vezes"? O quanto você já reparou nisso?
- Por conta própria, eu só reparei umas duas vezes. Mas quando eu estava comendo com outras pessoas do campus, elas já apontaram pra essa cena acontecendo umas 4 vezes. De longe. Você em um lugar e ele em outro. É uma das coisas que faz os alunos acharem que no fundo ele é exclusivo seu. - Dou risada pela última frase.
- Pode até ser que ele já tenha pensado em mim dessa forma. Mas, a última coisa que ele é, é exclusivo. Meu, de qualquer uma. O coração do Jimin não tem dona. Acho que ele é dono do próprio coração. E acho isso até bom pra ele. - Respondo.
- Tudo bem. Mas mantenho minha opinião. Acho que, no fundo, o coração dele é seu.
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