Volta ao Trabalho
Após o jantar, me sento com Nathan na sala.
— Lúcia não perde um capítulo dessa novela. — Comento, agarrada a uma almofada.
— E eu nunca assisti a nenhum.
— Culto demais para assistir novelas? — Arqueio as sobrancelhas.
— Não. — Nathan pega a almofada de minhas mãos. — Sem tempo mesmo.
— Ei! Devolve minha almofada! — Tento alcançá-la, sem sucesso.
— Sua? — Ele a segura no alto, me olhando com uma sobrancelha erguida.
— Nossa. — Sorrio.
Nathan retribui e bate de leve com a almofada em minha cabeça. Em seguida, me puxa para perto, entrelaçando seus braços em minha cintura.
— Vamos ver se essa novela é boa mesmo.
Me aconchego em seu peito, enquanto ele acaricia meus cabelos.
— Deixa eu adivinhar. É aquela velha história da mocinha que se apaixona pelo cara legal, mas tem o vilão que é fissurado por ela e faz de tudo para atrapalhar o romance dos dois? — Nathan analisa a TV.
— Exatamente. — Encaro-o, impressionada.
— Eu sabia. É sempre assim.
— Não, nem sempre. Às vezes, no lugar do vilão, é uma vilã.
— Aí seria a novela da sua vida, tirando a parte do cara legal. Convenhamos, Caíque, às vezes, é um porre.
— Tem razão. — Dou uma risada.
Nathan beija o topo de minha cabeça.
— Sabia que eu amo o som da sua risada?
— Ah, para com isso. — Bato de leve em seu braço, ruborizada. — Presta atenção na novela.
Nathan sorri torto.
Depois, fica em silêncio, assistindo.
— Ei, Than... — Chamo, algum tempo depois, quando a novela termina.
Sem receber resposta, me viro e o vejo dormindo profundamente.
Sorrio e me levanto com cuidado para não acordá-lo. Em seguida, busco uma coberta no quarto e depois de cobrí-lo, beijo sua testa e sussurro um "durma bem".
Vou até a cozinha e bebo um copo de água, analisando o armário suspenso preto. Com um suspiro, me encaminho de volta para o quarto.
Vasculho as malas à procura de um pijama e, após achá-lo, parto para o chuveiro, onde tomo um banho rápido e quente para relaxar.
Depois, deitada na cama de Nathan, encaro o teto branco, esperando por algo impossível.
Eu e minha fiel companheira das últimas noites, a insônia.
Os raios de sol invadem o quarto e me fazem perceber que, por mais uma noite, não preguei os olhos por toda a noite. Me sento na cama e pego o celular, na tentativa de me distrair.
Péssima ideia.
— "Caíque Gama é flagrado em clima de romance com antigo affair". "O empresário, que é casado há oito meses com Helena Medeiros, foi visto com Laila Albuquerque, com quem teve um relacionamento no passado, curtindo a noite gaúcha. Pessoas próximas ao empresário afirmam que o casamento passa por uma crise". — Leio a notícia que estampa a primeira página do site. — Ah, uma crise? Ótimo. — Jogo o celular para longe.
Lágrimas marejam meus olhos, mas me nego a derramá-las.
— Você não vai chorar por ele, Helena. Nunca mais! — Digo com firmeza à mim mesma. Em seguida, me levanto e, a passos firmes, vou me arrumar.
— Bom dia, Than. — Surpreendo-o com um beijo na bochecha, enquanto ele toma distraidamente seu café, apoiado na pia da cozinha.
— Ei, bom dia. — Ele sorri. — Uau! Onde você vai, linda assim?
— Trabalhar. — Dou de ombros, me servindo de café.
— Trabalhar?
— É.
— Na Exxon?
— Onde mais seria?
— Le, tem certeza que você ainda trabalha lá? Por que... Já faz um bom tempo que você não tem dado as caras, não faz?
— Faz. Mas não foi por minha vontade e o Senhor Gama tem total conhecimento disso, afinal, foi um pedido dele.
— Certo. E você vai chegar lá e dizer o que? "Oi, estive um tempo sumida, porque o vice presidente psicopata desta empresa queria me matar, mas agora estou de volta e pronta para trabalhar" ?
— É, por aí. — Dou um gole em meu café e me sirvo de torradas.
— Le, você tem noção do quão perigoso isso é?
— Otávio não fará nada a mim. Não dentro da empresa.
— Tudo bem. Mas, e fora dela?
— Já tentou e não conseguiu. — Mordo a torrada.
— Não gosto dessa ideia.
— Than, fica tranquilo. — Falo, de boca cheia. — Eu não sou mais um alvo dele.
— E por que não?
— Porque Caíque agora está com Laila, filha de um dos maiores acionistas da empresa. Isso é bem mais ameaçador para ele. Então, se for para existir um alvo, será ela e não eu. — Como outro pedaço da torrada.
— E Otávio sabe disso tudo?
— Se não souber, farei com que saiba.
— Helena, se algo acontecer a você, eu...
— Than. — Seguro seu rosto com minhas mãos. — Eu vou ficar bem. Será só mais um dia comum de trabalho.
— Deus te ouça. — Ele sussurra.
Sorrio.
— Você dormiu bem? — Mudo o rumo da conversa.
— Dormi. E te deixei vendo novela sozinha, não é? — Ele coça a nuca, envergonhado.
— Pois é. Mas te perdôo por isso.
Nathan sorri.
— Com uma condição.
— Ih... Qual é? — Ele ergue uma sobrancelha.
— Me dar uma carona.
Ele ri.
— Claro. Termine de comer, então. Vou me trocar enquanto isso.
— Promete que se notar qualquer coisa estranha, vai me ligar na mesma hora? — Nathan estende o dedinho.
— Prometo. — Entrelaço-o ao meu.
— Se ele te olhar torto, te falar qualquer coisa intimidadora...
— Than, eu prometo. — Interrompo-o. — Até mais tarde.
— Até. Passo para te buscar às seis.
Consinto, beijo-o no rosto e desço do carro, caminhando a passos firmes até o interior da Exxon.
— Helena? Quanto tempo! — A recepcionista, Marcela, cumprimenta logo que me vê.
— Oi Marcela, como vai?
— Vou bem e você?
— Bem também. Obrigada.
— Pensei que havia desistido de trabalhar aqui.
— Pois é, tenho certeza que muitos pensaram. Mas, felizmente ou não, aqui estou eu.
— É muito bom te ver. — Marcela sorri.
— Bom te ver também. — Seguro suas mãos e retribuo seu sorriso. — Agora vou indo, tenho muito trabalho pela frente.
Marcela consente.
Subo pelo elevador e logo que as portas se abrem, dou de cara com Otávio.
— Bom dia... Helena, não é? — Ele me cumprimenta com um meio sorriso nos lábios.
— Bom dia, Otávio. — Saio do elevador, com meu coração acelerado pelo susto.
— Você parece bem. Soube que estava doente.
— Ah, pois é. — Engulo em seco. — Já estou me sentindo bem melhor.
— Que bom. A empresa precisa de todos seus colaboradores em perfeito estado, tanto físico, quanto mental.
— Com certeza.
— Bem... Até breve, então. É bom vê-la, Helena.
Sorrio em resposta.
Otávio se afasta elegantemente e me deixa com o coração prestes a sair pela boca.
Respiro fundo e retomando o controle de minhas pernas, vou para a sala de Jorge.
— Que bom revê-la, Helena. — Ele me abraça. — Mas pensei que você demoraria um pouco mais para voltar.
— Já me afastei por tempo demais, Jorge. — Olho em volta, com as mãos na cintura. — E então, temos muito trabalho?
— E como temos.
— Ótimo.
Pego uma pilha de documentos e começo a arquivá-los por data, enquanto Jorge resolve algo ao telefone.
— Helena, vou precisar resolver algumas pendências no RH, mas não devo demorar. — Ele avisa, algum tempo depois.
— Sem problemas, Jorge. — Respondo, enquanto digitalizo algumas planilhas. — Pode ir tranquilo.
— Já disse que é muito bom tê-la de volta?
— Acho que comentou. — Meneio a cabeça, em tom de brincadeira.
Jorge sorri e deixa a sala.
Pouquíssimo tempo depois, a porta se abre.
— Esqueceu algo? — Me viro para a porta, mas ao invés de Jorge, é Leonardo que me encara. E por sua feição, ele não está muito feliz em me ver. — Leo? Ficou maluco? O que você faz aqui? — Diminuo o tom de voz e vou rapidamente ao seu encontro.
— Quem deve estar maluca é você. Eu não pedi para você se manter longe da empresa?
— Você pediu isso ao Caíque.
— O aviso valia para você também. — Ele enfia as mãos nos bolsos.
— Eu não quero mais me esconder, Leo. Estou cansada disso. Além do mais, eu preciso desse trabalho. Preciso muito.
— Esse trabalho não vale mais do que sua vida.
— Eu me encontrei com Otávio logo que cheguei aqui. E estou viva, não estou?
Leo suspira.
— Você é muito teimosa, sabia?
Sorrio.
— Senti sua falta, benfeitor misterioso.
— Eu também senti a sua. — Ele sorri de canto. — Agora, me conte o que houve.
— Sobre o quê?
— Você e Caíque.
Baixo os ombros.
— Leo, não me leve a mal, mas não quero falar sobre isso.
— Soube que armaram para você. Eu posso te ajudar a provar sua inocência.
— Obrigada Leo, mas eu não quero provar minha inocência.
— Por que não?
— Porque, para mim, qualquer relacionamento se baseia na confiança. E Caíque já deixou bem claro que não confia em mim.
— Helena, tente se pôr no lugar dele. Como você reagiria a uma situação dessas?
— Com certeza não seria me esfregando com um qualquer, como ele.
Leo cerra os lábios.
— Esquece isso, ok?
— Você vai esquecer?
— Vou.
Leo sorri fraco. No mesmo minuto, ouvimos alguém se aproximar.
— Tenho que ir. Se cuida, ok?
— Pode deixar. — Sorrio. — Se cuida também.
Segundos após Leo sair da sala, a porta novamente se abre.
— Demorei? — Jorge entra sorridente.
— Não. Foi mais rápido do que imaginei, na verdade.
— Era um assunto rápido. Ah, aproveitando, seu sogro lhe mandou cumprimentos.
— Que gentil. Sogro. — Sussurro, em tom de ironia.
— Quem era o rapaz que saiu daqui a pouco?
— Ah, era o novo estagiário do TI. — Invento rapidamente, torcendo para que Jorge acredite.
— Ah sim, é claro.
Sorrio e volto aos meus afazeres, aliviada e até um pouco orgulhosa de meu raciocínio rápido.
— Até amanhã, Helena.
— Até, Jorge. Bom descanso.
Saio da empresa e logo avisto o carro de Nathan estacionado do outro lado da calçada, me esperando.
— Você é extremamente pontual. — Sorrio, entrando no carro.
— Obrigado. — Ele sorri. — Foi um elogio, certo?
— Talvez.
Ele franze o cenho.
— E então, como foi seu dia?
— Normal. — Dou de ombros. — Como disse que seria.
— Ainda não gosto da ideia de você aqui, com esse cara por perto.
— Eu sei me cuidar. Além disso, tenho dois guarda-costas muito eficientes.
— Dois? — Nathan me olha. — Ah, é claro. O japonês metido a besta.
— Ele é chinês.
— Tanto faz. — Dá de ombros. — Sou mais eu.
Seguro o riso.
— E se continuar a defender ele, não te levo para jantar.
— Não está mais aqui quem falou. — Finjo zipar minha boca.
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