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Reconciliar

10:00 A.M.

Aeroporto

— Entendeu o que eu disse, né?
— Entendi, Lena. Nada de tentar tirar satisfações com a Lívia enquanto você estiver fora. — Alice repete, à contragosto, meu alerta.
— Ótimo. — Sorrio. — Ah, me empresta seu celular.
— Para quê? — Ela o estende para mim.
— Se precisar de algo, ligue para ele. — Devolvo o celular, depois de salvar o número de Leonardo.
— Leonardo? — Ela lê o contato. —Quem é esse?
— Um grande amigo. Ele sabe tudo, sobre tudo. Se Lívia aparecer ou tentar qualquer contato com você, ligue para ele imediatamente.
— Certo. — Alice olha uma última vez a tela de seu celular, até que nosso vôo é anunciado.
— Bom, está na hora. — Antony avisa.
— Boa sorte, irmã! — Alice me abraça.
— Obrigada. Se cuida, ok?
— Pode deixar. — Em seguida, ela se vira para Antony. — Cuida bem dela.
— Claro, ma chérie. — Ele também a abraça.
— Boa viagem. Vão com Deus. — Alice acena, enquanto Antony e eu nos encaminhamos para o portão de embarque. 

— Está pronta? — Antony me olha, logo depois de nos acomodarmos em nossas poltronas.
— Nem um pouco.
— Vai dar tudo certo, querida. — Ele segura minha mão.

Sorrio em resposta.

Pouco mais de uma hora de vôo, pousamos em Gramado.

— Que saudades eu senti dessa cidade. — Antony sorri, enquanto descemos do avião. — Mas agora, vamos ao que interessa. Onde é que o fujão está hospedado?
Hotel Saint Andrews. — Leio o papel que Paulo me deu.
— O bonitão gosta mesmo de ostentar. E você está com sorte, esse hotel é próximo daqui. Vamos. — Antony me puxa pela mão, até o lado de fora do aeroporto.

Logo em seguida, pegamos um táxi e seguimos para o hotel.

— Chegamos. — O taxista avisa, algum tempo depois.
— Ótimo. — Antony paga pela corrida e desce do táxi. Eu o acompanho em silêncio.

— Pronto, querida. Aqui estamos.
— Certo. — Encaro o hotel. — E agora?
— E agora vamos nos certificar de que seu querido marido está realmente hospedado aqui. — Antony faz um gesto para eu seguí-lo.

— Bom dia, sejam bem vindos. — A recepcionista sorri. — Em que posso ajudá-los?
— Bom dia. Gostaríamos de uma suíte, por favor.
— Ah, é claro. Só um minuto, vou consultar as suítes disponíveis.
— Tudo bem.

Olho para Antony, sem entender onde ele pretende chegar.

— Confie em mim. — Sussurra, piscando.
— Senhor... — A recepcionista chama. — Temos as suítes Esmeralda, Cristal e Onix disponíveis.
— A Diamante está ocupada?
— Sim. Foi reservada ontem.

Antony me olha.

— Ah, que pena. É a minha preferida.
— Realmente, essa é nossa melhor suíte. Mas temos outras igualmente confortáveis.
— Ah, disso eu tenho certeza. Mas é que a Diamante tem um certo apelo emotivo, sabe? 
— Compreendo perfeitamente. — A recepcionista sorri.
— Você pode me informar quem a reservou?
— Infelizmente, não. São normas do hotel.
— Nem será preciso.
— O quê? — Antony se vira para mim e logo entende sobre o que estou falando.

Caíque caminha calmamente pelo saguão do hotel, mais sério do que jamais o vi.

— Está esperando o quê? — Antony me cutuca. — Vá logo falar com ele!
— Certo... Eu vou. — Respiro fundo antes de começar a caminhar em sua direção.

Dou alguns passos, porém uma pessoa o alcança primeiro.

— Ei, por que não me esperou? — Laila segura seu braço e o beija com desejo.

Perco o chão sob meus pés nesse momento.

Cambaleio alguns passos, até sentir mãos me acolhendo. São de Antony.

— Helena!

Ao ouvir meu nome, Caíque se afasta de Laila e me encara, surpreso.

— Helena? O que... O que você faz aqui?

Não consigo respondê-lo. As palavras simplesmente não saem.

— Como foi que te deixaram entrar? — Laila me olha com desdém.
— A julgar por você, a política para com os hóspedes não é muito rígida. — Antony me defende, no mesmo tom. — Vamos embora daqui, Helena. Você não precisa passar por isso.

Antony me leva pelos ombros para fora, até que Caíque nos detém.

— Ei, espera aí! Você vem até aqui e acha que pode sair assim, sem me dar nenhuma explicação?
— Eu não lhe devo explicações, Caíque. — Reúno forças e o encaro com firmeza. — E peço que me desculpem por atrapalhar o momento de vocês. Fique à vontade para continuar o que estavam fazendo.
— Ótimo! — Laila o alcança e envolve sua cintura com seus braços.

Caíque porém, a afasta.

— Ei, o que deu em você? Esqueceu o que ela te fez?

Ele ergue a mão, como quem pede silêncio.

— Já chega, Laila!

Me viro para a saída, mas, mais uma vez, sou impedida por Caíque.

— Você pode, por favor, falar comigo?
— Ah, agora você quer conversar? — Ironizo, livrando-me de sua mão em meu braço. — Depois de ir embora de casa e se hospedar em um hotel com ela, você quer conversar?
— Helena, eu não...
— Caíque, chega! — Suspiro. — Eu cometi um grande erro vindo até aqui.

Me afasto alguns passos, ainda o olhando. Lágrimas rolam por meu rosto, mas me mantenho firme.

Em seguida, deixo o hotel, seguida por Antony.

— Helena... Eu nem sei o que te dizer.

Encaro Antony e baixo os ombros. Ele me acolhe em seus braços e, nesse momento, eu desabo.

-— Chore, querida. Chore. — Ele acaricia meus cabelos. — Alivie esse seu coração.

Alguns minutos depois, Antony me leva até uma bonita praça, ainda próxima do hotel.  

— O que você quer fazer agora?
— Meu plano ruiu. — Sento no banco, arrasada. — Aliás, não sei porquê insisto em fazer planos... Eles nunca dão certo.
— Você vai mesmo desistir? Vai deixar aquela ruivinha de farmácia vencer?
— Eu tenho outra opção? Eu nem mesmo tive chance de falar.
— Mas agora você tem.

Meu coração acelera. Levanto e fico cara a cara com Caíque.

— O que você está fazendo aqui?
— Vim ouvir sua verdade.
— Vou deixá-los à sós. — Antony me olha e sussurra: — Estarei por perto.

— Estou ouvindo. — Caíque coloca as mãos nos bolsos da calça, logo que Antony se afasta.
— O que houve com você?
— Comigo? Nada. Por que a pergunta?
— Olhar vazio, postura cheia de arrogância.

Ele ri, sem humor.

— Como você me achou aqui?
— Não importa.
— Foi o Paulo, não é?

Fito meus sapatos. Ele sorri de canto.

— Estou esperando para ouvir a verdade que você veio me contar.
— Esquece isso.
— Por que?
— Não vale a pena.
— A verdade sempre vale a pena. É o que dizem, certo? 

Suspiro.

— Ok. O que você viu naquele quarto... Aquilo foi armado.
— Armado? — Ele ri pelo nariz. — Por quem?
— Laila.
— Certo. E por que ela faria isso?
— Porque ela quer você! Sempre quis! Você mesmo disse que ela era capaz de qualquer coisa para ter o que quer.
— Então, quer dizer que Laila te fez mentir para mim, trancou você em um quarto com um cara totalmente desconhecido, tirou suas roupas e fez vocês transarem? Uau! Que manipuladora! — Caíque ironiza.

Passo a mão por meus cabelos.

— Eu não transei com aquele cara! Nem sei quem ele é!
— Não sabe? Como se troca várias mensagens com uma pessoa que você nem sabe quem é?
— Mensagens? Do que você está falando?
— Eu fui atrás do cara aquele dia. Ele me mostrou todas as mensagens trocadas entre vocês.
— O quê?!
— Helena, seja sincera. Há quanto tempo você estava me traindo?
— Eu nunca te traí! — Altero o tom de minha voz. — Eu jamais seria capaz de uma coisa dessas. Você, melhor do que qualquer um, deveria saber isso. Eu sei o quanto dói uma traição, Caíque!
— Então você imagina o tamanho da minha dor. — Seus olhos se enchem de lágrimas.
— Você está sofrendo por uma mentira, uma armação!

Caíque seca os olhos com as costas das mãos.

— Laila pegou seu celular e mandou aquelas mensagens, então? Laila vestiu suas lingeries e enviou fotos para ele?
— Fotos?
— Sim, fotos.

Balanço minha cabeça, em negação.

— Olha... Eu não sei como essas mensagens foram mandadas do meu celular, mas eu juro, juro que não fiz nada disso. — Seguro seu rosto. — Olha para mim, diz que acredita.

Ele desvia os olhos.

— Você é orgulhoso demais para isso, não é?
— Não faz sentido, Helena. Nada faz sentido.
— Ok... Realmente nada faz sentido. E quer saber? — Suspiro. — Eu fiz minha parte. Agora, se você não quer acreditar, aí já não é mais um problema meu. Estou com a consciência limpa. — Me viro para ir, mas a mão de Caíque me impede.
— Se foi armado, como você foi parar lá?
— Eu fui dopada.
— Como?
— Lívia colocou algo no meu café. Eu apaguei. Quando acordei, estava naquele quarto.
— Espera... Lívia? Você não havia dito que isso foi uma armação da Laila?
— Lívia trabalha para ela.

Caíque ri.

— Certo. Cada vez faz menos sentido.
— Caíque, isso faz todo o sentido!
— Helena... Isso não vai nos levar a lugar algum, certo? Ficarmos acusando uns aos outros desse jeito. É melhor botarmos uma pedra nesse assunto.
— Em qual assunto?
— Em todos eles.

Meu coração dói ao ouvir isso.

— Ok, já entendi. — Mordo meu lábio, tentando segurar o choro. — Laila fez sua cabeça, não é?
— Não, não fez.

Dou uma risada irônica.

— O que ela está fazendo aqui, então?
— Veio me oferecer apoio.
— Te dando um beijo na boca?
— Ela é um pouco impulsiva. — Caíque dá de ombros.
— Certo, quer saber? Já deu para mim! Eu vou embora! — Me viro, mas Caíque me detém novamente.
— Me diga uma coisa antes.
— O que?
— Você me ama?
— Do que importa isso agora? — Uma lágrima escorre de meus olhos.
— Apenas responda. Você me ama, Helena?
— Mais do que você pode imaginar.

Caíque suspira e me surpreende com um beijo. Um beijo com mais desejo do que todos os outros que já demos.

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