Guerra Declarada
— O que houve lá embaixo? — Jorge pergunta, logo que entro na sala.
— Laila destilando seu veneno novamente. — Suspiro. — A notícia já chegou aqui?
— Rumores dela. O que Laila fez dessa vez?
— Me chamou de "órfãzinha" para quem quisesse ouvir, daí Caíque ficou irado... — Baixo os ombros. — Eu disse que ele não deveria tê-la enfrentado, mas...
— O que está dizendo, Helena? — Jorge me interrompe. — Você não pode admitir que Laila ou qualquer outra pessoa lhe trate desta forma!
— Eu sei, mas só tentei evitar mais problemas. Principalmente para o Caíque.
— Com tudo o que ele já aprontou, esse é o menor deles. E lhe garanto que Caíque virou herói de muitos aqui hoje. Você não contabiliza quantos nessa empresa tem vontade de confrontar Laila. Foi um feito e tanto.
Sorrio, mas o mesmo logo se desfaz.
Suspiro.
— Sabe Jorge, acho que não duro mais do que uma semana aqui.
— Por que diz isso?
— Laila me odeia. Seu pai é muito influente nas decisões da empresa. Senhor Gama não suporta escândalos. — Enumero nos dedos. — Precisa de mais?
— Não seja tão pessimista, Helena. Todos estão elogiando você, sua forma de trabalhar e agir.
— Laila arranjará mil formas de me sabotar.
— E é aí que você mostrará o porquê entrou aqui. Eu confio em você, em sua competência. Confie também.
Sorrio, confirmando com a cabeça.
Em seguida, foco minha atenção inteiramente no trabalho, deixando a raiva de Laila em segundo plano.
Algum tempo mais tarde, depois que finalizo os relatórios pedidos por Jorge, resolvo buscar um café para nós. No corredor, porém, Laila barra minha passagem.
— Com licença. — Peço educadamente.
— Ah, que gracinha. Você é tão educadinha, sabia? Até contraria minha visão sobre órfãos. — Ela faz um bico. — Pensei que vocês fossem todos marginais ou trogloditas.
— Garota, você não para de falar bobagens nunca?
— Bobagens? Eu só falo o que as outras pessoas não tem coragem de dizer.
Suspiro, tentando manter a calma, e tento passar novamente, mas Laila me impede, segurando fortemente meu braço.
— Eu ainda não terminei. — Ela rosna entre os dentes. — Estava indo tudo muito bem na minha vida até você aparecer, Helena. Eu tinha o Caíque, tinha toda a atenção e admiração nesta empresa. Aí você chegou e roubou tudo isso de mim!
— Laila, eu não...
— Cale a boca! — Ela ordena, muito próxima de meu rosto. — Você se meteu com a pessoa errada. A guerra está declarada, Helena.
Laila sai à passos firmes e deixa suas palavras ecoando em minha cabeça.
"A guerra está declarada, Helena."
— O que houve? — Caíque me pergunta já no carro, em direção à nossa casa.
— Nada.
— Tem certeza? Você está tão... séria.
— Hoje o trabalho foi cansativo, só isso.
— Não minta para mim, Helena. Laila tem algo a ver com isso?
— Está tudo bem, é sério. — Forço um sorriso. — Mas por falar nela, seu pai comentou algo sobre o incidente de manhã?
— Disse apenas para eu me controlar e ter paciência, pois ela ainda está digerindo nosso casamento. — Ele revira os olhos.
— Sabe, eu estava me perguntando...
— O que?
— Por que você não se casou com ela?
— Não é óbvio? Laila é doida!
Dou uma risada.
— Ela sempre foi possessiva assim?
— Não, no começo não. Nós nos conhecemos desde pequenos, sabe? Brincávamos juntos e tudo o mais. Mas aí o tempo passou, nós crescemos e foi então que comecei a vê-la como mulher. Apesar de louca, ela é muito bonita. — Ele ri fraco. — Combinamos de ficar juntos, mas sem cobranças ou nada oficial. Só que ela não cumpriu nosso combinado. Laila me sufocava, me seguia, arranjava briga com qualquer outra mulher que se aproximasse de mim. Um dia, ela me colocou contra a parede, dizendo que tínhamos que assumir nossa relação, nos casar. E foi aí que eu a dispensei. — Ele termina dando de ombros.
— Coitada.
— Coitado de mim, que aguentou tantas loucuras!
— Não existe nada mais perigoso do que uma mulher com um coração partido, sabia?
— Já partiram o seu. E mesmo assim, você continua doce.
— Devo ser uma exceção. — Encolho os ombros.
— Claro que é. — Caíque sorri de lado, estacionando o carro.
Descemos em silêncio e entramos em casa.
— Helena, eu posso te perguntar uma coisa?
— Claro. — Pouso minha bolsa sobre o sofá da sala.
— Você nunca se opôs a dormirmos no mesmo quarto, na mesma cama. Por quê?
— Achei que estranhariam se descobrissem que nós, recém casados, dormíamos em camas ou quartos separados.
— Entendi.
— Por que a pergunta?
— Curiosidade, apenas.
Consinto.
— Eu deveria me opor? Não deveria confiar em você?
—Eu nunca faria nada sem seu consentimento, Helena.
Sorrio.
— Eu sei disso.
— Como?
— Seus olhos me dizem.
É a vez de Caíque sorrir.
— Dizem?
Consinto com a cabeça.
— Então, o que eles estão dizendo agora? — Ele se aproxima.
Quando abro a boca para responder, a campainha toca.
— Só um minuto. — Ergo o dedo indicador, mordendo meu lábio.
— Fala sério! — Caíque resmunga, enquanto vou atender a porta.
— Than?
Ele se encontra parado na porta, com um meio sorriso nos lábios e a chave de seu carro balançando no dedo.
— Oi, Le.
— Que saudade! — Puxo-o para um abraço.
— Precisava te ver. — Nathan beija minha testa e em seguida, olha para Caíque, que nos observa com o maxilar rígido. — Caíque. — Ele o cumprimenta com um aceno de cabeça.
— Nathan. O que você faz aqui?
— Vim te convidar para um passeio, Le. Tenho que pedir permissão para o marido antes? — Nathan ignora Caíque, voltando-se para mim.
— Ah... Than, eu acabei de chegar do trabalho e...
— Vai ser rápido, eu prometo. — Nathan me olha de um jeito que é impossível recusar.
— Está bem, vai. — Baixo os ombros e me viro para Caíque. — Tudo bem para você?
— Ah, é claro. Pode ir.
Vou até Caíque e deposito um beijo em sua bochecha.
— Não demoro.
Ele sorri fraco e me observa sair com Nathan.
— O que deu em você de aparecer aqui assim, do nada? — Entro em seu carro.
— Saudade.
Sorrio.
— Para onde vamos?
— Você já vai ver.
Nathan dirige por um caminho conhecido e estaciona em frente a uma bela praça, a mesma em que ele nos levou para conhecer logo que nos mudamos para São Paulo.
— Aqui é lindo.
— Eu sei. Você já disse isso. — Ele pisca, desce do carro e abre a porta para mim. — Vem.
— Por que me trouxe até aqui? — Pergunto, enquanto caminhamos sob os pilares floridos que enfeitam todo o local.
— Queria ver esse sorriso.
Um sorriso brota instantaneamente em meus lábios.
— Só por isso?
— Não. Para me desculpar também.
— Então, comece.
Ele ri pelo nariz, baixando a cabeça.
— Me perdoa, Le. Eu fui um idiota. Me afastei de você, fiz e falei coisas que te magoaram.
— Esquece isso. Está tudo bem.
— Não consigo. Não esqueço nada que envolva você.
Sorrio, abraçando-o pela cintura.
— O que você tem feito?
— Trabalhado muito e você?
— Também.
— Está na Exxon, não é?
Concordo com a cabeça.
— Está gostando?
— Estou sim. — Sorrio.
— Fico muito feliz que você esteja conseguindo alcançar seus objetivos.
— Eu também. — Analiso as flores. — Than...
— Oi.
— Nada não... Esquece.
— Odeio quando você faz isso. — Ele semicerra os olhos.
— Tá... Tudo bem. Você e a Marina estão juntos?
Ele sorri.
— Ciúmes?
— Ah, Nathan. Me poupe! — Reviro os olhos. — Estão ou não estão?
— Não exatamente. É... Complicado.
— Complicado como?
— Complicado nível Nathan.
Cerro os dentes.
— Que droga.
Ele sorri fraco.
O silêncio paira sobre nós, até que Nathan para em minha frente.
— Le... — Suspira. — Eu te amo.
Abro a boca para responder, mas Nathan coloca o dedo indicador sobre meus lábios, me calando.
— Você não sai da minha cabeça, muito menos do meu coração, não importa o que eu faça. Por favor, fica comigo!
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