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Escolhas

— E então? — Caíque pergunta, enquanto caminhamos de volta aos corredores da Exxon.
— E então, o quê?
— Você não disse nada o caminho todo. O que achou da Lívia?
— Qualquer coisa que eu disser será interpretado como ciúmes, então prefiro não dizer nada.
— Você está com ciúmes? — Ele me olha, sorrindo de lado.
— Não. É claro que não. — Desvio o olhar. — Eu me coloquei no lugar da Alice... Se eu tivesse a oportunidade de me aproximar de uma irmã que eu nem mesmo sabia da existência, é óbvio que iria querer conhecê-la, recuperar cada minuto perdido. Mas...
— Mas...?
— Lívia tem algo estranho.
— O quê, por exemplo?
— Boazinha demais, inofensiva demais... Sempre com os ombros baixos, a fala mansa.
— É uma moça do interior.
— Eu também sou. E não sou assim. — Rebato.
— Ela perdeu os pais em um incêndio com oito anos, foi separada da irmã, criada por pessoas que nunca havia visto antes. Isso influencia muito.
— Ok, ok. Você venceu. — Levanto as mãos, em sinal de rendição. — Eu estou sendo paranóica.
— Eu não disse isso.
— De qualquer forma, vou ficar de olho. Ainda não engoli essa história de "Te vi em uma revista e resolvi te procurar".
— Minha paranóica. — Caíque me beija.
— Aí, viu só? Me chamou de paranóica! — Dou um leve tapa em seu braço.
— Estou brincando, amor. — Ele ri.
— Aham, está sim. — Semicerro meus olhos, rindo em seguida. — É, hora de voltar ao trabalho. — Selo seus lábios. — Te vejo na saída.
— Isso soou tão colegial. — Caíque ri.

Pisco e sigo para a sala de Jorge.

— Cheguei. — Entro na sala, depois de duas batidas na porta. — Demorei muito?
— Foi mais rápida do que imaginei, na verdadeira. — Jorge responde com um pequeno sorriso.
— Não havia muito o que eu fazer lá. — Dou de ombros, sentando-me. — Apenas fiquei sentada, ouvindo a história triste da Lívia.
— A irmã que apareceu?
— A própria.
— E a história foi convincente?

Meneio a cabeça.

— Aceitável.
— Algo me diz que você não está nada contente com isso.
— Alice sempre foi minha irmã. — Suspiro, baixando os ombros. — Compartilhei todos os meus melhores e piores momentos com ela. A verdade é que eu estou morrendo de medo de perdê-la. Droga, que egoísmo.
— Vocês são unidas por algo muito maior do que o sangue, Helena. São unidas pela alma. Nada é capaz de acabar com isso.
— Será?

Ao final do expediente, saio cabisbaixa e a passos lentos da empresa, lembrando de toda a história de Lívia. E então, uma pergunta vem à tona: por que meus pais nunca nos contaram sobre sua existência? Será que eles não tinham conhecimento dela ou simplesmente a esconderam de nós?

— Psiu!

Me viro e dou de cara com Caíque segurando um lindo e enorme buquê de rosas vermelhas.

— O que é isso? — Sorrio, surpresa.
— Queria ver esse sorriso lindo no seu rosto. Hoje foi um dia difícil para você, aí pensei que essas flores pudessem melhorá-lo. — Caíque sorri de lado, encostado à parede, com o buquê nas mãos.
— Você não existe. — Pego o buquê, admirando-o.
— Existo e te amo cada dia mais.

Ele me envolve pela cintura, fixando seus olhos nos meus. Eu sorrio e o beijo.

— Tão lindos. — Reconheço a voz de Laila bem atrás de nós. — Tomara que dure a vida toda.
— Qual é a sua, Laila? — Caíque pergunta, ainda envolvendo minha cintura.
— Cansei de torcer contra. — Ela dá de ombros. — Você não vale meu esforço, Gama.

Laila sai gingando seus longos cabelos ruivos corredor afora, nos deixando boquiabertos.

— É sério isso? — Olho para Caíque.
— Tomara que seja.

— Amanhã vou no hospital visitar a Marina. Quer ir comigo?
— Quero sim. — Caíque responde, enquanto dirige. — Faz tempo que não vamos lá.
— Faz mesmo. Eu me sinto tão mal em vê-la naquele estado.
— O que mais me preocupa é o quadro dela que nunca melhora.

Suspiro, concordando.

— E as investigações? Nenhuma novidade?
— Não que eu saiba. O detetive não me liga há dias, deve estar tudo na mesma.
— Quem fez isso tem que pagar.
— E vai. Eu garanto.
— Meu Deus! — Seguro o braço de Caíque, olhando o carro estacionado na porta de nossa casa.

Encostado na traseira dele, está o tão enigmático asiático.

— O que ele quer aqui?
— Não sendo nos matar, está ótimo!
— Fica dentro do carro, ok? — Caíque pede, antes de estacionar e descer.
— Aham, até parece. — Resmungo, descendo em seguida.

— Olá. — O rapaz nos cumprimenta.
— Quem é você e o que quer aqui? — Caíque o encara.
— Uau, quantas perguntas. — Ele sorri de lado, tirando os óculos escuros. — Sou Leonardo Chang e quero conversar com vocês.
— Conversar sobre o quê?
— A pergunta correta seria "sobre quem". Marina Schneider.
— Você se encontrou com ela dias antes do acidente. — Entro na conversa.
— Exatamente.
— Quem nos garante que não é você o responsável por quase matá-la?
— Eu não executo trabalhos pela metade, Helena. Se eu fosse o "causador do acidente", ela estaria no cemitério, não no hospital. — Ele responde com naturalidade.
— Como você sabe meu nome?
— Sei mais do que vocês imaginam. — Ele sorri torto.
— E o que você quer de nós? — Caíque retoma.
— Ajuda.
— Nossa ajuda?
— Sim.
— E para o quê?
— Sei que Marina é amiga de vocês e que querem descobrir tanto quanto eu quem está por trás disso.
— A polícia já está cuidando do caso.
— Sério? — Ele ri, sarcasticamente. — Quase dois meses de investigação e a única coisa que eles descobrem é que o carro foi sabotado. Qualquer leigo chegaria à essa conclusão facilmente.

Caíque abre a boca para responder, mas desiste.

— Por que você tem todo esse interesse no caso da Marina? — Questiono. — E o que vocês estavam conversando no Alemão?
— Ela é minha amiga. E ninguém sai impune quando mexe com um dos meus. — Ele responde sério. — Já a nossa conversa, só diz respeito a nós dois.
— Oh, não está mais aqui quem perguntou. — Ergo as mãos, calando-me.
— Mas... E então? Estão comigo ou não?

Caíque e eu nos olhamos.

— Por que devemos confiar em você?
— Porque eu sou sua melhor chance, Gama.

Ele suspira, refletindo por alguns segundos.

— Estamos nessa. — Caíque estende a mão.
— Sábia escolha, Gama. — Leonardo a aperta.

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