Dois amores
Antes que eu consiga dizer qualquer coisa, Nathan me surpreende com um beijo.
Um beijo delicado, cuidadoso. Quase inocente.
— Than... — Afasto-o, ainda me refazendo da surpresa. — O que foi isso?
— Um beijo. — Baixa os ombros. — Foi ruim, não foi?
— Não! Não foi ruim. Foi... — Suspiro. — Estranho. Como beijar um irmão.
Ele encara o chão.
— Até quando você vai me ver assim? — Seus olhos encontram os meus.
— Nathan, eu amo você...
— Mas sou só seu melhor amigo. — Ele completa, com um sorriso amargo. — Já esperava por isso.
— Than...
Ele me olha fundo nos olhos, como se fosse capaz de ler todos meus pensamentos.
— Você está apaixonada por ele, não está?
— Pelo Caíque? Não! É claro que não! — Desvio meu olhar.
— Quem você está tentando enganar, Le? — Nathan levanta meu rosto até o seu novamente.
— Eu não sei. Nem mesmo sei o que estou sentindo. — Sussurro, baixando meus ombros.
— Só espero que você não se machuque quando descobrir. — Ele beija minha testa.
— E se eu me machucar?
— Vou estar aqui para te curar. — Nathan sorri fraco. — Vem, vou te levar para casa.
— Prontinho. Sã e salva. — Nathan estaciona o carro na porta de casa. — Me desculpe pelo beijo, tá?
— Esquece isso. Obrigada pela noite, estava mesmo precisando me distrair.
— Só quero te ver feliz. Se cuida, Le.
— Você também. — Abraço-o apertado. — E vê se não some mais.
— É só me ligar que venho correndo. Sem nem ligar para a cara feia do seu... Marido. — Ele termina a frase com uma careta.
— Está bem. — Dou uma risada.
— Tchau, Le.
— Tchau.
Desço do carro e dou um último aceno, antes de entrar.
— Helena! Até que enfim você chegou! — Lúcia vem ao meu encontro, logo que coloco os pés na sala.
Deixo a bolsa em cima do sofá e a olho, preocupada.
— O que houve, Lúcia?
— O senhor Caíque...
— O que tem ele?
— Saiu feito doido com o carro depois de atirar um vaso na parede. — Ela conta com as mãos entrelaçadas.
— E por que ele fez isso? O que aconteceu?
Lúcia cerra os lábios.
— Foi pouco depois que a senhora saiu com o seu amigo.
Suspiro.
— Você faz alguma ideia de onde ele possa ter ido?
— Infelizmente não, Helena.
Mordo o lábio e pego minha bolsa, vasculhando-a até achar meu celular. Em seguida, ligo para Caíque.
— Desligado.
Fito o chão, pensando no que fazer.
— É claro! Como não pensei nele antes?
— Nele quem? — Lúcia me encara.
— Paulo! É o melhor amigo do Caíque, se não estiver com ele, saberá onde encontrá-lo. — Procuro seu número em meus contatos. — Droga, não tenho o número dele.
— Voltamos a estaca zero.
— Ainda não.
Ligo para João, irmão de Paulo e meu aluno.
— Alô.
— João? Sou eu, Helena.
— Oi professora. Tudo bem?
— Na verdade, não muito. Você pode me passar o celular do seu irmão? Preciso falar com ele... Urgente.
— Espera só um minuto. Ele estava no quarto agorinha mesmo. Deixa eu ver se ele ainda está aqui.
— Ok, obrigada.
Aguardo em silêncio na linha.
— Helena? O que aconteceu?
— Caíque saiu feito louco com o carro e agora não atende o celular, Paulo. Estou ficando preocupada.
— O que foi que deu nele para sair assim?
— Longa história. Mas você faz alguma ideia de onde ele possa estar?
— Acho que sim. — Ele responde após pensar por alguns segundos.
— Me diz, então!
— Estou indo aí te pegar, vamos juntos. Me espera.
— Ok.
Alguns minutos mais tarde, Paulo buzina na porta de casa.
— Lúcia, se ele aparecer, por favor, me ligue.
— Ok, Helena. Vá com Deus.
— Amém.
Pego minha bolsa e vou até o carro de Paulo.
— Obrigada por ter vindo, Paulo.
— Agora você pode me explicar o que houve?
Concordo com a cabeça e conto sobre minha saída com Nathan, enquanto Paulo dirige e ouve a tudo atentamente.
— Caíque é péssimo em lidar com seus sentimentos. Ele nunca sabe como agir.
— Ele já fez isso?
— Sumir quando algo o chateia? Várias vezes.
— E como você sabe onde ele está?
— Ele é igualmente ruim em se esconder. — Paulo sorri de lado.
— Chegamos.
— Clash? — Leio o letreiro luminoso da famosa balada.
— Ele sempre vem aqui encher a cara quando alguma coisa sai dos trilhos.
— Já o vi aqui uma vez...
— Então... — Paulo desafivela o cinto. — Vamos?
— Vamos.
Descemos do carro e entramos sem problemas.
— Vantagens de ser popular. — Paulo pisca.
O local está bem menos lotado comparado à vez em que estive com Nathan e Alice.
Procuro com os olhos por Caíque, até que Paulo me cutuca:
— Achei. Bem ali. — Aponta para o bar.
Caíque está escorado no balcão, conversando com o barman e gesticulando com um copo de bebida em uma das mãos.
— Espera aqui.
Concordo com a cabeça.
— E aí, irmão? — Paulo se aproxima de Caíque.
— Paulo? Está fazendo o que aqui?
— Você sumiu, desligou o celular. Fiquei preocupado, cara.
— Eu não disse? — O barman cutuca Caíque.
— Eu precisava esfriar a cabeça. — Ele vira sua bebida de um só gole.
— O que houve?
— Ah... Aquele idiota do Nathan apareceu lá em casa e levou Helena para sair. — Caíque faz um gesto para seu copo ser cheio.
— E o que tem isso? Ela é livre para fazer o que quiser, não é?
O barman, que parece ser amigo dos dois, concorda com Paulo.
— Quem precisa de inimigos tendo vocês por perto, heim? — Caíque reclama. — E será que dá para você encher meu copo? — Ele se vira para o barman, que, a contragosto, atende seu pedido.
— Para de drama, cara. Resolveu ter ciúmes agora? — Paulo o cutuca.
— Com ela é diferente.
— É?
Caíque concorda com a cabeça e novamente vira toda a bebida de um só gole.
— Fale isso para ela, então.
Paulo aponta para mim, enquanto Caíque me olha como se eu fosse uma miragem.
— O que ela...?
— Você quer me matar de preocupação, seu imbecil? — Vou ao encontro deles, pisando forte.
— Gostei dela. — O barman cochicha para Paulo, que sorri.
— O que você está fazendo aqui?
— Cheguei em casa e você não estava. Aí fico sabendo que você saiu feito um louco com seu carro. Ligo no seu celular, só dá desligado. Fiquei preocupada, caramba!
— E desde quando você se preocupa comigo?
— Desde quando colocamos isso aqui no dedo. — Mostro a aliança.
Caíque sorri.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro