Desvendando
Caíque
— Esse Leonardo é mesmo pontual.
— Como você sabe que ele já chegou? — Nathan me encara.
— Porque o carro dele está estacionado — aponto — bem ali.
— Aquele Porsche preto?
— Uhum.
— É. — Nathan observa o carro. — O cara tem estilo.
Rio pelo nariz.
— Vai, vamos logo. — Cutuco seu braço.
Descemos do carro e juntos, caminhamos em direção ao Armazém do Alemão.
— Está atrasado, Nathan Barolli. — Leonardo checa seu relógio, sentado à mesa, logo que chegamos. — E você, o que faz aqui, Gama?
— Eu não deixaria o Nathan vir sozinho.
— Hum, são amiguinhos agora? — Ele sorri, ironicamente.
— Acho que isso não te interessa.
— Ok. — Ele ergue as mãos. — Então, sentem-se. Temos assuntos sérios para tratar.
Troco um breve olhar com Nathan e nos sentamos, como Leonardo pede.
— Certo. O que você quer de nós? — Nathan pergunta.
— Quero lhes colocar a par de tudo o que está acontecendo.
— Bom, então comece. — Apoio minhas mãos na mesa.
— Como vocês sabem, Marina me procurou dias antes de seu "acidente".
— Certo. E para quê?
— Para me contar sobre uma conversa que ouviu de Otávio. Ela me pediu ajuda para descobrir com quem ele estava falando.
— E você descobriu? — Pergunto.
— Sim.
— Quem era?
— Pablo Mendes, mecânico em tempo integral... E assassino nas horas vagas.
— Assassino?
— É, assassino. Daqueles que matam pessoas, sabe? — Leonardo ironiza.
— Sei, engraçadinho. — Sorrio, sem humor.
— Sobre o que eles conversavam? — Nathan pergunta.
— Sobre um ataque.
— Ataque? — Pergunto, surpreso.
— Exato, Gama. Um ataque.
— Onde?
— Exxon, empresa de sua família. — Ele responde com naturalidade. —Fariam com que parecesse um acidente, resultado de uma ideia mal sucedida de seu pai. Eles o tirariam de circulação, logo após jogarem essa bomba em seu colo.
— Como? — Arregalo os olhos. — Otávio queria matar meu pai?
— Ah, você está surpreso? — Leonardo desdenha. — Sério?
— Olha... Eu sei que Otávio não presta e é doido pra tomar a presidência, mas... Matar?
— É o que ele teria feito se o acidente com Marina não tivesse acontecido. E ele ainda faria parecer que havia sido uma decisão de seu pai, se é que me entende.
— Eu nunca imaginei que ele pudesse chegar a esse ponto.
— Pois é, mas chegou. E acho que você tem grande influência sobre isso.
— Eu?
— Quando você foi nomeado acionista, Otávio entrou em desespero. Ele viu você participando ativamente das decisões da empresa e ganhando a admiração de todos. Você é o único herdeiro da Exxon, Gama. E com você na jogada, ele nunca tomaria a presidência. Dar cabo de seu pai e desestabilizá-lo emocionalmente foi a solução mais rápida que ele encontrou.
— Tenho que expulsar esse cara da empresa, então! O mais rápido possível!
— Não. Ainda não. Precisamos tê-lo perto de nossos olhos. Conhece o ditado? "Mantenha seus amigos perto e seus inimigos mais perto ainda."
— Cara, espera... Você disse que esse tal assassino de aluguel é mecânico? — Nathan pergunta, após alguns minutos em silêncio.
— Exato.
— Então, foi ele que...
— Provavelmente.
— O que estamos esperando, então? Temos que pegar esse cara! Devemos isso à Marina! — Nathan se exalta.
— Ei! Fale baixo! — Leonardo o repreende.
— Foi mal. — Nathan diminui consideravelmente seu tom de voz.
— Você acha que eu já não fui atrás desse cara, Barolli? Que não o cacei por cada canto dessa cidade? — Leonardo rosna entre os dentes. — Eu, mais do que ninguém, quer vingar a Marina. A questão é que Pablo sumiu do mapa, virou fumaça, não há mais nem sinal dele.
— Ninguém some assim!
— A não ser que...
— Que...? — Nathan me olha.
— Que Otávio tenha tirado ele do caminho por algum motivo.
— Até que você é esperto, Gama. — Leonardo sorri brevemente. — E qual seria esse motivo?
— Quase ter matado a filha dele?
— Touché!
— Otávio então sabia que Marina havia descoberto seu plano? — Nathan pergunta.
— Acredito que sim. Marina me ligou à noite dizendo que iria até seu trabalho na manhã seguinte e com sua ajuda, alertaria a família Gama sobre o perigo que Otávio representa.
— Por isso ela estava estranha... Nervosa.
— É. E você não deu a mínima a isso.
— Ei! Agora não é hora de lavar roupa suja. — Intervenho. — Então, Otávio mandou esse tal Pablo sabotar o carro da Marina?
— Eu acredito que sim. Mas não acho que a intenção dele era ferí-la, porque, apesar de ser um bandido da pior espécie, ele ama a filha. Eu deduzo que sua intenção era apenas impedí-la ou atrasá-la. Mas parece que alguma coisa saiu fora do plano.
— Cara, que loucura. Achei que isso só acontecesse em filmes. — Passo a mão pelo rosto.
— Eu seria o mocinho justiceiro? — Leonardo sorri de lado.
— Você não se encaixa nessa definição. — Nathan o olha torto.
Leonardo sorri.
— Como você conheceu a Marina? — Nathan finalmente pergunta.
— Longa história, Barolli. — Leonardo gesticula.
— Por que ela nunca me falou de você?
— Porque eu pedi à ela.
Nathan o olha, como quem pergunta "E por quê?"
— Minha vida não é das mais pacatas. Nunca quis envolver ninguém em meus problemas. Então, quanto menos pessoas soubessem de mim, melhor.
— Mas envolver ela, aí tudo bem?
— Eu não a envolvi em nada! Tudo o que eu vinha fazendo era protegê-la.
— Parece que não deu muito certo. — Nathan ironiza.
— Realmente. Mas pelo menos eu tentei. E quanto a você? Onde você estava? — Leonardo pousa a mão no queixo. — Ah, é verdade. Trancado em seu escritóriozinho medíocre, acatando todas as ordens de seu chefe, como um cachorrinho.
Nathan tenta se levantar, mas eu o impeço.
Leonardo sorri.
— Ei, se acalmem! Já deu para notar que os dois estão afim da mesma garota. Mas será que podemos voltar ao foco? — Sugiro e os dois, à contragosto, concordam. — Então, você é um tipo de... Espião?
— Gostei dessa definição. — Leonardo sorri, acenando com a cabeça. —Digamos que eu ajudo as pessoas.
— O herói mascarado. — Nathan revira os olhos.
— Ah não, não. Eu não esconderia esse rostinho lindo em uma máscara. — Leonardo sorri torto.
Nathan revira os olhos e eu dou uma risada.
— Como podemos te ajudar? — Pergunto.
— Fazendo o que eu mandar.
— Eu não vou obedecer ordens suas! — Nathan rosna.
— Ah, você vai sim. Até porque agora você também corre perigo e se não fizer o que eu mandar... — Ele passa o dedão pelo pescoço. — Já era.
— Bem... Eu estou dentro.
— Como sempre, você e suas sábias escolhas, Gama. — Leonardo sorri. — E você, Barolli?
— E eu lá tenho escolha? — Nathan resmunga.
Encolho os ombros.
— Beleza, — Nathan se dá por vencido — estou com vocês.
— Muito bem. — Leonardo ajeita sua camisa. — Fiquem perto de seus celulares, não dêem bandeira e não digam a ninguém que me conhecem. Eu sei demais e isso atrai alguns... Inimigos. Não quero que eles descubram vocês.
— Mas, e quanto à Helena? — Pergunto.
— Coloquem-a a par de tudo, ela precisa estar ciente do que está acontecendo. Ah, e a mantenha o mais longe possível de Otávio. Ele já percebeu que ela é seu ponto fraco e pode usar isso contra você. Não podemos nos esquecer que você é o único herdeiro da Exxon.
— Se ele encostar um só dedo nela, eu juro...
— Eu estou de olho nele, fique tranquilo. Mas em todo caso, não baixem a guarda.
Concordo com a cabeça.
— Bom, agora tenho que ir. — Leonardo se levanta, analisando o relógio. — Avise seu pai que já nos encontramos.
— Você conhece meu pai?
— Estou trabalhando com ele. Nos vemos em breve.
— Ok. — Aperto sua mão.
— Até logo, Barolli.
— Até. — Nathan sorri, à contragosto.
— É, agora você sabe como eu me sinto. — Dou um leve tapinha em seu ombro, logo que Leonardo some de vista.
— Vai, vamos embora. — Nathan pega a chave do carro.
— Cheguei. — Aviso, assim que entro em casa.
Logo, Helena vem ao meu encontro.
— Você demorou. — Ela me beija rapidamente.
— Ficou me esperando?
— Fui um pouco no apartamento, mas a Lívia estava lá. — Revira os olhos. — O Nathan já foi?
— Já. Ele está precisando cuidar da dor de cotovelo. — Sorrio.
— Dor de cotovelo?
— Leonardo é doido pela Marina.
— Caramba! — Helena morde seu lábio. — Mas e aí, como foi?
— Cheio de revelações.
— Me conta. — Ela se senta no sofá e me puxa junto.
— Pesado, né? — Comento, depois de contar à Helena toda nossa conversa no Alemão.
— Muito. Seu pai poderia estar morto agora.
— Pois é.
— No meu primeiro dia de trabalho, Jorge me alertou sobre Otávio. — Ela diz, após refletir por um instante.
— Jorge nunca confiou nele.
— Ele me disse também que seu pai não pode tirá-lo da empresa.
— Otávio obtém grande parte das ações, só não sabemos como as conseguiu. Por isso meu pai não pode expulsá-lo.
— Tá aí! Mais um mistério para nossa lista: "Como Otávio obteve as ações da Exxon."
— Você fica tão sexy falando Exxon. — Sorrio torto.
— E você sorrindo assim fica irresistível.
— Fico?
Ela consente, mordendo seu lábio.
Envolvo sua cintura e puxo seu corpo para mais perto do meu, beijando-a com desejo.
— Vamos lá para cima. — Helena sussurra.
— Tem certeza?
— Absoluta. — Ela se levanta e me puxa pela mão, escada acima.
Abro a porta do quarto, sem parar nosso beijo.
Helena tira minha blusa e beija meu pescoço.
— Tem certeza mesmo? — Sussurro em seu ouvido.
— Já adiei isso por tempo demais. — Ela me olha, com um brilho nos olhos hipnotizador. — Eu sou sua. Inteiramente sua.
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