Despertando
Uma semana depois
— Ca, olha esse tempo! — Analiso o céu pela janela do quarto.
— O que tem? — Caíque vem até mim. — Nossa! Vem tempestade por aí.
— Por que tempestade? — Faço bico. — Por que não uma chuva mansa e sem raios?
— Prometo que você nem vai notar a chuva. — Ele me envolve pela cintura. — Mudando de assunto... — Se aproxima de meu ouvido. — Já disse como você fica sexy com minha camisa?
— Acho que já comentou. — Me viro para ele, sorrindo.
Caíque analisa cada centímetro de meu corpo e depois me beija delicadamente, puxando-me para mais perto de si.
— O café está na mesa, crianças. — Aci avisa da porta.
Eu interrompo nosso beijo e sorrio.
— Hum!
— Incrível como você me troca tão fácil por comida. — Caíque revira os olhos.
— Nunca te trocaria por comida! — Me faço de ofendida. — A não ser por uma pizza incrível com borda recheada.
— A pizza não vai te proteger da tempestade. — Ele dá de ombros, indo em direção à porta.
— Ca, eu tô brincando! Volta aqui! — Corro em sua direção, abraçando-o pelas costas.
— Sabia que ia dar certo. — Ele ri.
Acerto um tapa em seu ombro, rindo também.
— Essa geléia é divina! — Comento, passando-a pela quinta torrada que está prestes a ser devorada por mim.
— Percebi mesmo que você gostou. — Caíque sorri de lado.
Mostro a língua e continuo a comer.
Pouco depois, meu celular toca.
— Oi Than. — Atendo, ainda de boca cheia.
— Oi Le, tudo bem por aí?
— Tudo e aí?
— Tudo ótimo! Você não vai acreditar na notícia que acabei de receber!
— O que houve?
— A Marina... Ela acordou do coma!
— Jura?
— Juro!
— Ai, graças a Deus!
— Eu estou tão feliz, Le! Parece que um peso enorme foi tirado das minhas costas!
— Eu imagino, Than. Nossa, meu dia não poderia ter começado melhor. Obrigada por me avisar.
— Por nada. Estou indo para o hospital agora. Te ligo depois para dizer como ela está.
— Está bem. Um beijo.
— Beijo, Le!
— O que houve?
— A Marina acordou do coma. Acredita? — Anuncio radiante.
— Sério?
— Uhum. O Than está indo lá agora mesmo vê-la.
— Que notícia boa! — Caíque sorri. —Será que o Chang já está sabendo?
— Ah, com certeza. Ele sabe de tudo.
— Verdade. — Caíque ri. — Bem... Parece que chegou a hora de voltarmos pra São Paulo.
— Será?
— É claro! Com a Marina fora do coma, podemos desmascarar Otávio.
— Calma, Ca. Ela acabou de despertar de um coma de dois meses. Ainda não temos conhecimento das sequelas que isso pode ter causado.
Ele suspira.
— É, você tem razão. Mas é que eu não aguento mais viver com a ameaça de Otávio nos assombrando. Alguém tem que pará-lo.
— Eu te entendo, juro que entendo. Mas precisamos ter um pouquinho mais de paciência.
— É... — Caíque passa a mão pelo rosto. — Você está certa.
— Aproveitando que tocamos no assunto, me conte mais sobre o Otávio. Há quanto tempo ele está na empresa?
— Há... — Caíque calcula por um instante. — Uns sete anos.
— Nossa, um bom tempo.
— É sim. Ele começou por baixo, como analista de RH. E era muito competente no que fazia, segundo meu avô. Não demorou muito para ganhar sua confiança e de quebra, uma promoção. Meu avô o tornou diretor do departamento.
— Uau.
— Pois é. Algum tempo depois, meu avô se afastou da empresa para cuidar da saúde e passou a presidência para meu pai. Foi quando Otávio magicamente adquiriu ações suficientes para ocupar a vice-presidência.
— E como era a relação entre seu pai e ele?
— Difícil. Eles vivem em pé de guerra.
— E não há nada que possa ser feito para tirar Otávio da vice-presidência?
— Não. A menos que provemos que as ações não foram obtidas dentro da lei e que a maioria dos acionistas votem a favor de sua saída. O que acho muito improvável.
— Por que?
— Otávio é bem influente entre eles.
— Entendi. — Mordo meu lábio. — Sabe, eu ainda acho que tem algo a mais por trás disso. Dessas ações fantasmas.
— O quê, por exemplo?
— Não sei. Ainda. — Aponto. — Mas não me esqueço do modo como Jorge respondeu a minha pergunta quando o indaguei sobre isso. — Reflito. — Sei lá, talvez role uma chantagem.
— Meu pai não é nenhum santo, mas não acho que ele possa ter um segredo que o arruinaria dessa forma. — Suspira. — Bom, em todo o caso... Aí está: mais um mistério para desvendarmos.
— Se continuarmos assim, logo tomaremos o lugar da equipe da Mistérios S/A. — Brinco, apoiando meu rosto nas mãos.
— Eu seria o Fred?
— Você está mais para Salsicha. — Analiso-o.
— Ah, é? — Caíque franze o cenho e pula da cadeira para me pegar. Eu grito e corro em volta da mesa, fugindo.
— Meu Deus! O que foi que houve? — Aci surge na cozinha, assustada. — Ouvi um grito.
— É essa escandalosinha, Aci. — Caíque ri, parando de me perseguir.
— Está tudo bem, Aci. A gente só estava brincando de pega-pega. — Sorrio, tomando fôlego. — Desculpe te assustar.
— Depois reclamam quando os chamo de criança. — Aci sorri, balançando a cabeça.
— Olha lá, a chuva chegou. — Caíque aponta para a extensa janela de vidro, me abraçando.
— Que ela continue assim, sem raios. — Uno as mãos, em sinal de prece.
— Topa assistir um filminho comigo?
— Topo tudo contigo.
Aci sorri, nos observando.
— E Alice, se entendeu com Israel? — Caíque pergunta, enquanto acaricia meus cabelos, deitado na cama.
— Alice é pior que burro quando empaca. — Respondo sem tirar os olhos da TV.
— O quê? — Ele ri.
— É uma expressão que se usa lá na minha cidade. Mais respeito, por favor!
— Ok, perdão. — Caíque segura o riso. — Mas o que isso significa?
— Já viu burro empacado?
Caíque faz que "não" com a cabeça.
— Já imaginava. Enfim, significa que a pessoa é teimosa, que não há quem a faça mudar de ideia.
— Entendi. Mas e o Israel, se defendeu?
— Um milhão de vezes. Mas Alice não acredita em uma só palavra do que ele diz.
— E se ele realmente for culpado?
— Até você? — Encaro-o. — Israel é inocente. Se fosse você, eu até acreditaria, mas ele é incapaz de uma coisa dessas.
— Ei! Eu já passei dessa fase, ok? Sabe que só tenho olhos para você agora.
— Ah, que fofo! — Beijo a ponta de seu nariz. — Mas voltando ao assunto, tenho certeza que aquela irmã fajuta deve estar fazendo a cabeça de Alice contra Israel. Ah, mas eu vou desmascarar essa garota, você vai ver!
— Como?
— Tenho um plano.
— E qual seria?
— Te conto quando voltarmos para São Paulo.
— Vai ficar de segredinho, é?
— Vou. — Sorrio.
Caíque semicerra os olhos.
— Está sabendo que o Paulo está super amiguinho da Li? — Mudo o assunto.
— Claro. Sou o melhor amigo dele, esqueceu?
— Não. Não esqueci, chatinho. — Mostro a língua.
Caíque sorri e me beija.
— Paulo arrasta um caminhão por ela.
— Eles fariam um casal lindo. Mas Israel ainda tem o posto de meu cunhado!
— Ok. — Caíque ergue as mãos.
Horas depois
— É o Than. — Olho a tela de meu celular.
— Deve ter notícias da Marina.
Consinto e atendo.
— Oi Than!
— Le...
— O que foi? Por que está com essa voz?
— Eu vi a Marina...
— Esse seu tom não é bom. O que houve? Ela ficou com alguma sequela?
— Todas as atividades motoras dela estão em perfeito estado, assim como os quatro sentidos...
— Mas...?
— Mas ela não se lembra. Ela não faz ideia de quem eu sou. Ela não se lembra de mim!
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