Desistir
Encaro seus olhos azuis fixamente quando nossas bocas se separam.
Estou ofegante e ele também.
— O que isso significa?
— Significa que eu te amo, Helena.
— Então, você acredita em mim?
Caíque desvia o olhar e suspira.
Meu coração se parte em mil pedaços. Tento segurar o choro, em vão.
— Tudo bem, Caíque. — Seco rapidamente as lágrimas que escorrem por meu rosto. — Você tem todo o direito de não acreditar. Afinal, do que vale minha palavra diante de tantos fatos, não é?
Ele engole em seco.
— Ainda está tudo muito recente, muito confuso, Helena. Eu preciso de um tempo para digerir toda essa história.
Dou um sorriso amargo.
— Ok. Se jogue nos braços de Laila enquanto "digere toda essa história"! — Me viro.
— Eu não estou me jogando nos braços da Laila!
— Ah, é claro que não. — Ironizo, me voltando para ele. — É na cama mesmo, não é?
— Vai querer falar mesmo sobre isso? É sério? — Caíque me encara.
— Na verdade, não. — Ergo as mãos e, antes de sair, afirmo: — Não quero falar sobre mais nada!
— Helena! Helena, volta aqui!
Ignoro seu pedido e saio a passos firmes. Logo, Antony me encontra.
— Ai, essa carinha. — Ele segura minhas mãos. — Deu tudo errado?
— Tecnicamente, não. Eu vim para contar a verdade a ele e foi isso o que eu fiz.
— Mas vocês não se acertaram, não é?
— Não. — Suspiro. — Mas isso não estava nos planos mesmo. - Encolho os ombros.
— Ah, minha querida. Eu sinto muito.
Consinto com a cabeça.
— Eu estou bem.
Antony me olha, como quem não acredita.
— Juro. Estou bem mesmo.
— Se você está dizendo... — Ele ergue as mãos.
Olho em volta e suspiro.
— Bom, não tem nenhum vôo para São Paulo agora e eu quero ficar o mais longe possível desse hotel. Para onde vamos?
— Para o melhor curador de dor de cotovelo e corações partidos do Sul. — Erguendo o indicador ao ver minha expressão, completa: — Não que você precise.
— Ok. — Dou uma risada. — E onde fica esse curandeiro poderoso?
— Você já vai conhecer. Vamos pegar um táxi. — Antony me puxa pela mão.
— Um pub? — Desço do táxi, analisando a fachada moderna.
— O martini daqui é esplêndido. — Antony faz um sinal para eu o seguir.
— São três da tarde, Antony!
— É happy hour em algum lugar do mundo, amor.
Sorrio, balançando a cabeça em negação, e sigo com Antony para dentro.
Nos acomodamos em uma mesa e fazemos nossos pedidos. Eles não demoram a chegar.
— Tem certeza que não quer provar? — Antony estende sua taça de martini.
— Não, obrigada.
— Sem graça. — Ele revira os olhos. — Bom, vamos fazer um brinde.
— À que, precisamente?
— À vida. E as pancadas que ela nos dá.
— É justo. — Brindo. — Antony, obrigada por ter vindo até aqui comigo.
— Por nada, querida. Apesar do motivo não ser dos mais agradáveis, foi bom ter saído um pouco do caos de São Paulo.
— Do caos de São Paulo ou do caos que alguém de São Paulo anda causando?
— As duas coisas. — Suspira. — Alice te contou, não foi?
Consinto com a cabeça.
— Minha vida amorosa é um dramalhão mexicano. — Antony lamenta. — Um cara bem resolvido, financeiramente estável e com vários pretendentes invejáveis se apaixona logo pelo modelo de olhos azuis, metido a pegador, que insiste em se manter no armário. — Ele circula com o dedo a base da taça. — Lamentável.
— Há quanto tempo vocês estão nesse relacionamento?
— Mais tempo do que eu gostaria. — Faz bico. — O que posso fazer se ele é meu ponto fraco?
— Pior sou eu que fui me apaixonar por um contrato. — Apoio o rosto nas mãos.
— Contrato?
— Ai, droga. Falei demais. — Mordo o lábio. — Por favor Antony, você não pode contar isso para ninguém. Ninguém mesmo!
— Fique tranquila, querida. Seu segredo está bem guardado.
— Obrigada. — Sorrio fraco. — Mas é isso. Caíque e eu temos um contrato de casamento.
— Como isso aconteceu, exatamente?
— Você já deve ter ouvido sobre sua má fama...
— Com certeza. Riquinho metido a besta, que se acha superior a tudo e todos.
— Pois é. E devido a isso, o pai dele o obrigou a se casar e desfazer essa má fama. Era isso ou ser deserdado.
— Entendi. Mas... Como foi que você se meteu nisso?
— Longa história. Está a fim de ouvir?
— Claro. Mas antes preciso de outro martini. — Ele ergue a mão, chamando a atendente.
— Isso daria um ótimo filme. — Antony comenta, após ouvir toda a história.
— Só não teria um final feliz.
— Nem sabemos o final dessa história ainda. Deixe de ser pessimista, mulher! — Ele dá um gole em sua bebida. — Mas, e quanto à garota?
— Qual delas?
— A que armou todo esse circo e que agora, provavelmente, está lá pegando seu marido. Você vai deixar por isso mesmo?
— O que você sugere que eu faça?
— Dê à ela uma dose de seu próprio veneno. Ela armou para você, certo? Arme para ela.
— Eu não sou muito boa nisso. Acho que já deu para perceber, não é?
— Tem razão. Deixe comigo, sei exatamente o que fazer.
Suspiro.
— Sabe Antony, acho melhor deixar isso para lá.
— Por que?
— Ele já deixou bem claro que não acredita em mim. E sinceramente, não quero mais provar o contrário. Eu me apaixonei, foi incrível, mas acabou.
— Então, você vai simplesmente desistir?
Respiro fundo.
— É, eu vou.
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