Casamento?
— Como é, Helena? — Nathan se levanta e me encara, inconformado com o que acaba de escutar.
— Calma, Than. É só por um ano.
— Ah, só por um ano! — Ele sorri, irônico. — Eu não acredito que você vai se prestar a isso, Helena. Se vender assim para aquele filhinho de papai!
— Ei, calma aí! Agora você está me ofendendo! — Me levanto também. — Eu não estou me vendendo, Nathan! Eu sempre batalhei por tudo a minha vida toda, passei por coisas que você nem imagina. E nem por isso me entreguei. Não seria agora que eu faria isso!
— Me desculpa, eu... Eu me exaltei. — Ele suspira, passando a mão pelo rosto. — Não foi isso o que eu quis dizer, não tive a intenção de te ofender.
— É, mas ofendeu.
Nathan encara o chão.
— Le, você não tem que fazer isso. — Seus olhos encontram os meus.
— Caíque salvou a vida da Camélia. E agora ele precisa da minha ajuda. Eu não posso negar. Tenho uma dívida com ele.
— Tenho certeza que ele fez isso de caso pensado. Aquele cara não presta! — Ele posta as mãos na cintura, virando-se.
— Por que você sempre fala tão mal assim dele?
— Porque ele é um babaca! Se acha superior a tudo e todos. — Suspira. —Ele não te merece, Helena.
— Essa não é a questão. Eu não vou ter nada com ele, vai ser tudo... Encenação.
— Encenação? — Nathan ri, sem humor. — E desde quando você virou atriz?
— Eu desisto de conversar com você. — Baixo os ombros, sentindo meus olhos marejarem. — Eu quis que você soubesse antes de qualquer um, Nathan. Pensei que me apoiaria.
— Eu não consigo apoiar isso. Me desculpa, mas não dá. — Ele passa a mão pelo rosto outra vez. — Eu preciso ficar um pouco sozinho, digerir toda essa história. — Suspira. — Vai embora, por favor.
— Than... — As lágrimas escapam de meus olhos, molhando meu rosto.
Ele por sua vez, se posta ao lado da porta aberta, evitando me olhar.
— Por favor, Helena.
Respiro fundo, enxugo minhas lágrimas e saio, olhando-o uma última vez. Sua feição é dura, cheia de rancor.
Vou dirigindo até o hospital, com a imagem de Nathan assombrando minha mente. Suas palavras foram tão duras.
Eu não esperava uma comemoração de sua parte, mas sua rejeição à ideia foi muito pior do que eu poderia imaginar.
— Oi irmã. — Alice me recepciona com um lindo sorriso, que se desmancha ao notar minha nítida tristeza. — O que houve?
Suspiro.
— Briguei com o Than.
— Por que? O que ele fez?
— Ele não fez nada. Na verdade, fui eu.
— O que foi que você fez?
— Nem sei como começar a explicar. — Me sento e puxo Alice junto. — Você sabe que o Caíque arcou com todas as despesas da operação da Camélia, não é?
— Aham, eu sei.
— Naquele mesmo dia, pouco mais cedo, ele e o Paulo me fizeram uma proposta.
— Proposta?
— É. — Mordo o lábio.
— E qual seria?
— A de me casar com o Caíque.
— O quê? — Alice arregala os olhos. — Casar... Casar? Tipo, véu, grinalda e padre?
— É. — Meneio a cabeça. — Na verdade, é um casamento fake para o Caíque recuperar seus bens, que o pai bloqueou.
— E eu achando que isso só acontecia em filme.
— Pois é. Eu também. — Suspiro. — A questão é que eu aceitei.
— O quê? Não, espera aí! Você tá brincando, né?
— Não. Eu tenho uma dívida com ele. Caíque nos ajudou e agora eu vou ajudar ele.
— Lena, isso é loucura! E nem faz sentido! Se for assim, eu também tenho uma dívida com ele!
— Não fala besteira. Você é só uma menina. — Suspiro. — E eu sei que isso é loucura. Mas já dei minha palavra, não posso voltar atrás.
— Você não acha que está sendo um pouco precipitada?
— Talvez. Mas não posso simplesmente ligar para ele e falar: "Olha Caíque, não vai rolar. Arranje outra noiva."
— Poder, você pode. — Alice me olha. — Mas aí não seria a minha irmã.
Baixo meus ombros, olhando para o chão.
— Eu só pensei que o Than me entenderia, sabe?
— Se coloca no lugar dele, irmã. Não deve ser nada fácil saber que a mulher que ele ama vai se casar com outro.
— Não viaja, Li. Nós somos amigos.
— Só você não percebe que o Than é completamente louco por você, Lena. — Alice coloca uma mecha de meu cabelo atrás da orelha.
Ficamos em silêncio por alguns segundos, até que Alice se levanta.
— Vou lá ver a Camélinha, vamos?
— Vamos.
Caminho com Alice pelo longo corredor branco, até chegarmos ao quarto na Unidade Intensiva, em que Camélia se recupera. Sua feição é tranquila, mesmo rodeada por todos aqueles aparelhos e medicamentos.
Me aproximo de seu leito e lhe acaricio os cabelos.
— Como seus conselhos me fazem falta, Camélinha.
Fico sentada ao seu lado por algum tempo, até que Alice chama minha atenção para a porta. Nathan está encostado à parede, com os braços cruzados, me olhando.
— Esqueceu de me falar alguma coisa? — Paro à sua frente.
— Eu odeio isso. — Ele me olha profundamente nos olhos.
— Isso o quê?
— Não conseguir te odiar.
Sorrio e o abraço apertado.
— Eu te amo, Helena. Mais do que você pode imaginar. — Ele sussurra, entre meus cabelos. — Sempre vou te apoiar, mesmo contra minha vontade.
— É tão bom ter você. — Fungo, afundada em seu peito.
— Já vou avisar: se esse cara tocar em um fio de cabelo seu sem seu consentimento, eu acabo com ele.
— Eu sei que acaba. — Sorrio. — Promete que nunca vai mudar comigo?
— Prometo. O que temos é para a vida toda. — Nathan beija minha testa. — Ei, Le... Vai ser só um ano mesmo, não é?
— Só. Nem um dia a mais. — Beijo meus dedos, cruzando-os.
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