Caminho de volta
— Oi. — Caíque para à nossa frente, com as mãos no bolso.
— Bem... Vou deixar vocês conversarem. — Alice se levanta, lança um olhar para Caíque e sai.
— O que você veio fazer aqui? Saber quem venceu a briga? — Ironizo, me levantando.
— Briga? — Caíque me olha, sem entender. — Paulo me pediu para encontrá-lo aqui. De que briga você está falando?
— Da que Laila e ela protagonizaram lá fora. — Paulo surge, dando um meio sorriso.
— Vocês brigaram? — Caíque se vira para mim.
— Com direito a puxões de cabelos e tapas na cara.
— Obrigada pela explicação, Paulo. — Sussurro, notoriamente envergonhada.
— O que houve? Por que vocês se estapearam no meio da rua?
— Vou deixar vocês à sós. Fiquem à vontade para usar minha sala. — Paulo dá um tapinha amigo no ombro de Caíque e também se vai.
— Então? — Ele me olha. — Vai me contar o que houve?
Suspiro.
— Eu tenho outra opção?
Caíque encolhe os ombros.
— Ótimo.
Sigo a passos firmes e braços cruzados até a sala de Paulo, sendo seguida por Caíque. Quando chegamos, ele fecha a porta e me encara.
— Estou esperando, Helena. — Ele também cruza os braços.
Sorrio torto.
— Até parece meu pai, falando assim.
Caíque também sorri.
— Levava muitas broncas quando criança?
— Só quando quebrava a janela de algum vizinho. — Respondo, fitando o chão.
— E por brigar na rua, não?
— Foi a primeira vez que isso aconteceu, ok? — Me defendo. — E na verdade, foi tudo por sua culpa!
— Minha culpa? O que foi que eu fiz dessa vez?
— Se envolveu, de novo, com a Laila.
— Eu não me envolvi com ela.
— Ir para a cama com ela não é envolvimento para você?
— Ah, não. De novo esse papo? — Caíque se vira de costas.
— Olha Caíque, Laila pode ser desiquilibrada, mimada, egocêntrica e até cruel. Mas ela ama você. Ama de verdade.
— Laila não tem ideia do que é amor.
— Tem sim. Uma ideia bem destorcida, mas tem. — Faço uma pausa. — O modo como ela fala de você é...
— Assustador?
— É. — Dou uma risada. — Mas é sincero também.
— Espere... O que você está pretendendo, Helena? Me convencer que eu devo me jogar nos braços da Laila?
— Não seria a primeira vez, não é mesmo? — Dou de ombros.
Caíque revira os olhos.
— Mas não. — Prossigo. — Eu só quero te alertar sobre o que isso significa para ela. Laila é completamente obcecada por você e isso pode ser perigoso. Para você e até mesmo para ela.
— Eu sei. Aquela armação no hotel foi só um aperitivo. — Caíque suspira. — Laila é capaz de muito mais.
— Espera aí. Armação no hotel? — Encaro-o, interessada.
— É. Finalmente descobri toda a verdade. Laila, com a ajuda de Lívia, te drogou, jogou você naquele quarto de hotel no meio do nada com um michê pé de chinelo e me fez flagrá-los.
— Uau. — Ironizo. — Parece que eu não estava mentindo, afinal.
— Alice abriu meus olhos. Eu fui tão... Tão...
— Idiota?
— É. — Ele sorri fraco. — Tremendamente idiota.
Fito meus pés e quando volto meu olhar para cima, Caíque está com seu rosto a centímetros do meu.
— O que você pensa que está fazendo? — Minha voz sai quase em um sussurro.
— Você é tão linda, Helena. — Caíque segura carinhosamente meu rosto entre suas mãos.
— Caíque, eu...
— Andei ensaiando esse diálogo na minha cabeça por todo o trajeto. Então, por favor, não saia do roteiro. — Ele sorri, com os olhos marejados.
Eu apenas continuo o encarando.
— Conhecer você foi a melhor coisa que já aconteceu em toda a minha vida, Helena. Mas nós ficamos juntos pelo motivo errado. Eu só pensava no meu dinheiro e você só queria retribuir um favor.
— Mas depois eu me apaixonei por você, — minha voz sai embargada — de verdade.
— E eu por você. Foi aí que nós erramos. O que começa errado, nunca termina bem.
— Então, você está dizendo que tudo o que vivemos foi um erro?
— Não. É claro que não. — Caíque acaricia meu rosto. — Eu só quero que você entenda que...
— Onde você quer chegar, afinal?
Caíque suspira, antes de responder.
— Eu mentia, manipulava e traía, tudo por pura diversão. Mas quando você entrou na minha vida, essas coisas deixaram de ser divertidas. Você me ensinou a amar, me ensinou a ter respeito pelas pessoas, você fez o moleque babaca se tornar um homem.
Respiro fundo, numa tentativa frustrada de segurar o choro.
— Como recompensa, eu duvidei do seu caráter, do seu amor. Duvidei de você, Helena. Eu me deixei levar pela raiva, agi por impulso, fiz e falei coisas das quais me arrependo amargamente.
Lágrimas correm livremente por meu rosto e eu não as impeço de caírem.
— Sei que agora eu deveria me ajoelhar aqui na sua frente e lhe implorar por perdão, mas a verdade é que eu não mereço ser perdoado. Eu não mereço você, Helena.
Cubro minha boca com a mão, tentando abafar o choro.
Falho.
— Ei... Não chore. — Caíque seca minhas lágrimas delicadamente. — Eu quero vê-la feliz.
— Então por que você não se esforça para isso? — Dou um passo para trás.
— Eu estou me esforçando, Helena. Você nem imagina o quanto. É exatamente por querer vê-la feliz, que eu estou fazendo isso. Nós dois sabemos que sua vida é bem mais fácil sem mim.
— Mas não é minha vida sem você nela.
Caíque abaixa a cabeça.
— Não torne isso mais difícil do que já é, Helena.
— Eu jurei que nunca mais choraria por você, Caíque. Jurei que não me deixaria ceder... Mas eu não consigo. — Suspiro. — Eu amo você. Amo cada pedaço seu.
— Era tudo o que eu precisava ouvir. — Ele sorri, com seu rosto molhado pelas lágrimas. — Eu amo você também.
Respiro fundo, ainda chorando.
Caíque se aproxima e beija minha testa.
— Sabe, ouvi dizer que quando duas pessoas estão destinadas a ficar juntas, eventualmente elas encontram o caminho de volta. — Ele sussurra, com seus lábios ainda próximos de minha testa.
— Você realmente acredita nisso? — Encaro seus olhos azuis.
— Acredito.
— Então, eu também.
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