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Bom dia

— Bom dia. — Caíque se espreguiça na cama, logo após acordar.
— Bom dia.
— Dormi muito?
— Não, ainda são — olho as horas — dez horas.
— Nossa, dormi feito pedra. — Ele se senta na cama.
— Eu percebi mesmo. — Sorrio, enquanto prendo meus cabelos em um rabo de cavalo.
— Acordou há muito tempo?
— Uma hora atrás, mais ou menos.
— Medo de eu te ver sem maquiagem e descabelada?
— Talvez. — Meneio a cabeça.
— Deixa disso, você é linda. E não vai acordar sempre mais cedo do que eu. — Caíque sorri de canto.
— Não tinha pensado nisso. — Me viro para ele.
— Terei um ano inteirinho para ver suas olheiras.
— Que tragédia! — Abro minha boca, fingindo choque.

Ele ri, se deitando novamente.

— Ei, vem cá. Senta aqui.
— O que foi? — Faço o que ele pede.
— Ontem, logo depois da cerimônia, eu fui falar com o Nathan, agradecer por ele ter ido. Sei como foi importante para você ter ele lá.
— Por isso você sumiu?

Ele concorda com a cabeça.

— Than me apoiou desde que cheguei aqui, me ajudou nos momentos mais difíceis, nunca me deixou desanimar. — Baixo os olhos, sorrindo fraco.
— Ele ama você, Helena. Ele conhece suas qualidades, fraquezas e medos. E te ama incondicionalmente, independente de tudo.

Suspiro.

— Sabe... Eu não gosto dele, não gosto mesmo. Mas admiro sua coragem.
— Coragem?
— Ele deixou a pessoa que ama livre para fazer suas próprias escolhas, mesmo que isso lhe custe perdê-la.
— Ele nunca me perderá. Nós somos para a vida toda e não só por um ano. 

Caique engole em seco e se levanta.

— Certo... Bom, depois dessa, acho que vou tomar um banho.

Respiro fundo, arrependida por minhas palavras que soaram mais grosseiras do que eu gostaria e me deito na cama. Em seguida, resolvo ligar para Alice.

— Bom dia, irmã. — Alice atende, animada.
 Bom dia. É impressão minha ou você está mais animada do que de costume?
É impressão sua. É que acordei há uns vinte minutos atrás, então o mau humor já passou. 
— Isso é ótimo. — Dou uma risada.
— É sim. — Ela me acompanha. — Mas agora me conta, como está a lua de mel?
— Ah, Li, fala sério. Você sabe que é tudo de fachada.
— Eu sei, mas... Sei , ? Vai que rolou um clima.
— Não, não rolou. Quer dizer, até rolou...
— O quê? Vocês se pegaram?!
— Não, garota! Foi... Só um beijo.
— E ele beija bem?
— Alice!
— Foi mal. — Ela ri. — Só para descontrair
— Cadê a Camélinha?
— Sentada aqui do meu lado. Quer falar com ela
— Quero sim.
Tá bom. Beijo, Lena. Te amo. 
Te amo.
— E depois você vai me contar essa história direitinho, viu?
— Tá bom. — Dou uma risada.

— Oi filha.
— Camélinha, como você está?
Estou ótima.
— De verdade? Está se sentindo bem mesmo?
— Estou sim.
— Está seguindo a dieta direitinho?
— Ei, quem faz esse papel aqui sou eu.

Dou uma risada.

— Desculpa, é que fico tão preocupada.
— Eu sei, meu amor. Mas fique sossegada, eu estou me sentindo muito bem.
— Que bom, Camélinha. Me alivia o coração saber.
— Alivia mesmo? Porque parece que você está com algo apertando ele.
— Não consigo esconder nada mesmo de você, não é?
— Não. O que está acontecendo?
Tanta coisa, Camélinha... O Than, esse casamento...
Ah, eu queria tanto ter ido. Você estava maravilhosa, Alice me mostrou as fotos.
— Você fez mesmo muita falta. Mas não iria quebrar seu repouso por isso, você precisa se recuperar direitinho.
Eu só não entendi até agora como você se casou tão depressa assim e logo com o rapaz que pagou por minha cirurgia. 
Ah, Camélinha...  Suspiro. — É uma longa história.
—  espero que eu não esteja envolvida nessa "longa história". Nunca me perdoaria em fazê-la infeliz.
— Não, você não tem nada a ver com isso. Por que teria? — Dou uma pequena risada nervosa. — Foi por mim, eu quis. E não estou infeliz, é só que... Está tudo muito confuso na minha cabeça agora.
— Tudo o quê?
— Camélinha, você acha que o Nathan me ama?
— Helena, minha querida... Até cego .
— Será que um dia ele vai me perdoar?
— Se o que ele sente por você for realmente forte como ele demonstra, vai sim.
Tenho medo de perdê-lo. — Suspiro. — Droga, sou tão egoísta. Quero ser feliz, tê-lo comigo e me manter casada com outro.
— Querida, vá falar com ele. Vocês precisam se resolver.
— Será que ele vai querer falar comigo?
— É claro que vai. Você é uma das pessoas mais importante da vida dele.
— Como seus conselhos me fizeram falta nesse tempo. Obrigada Camélia, por tudo. Eu te amo.
— Eu também te amo. 

Desligo.

Decido seguir o conselho de Camélia e disco o número de Nathan. Olho por alguns segundos a tela do celular, tomo coragem e ligo.

— Alô.

Desligo imediatamente. A voz do outro lado da linha não é a de Nathan e se eu não estiver ficando louca, eu a conheço.

— Helena, está tudo bem? — Caíque sai do banheiro apenas de calça jeans, secando seus cabelos na toalha.
— Sim... Está sim. — Forço um sorriso.
— Falou com ele?
— Ele quem?
— Nathan. — Aponta para meu celular.

Desvio meus olhos para o chão.

— Acho que ele está ocupado agora.
— Helena, vamos acabar com isso. Eu me viro com meu pai.
— Não, é claro que não. Temos um contrato. E agora vamos com ele até o fim.
— Não quero te fazer infeliz. Você o ama também.
— Ele é meu melhor amigo.
— E ele também vê você dessa forma?

Não respondo.

Me levanto e vou até o espelho.

— Como a Camélia está? — Caíque muda o rumo da conversa.
— Está bem, graças a Deus. Diz que está se exercitando e seguindo a dieta passada pelo doutor Armando.
— Acho tão bonita a relação de vocês.
— Camélia é como uma mãe para mim.

Caíque sorri.

— Helena, posso te fazer uma pergunta?
— Claro.
— Como você perdeu seus pais?
— Vamos descer para tomar nosso café da manhã. Te conto no caminho.

Caíque consente e depois de vestir sua blusa, oferece seu braço. Eu entrelaço-o ao meu e juntos vamos até o elevador.

Nathan

O sol que entra pela janela me desperta justo na melhor parte do sonho.

Me espreguiço, viro para o lado e a vejo dormindo ao meu lado.

Ela está aqui. Realmente está. Não foi um sonho, foi real.

Tudo foi real.

— Bom dia, Helena. — Abraço-a por trás, mas desperto de meu transe quando percebo que seus cabelos escuros tomaram um tom muito dourado.
— Bom dia, Nathan. E pela milésima vez, me chamo Marina. — Ela se vira de frente para mim, afastando meus braços de seu corpo e fixa seus hipnotizadores olhos verdes nos meus. Eles, porém, a acusam de ter chorado por muito tempo.
— Ma... Nossa! Me desculpe, eu...
— Tudo bem. Eu assumi esse risco quando vim para cá ontem. — Ela se senta na cama e sussurra. — Só não imaginava como isso doeria.
— Olha, não foi minha intenção te magoar...
— Sem essa, ok? Sei essa desculpa clichê de cor. Eu estou bem.

Marina se levanta e exibe a lingerie azul marinho que contrasta perfeitamente com sua pele branca e desenha com perfeição seu corpo. Em seguida, pega o vestido do dia anterior nas mãos, trazendo à tona toda minha dor novamente.

Não foi com Helena que dormi, que tive uma noite incrível de amor. Ela continua lá, em sua noite de núpcias com o Idiota Gama.

— Ei, estou indo embora. — Marina avisa, despertando-me de meus lamentos.
— Não, Ma. Por favor, espera. — Me ajoelho na cama para alcançá-la e seguro seu braço.
— Não dá para ficar mais aqui. — Seus olhos marejam.
— Ei, me perdoa... Eu sou um idiota. Você é maravilhosa. — Acaricio seu rosto.
— De que adianta ser tão maravilhosa, se todos os beijos foram dados com o pensamento em outra pessoa?
— Marina...
— Nathan, você é gentil demais para dizer que o que tivemos não teve significado algum para você. Mas eu sei disso e estou extremamente arrependida. Meti os pés pelas mãos e olha no que deu.
— Pare de falar assim. Você é muito especial para mim. — Afasto uma mecha de seu cabelo do rosto. — Nossa noite foi incrível.

Ela suspira.

— Só quero que você saiba que eu não estou tentando roubar o lugar dela. Sei que o que você sente pela Helena é extremamente forte e não quero tentar disputar esse sentimento. Eu só queria ser feliz e esquecer todos os problemas lá fora, ao menos por uma noite.
— Você foi feliz?
— Muito.

Beijo sua testa.

— Me espera aqui. Só vou arrumar essa cara amassada e te levo em casa.
— Não precisa, eu estou com meu carro...
Shh. Já volto. Não sai daqui.

Marina concorda, baixando os ombros, e se senta novamente na cama.

Entro no banheiro para tomar uma ducha rápida e, pouco depois, ouço meu celular tocar.

— Than...
— Atende para mim, por favor, Ma.

— Era a Helena. Ela desligou assim que eu atendi. — Marina avisa da porta, sem graça.

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