À Luta
Nosso dinheiro se foi. Mas nossa vontade de vencer, não. Aliás, ela só aumentou. Até porque temos saúde e amor de sobra para enfrentar o que quer que apareça.
Agora chegou a hora de buscar meu lugar ao sol. Eu vou vencer na vida!
— E então? Como foi? — Alice me espera ansiosa na sala.
— "Você é ótima, mas por enquanto o quadro de funcionários está completo.", "Você é excelente, excede às expectativas, nem temos uma vaga à seu nível.", "Adoramos você. Entraremos em contato." — Enceno, desanimada, as mais variadas formas de "não" que recebi pelo quarto dia seguido.
— Não fica assim, irmã. Tenho certeza que vão te ligar. — Alice me abraça de lado.
Suspiro, jogando minha bolsa sobre o sofá, e lhe aplico um beijo na testa.
— Vou tomar um banho, ok?
Vou arrastando os pés até o banheiro. Tiro minhas roupas, ligo o chuveiro e entro embaixo da água quente. Deixo ela escorrer por meu corpo e tento esvaziar minha mente. Isso até o chuveiro queimar.
— Ai, que droga! Não acredito!
— O que foi, Helena? — Dona Camélia pergunta, da porta.
— A porcaria do chuveiro queimou! — Fecho o registro e me enrolo na toalha.
— Vou falar com o Israel. Ele deve saber dar um jeito nisso.
— Te amo. — Aponto a cabeça na porta, dando um grande sorriso.
Alice resmunga um "interesseira" e sai rindo.
— Helena, querida... Não gosto de te ver assim, desanimada.
— Ah, Camélinha... — Saio do banheiro e me encosto no balcão da cozinha. — Por que é tudo tão difícil na minha vida?
— E alguém disse que seria fácil?
Faço um aceno negativo com a cabeça, de ombros baixos.
— Tudo vai dar certo. Você não pode perder sua fé.
— Eu sei. Mas a vida bem que podia me dar uma colherzinha de chá, não é? Só dessa vez.
— Minha querida... — Camélia segura minhas mãos, carinhosamente. — Deus não nos dá fardos mais pesados do que somos capazes de carregar. Você é a menina mais guerreira que já conheci e não vai ser por causa desse tombinho que você vai desanimar.
Consinto com a cabeça e sorrio fraco.
— Obrigada. — Dou um abraço apertado nela. — Eu te amo.
— Eu também te amo.
— Chegamos. — Alice entra, com Israel logo atrás.
— Olá. — Ele nos cumprimenta com um aceno de cabeça e vai até o banheiro, paramentado com sua maleta de ferramentas.
— É... Acho que vou esperar no quarto. — Comento, logo que noto meus trajes.
— Branco destaca a cor dos seus olhos, irmã. — Alice se encosta no balcão.
Sorrio amarelo e vou para o meu quarto.
Nesse minuto, meu celular toca:
— Alô.
— Helena?
— Oi, Nathan.
— Como você está?
— É... Estou levando.
— Ih, não gostei desse tom.
— Ah, ando cansada, sabe? Nada dá certo na minha vida.
— Você não pode desanimar.
— Você não imagina quantas vezes já ouvi isso... — Suspiro. — Só que é bem mais fácil na teoria do que na prática.
— Se a vida fosse fácil, não teria graça.
— Há controvérsias.
Ele ri fraco.
— Helena, você vai sair?
— Não. Por quê?
— É que... Eu...
— Você...?
— Eu pensei em passar aí.
— Pois então venha.
— Posso?
— Claro. Vai ser legal ter você aqui.
— Que horas posso ir?
— A hora que você quiser. Vou ficar aqui o dia todo.
— Passo aí depois do meu trabalho, então.
— Ok, te espero. Beijo!
— Beijos!
Termino a ligação com um sorriso no rosto.
Dou uma última olhada no espelho e rio por estar me sentindo uma adolescente novamente.
A campainha toca. Corro para atendê-la.
— Oi. — Nathan sorri para mim, da porta.
— Oi. Entra!
Ele agradece com um aceno de cabeça, antes de entrar.
— Oi Nathan!
— Oi, Alice.
Os dois trocam beijos no rosto.
— Nathan, essa é dona Camélia. — Apresento-os.
— Muito prazer. — Ele também a cumprimenta com um beijo no rosto. — Como a senhora está?
— Estou ótima e você, querido?
— Também.
— Finalmente conheci o famoso Nathan.
— Eu, famoso? — Ele sorri.
— Pelo menos nessa casa você é. — Dona Camélia sorri e olha para mim.
— Certo... Vamos mudar de assunto? — Sugiro, notoriamente envergonhada.
— E então, já se acostumaram com a poluição de São Paulo? — Nathan gentilmente muda o rumo da conversa.
— Quase. — Alice ri.
Sento desanimada no sofá e Nathan me acompanha.
— O que houve? — Ele me olha, intrigado.
— Você soube de um assalto ao banco que aconteceu há alguns dias atrás?
— Claro, só se falou nisso. Parece que os bandidos levaram uma grana alta.
— É... A nossa estava inclusa nisso.
— O quê? — Nathan me olha assustado. — Vocês estavam lá?
Consinto.
— Estávamos indo depositar o dinheiro da venda de nossa antiga casa.
— Por que você não me contou isso, Helena?
— Não quis te preocupar. Você já tem suas coisas para isso.
— Algum deles tocou em vocês?
Não respondo. Apenas passo a mão por meu pescoço, ainda marcado pelo forte aperto do homem. A maquiagem impede que os outros a vejam.
— Você deveria ter me contado, Helena.
— É, eu sei. Me desculpe. — Suspiro. — Eu fiquei sem chão. Aquele dinheiro era tudo o que tínhamos. Todo o meu plano evaporou.
— Eu sinto muito, Helena.
— É, eu também. — Olho para o chão.
— Ei, não fica assim, não. Nós vamos dar um jeito nisso. — Nathan levanta meu rosto até o seu.
— Nós?
— É, nós. Eu vou ajudar vocês.
— Nathan, sério... É muito gentil da sua parte, mas...
— Mas, nada. — Ele me interrompe. — Eu vou ajudar vocês. Contem comigo.
— Obrigada. Você é incrível. — Sorrio fraco.
— Você que é. — Ele sussurra em resposta.
Dona Camélia e Alice trocam olhares e quando eu olho para elas, as duas sorriem.
— Vamos dar uma volta? — Nathan sugere, se levantando.
— Para onde?
— Um tour pela cidade. Vou levar vocês para conhecerem os lugares mais lindos daqui. Vocês estão muito tristinhas, precisam se animar.
— Ouvi "vocês"? — Alice pergunta.
— Sim, vocês. Topam?
— Não é melhor irem só vocês dois? — Alice sugere.
— E deixar você e Dona Camélia aqui, com essa noite linda lá fora? — Nathan responde. — Acho que não. Então, vamos?
— Calma aí! Preciso passar um batom antes!
— Alice, deixa disso. Vamos logo! — Puxo ela porta afora.
Nosso tour segue animado e interessante. A cada lugar em que Nathan nos leva, mais encantadas ficamos. Realmente, há beleza em São Paulo.
Durante o passeio, olho para ele e o vejo sorrindo, com os olhos brilhando. Nathan me lembra uma pessoa conhecida. Na verdade, eu mesma, há muito tempo atrás. Antes de todas as rasteiras da vida.
Depois do passeio, já em nosso apartamento, ele se despede de mim com uma promessa: que me ajudará sempre.
Nathan é como um anjo colocado em meu caminho.
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