A isca
— Otávio pegou Caíque. — Minha voz sai falha.
— O quê? O Caíque?
— Harry disse que eles o levaram.
Leo pega o celular de minha mão.
— Ei, Harry!
— Leo?!
— Onde você está?
— Não sei direito... Os caras que levaram o Caíque me apagaram com uma pancada na cabeça. Espera... Acho que estou na Liberdade.
— Na Liberdade? Tem certeza?
— Ao que tudo indica sim. Só tem japas aqui... Ai!
— O que foi?
— Tem um galo na minha cabeça.
— Me espere aí. Estou indo te buscar.
— Me buscar? Mas você não está...? Ah, é claro que não. Ok, estou te esperando... Em frente ao Lamen Kazu.
— Certo.
Leo desliga e pega minha mão, puxando-me consigo.
— Nós vamos buscar o Harry?
— Sim.
— E quanto à minha irmã e Caíque?
— Iremos atrás deles em seguida.
Entramos no carro, sem dizer mais nada.
Em silêncio, observo Leo. Seu maxilar está rígido e suas mãos apertam o volante com uma força absurda.
— O que está acontecendo? Por que você está com essa cara?
— Nada... Apenas um péssimo palpite.
— E qual seria?
— Acho que Otávio mudou de planos. Ele não pegou o Caíque só para você convencer um acionista, ele está preparando algo maior. E se ele fará o que acho que fará... Não precisará mais de Alice.
— O que você quer dizer com isso? — Sinto a cor abandonar meu rosto.
— Eu posso estar errado.
— O que você quer dizer? Leo! — Engulo em seco. — Ele a matará?
— Eu não vou deixar isso acontecer. — Ele me olha diretamente nos olhos. — Ok? Eu juro! Agora, coloque o cinto.
Otávio vai matar minha irmã?
Leo vai a toda velocidade ao encontro de Harry, mas estou tão absorta em meus pensamentos que isso nem me incomoda.
Só consigo pensar em Alice nas mãos de Otávio. No horror que ela deve estar enfrentando, sozinha.
Estacionamos em frente a um restaurante japonês chamado Lamen Kazu e logo avistamos Harry.
— Graças a Deus vocês chegaram! — Ele entra rapidamente no carro.
— Como você está, Haroldo?
— Com dor de cabeça. E você? Não deveria estar no hospital?
— E perder toda a diversão? — Leo sorri de canto, arrancando com o carro.
— Não achei nada divertido ser nocauteado. — Harry reclama, passando a mão no local onde foi atingido.
— Por falar nisso, me explique como tudo aconteceu.
— Bom, Caíque e eu estávamos indo para o apartamento de Helena, quando notamos que estávamos sendo seguidos, porém, um pouco tarde demais. Aconteceu tudo muito rápido... Eles nos cercaram e gritaram para sairmos do carro, estavam armados. Quando descemos, eles agarraram Caíque e saíram arrastando ele até um dos carros. Eu tentei ajudar, mas aí me apagaram.
— Você viu o rosto de algum deles?
— Não. Estavam todos encapuzados.
— E quantos eram?
— Quatro, no total. Dois nos abordaram e dois estavam ao volante.
— Isso só piora.
— O que vamos fazer? — Pergunto, após vários minutos de silêncio.
— Você rastreou o cativeiro, Harry? — Leo o olha pelo retrovisor.
— Sim. Sei exatamente onde Alice está.
— E se for outra armadilha?
— Estou preparado dessa vez. — Leo me olha. — Vamos trazê-la de volta.
Nesse instante, meu celular toca.
— Paulo?
— Oi, Helena. Está podendo falar?
— Estou sim. Aconteceu algo?
— Ia te perguntar o mesmo. Aconteceu alguma coisa?
— Hã, não... Como assim? Sobre o que você está falando?
— Alice não apareceu na agência hoje, seu celular está desligado desde ontem... Ela está bem?
— Ah... Ela...
— Helena, por favor, não minta para mim. O que está acontecendo?
— É... É complicado, Paulo.
— Ela está doente?
— Não.
— Então, me diga onde ela está. O que está acontecendo, Helena?
— Eu não posso. Me desculpe, Paulo.
Desligo antes que piore.
— Eu deveria ter contado? — Pergunto para Leo.
— Não. Você fez bem. Quanto menos pessoas souberem, melhor.
Consinto com a cabeça e volto meu olhar para fora.
Parece que estou vivendo um interminável pesadelo.
— É ali. — Harry avisa, apontando para uma casa antiga e maltratada.
Leo estaciona o carro.
— Onde está a igreja? — Procuro com os olhos por cima dos telhados.
— Que igreja? — Leo pergunta.
Me sento na janela e depois subo no teto do carro para procurar.
— Ei, o que você acha que está fazendo? Desça daí, Helena! — Leo coloca a cabeça para fora do carro e ralha comigo, quase em um sussurro.
— Ali, achei! — Aponto. — É realmente aqui!
— Então desça antes que nos vejam! — Leo sai do carro e estende os braços, me ajudando a descer. — Maluca!
— Como nós vamos entrar?
— Eu vou entrar pelos fundos. Você vai ficar bem quietinha aqui dentro do carro, com o Harry.
— Não vou, não. Preciso te lembrar o que aconteceu da última vez que você me pediu para ficar no carro?
— Não, não precisa. — Ele apoia a mão sobre o curativo, fazendo uma careta em seguida. — Está passando o efeito da morfina, por falar nisso.
— Se vocês dois vão entrar, o que eu vou fazer? — Harry nos interrompe.
— Você vai ficar aqui e vigiar.
— Que emocionante. — Ele se recosta no banco, frustrado.
— Como vamos fazer?
— Vamos entrar pelos fundos e...
— Ei, ei pessoal. Eu devo vigiar aqueles caras ali? — Harry aponta para a casa, de onde saem dois homens, conversando compenetradamente.
— Se abaixa! — Leo me puxa.
Ficamos agachados em total silêncio, até Harry sinalizar que eles já se foram.
— Eles saíram. — Sussurro. — É nossa chance.
— Fique atrás de mim, ok? Não sabemos quem pode estar lá dentro.
— Está bem.
— Harry, fique de olho. Se eles voltarem, ligue no celular da Helena.
— Deixa comigo.
— Certo... Vamos.
Leo caminha a passos rápidos até os fundos da casa e eu o sigo na mesma velocidade.
— Está trancada. — Chacoalho a maçaneta.
— Com licença.
Leo saca um pequeno canivete do bolso e destranca a porta, sem muita dificuldade.
— Sótão. Ela está no sótão. — Sussurro.
— Ok. Venha.
Caminhamos em silêncio, até acharmos a entrada no teto. Leo sinaliza que vai subir.
— Espere eu avisar que está limpo.
— Certo. Tome cuidado.
Ele consente e puxa a escada, que faz um pequeno ruído.
— Quem está aí? É você, Carlos? — Uma voz masculina pergunta, do sótão.
Leo coloca o indicador sobre a boca, me pedindo silêncio e sobe a escada rapidamente, enquanto eu acho um lugar para me esconder.
— Você de novo, Chang? — O homem grita, logo que vê Leo.
— Sentiu saudades?
Os dois começam uma briga lá em cima e eu procuro por algo que dê a Leo alguma vantagem.
— Isso deve ajudar. — Pego um pedaço de madeira jogado do lado de fora da casa e o levo escada acima comigo.
Logo que chego, vejo Leo ser jogado ao chão por um homem forte e alto.
— Que audácia, Helena. — Lívia se levanta do lado de Alice, que está amarrada e amordaçada ao chão, e vem ao meu encontro, com um sorriso diabólico nos lábios.
— Alice!
— Ah, ela não pode lhe responder agora, sinto muito. — Ela faz bico, debochando.
— Sua vagabunda! — Rosno. — Como você pôde?
— Não tenho o mesmo instinto protetor que você. — Lívia dá de ombros.
— Helena! — Leo me chama, enquanto tenta fugir de um sufocamento. — Uma ajudinha aqui, por favor.
Pensando rápido, acerto o brutamontes na cabeça com o pedaço de pau e vou para cima de Lívia, impedindo-a de pegar a arma que está caída na outra extremidade do sótão. Em questão de segundos, estamos rolando pelo chão, entre tapas, arranhões e puxões de cabelo.
— Pegue a arma, seu idiota! — Lívia grita para o capanga, que agora leva uma surra de Leo.
— Cala a boca, sua vadia! — Acerto-a com um soco no rosto e tomo as rédeas da situação.
— Você não parece tão ameaçador agora. — Leo dá um soco certeiro no queixo do capanga, que desaba no chão, desacordado.
— Leo, solte a Alice! — Mando, ainda segurando Lívia no chão.
— Não! — Ela grita e tenta se desvencilhar de mim, sem sucesso.
— Eu mandei você calar a boca, vadia! — Acerto outro soco em seu rosto e a deixo zonza, jogada ao chão.
Saio de cima dela e chacoalhando minha mão extremamente dolorida, corro até Alice, ajudando Leo a desamarrá-la.
— Pronto! — Tiro a mordaça de sua boca e lhe abraço fortemente.
— Lena! — Alice chora.
— Está tudo bem agora, meu amor. Está tudo bem.
— Helena... Nós precisamos ir. — Leo olha com preocupação para os dois jogados ao chão, começando a recuperar os sentidos.
— Certo. — Passo as mãos pelo rosto de Alice e a ajudo a se levantar. — Vamos.
Estamos quase alcançando a escada, quando Alice é agarrada pelo tornozelo por Lívia.
— Você não vai a lugar algum, sua vadiazinha!
— Solte ela! — Chuto com força sua mão, que dá um estalo alto e solta o tornozelo de Alice.
— Vamos, vamos! — Leo nos apressa, ao ver que o capanga de Lívia está se levantando.
Descemos os três rapidamente pela escada e corremos até o carro.
— Rápido! Rápido! — Leo grita.
— Pegue eles, seu idiota! — Lívia grita para o homem, que empunha a arma.
Um tiro é disparado, passando muito próximo de Leo.
— Entrem!
Entramos rapidamente no carro, quando outro tiro é disparado.
— Vai, vai, vai! — Harry bate no painel do carro, apavorado.
Leo arranca com o carro e sai a toda velocidade de ré. O homem dispara outro tiro, que dessa vez acerta a lataria, deixando Lívia possessa.
— Seu inútil! Eles estão fugindo!
Em poucos segundos, tomamos distância dos dois e conseguimos respirar aliviados.
— Essa foi por pouco. — Leo me olha pelo retrovisor. — Estão todos bem?
— Estamos, sim. — Respondo e me viro para Alice, que continua muito assustada. — Quem fez isso? — Me refiro ao seu olho esquerdo, roxo e inchado, e a um corte em seu lábio.
— Lívia.
— Ah, eu vou matar aquela vagabunda!
— Você deu à ela uma boa lição, irmã. Já me sinto vingada.
— Me perdoe por colocar sua vida em risco. — Abraço-a forte.
— Você não tem culpa de nada, Lena. A culpa foi toda minha, quando não te ouvi e deixei essa vagabunda entrar em nossa vida. — Alice seca as lágrimas que correm por seu rosto. — Foi ela que deu a ideia de me sequestrar e te chantagear para Otávio. Lívia sabia que você faria qualquer coisa para me salvar.
— Eles vão pagar por todo o mal que estão causando. — Leo afirma.
— Leo... Eu te devo desculpas. — Alice cerra os lábios. — Julguei você mal e agora vejo como eu estava errada. Muito obrigada por me tirar daquele lugar.
— Está tudo bem, Alice. — Ele sorri brevemente. — Agradeça ao jovem Haroldo, foi ele quem achou você aqui.
— Harry, só Harry. — Ele estende a mão para Alice, que a aperta sorrindo. — Muito prazer.
— Obrigada, Harry.
— Não há de quê. E aliás, parabéns pela inteligência. Aquela ligação salvou sua vida.
— Foi um momento de coragem. — Alice sorri.
— Ei, Harry... — Leo o chama. — Me faça um favor. Abra o porta luvas e pegue a caixa de comprimidos.
— Que comprimido é esse? — Harry analisa a caixa, destacando um e entregando a Leo, que o engole a seco.
— Morfina.
— Você está tomando morfina? — Alice o olha.
— Ah, é porque ele deveria estar no hospital se recuperando do tiro que levou.
— Tiro? — Alice agora olha para Harry.
— É. Ele quase morreu tentando salvar você de um falso cativeiro.
— Meu Deus! — Ela cobre a boca com a mão.
— Não ligue para ele, Alice. Harry exagera.
— Harry não está exagerando em nada. — Interfiro. — É tudo verdade.
— Eu estou bem. — Leo se defende.
— Cara, você está sangrando! — Harry aponta para a camisa de Leo, que agora exibe uma grande mancha de sangue.
— Ah, que merda! — Leo analisa a mancha rapidamente.
— Onde está a minha mochila?
— Coloquei no porta malas.
— Então, pare o carro. Vou refazer o curativo.
— Não posso parar agora. Nós podemos estar sendo seguidos.
— Eu dirijo. — Me voluntario. — Vai, rápido. Troque de lugar comigo.
Leo para o carro e vai para o banco de trás junto com Harry, enquanto Alice e eu tomamos os bancos da frente.
— Caramba! — Harry faz uma careta quando retira as bandagens do ombro de Leo. — Isso está horrível!
— Esperava o quê, Haroldo? É um ferimento a bala!
— Leo, eu devo seguir o GPS?
— Sim, Helena. Vamos nos hospedar neste endereço até rastrearmos Caíque e bolar um bom plano para resgatá-lo.
— Caíque também foi sequestrado? — Alice me encara.
— Sim, irmã.
— Então, era sobre ele que Lívia estava falando ao telefone.
— O que ela falou?
— Que ele seria a isca perfeita para atrair Vasco.
Olá meus amores, tudo bem com vocês?
Tenho uma triste notícia para dar. Estamos chegando a reta final de Plano B. 😢
Então, preparem os corações e lencinhos para o desfecho emocionante dessa história que escrevo com o maior amor do mundo para vocês.
Obrigada por cada leitura, voto e comentário.
Um grande beijo, de sua autora. 💙
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