Capítulo 32
— ACORDE, MEGSSON!
— Por favor, não toque nela. — A voz grossa ao meu lado implorava. Era Robert.
Minha cabeça estava dolorida. Sentia o sangue morno escorrer por meus lábios e cortes em meus braços.
Não estava amarrada, nem mesmo algo me prendia. Mas não me sentia livre.
Não conseguia abrir meus olhos, estava tão inchados que não conseguia ver a luz. As brechas de respingos de luz estava tão fraco que não saberia onde estava.
— Por favor.
Robert ainda gritava e gemia. Tentei dizer algo, mas percebo algo tampar minha boca. Talvez um pano amarrado, tão forte que quase cortava meu pescoço e canto dos lábios.
Me desequilibrando, caí para frente e sinto o cheiro da gasolina em meu nariz. Tão forte que tentei virar para o outro lado, para não inalar aquele álcool.
Minha cabeça foi empurrada com força por alguém sorrateiro como um assombroso susto e sinto ela se afogar sobre o álcool. Fechei os olhos ardentes com força e tentei não respirar.
O ar faltava em meus pulmões.
Segurar a respiração fazia parte de meu treinamento, mas já não estava aguentando. Os segundos foram longos demais e comecei a me debater com certa abruptade.
Abri a boca a procura de ar e engasgo com a gasolina forte, oque rasgou minha garganta e a inflamou.
Levantaram minha cabeça e tossindo sinto o ar preencher meus pulmões novamente com dificuldade. Senti a liberdade de respirar e tento abrir os olhos novamente.
— PAREM!
Robert ainda gritava, mas parecia não ser o bastante.
— SOLTEM ELA!
Meu nariz ardiam com a queimação da gasolina, meus olhos ardiam e minha garganta queimava.
Mesmo com dificuldade, abri os olhos com toda a força que tinha.
— TYLER, É ELE... — A voz de Robert é parada e ouço os socos e pontapés serem dados a ele.
— Disse para não confiar nele.
Oque já não era surpresa para mim. Desde Luan, meu marido tornou-se um desconhecido para mim.
— R-Rob... — Tentei dizer, mas a corda em minha boca impedia.
Apertei os olhos e os abri novamente e mesmo minha visão quase desaparecer, percebi alguns homens socar e chutar meu amigo no chão.
Uma casa? Cabana? Não tinha a mínima ideia de onde estava. Tudo era apenas um borrão escuro.
Levantei os braços com dificuldade e tirei o pano de minha boca.
Tentei gritar para pararem oque estavam fazendo com Robert, ou o matariam. Minha voz travou.
Tentei me levantar e percebi que estava completamente nua. O gélido de meu corpo involuntariamente foi aumentando e me deixando ainda mais dolorida.
Minhas pernas estão dormentes e minhas costas estava tão dolorida que nem em pé eu conseguia ficar.
Com a visão turva, me arrastei até a pequena roda de homens e segurei na calça de um deles. O puxava, chorando e desesperada, com a esperança dele sair de cima de meu amigo. Que pelo que ouvi e sentia, estava quase perdendo a vida.
— P-PAREM... — Minha voz enfim saiu, alta e fina.
Um pé me chutou com tanta força que minha cabeça latejou ao bater no chão.
— TYLER? — Gritei desesperada. — TYLER, POR UM SEGUNDOS APENAS ME OUVE.
Sabia de alguma maneira que ele estaria envolvido em tudo. Mas qual motivo ele teria de fazer oque está fazendo?
— Chega. — A voz de meu marido é ouvida e os chutes e murros foram cessados.
Não conseguia ver ninguém, mas sabia quem era um deles.
— P-porquê?
— Não confie em ninguém.
— Levem ele daqui. — Outra voz é ouvida. — Johan, pegue a seringa.
Johan estava aqui?
Meu Deus, Tyler?
— Eu vou... — Sinto a dor de cabeça aumentar.
Alguém segurou meu braço e o mesmo é perfurado por uma agulha.
— Levem ela! — Tyler disse rouco.
— Johan, multiplique a dosagem. Rose nao pode acordar.
— Filha, não deixe que eles te levem.
— Acorde, Megsson. Mate eles como me matou. — Ouço a voz de Douglas.
— Eu tô ficando louca. — Digo, mas não sei se alguma voz saiu tão coerente como ouvi.
— Puxem. — Sinto meu corpo se levantar e fecho os olhos. Já não conseguia ver as imagens.
— Matem eles como me matou, querida Megsson.
Minha visão fica ainda mais escura e tudo se apaga.
Meu corpo estava um caos, mas já conseguia me levantar.
Minhas pernas não estava dormentes ou geladas.
Abri meus olhos e vejo o teto branco cobrir boa parte dele. Me levantei rápido e, infezlimente, vejo a parede riscada do meu antigo quarto.
— Vai ficar tudo bem, não se preocupa. Vou achar um jeito de te tirar daqui. — A voz de minha mãe soou em meu ouvido.
Estava frio, mas estava sem a água que afogava meus calcanhares no chão.
Não tinha a mínima ideia do motivo de estar ouvindo minha mãe como se estivesse comigo. Talvez a falta que ela está fazendo a mim esteja danificando meu cérebro.
— Vai ficar tudo bem.
— Não! — Me virei para o lado direito a procura da voz graciosa que fora de minha mãe um dia. — Não, não vai ficar tudo bem. Não vai ficar tudo bem por que você está morta. — Quase gritei magoada.
— Mas estou aqui. — Ouço ela dizer do outro lado e me viro novamente.
O canto vazio era tudo oque eu estava vendo.
— Não, mãe. Você não está aqui.
Magoada e sofrida me virei para a porta e respirei fundo.
— Você não está aqui. — Repeti transtornada em raiva.
Ela não estava aqui e eu precisava saber disso ou ficaria louca. Precisava sair daqui.
Levantei os pés do chão e corri com dificuldade até a porta de ferro e bati minhas duas mãos fechadas na mesma. Com força.
— JOHAN? — Gritei com raiva. — SEI QUE ESTÁ ME VENDO. VENHA ATÉ
AQUI...
Não posso acreditar que estava aqui novamente. Não posso passar oque passei aqui. Não posso ficar aqui ou enlouqueceria.
Robert estava naquele sala novamente? Onde o encontrei quase sem a vida?
Em poucos segundos ouço os trincos serem retirados e me afasto da porta. A mesma é aberta pelo médico que me atendeu da última vez em que me lembro, com um sorriso fraco de lado e um olhar meigo quase assustador.
— Sentimos sua falta. Como está, querida? — Perguntou calmamente.
— Mate-o!
— Deixa esse papo de louco para outra hora. Oque fizeram comigo? E me diga se Robert está bem. — Respirei fundo sem tentar quebrar seu pescoço e sair correndo pela aquela porta.
Conheço bem esses malditos corredores que deixou marcado minhas costas por arranhões do atrito das paredes.
O sorriso do médico preencheu o quarto com um som perturbante e medonho. Oque me fez recuar um passo atrás.
— Você é bem perspicaz, Sofia. — Ele disse ainda rindo.
— Eu não sou a Sofia. — Disse brava.
— Robert está vivo, agora bem não posso dizer. — Respirou fundo com uma falsa mágoa. — Como está se sentindo?
— Eu estou ótima. — Disse seca e ele escreve algo em sua pasta marrom.
— Alguma dor de cabeça? Imagens fora da realidade? Vozes? — Continuou perguntando sem tirar os olhos das folhas.
— Sim. — Sofia respondeu e olhei para os lados com a esperança de vê-la.
— Não. — Eu respondi me virando para ele rapidamente.
— Tem certeza? — Levantou apenas os olhos por cima da pasta e me encarou com certa suspeita. — Precisamos ser sinceros um com os outros, Sofia.
— Meu nome é Megsson. — Eu disse com raiva.
Odiava quando eles me chamavam pelo nome de minha mãe. Qual final eles queriam? Que eu fique louca e me prendam pelo resto da vida como fizeram com ela?
— Está vendo alguma coisa? — Questionou olhando para os lados. — Está vendo ela?
— Oque? Não. — Encarei ele.
— Está ouvindo ela?
— Sim. — Ouço a voz de minha mãe e tentei não me mover, permanecendo intacta.
Sanidade é tudo que pretendo preservar.
— Porque ouviria uma pessoa que já morreu? — Questionei o encarando.
— Porque não conseguiu lidar com minha morte.
— Talvez apenas você possa me responder essa pergunta. — Ele disse e respirei fundo.
— Vou fugir daqui como da última vez.
— Da última vez deixamos. — Ele responde. — Venha, Peter quer falar com você. Deixe as perguntas para depois.
— Peter está aqui?
— Fuja!
— Sempre esteve, meu amor. — Virou as costas e o segui, saindo do quarto.
Os corredores ainda tinham as marcas de sangue como rastros.
Me lembrei das trocas de realidades, das perguntas e dos espancamentos quando negava responder as malditas perguntas sem sentidos.
Talvez eu devesse morrer aqui ou matar todos eles.
Apertei firme minhas mãos e cravei as unhas na palma da mão para sentir o cheiro fresco da minha realidade. O morno de meu sangue escorreu por entre meus dedos enquanto caminhava lentamente pelos corredores daquele velho hospital.
Observei a porta estreita por onde fugi da última vez e me segurei para não entrar nela novamente e dar uma espiada no quarto de vidro para ver se Robert não estava lá.
Virei para frente e paramos numa porta cinza, na qual nunca havia visto antes.
— Por favor, fuja desse lugar.
Gabriel abriu a porta e a ventania das árvores verdes da floresta preencheu meu rosto jogando meu cabelo para trás.
Desci os quatro degraus e o segui pelo caminho de pedras até sentir as folhas secas entre meus dedos.
— Megsson, me escute e saia dessa floresta.
Aflita e com medo de ver o homem que destruiu a vida da minha mãe era tudo oque estava me perturbando.
Minha cabeça latejava ao ponto de quase me fazer desmaiar.
As vestes esquisitas que estava cobrindo minha nudez era branca e limpa. Oque estava escondendo partes de meus hematomas e rasgos pelo corpo. Meus olhos haviam voltado ao normal e minha visão totalmente recuperadas.
Observei uma cabana de madeira, meio bacata e velha, de longe. Parei numa árvore pequena e caminhei com Gabriel mais alguns longos passos para chegar até ela.
Deslizei meus dedos pela mandeira escura e senti os buracos de tiros que estouraram a mesma. Uma brecha num formato triangular investido era o maior deles. Traziam nelas, talvez, uma história muito mais assustadora do que as ouvi durante a vida.
— Filha?
Virei meu rosto com cautela e olhei para trás. Não serei como você. Deixar a imprudencia me derrotar. O medo será algo que não sentirei mais.
— Me escute, Megsson. Fuja desse lugar.
Abaixo meu olhar e ouço as vozes soarem de dentro da cabana, oque me fez virar o rosto para frente e adentrar o local. Oque me fez dar de cara com o par de olhos castanhos escuros.
— Olá, Megsson.
"Parece bonita por fora, mas é um caos por dentro. No meio da floresta sempre esconde um segredo macabro"
Até o próximo capítulo ❤
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