Capítulo 21
Estava inquieta. A dor de cabeça era exatamente o que me perturbava.
A pergunta em que minha consciência permitia ouvir, era uma única verdade: Era real?
Rose Mariana havia completado cinco anos, e faltava pouco para a próxima idade.
Minha sala/escritório e cadeira na delegacia foi substituída por outra pessoa.
Robert havia desaparecido desde então. Nunca mais pisou os pés na cidade. Buscava algo que provasse minha sobrevivência.
Brian estava com Tyler quase o tempo todo. Mas sempre sumia o deixando sozinho.
Foram apenas oito meses de busca, e nada. Não encontraram simplesmente nada sobre mim ou onde estava.
A floresta que mencionei estava totalmente limpa. Sem casa. Sem mansão de experiência. Sem médicos. Sem Johan.
Não existe um único Johan na cidade. Nada nos presídios nem nos bancos de dados dos cidadãos. Simplesmente ninguém tinha esse nome.
Tudo estava diferente.
— Como não me encontraram? — Olhei de relance para minha filha e logo após observei Tyler respirar fundo. Segurando em minhas mãos que ainda deixava exposto alguns hematomas. — Como você não me encontrou?
Estava decepcionada com todos. Tanto com meu marido quanto de minha equipe.
— Sinto muito.. — Disse com os olhos marejados. — Eu.. Rose.. — Suspirou. — Todos nós. Sofremos bastante.
— O que fez todo esse tempo?
— Rose não estava bem na escola. Voltava todos os dias com histórias diferentes. Umas arrepiantes. Mas, era sua falta que sentia. — Fechei os olhos sentindo minha tristeza transparecer.
— Não deviam desistir. — Abri os olhos.
Meu marido leva seus dedos grossos e limpa uma lágrima pesada que descia em minha bochecha.
— Não sabe o que passamos. Nunca desisti. Sabia que de alguma maneira pudesse estar viva. — Sussurrou. — Odiava ir até a delegacia e sua cadeira estar sendo ocupada por uma pessoa que não era você... — Colocou uma mecha de cabelo loiro para as costas de minha orelha. — Tudo me lembrava você. Rose, Brian, a delegacia... seu carro... — Uma lágrima desce de seus olhos. — Suas roupas.
— Eu sinto muito.. — Chorei.
— Ta tudo bem. — Riu de lado limpando suas lágrimas. — Você está aqui. Enfim, está aqui novamente. Inteira. Linda. A mesma mulher por quem me apaixonei. — Sinto seu rosto tocar ao meu quando me puxou para beijá-lo.
Sinto muito, mas a mesma nunca mais serei.
Senti os lábios mornos de Tyler. O que era pra ter sido uma semana, durou um ano e meio.
Por um momento, quis o afastar. Tudo o que sentia era um frio na barriga e uma desconfiança aterrorizando minha cabeça.
— Onde ela está? — Ouço a voz de Brian entrando na sala e Tyler se afasta de mim se virando e se levantando da cadeira. — Tyler!
— Brian, eu...
— Megsson! — Seus olhos se encontram aos meus e logo se joga em cima da cama com um grande empurrão e me abraça. — O que fizeram com você? — Segurou meu rosto com cuidado, me analisando. — Está tudo bem?
— Estou bem. — Ri desajeitada.
— O que disse a ela? — Me ignorou se virando para Tyler. — O que disse a ela? — Repetiu enfurecido.
— Nada. Não disse nada a não ser o que houve todo esse tempo...
— Brian, está tudo bem. — Digo tentando me reaproximar de seu corpo segurando em sua mão.
— Não, não está bem. Não quero ele perto de você. — Disse me surpreendendo. — Você não entende.. — Me olhou. — Ele...
— Brian! — Tyler o interrompeu. — Ela acabou de acordar.
— Papai? — Rose o chamou.
— Tudo bem filha. Venha.. — Meu marido segurou na cintura de minha filha e segurou-a em seus braços. — Não a perturbe. — Disse olhando nos olhos do irmão.
— Não a perturbe com o que? — Disse alto. — Com a verdade?
— Brian..
— O que está acontecendo aqui? — Levantei a voz e os dois me olharam. — O que estão escondendo?
— Tente descansar um pouco. Prometo que direi tudo assim que estiver melhor. — Brian segura minha mão e olho de relance para Tyler que não disse nada.
Da última vez, Tyler não suportava Brian perto de mim o bastante. Porque agora não o incomoda?
— Brian eu...
— Meg? — Ouço a voz de meu amigo e lacrimejo os olhos. — Megsson? — Entrou no quarto e o vejo me encarar. — Megsson!
Assustado, era tudo o que percebi.
Estava de barba. Cabelos compridos. Uma camiseta suja cavada. Bermuda curta e de chinelos nos pés.
Seus olhos claros estavam ainda mais claros, e me olhavam arregalados. Cheio de esperanças. Amor. Carinho e ao mesmo tempo alertados. Estava, literalmente, numa explosão de sentimentos. Parecia não saber oque fazer, ou dizer. Era como se eu fosse um fantasma.
Não importando a presença dos demais, logo veio até a mim chorando e me abraçou.
Não havia um arranhão em sua pele. Estava rígido e com músculos, era outro Robert.
Me apertava com tanta força que rosnei de dor.
Se afastou e segurou meu rosto em suas mãos grossas e riu, mostrando seus dentes brancos e alinhados.
— Eu... — Sussurrou. — Pensei que nunca mais a veria. — Passou suas mãos em meu rosto. Certificando se era realmente eu.
Não disse uma palavra. Ele estava comigo. Foi torturado. Estava preso numa geladeira gigante. Como pude imaginar tudo isso?
Tinha toda a certeza do mundo que meu amigo estava comigo.
Estava confusa. Não sabia o que dizer.
— Como está se sentindo? — Perguntou.
— Cansada! — Disse tremendo. — O que houve com você? — O encarei. — Estava de férias no Amazonas?
— Muito engraçada. — Riu limpando as lágrimas. — Estava ocupado demais procurando uma certa pessoa por quase dois anos. — Suspirou.
— Muita coisa aconteceu! — Sussurrei.
— E pensar que foi minha culpa..
— O que está dizendo? Não, Rob! — O repreendo. — Eu o chamei para a casa de Katlyn.
— Não me lembro bem do acidente. Assim que apaguei, já estava no hospital. Sem você. — Sussurrou.
— Pode nos deixar a sós? — Olhei para Brian e Tyler nos encarando. — Por favor?
— Ok. — Disseram e saíram com Rose.
— O que houve com você? Onde esteve? — Perguntou assim que a porta é fechada. — Qual lugar estava que não procurei?
— Foi horrível... — Me desabei em seus braços. — Não sei explicar. Tanta coisa esquisita. Você... Você estava lá.
— O que? — Me afastou me olhando, inevitavelmente curioso e surpreso. — Como assim?
— Eu.. só tenho medo de que essa realidade não seja real. — Disse por fim.
— O que fizeram com você? — Sussurrou me encarando.— Não entendo.
— Só confio em você, Rob. Katlyn estava lá. — Disse me lembrando. — Ela estava la.
— Maldita! — Bateu as mãos sobre a cama. — Sempre soube que era duas caras!
— Não confio em mais ninguém. Ninguém além de você. — Disse em lágrimas.
— Eu sei... — Segurou meu rosto e logo riu. — Não sabe quantas vezes sonhei com esse momento. Te ver novamente!
— Estou com medo. — Admiti. — Estou com tanto medo. — Soluço.
— É normal sentir medo depois do que pode ter passado. — Acariciou meu rosto. — Mas estou aqui agora. E jamais te deixarei sozinha. Tá bom?
— Promete que não é aliado de Peter.
Robert me olhou assustado. Um tanto surpreso.
— Está louca? Meg, eu te amo desde que a conheço e sabe disso. Acha que faria algum mal a você? — Pergunta indignado.
— Só prometa. — Choramingo.
Me olhou nos olhos e riu de lado.
Ainda assim, com sua aparência pacata, pude sentir o cheiro de seu perfume. O aroma de todas as manhãs na delegacia. Canela e algo ainda mais forte, preenchendo toda o quarto do hospital. Perfume masculino.
Segurou firme meu rosto e por um impulso, novamente, em tanto tempo, meu amigo me puxou para um beijo.
Calmo. Suave. Com todo o carinho que tinha. Um beijo que depois de tudo, desejei.
Assim que se distancia, encosta nossas testas uma na outra e suspira aliviado. Talvez tento a certeza de que estávamos ali.
— Eu prometo.
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