Epílogo
O Sol estava muito forte batendo nos vidros intensamente, fazendo logo com que precisasse arregaçar as mangas da minha blusa. Eu já estava acabada, e olha que ainda não havíamos provado do Sol. Tentei me concentrar em puxar minha mala enquanto conversava com Belle, que olhava para o aeroporto maravilhada.
- Vamos logo! - Murmurei, me segurando para não correr. - Fred já está lá fora, vamos logo ou então ele vai se perder.
Foi só dizer isso que ela desatou a correr, me puxando com força.
- Você não deveria estar tão animada - comentei com escárnio.
- Você poderia se concentrar em correr, está bem? - Ela tentou soar rude, mas era impossível; a ideia de estar em um lugar novo a animava tanto que ela não conseguia fazer sua mente achar uma brecha para a raiva.
Encontramos Frederick parado ao lado de um taxi.
- Eu estava esperando por vocês - ele quase gritou, acenando para Isabelle. - Venham, o taxi vai nos levar ao hotel.
A garota ao meu lado praticamente correu para o carro, dando pulinhos de animação.
- Fred, você pode levar minha mala para o hotel?
- Você não vem conosco?
Dei de ombros.
- Nos encontramos lá, está bem? Agora vou tentar ir atrás de Jace.
Seus lábios se franziram.
- Não acha melhor descansar um pouco? Passamos horas no avião.
Neguei com a cabeça sorrindo.
- Tome cuidado.
Revirei os olhos.
- Está bem, papai.
Ele riu, entrando no taxi, não sem antes me lançar um "eu te amo" silencioso.
Ao invés de ficar ali e esperar pelo próximo veículo, caminhei um pouco, comprando algmas bugigangas, ao mesmo tempo em que procurava por apartamentos por ali.
Eu não pretendia voltar para a minha casa, já a havia posto à venda.
Porque ficar naquela casa, ver de perto as lembranças boas, ruins e terríveis não estava me fazendo bem, e eu sabia que permanecer naquele poço de alucinações acabaria me fazendo voltar a ser a Nomi antiga, aquela das pílulas.
Mas, depois de olhar direito, percebi que não queria morar ali também. Eu não sabia ao certo o motivo, mas a ideia de ficar ali me parecia tão opressiva quanto a ideia de morar em meu apartamento. Talvez eu viajasse sem rumo durante um tempo, aquilo soava bem melhor para mim. Se eu encontrasse Jace, tentaria fazê-lo viajar comigo também.
Pensar em Jace me trouxe de volta o mau pressentimento, o que me fez pegar o número de telefone dele de minha bolsa e correr para o telefone público mais próximo. Coloquei uma moeda onde se pedia e disquei o número.
- Alô. - Murmurei assim que ele atendeu o telefone.
- Oh, Nomi. E aí?
- Eu já estou aqui.
Ele ficou em silêncio por um tempo.
- Ótimo.
Respirei fundo.
- Você poderia avisá-lo?
- Oh, claro, claro.
Ele respirou fundo e eu chequei minhas unhas.
- Tchau - balbuciei já encerrando a chamada.
Tentei manter minha respiração estável, mas aquilo foi inútil. Meu coração estava batendo rápido como as asas de um beija-flor quando saí da cabine e acenei para o taxi que passava ali perto.
Passei o endereço da casa do suposto Hector Hogan, com as mão tremendo mais que tudo.
- Mas isso aqui fica do outro lado da cidade! - O taxista reclamou.
- Não se preocupe, eu irei te pagar.
Ele me encarou, mas logo depois franziu a testa, provavelmente observando os detalhes roxos em minhas iris.
Entrei no carro, dando de ombros. Ele permaneceu me olhando pelo retrovisor, mas eu não estava prestando tanta atenção.
Enquanto o carro andava, me vi presa em meus pensamentos. Imaginei Jace me olhando feliz, seus olhos brilhantes e sua boca se contorcendo em um sorriso brincalhão.
Suspirei, tentando parar de pensar de uma maneira otimista, mas logo minha mente passou para a próxima divagação.
Estávamos viajando (eu não sabia ao certo para onde - a paisagem se alternava de quando em quando) olhando o Sol nascer.
Olhei para a janela aberta, me concentrando em sentir o vento afastando o calor.
Minha imaginação estava implacável e, por mais que tentasse, não conseguia tirar as imagens de minha cabeça.
Me forcei em pensar em algo mais chato, como a venda da casa. Eu iria vendê-la ou alugá-la? Suspirei. Aluguel dava muita dor de cabeça. Mas se bem que vender...
- Chegamos.
Olhei para fora, meio encabulada.
- Tome. Pode ficar com o troco. - Murmurei, fazendo arregalar os olhos e me olhar desconfiado.
Foda-se, cara! Apenas vá embora, pensei.
Agora eu estava em um bairro bonito e cheio de flores ao redor. As casas eram de tons claros de marrom e azul, e os gramados não erma totalmente rasos, dando a impressão de que eu estava andando ao lado de um mar verde e calmo.
Prestando atenção nas casas, parei por alguns segundos para poder olhar o endereço novamente.
Gelei.
A casa estava logo atrás de mim.
Me virei para olhá-la. Era parecida com todas outras, mas a grama era baixa e a fachada estava sem flor alguma.
Respirei fundo.
Um pé depois do outro, foi assim que consegui me esforçar o bastante para sair do lugar onde eu havia travado.
Tremi. A distancia era pouca.
Logo eu estava parada na frente da porta.
Com os dedos suando, eu apertei a campainha.
Pude ouvir uma grande algazarra lá dentro, seguida de sussurros, seguida de risadas.
Engoli em seco.
Fechei meus olhos e imaginei como iria ser.
A porta estalou devagar, depois abriu rapidamente.
Franzi os lábios, sem consegui evitar um sorriso. Por mais que minhas mãos tremessem, eu estava calma por dentro.
Eu não sabia ao certo o que viria agora. Mas sabia que, por mais estranho que as coisas iriam ser, poderíamos mudá-las e talvez torná-las boas. Boas de verdade. Porque agora não haviam mais máscaras nos rostos, não haviam mais pessoas nos espiando, muito menos uma estética a se seguir.
Éramos apenas Nomi me Jace, e isso era suficiente por enquanto.
- Você quer entrar? - Ele perguntou, abrindo a porta por inteiro, para que eu pudesse passar.
- Isso tudo é tão estranho - confessei em voz baixa.
Vi seu rosto corar.
- Eu sei. E talvez por isso seja tão divertido.
Ainda corado, ele se aproximou, me olhando como se eu fosse o nascer do Sol.
Deslizou os dedos pelo meu rosto, acompanhando cada expressão minha, até o momento em que seus lábios se aproximaram dos meus.
Eu não saberia dizer se estava imaginando entrar na casa ou se já havia entrado. Não fazia tanta diferença para mim. Aquela realidade estava sendo melhor que muitas outras.
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