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O Mistério da Casa Cor de Pêssego

Nome: O Mistério da Casa Cor de Pêssego
Gênero: Terror
Sinopse: Para essa eu não cheguei a escrever uma sinopse. Essa foi minha tentativa de escrever uma história de limbo ou pós-vida, estilo O Segredo Além do Jardim, envolveria os pecados capitais e algum terror psicológico eu acho.
Média de capítulos: Era uma noveleta, em média daria em torno de 20 mil palavras, mas sem capítulos
Capítulos escritos: Em torno de 5000 palavras.
Por que eu parei de escrever?: Estava tudo muito sério e sombrio. Não consigo sustentar tramas que sejam assim, eu gosto de contar piadas e escrever sobre fantasias mágicas e cheias de esperança. Então abandonei a história.
Pretendo voltar a escrever?: Não com esse gênero.

Aproveitem ⏳



  Já percebeu que nunca lembramos do começo de um sonho?

  Nós sempre sabemos por onde começar a contá-lo, mas nunca de fato como ele começou.

  Me lembro de estar pensando nisso enquanto me balançava num velho balanço de madeira.

  Subindo e subindo. Mais alto e mais alto. O sol forte me fazia fechar os olhos e eu conseguia sentir o vento fazer meu cabelo voar. As vezes meus pés tocavam a grama seca do jardim, as vezes minhas mãos doíam de tão forte que segurava as cordas do balanço.

  Eu queria chegar ao céu, tocar suas nuvens e mergulhar naquele azul, que parecia me engolir a cada vez que eu subia.

  Mas não era só o céu que chamava minha atenção, atrás de mim existia uma casa, que sempre me parecia maior a cada vez que olhava.

  Cinco dias haviam se passado desde que eu me sentará no balanço, e quando minhas mãos doeram e o céu pareceu se zangar eu decidi que estava na hora de conhecer a casa de número 31 e paredes cor de pêssego.

  Durante esse dias eu apenas fiquei no balanço, tentando encontrar alguma pessoa pelas ruas, mas a cidade parecia vazia. Não havia

vizinhos fofocando entre os muros ou senhores varrendo a rua.

  Ironicamente, mesmo sem ver ninguém, eu sempre soube que tinha pessoas vivendo na casa, porquê às vezes eu podia ouvir miados de gatos, ver sombras passando pelas janelas e sentir o cheiro das refeições sendo preparadas.

  Aos primeiros passos que dei uma sombra tampou o sol e acabou com todo calor reconfortante que ele proporcionava.

  Estava ficando cada vez mais perto da porta, ansiosa para tocar a maçaneta e revelar seus mistérios.

  Continuei andando até chegar ao deck de entrada, temerosa que ele pudesse desabar com meu peso e que uma farpa entrasse no meu pé.

  Foi inevitável não recuar quando minhas mãos tocaram a superfície da maçaneta circular. Ainda dá tempo de voltar, pensei.

  Tentando ser corajosa, respirei fundo, olhei uma última vez para trás e entrei na casa, sendo recebida por um forte cheiro de mofo e madeira velha.

  A decepção foi grande ao abrir os olhos e contemplar apenas uma sala de estar normal. Apenas com um grande sofá, duas estantes com livros, um jarro cheio de guarda-chuvas e uma lareira de mármore.

  Não sei bem o que esperava encontrar, mas concluir que a casa cor de pêssego era apenas uma casa normal foi um tanto quanto decepcionante. Sem passagens secretas, monstros ou armadilhas era apenas uma casa comum, abandonada há muito tempo.

  Contudo, meus longos anos de experiências cinematográficas com filmes de terror me fizeram ter esperanças, e assim eu segui para outra cômodo da casa. A cozinha.

  Afinal ainda me restava uma certa curiosidade para saber quem era responsável pelo cheiro de comida que sentia todos os dias.

  Andei sem hesitar até a primeira porta a esquerda, girei a maçaneta empoeirada e adentrei à cozinha. Para minha surpresa eu não estava sozinha, havia uma mulher.

  Ela estava de costas, parecia esta lavando a louça. O barulho da água assim como seus movimentos cessaram quando dei o primeiro passo. Sua figura demorou alguns segundos para se virar, permitindo que eu a examinasse.

  Possuia um longo cabelo, os fios castanhos chocolate escorrendo

pelas costas de seu corpo violão, enquanto a saia do vestido amarelo que usava balançava suavemente a cada movimento.

  Pretendia sair correndo quando a mulher finalmente se virou em minha direção. Ao contrário do que imaginei ela não tinha os olhos de botão como em Coraline, na verdade ela tinha os olhos tão azuis quanto o céu e o sorriso tão doce quanto açúcar.

— Ah querida, eu estava te esperando há muito tempo — disse antes que eu pudesse correr. — Que bom que  chegou, fiquei com medo de que não encontrasse o caminho.

  Em minha face o desentendimento devia ter sido estampado, enquanto tentava entender porque a mulher não demonstrava nenhum tipo de raiva por eu ter invadido sua casa.

— M-me esperando? Como assim?

  Ela ignorou minha pergunta, indo secar suas mãos em um pano.

— Você sempre fica naquele balanço e nunca vem aqui, já estava ficando magoada — sorriu carinhosamente. — Não que eu me importe de você ficar no balanço, aquele pedaço de madeira está alí há séculos.

  Insegura dei mais um passo em sua direção. A mulher pegou um dos pratos que acabara de lavar, começando a secá-lo.

  Não tinha certeza se deveria ficar, mas minha curiosidade me levou a continuar adentrando e entender o que estava acontecendo.

— Por que não se senta? Acabei de tirar uma torta de mirtilo do forno.

  Olhei para a mesa no centro da cozinha, em cima dela estava a torta, com o açúcar ainda quente e o recheio roxo reluzindo entre os quadrados formados pela massa.

— É a sua preferida não é, Diana?

  À essa altura já não me surpreendia com nada, o que tinha de mal em uma estranha saber seu nome? Hahaha...

  Me aproximei, puxando uma das cadeiras e me sentando, sem desgrudar os olhos da mulher que se movimentava graciosamente pela pequena cozinha.

  Pude observar melhor o ambiente e relaxar minhas costas ao sentir um ligeiro sentimento de déjà vu, era

uma cozinha simples, assim como a de minha avó. Possuia  um fogão de quatro bocas, um balcão de madeira clara e uma geladeira que parecia estar ali há mais tempo do que deveria.

  Ao lado da pia uma grande pilha de pratos e copos se estendiam, tampando um pouco da paisagem oferecida pela janela, se misturando aos vasos de flores repousando ali perto.

  A mulher colocou um copo e um garfo ao lado do prato que estivera secando, ao lado da torta deixou uma jarra cheia até o topo de suco de melancia. Meu preferido.

  A mulher tirou uma fatia generosa da torta e se sentou a minha frente, ainda com um sorriso no rosto e fazendo um gesto com a mão para que eu começasse a comer.

— Estou sem fome — respondi com a voz trêmula.

  Seu sorriso desapareceu quando ouviu minha fala. Por um momento o tempo pareceu parar e tudo começou a se transformar.

  O sol repentinamente sumiu dando lugar a uma densa neblina que me impedia de ver o lado de fora da casa.

  Uma piscada e a doce mulher passou a se parecer com um dos monstros grotescos dos filmes dos anos 80 que via com meus primos. Seus cabelos castanhos escorreram por sua face em fios lisos e oleosos, os olhos fundos e negros não pareciam mais tão amáveis quanto os azuis que me receberam. Em seu vestido buracos foram abertos e em sua pele feridas e cortes se estendiam dos braços até o pescoço.

  Não somente a mulher, mas também sua cozinha. Tudo parecia encardido e o cheiro de mofo presente na sala voltava a preencher o ambiente.

  A louça recém lavada estava suja, os panos de patro com desenhos de morangos sorridentes ficaram todos ensanguentados e sem a iluminação do sol tudo ficou escuro, me fazendo ter que apertar o olhos para conseguir enxergar alguma coisa.

— E por que não quer comer doçura?

  A voz permaneceria a mesma senão pela entonação sarcástica e controlada que me causava arrepios.

Gaguejei uma resposta qualquer e tentei sair da cadeira, ansiosa para voltar correndo para o balanço.

  Para minha surpresa não importava quanto esforço eu fizesse, pois as costas da cadeira pareciam está coladas ao meu corpo, me puxando mais a cada vez que eu tentava me levantar. Parecia algo sobrenatural.

— Coma Diana — não foi um pedido.

  Minhas mãos tremiam sem parar e eu sentia todo meu sangue sair do meu rosto e intestino, deixando minha face pálida e causando o famoso frio na barriga.

  Gritos e urros passaram a sondar meu corpo, me envolvendo em um tornado de mandamentos, todos com a mesma ordem: Coma!

  Apertei os olhos com força, tentando tampar meus ouvidos com as mãos que permaneciam coladas a cadeira.

  Coma! Coma! Coma!

— COMA! — a mulher voltou a gritar, atrapalhando meus pensamentos.

  Em um ato de puro desespero levantei os braços com toda força que eu tinha. Senti a pele de minhas palmas sendo arracandas, mas não me importei, enfiei as mãos no prato, catando um punhado do que deduzi como sendo a torta.

  Enfiei o que tinha na mão dentro de boca de uma só vez e por alguns instantes as vozes pareceram se aquietar. Senti o que era para ser o recheio de mirtilo cutucar minha bochecha, se mexendo em protesto, enquanto eu mastigava e um líquido mucoso preenchia minha boca, em uma mistura acridoce do que parecia ser massa podre e pequenos insetos.

  Antes que pudesse respirar aliviada e correr para fora da cozinha, as vozes voltaram a sussurar suas ordens:

— Coma tudo!

  Abri os olhos em um instante de coragem, vendo a mulher sorrir cínica para mim e empurrar a torta em minha direção. Na forma algumas minhocas dançavam entre o barro e as tiras de massa.

  A vontade de vomitar me assolou enquanto enfiava a mão dentro da forma mais uma vez, sendo submissa  as vozes. Suas ordens entrando como sutis sussuros em meu cérebro, fazendo cócegas em minha consciência.

  A maldita torta parecia não ter fim.

  Meus braços entraram em estado automático, sem que eu pudesse controlar.

  Apesar do gosto ruim parecia que a cada vez que eu comia meu estômago protestava, pedindo por mais, em uma dor que dava voltas na barriga e fazia com me contorcesse de fome em cima da cadeira.

  Estava tão empenhada em acabar logo com aquilo que mal notei quando as vozes se silenciaram e meus braços sairam do automático, pois meu estômago ainda implorava por comida, e eu precisava saciá-lo.

"Até a torta acabar." minha consciência alertou, mas a torta não acabava, nunca.

  Sete dias pareciam ter se passado, contando pelas vezes que vi por entre a neblina o céu escurecer e clarear.

  Minha fome não tinha fim.

  Precisava comer, comer até o fim.

  Sedenta por mais daquele sabor horrível que fazia tão bem ao meu estômago carente.

  Foi no amanhecer do oitavo dia que tomei noção da situação. A torta nunca acabaria. Minha fome nunca cessaria. E a mulher permaneceria alí, me encarando feliz com toda a gula que me cercava.

— CHEGA — gritei, parando os braços e me levantando da mesa de uma só vez.

  Escutei a jarra de suco se estilhaçar no chão. Estava na hora disso acabar.

  Ainda sem abrir os olhos, corri para fora da cozinha, tentando não tropeçar no suco que derramei e não gritar ao sentir os pequenos cacos de vidro permurarem meus pés descalços.

  Bati a porta assim que a atravessei. Foi quando todas as sensações vieram.

  Meus braços cederam assim que tentei me apoiar na paredes, cansados de realizaram o mesmo movimento incessantes vezes; meu estômago parecia estar prestes a explodir depois do tanto que comi; meu corpo inteiro doia com a posição de estar sentanda em uma cadeira por uma semana.

  Escorreguei pela porta exausta, sem entender o que tinha acontecido, apavorada por concluir que não teria forçar para fugir da mulher sorridente.

  Para minha alegria ela nunca atravessou a porta, em vez disso pude ouvi-la cantarolar e dizer de lá de dentro:

— Diana, Gregor está lhe esperando para brincar. Suba logo, ele não gosta de esperar — e então ela tinha a mesma voz doce de quando a conheci.

  Juro que tentei correr, fugir para bem longe, mas algo forçou meus pés a subirem a escadaria e ir em direção ao quarto do menino Gregor.

  Assim como meus braços me forçaram a comer, meus pés forçavam-me a subir as escadas, enquanto eu quase quebrava meu pescoço tentando olhar para a saída.

  Me sentia uma boneca de pano, uma telespectadora de minha própria vida.

  Meus pés só foram se aquietar quando cheguei na porta do quarto, que se abriu ao primeiro toque de meus dedos sobre sua superfície. E então eu entreu no quarto mais verde que eu já tinha visto.

  As paredes de um verde escuro, tal como chão fazia com que me sentisse dentro de um limão. O tapete, cortinas e lençóis eram de um esverdeado claro agradável à vista e os demais móveis se aproximavam dos tons escuros das árvores de um bosque.

  Dei alguns passos para dentro do quarto, facinada em como a coloração me fazia parecer estar em um outro mundo.

  Em cima do tapete, de pernas cruzadas e cheio de brinquedos ao seu redor estava um pequeno garoto. Parecia ter em torno de seis anos e se divertia ao fazer levantar voo um avião de papel.

  Ele não notou minha presença, e ainda que eu estivesse ansiosa para fugir logo de sua casa decidi me aproximar e perguntar em que lugar estávamos. Àquela altura já estava achando que tudo ali era um universo paralelo, que eu a era vítima de experimentos alienígenas.

  Me ajoelhei ao lado dele e toquei seu ombro, fazendo-o parar seus movimentos e virar a cabeça para me olhar. Gregor tinha grandes olhos castanhos, dois dentes faltando e adoráveis covinhas nas bochechas.

— Ana, que bom que chegou!

— Ana?

— Di... Ana! — bateu palminhas sorridente. — Você tem um nome, dentro do seu nome.

  Ele parecia se distrair com pouco e infelizmente eu não era muito diferente, quando me dei conta estava sentanda com o garoto fazendo gatinhos e coelhos de massinha verde brilhante.

  Gregor me fazia muitas perguntas e me contava muito de sua vida também. Soube que ele tinha mais dois irmãos, que os avôs moravam na casa, que o pai vivia na garagem e a mãe na cozinha.

  Tentei descobrir mais sobre sua mãe, mas ele apenas sorriu e mudou de assunto.

  Em certo momento Gregor se levantou e foi até sua cômoda. Passou alguns tempo mexendo nas gavetas. Quando voltou para o tapete segurava um pequeno coelho de pelúcia, que, ao contrário do resto do quarto era da cor de um branco encardido, possuia um dos olhos faltando e tinha um ou dois buracos na costura, o que fazia seu enchimento vazar.

  Algo nesse coelho me fez largar as formas que fazia com massinha para observá-lo. Havia algo de especial naquele brinquedo, ele tinha aquele calor que sentimos nas manhãs de natais, aquela sensação de paz que temos durantes os feriados.

  Era óbvio que Gregor não sabia como brincar com ele, o deixando jogado e não dando toda a atenção que o coelho merecia. Se ele estivesse comigo eu o trataria como se fosse o melhor brinquedo do mundo, eu o amaria, mesmo com sua pelagem encardida e cheiro esquisito.

  Eu queria aquela pelúcia, eu precisava pegá-la. Porque Gregor não a merecia, e era eu quem iria tirá-la das frágeis mãos dele.

— Me dê esse coelho Gregor.

  O menino parou o movimento que fazia por um momento, enquanto eu o encarava sem entender.

  Gregor se lavantou, parecendo ser bem mais alto do que pensei que fosse. Me senti pequena ao ser confrontada por seus olhos castanhos, que passavam a ganhar um tom esverdeado engraçado.

— Você quer o coelho Diana? — balançou o brinquedo a minha frente.

  Uma ligeira queimação se manifestou em meu interior, um sentimento ruim que me afugentava e me fazia ter uma entranha obsessão pelo coelho de brinquedo.

  Tal como a mulher, o garoto se transformou em um pequeno monstrinho, me atormentando com pensamentos pecaminosos e vozes que me diziam a todo o momento: Pegue-o.

  As vozes ordenavam coisas horríveis, e a cada vez que eu cogitava fazer o que mandavam as sensações ruins em meu interior pareciam aliviar.

  Sentia todo meu corpo em chamas, uma queimação que ia do âmago do meu estômago até o coração. Me sentia arrependida por ter derrubado aquela jarra de suco na cozinha, porque tudo o que eu desejava, mais do que o brinquedo, era um pouco de água.

  Assim como na cozinha me sentia presa por uma energia, parecia querer me afundar no chão.

— Rasgue sua garganta — um dos sussurros sibilados soou ao pé dos meus ouvidos.

  Queimava. Ardia.

  Gregor me olhava sorridente, exibindo o maldito coelho, se achando digno de possui-lo.

— ME DÊ O COELHO! — gritei com tudo que tinha.

  Brasas pareciam dançar sobre minha pele, sentia ferrões me cultucarem as costelas e uma fumaça vir de dentro de mim, me sufocando a cada palavra que tentava pronunciar.

  Não sei quanto tempo se passou, a fumaça preenchia todo quarto fazendo cócegas em meus olhos lacrimosos, me impedindo de olhar as horas no relógio.

  Sabia o que precisava fazer para que tudo parace. Assim como avancei sobre a torta de mirtilo me permite ir em direção a Gregor, acatando aos sussuros e ao meu desejo de tomar-lhe o coelho.

  Derrubei o menino no chão, ficando por cima de seu corpo pequeno e arrancando a pelúcia de suas mãos. Ele gritou e implorou para que eu não o fizesse, mas eu não liguei, precisava do coelho, ele não o merecia.

— Eu falei que o pegaria — ri debochando de suas estúpidas lágrimas.

  A sensação de queimação cessou, mas, para minha surpresa, o coelho se dissolveu em cinzas, voando pelo quarto e indo embora pela janela, junto com a fumaça que soltei.

  Gregor continuava chorando quando sai de perto dele, assustada com minha atitudes. Tentei pedir desculpas, mas ele se encolheu no canto, revelando seus reluzentes olhos castanhos.

— Você é horrível — sussurou para mim.

  Ele já não parecia mais com o monstro de olhos verdes que me provocava por ter um brinquedo que eu desejava. Parecia apenas com a adorável criança que me contou histórias de fadas madrinhas e me fez um gato de massinha.

— Me desculpe Gregor — murmurei, antes de deixar o quarto.

  Não sabia o que estava acontecendo. Me sentia mal. Meu interior parecia se remoer sentindo as queimaduras causadas pelo sentimento da inveja.

  Apertei o pequeno gatinho de massinha em minhas mãos antes de tomar coragem para correr para fora da casa.

  Realmente achei que seria capaz de seguir em frente, porém, minhas pernas fraquejaram e as velhas dores causadas pelos dias na cozinha se uniram ao desconfortos e exaustão deixadoa pelo quarto de Gregor.

  Sem forças para continuar meu corpo se chocou contra o carpete marrom da casa, mas antes que eu pudesse fechar meus olhos vi a escada do sotão descer no final do corredor. Uma pessoa saiu e veio caminhando lentamente até mim, murmurando algumas palavras direcionadas a mim, antes que meus olhos se fechassem e eu me entregasse a escuridão de um sono reconfortante.

***

  Eu não queria abrir os olhos. Me sentia insegura, com medo do que veria. Sabia que estava deitada, que meu corpo inteiro doía tanto como da vez em que dormir sobre as britas de construção do meu avô.

  Mas eu tinha que ser corajosa, não valia a pena ficar ali deitada sem nada fazer. Então abri meu olhos.

  Eu esperava tudo, menos me encontrar no sotão do velho casarão, deitada em um sofá velho e fedido, junto com uma outra pessoa, um garoto que parecia ter minha idade.

  Estavamos os dois sentados, as cabeça viradas para cima e os pés pendendo frouxamente pelo assento, assim como uma das mãos caídas ao lado do braço do sofá. Para minha surpresa o teto do sotão era aberto, deixando que conteplacemos o broxante céu nublado, em uma cor que eu não sabia definir se era branco, cinza ou azul bebê.

  Virei meus olhos para a pessoa ao meu lado, que possuia os cabelos e barbas muito longos, sendo que seus fios chegavam a se enrolar pelo chão.

  Queria poder virar minha cabeça para olhá-lo, mas ao contrário das outras vezes, onde uma força maior não permitia que me movesse, dessa vez eu não tinha forças para realizar movimento algum.

  Por mais que tentasse me sentia fraca e enjoada, sem constar uma exaustão emocional muito grande, um sentimento que me fazia querer ficar jogada ali com aquele desconhecido para sempre.

  Mas para meu alívio, eu ainda conseguia falar.

— E então, qual é seu truque? — perguntei ao garoto em um tom arrastado, com a língua quase desistindo de terminar a frase na metade.

— Queeee truque? — cada sílaba lhe parecia ser um sacrifício.

— Você sabe, Marin tinha aquela... Aquela... — e eu tinha esquecido a palavra. — E Gregor aquele... Coelho.

— Não tem... — e ele se perdeu na frase.

  Ficamos em silêncio, apenas observando as nuvens passarem. Não tinha muito mais que pudéssemos fazer.

  Em uma das minhas olhadas para o canto do sótão pude ver alguns desenhos esquisitos colados pelas paredes, todos assinados por alguém chamado Lúcio. Queria perguntar ao garoto se os desenhos eram dele, mas minha boca estava muito confortável fechada.

  Eu me sentia mais confortável do que jamais estive em toda a minha vida, me sentia em paz... Até a coisas começarem a dar errado no meu miserável paraíso.

  Estava tudo indo bem, e eu já estranhava o fato de não haver vozes me ditando pecados ou por Lúcio (como decidi chamá-lo) não ter se transformado e me obrigado a comer o sofá ou algo do tipo.

  Durante esse meu tempo de descanço eu consegui sentir exatamente as mesma coisa que sentia quando estava do lado de fora da casa. Eu podia sentir o cheiro das refeições, mas não conseguia me levantar para comê-las. Eu podia ouvir Gregor brincando, porém não sentia vontade de ir brincar com ele.

  Tudo continuou a mesma coisa, e parecia que a cada noite eu me sentia mais deprimida e menos disposta a levantar e fugir daquele cômodo. Eu não sentia vontade de fazer nada.

  Meu estômago protestava diariamente contra a falta de alimento; meus olhos queimavam pela falta de sono; minhas pernas ardiam em câimbra e minhas costelas doiam como o inferno.

  Aí algo mudou.

  No entardecer da sexta noite senti o cheiro de algo queimando. Tentei avisar Lúcio, mas... Quem se importa?

  Apenas fiquei lá, ouvindo o crepitar das chamas consumir toda madeira e se aproximar do sofá de forma ameaçadora.

— Eu estou chegando Diana — sentia o fogo dizer.

  No amanhecer do sétimo dia começou a chover. A água fria fazia meu corpo tremer, mas também matava minha sede.

  Achei que a água resolveria o problema do fogo. Acontece que nada faz sentido nesse lugar, parece que sete dias sem usar meu cérebro fez com que me esquecesse dessa informação.

— Lúcio — disse com a boca tremendo e sentindo minha cabeça pender para trás, mesmo que eu tentasse movê-la. — ,vamos morrer queimados.

— Já estamos mortos bebê — ele disse rindo amargamente.

  Mais vinte minutos em silêncio. Os olhos quase fechando. A chuva escorrendo lentamente por meu corpo. E... Espera...

— MORTOS? — gritei, dessa vez com minha voz contendo um seguimento rápido e direto. — Como assim estamos "mortos"?

— O fogo... Está chegando perto.

   Não sabia como reagir, mas algo sobre estarmos mortos, fazia com que tudo que tinha visto naquela casa fizesse algum sentindo.

  Eu precisava descobrir o que estava acontecendo, e como se tudo que precisasse para vencer aquela preguiça fosse motivação, eu consegui virar minha cabeça para o lado.

  O fogo já havia alcançado o braço do sofá ao lado de Lúcio, mas ele não parecia fazer muito questão de levantar. A chuva fazia com que ele não sentisse dor, o que não tornava menos desesperador o fato de que seu corpo estava em chamas.

  Eu precisava levantar. Eu tinha que ser forte. Tinha que ter coragem. O fogo iria queimar tudo ali, e eu não tinha certeza se queria descobrir o que acontece com quem morre na vida após a morte.

  Firmei meus pés no chão, consertei minha postura e com um esforço menor do que pensava que necessitaria me coloquei de pé.

  O fogo havia queimado toda a madeira, deixando somente as estruturas de ferro que foram usadas como base para construção. Por sorte o incêndio estava limitado ao sotão, sem se espalhar pelo outros cômodos da casa. Realmente, nada naquele lugar fazia sentindo.

  Abaixo de mim conseguia enxergar o corredor da casa, seco e acolhedor como nunca pensei que pareceria. Seria fácil pular até lá, o máximo que poderia acontecer era um ou dois membros serem quebrados.

  Antes de saltar para o andar de baixo chamei por Lúcio, ele tinha que levantar. Eu não podia tentar puxá-lo, do contrário acabaria caindo de mal jeito, pois a chuva deixou deixou tudo escorregadio.

  O fogo já consumia metade de seu corpo, mas ele permanecia calmo.

— Lúcio! — chamei, estendendo uma das mãos.

— Vá! Você passou Diana — e pela primeira vez sua voz não estava lenta ou embolada. — VÁ!

  E o fogo terminou de queimar.

  Confesso que não chorei, apesar de me sentir.terrivelmente triste. Porque Lúcio parecia uma alma perdida, condenado a toda aquela angústia e fraqueza que senti por todos os sete dias, sem vontade se quer de se salvar.

  Antes de sair do que sobrará do sotão decidi olhar o desenho que estava nas mãos do garoto, um desenho que o próprio Lúcio me entregou antes que o fogo consumisse todo seu corpo.

  A folha não tinha desenhos de pessoas ou florestas como os das paredes, havia somente o número 7 traçado em tinta vermelha, em baixo do número o aviso:

Você não pode sair, você não pode desistir, você não pode passar do sétimo dia. Passe por todos os cômodos, lute contra os sussuros.

  De alguma forma eu consegui entender o que ele quis dizer, e mesmo sem saber se Lúcio queria me ajudar, resolvi dar um salto de fé e fazer o que a folha dizia.

  Iria para o próximo cômodo, não tentaria sair da casa, não passaria mais que sete dias em nenhum dos cômodos e principalmente, não ouviria àquelas vozes.

  Decidida a chegar ao fim de todo saltei para o corredor abaixo de mim.

  E antes que eu pudesse dar algum passo uma das portas foi aberta por uma garota, ela fez um gesto com a mãos para que me aproximasse e deixou que eu entrasse em seu quarto.

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