Moulin Sabe Demais
Nome: Moulin Sabe Demais
Gênero: Fantasia
Sinopse: Sempre que escrevo um roteiro, antes mesmo dos nomes, coloco rótulos nos meus personagens, como, quem vai ser o vilão ou o protagonista. Moulin é uma personagem que teria a capacidade de ver esses rótulos e ela seria a protagonista.
Média de capítulos: 5
Capítulos escritos: 2500 palavras
Por que eu parei de escrever?: Mais uma vez, tudo estava muito sério. Se passaria na Idade Média e só essa fato já me coloca uma pressão do caralho, porque eu quero escrever algo que seja historicamente preciso, o que exige muito trabalho e pouca diversão. Moulin é excêntrica e alegre, e não importa o quanto eu ame Monty Python, a idade medieval sempre vai ser careta demais pra mim. Embora eu ame estudá-la, não gosto dos romances dessa época, a Idade Média era um pesadelo, eu não sei porque alguém gostaria de viver nela.
Pretendo voltar a escrever?: Não nessa época.
Aproveitem ⏳
As pessoas não gostam de Moulin.
Não se engane, não é porque ela mastiga alto demais ou porque ela é muito crítica, também não é porque ela se veste de forma inadequada ou porque suas mãos são frias demais... Bom, pelo menos, não é só por isso que não gostam dela.
Moulin sempre foi diferente das outras pessoas do vilarejo. Quando bebê, Moulin não ria para as caretas dos adultos e não chorava quando fingiam roubar-lhe o nariz, quase inexpressiva, suas mãozinhas sempre estavam esticadas para frente, como se tentasse agarrar algo no alto.
Durante a infância, Moulin não estava interessada em brincar de boneca ou ajudar sua mãe na cozinha. Moulin se escondia no sotão de casa, onde nenhum de seus irmãos ousava ir, para ficar no escuro brincando com as sombras das paredes.
E, na adolescência, ela fugia das tarefas para cantar em um pequeno bar, juntando gorjetas para comprar tecidos e costurar suas próprias roupas. Vestidos que mostravam suas canelas e tinham um decote cavado, vestidos que só ela e as sombras do sotão podiam saber da existência.
Seu pai achava que ela era louca e sua mãe tentava a todo custo fazê-la casar-se com algum comerciante e ir para longe. Seus pares s já eram idosos e, enquanto todas as 3 irmãs e 5 irmãos de Moulin já haviam saído de casa, Moulin, a caçula de 20 anos, estava interessada em conversar com o nada e insultar cada pessoa que parecia viver no vilarejo.
Porque além de ser absolutamente dramática, terrivelmente desagradável e malditamente arrogante, Moulin também era cruelmente sincera... Pelo menos era o que diziam as pessoas.
Quando amanhecia na pequena vila de Indene, Moulin abria suas janelas e sorria de forma entusiasmada para o mundo:
— Bom dia, Vizinha 1 e Vizinha 2 — ela cumprimentaria a senhora Lourdes, à esquerda, e a senhora Meirão, à direita. — Bom dia, Criança 5 e Criança 11 — falaria para dois meninos que passavam correndo pela rua.
As pessoas fechariam seus rostos em uma cara feia, como se tivessem acabado de provar algo estragado, e ignorariam Moulin. Eventualmente passaria algum forasteiro e talvez ele sorrisse para ela.
— Bom dia, senhorita — o forasteiro cumprimentaria, tirando o chapéu e lançando um aceno educado.
— Bom dia, Figurante Número 25933867 — Moulin falaria de volta e o rosto do forasteiro também se fecharia em uma careta desagradável.
Moulin sempre dá de ombros, acostumada aos olhares estranhos e rostos questionadores, ela não se preocupa em explicar, no entanto.
Cantarolando feliz pelo quarto, Moulin essa manhã pegou em seu pequeno armário um vestido de um marrom pavoroso, ela o odeia, mas é um dia especial e a última coisa que ela quer é irritar seus pais. É um vestido longo e de um tecido fino, embora sua saia tenha pelo menos duas camadas, o corpete tem suas fitas puidas pelo tempo e existe esse pequeno buraco debaixo de uma das mangas fofas.
Moulin prende seus longos fios castanhos em uma trança que bate em sua cintura, ela amarra uma fita vermelha na ponta e calça sapatilhas igualmente marrons, cujas solas são tão finas que ela pode sentir eventuais pedrinhas pelo chão. Moulin se sente desconfortável, ela quer arrancar as mangas que provocam coceiras e soltar o cabelo, ela quer trocar o marrom por um vermelho que vai fazer seus olhos verdes cintilarem e quer usar sapatos de salto que a façam parecer uma imperatriz.
Quando desce as escadas, tudo parece errado, mas Moulin não reclama. Ela se senta a mesa e sorri:
— Bom dia, Mãe, onde está o Pai? — cumprimenta ao virar a jarra de leite em seu copo.
Mãe não responde, apenas lança um olhar de lado em direção a Moulin e então continua a amassar a massa de pão que tem sobre a bancada.
— Saiu mais cedo para o trabalho? Sabia que o Chefe não daria nem mesmo o Dia do Milagre de folga para ele — comenta distraída, balançando os pés com um pouco de ansiedade.
Moulin não tinha certeza do porque seus pais ainda não a expulsaram de casa, a última palavra que Mãe lhe disse foi "cala a boca!" e isso foi há, tipo, 3 anos atrás. Seu pai era um pouco mais difícil de dizer, Moulin tem certeza de que eles nunca tiveram uma conversa que não fosse sobre o quão esquisita Moulin era.
Enquanto toma seu leite gelado, Moulin tenta não estremecer ao pensar no Dia do Milagre. Logo ela e toda família estariam reunidos para "celebrarem". Moulin acaba estremecendo ainda mais ao pensar na sua família...
As reuniões familiares são as piores. Porque quando estão todos juntos Moulin pode ver Mãe sorrindo para Irmã 1, 2 e 3 e o assistir Pai conversando, — conversando de verdade, não apenas saltando grunhindos, como faz com Moulin — com Irmão 1, 2, 3, 4 e 5. Dói saber que se fosse alguma Irmã ou Irmão que estivesse na mesa nesse momento sua mãe estaria esquentando o leite e oferecendo biscoitos e pães, sua mãe estaria sorrindo e querendo saber sobre seu dia...
Ninguém nunca quer saber sobre a vida de Moulin. Esse é um dos motivos pela qual ela não consegue entender seu lugar nesse mundo, ela deveria ser amada por todos, não? Esse era seu papel afinal!
Moulin bufa, seus olhos caminhando para o topo de sua cabeça, onde giram em letras douradas e em caixa alta a palavra: PROTAGONISTA.
🥀…•*
Seu copo de leite é deixado pela metade e ela não se despede quando sai de casa.
Os olhos de Moulin piscam com a visão ardente do sol e palavras douradas sobre as cabeças das pessoas, ela consegue ver vários FIGURANTE e CRIANÇA. No início da feira, perto da sua casa, o PADEIRO está gritando suas promoções e a CAMPONESA corre por entre as pessoas atrás de algo, existe um jovem com a palavra LADRÃO e ABUSADOR brilha sobre a cabeça do padre causando arrepios em Moulin.
Nem sempre ela entende o que as palavras querem dizer ou porque é a única pessoa que pode vê-las, a única coisa que Moulin sabe é que elas podem mudar com o tempo. Quase sempre Moulin sente que sabe demais, porque as vezes existe a palavra VÍTIMA sobre alguém que aparece assassinado horas depois e de repente o FIGURANTE 123916113 se torna o ASSASSINO. Os números também mudam constantemente conformem morrem e nascem pessoas.
É assustador e Moulin as vezes odeia esse poder. Ela odeia por ser diferente e odeia como ninguém parece acreditar nela quando diz que cada pessoa no mundo tem um rótulo. É solitário. Moulin não entende porque ela, de todas as pessoas, e não entende quem define quem é o que, como pode alguém ser simplesmente apenas a COSTUREIRA ou o PRESIDIÁRIO? Ela não sabe se algum dia vai conseguir mudar seu próprio rótulo e tem medo de saber o que significa ser a PROTAGONISTA.
— Tomates! Compre seus tomates para o Dia do Milagre! — alguém gritou do final da feira e, de repente, Moulin voltou a estar dolorosamente ciente do que estava prestes a acontecer.
Seus olhos vão da feira para o grande castelo que pode ser avistado de qualquer lugar do vilarejo. É imponente, feito de pedra fria e cinzenta, trepadeiras que se enrendam pelas paredes subindo mais alto a cada ano, como o único resquício de vida que existe ali, embora todos os habitantes de Indene saibam melhor...
Existem intocadas estátuas de ouro em um jardim onde o sol não toca e flores não nascem, o castelo é enorme e lendas contam sobre baús de jóias, roupas de tecido roxo e obras de arte expostas em cada corredor. Não existem muros, as janelas costumam estar abertas e se você apertar bem os olhos consegue ver, durante a noite, a chama de lamparinas trêmulas por entre as cortinas bordô. Mesmo assim ninguém jamais ousou ir mais além da estrada de pedra que levam para a porta de entrada do castelo.
Porque todos sabem a respeito do vampiro que se esconde lá, um monstro de mais de 5000 anos, insaciável, sádico e cruel. Ninguém sabe o seu nome, mas dizem se tratar de uma palavra tão maldita que foi proibida pelos antepassados e esquecida no tempo, apenas repetido pelos impuros e suicidas.
Ninguém jamais ouviu sua voz, mesmo que os loucos viajantes relatem sobre sussurros de um ser frígido, de garras e dentes afiados, sussurrando promessas de morte em seus pescoços, em uma voz tão horripilante que é impossível ser descrita mesmo com a vastidão de palavras que temos em nosso vocábulo.
Os antigos falam sobre seus olhos que revelam pecados abomináveis e contam sobre seus atos covardes contra inocentes. Existem relatos de inúmeros e gigantescos massacres, corpos destroçados e deixados para trás sem uma única gota de sangue, seus olhos vazios de qualquer sinal de que, em algum momento, já houvesse existido uma alma ali.
São muitos os nomes que o vampiro de Indene recebeu ao longo dos séculos e são muitas as lendas a respeito das mortes causadas por ele, um rastro de sangue que percorre a história junto a corpos sem vida e um mistério que ronda sua persona.
O que todos sabem é que o vampiro não tem sentimentos, o vampiro não é humano, o vampiro só se importa em sobreviver, matar, comer...
Por sorte a pequena população de Indene deu um jeito nisso!
É o que explica um homem cercado por crianças curiosas, gesticulando e falando alto no meio da praça, o nome INFODUMP girando sobre sua cabeça atraí Moulin, porque ela nunca ouviu essa palavra e até dois dias atrás esse cara era apenas o MALUCO 3.
— ...e assim decidiram mudar isso, foi senhor e senhora Girondino enfrentar o tal vampiro, no castelo eles se encontraram e na sala de jantar eles se sentaram, foi servido em taças um líquido sem graça e nos pratos de prata, olhos de meninas chatas — Infodump fez caretas e gestos grandiosos, Moulin se aproximou mais, seus olhos girando em seu crânio com as besteiras que estava ouvindo. — De olhos vermelhos e cabelos marrons, com sangue nos lábios e lama nas mãos, o vampiro assustou, mas os Girondinos nos salvou, propondo uma trégua da matança em troca de uma criança — um silêncio inquietante recaiu sobre quem assisitia e Moulin se mecheu em seu lugar, trocando o peso de um pé para o outro. — De vinte em vinte anos, nossa vila escolhe uma jovem de tenra idade, virgem e bela, ela salva a sua terra, sendo servida como trégua.
Uma mão tímida e ligeiramente trêmula se ergue no meio da multidão.
— E o que acontece com quem é escolhida? — a CRIANÇA 44 pergunta.
— Ela saceia a sede da fera! A jovem vive no castelo com o vampiro e nunca mais volta — sua voz recai em um canto sombrio que faz as crianças gritarem e correrem com medo em todas as direções.
Moulin permanece onde está, a garganta fechada e os punhos cerrados, seus olhos se cruzam com os do homem e ele a encara com um sorriso maldoso nos lábios, o que faz Moulin dá um passo para trás e tomar outra direção. Em um piscar de olhos Infodump volta a ser apenas o Maluco 3 e Moulin finalmente chega ao seu destino.
Afastada do núcleo fumegante de pessoas e do lago que corta a vila, existe entre as árvores de uma floresta densa, escondida de olhos desatentos, um casebre de madeira mal feito. É pequeno e bastante torto, feito por duas crianças que só queriam tirar um tempo do trabalho e das responsabilidades.
Moulin sorriu quando avistou primeiro a palavra AMIGO e depois o rosto descontente de Pietro. Um rapaz da mesma idade de Moulin, bastante alto, da pele queimada pelo sol e de olhos de um lindo castanho que lembravam um copo de whisky concentrado.
Pietro era o único em todo vilarejo que suportava Moulin e, no geral, durante uma conversa Pietro só revirava os olhos, bufava ou reclamava enquanto Moulin fala apenas uma vez, isso é, quando Moulin dizia algum comentário infeliz sobre si mesma. O que é um recorde, porque as pessoas costumam demonstrar com bastante clarezas e muitas vezes o quanto odeiam ouvir Moulin falar.
— Você está atrasada — Pietro resmungou, embora sua boca estivesse se torcendo em um sorriso contente, como normalmente acontece quando ele vê Moulin.
— Desculpe, desculpe — tratou de se redimir. — Eu parei para ouvir um discurso na praça.
A expressão de Pietro se fechou.
— Você não deveria ouvir essas coisas, todos nós já sabemos o que vai acontecer hoje.
— Eu sei, eu só... Ele tinha um... — Moulin não conseguiu completar a frase. — Não importa, me desculpa pelo atraso, eu sei que você tem que ajudar em casa hoje, não quero atrasar você.
— Está tudo bem — ele balança as mãos de forma apaziguadora.
Os dois param um em frente ao outro, apenas se encarando e se mexendo sobre seus pés de forma desconfortável. Eles estão muito crescidos para caberem no casebre, mas ainda gostam de se encontrarem ali, eventualmente guardando um ou outro objeto que querem esconder de parentes curiosos.
Não era habitual ficarem tão tensos perto um do outro, Moulin gostaria de pensar que tudo estava acontecendo apenas por causa do Dia do Milagre, mas ela sabia melhor do que isso, Pietro vinha estando estranho já há algum tempo.
Moulin tinha muitos pensamentos sobre isso e se apavorava com a ideia de que alguns deles fossem reais. Como a sua teoria de que Pietro finalmente se cansará dela e não queria mais ser seu amigo ou a de que esse tempo todo Pietro só estava com pena dela.
Não existe em sua vida um AMIGO 2 ou mesmo uma AMIGA, é apenas Pietro, o único que se importa, o único que realmente parece gostar dela, o único que ela... Ama.
— Moulin... — ele começou depois de um longo suspiro.
— Desculpa — Moulin disse ao mesmo tempo, sua cabeça disparando com inúmeras hipóteses.
— Por que está pedindo desculpas?
Moulin engasgou com a pergunta, porque ela não sabia, não tinha uma resposta para isso... Ela apenas estava sempre assustada, porque sabia que Pietro poderia ir embora a qualquer momento.
O que nem mesmo deveria importar, considerando que...
— O vilarejo vai escolher você como sacrifício — Pietro afirmou, engolindo em seco e apertando os punhos. — Vai ser hoje a noite.
... Ainda sendo escrito...
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