Jun-myeon estava na sala lendo um livro não tão interessante. Tinha o pego na estante do quarto de seu recém-marido, Zhang Yixing, pois a capa ilustrando um piano no escuro havia chamado a sua atenção. Ele lhe fazia lembrar dos dedos suaves de seu amado encostando nas teclas e produzindo sons numa serenata apenas para Myeon, naquele dia em que ele fez um jantar romântico à luz de velas.

Ler as notas musicais escritas no livro lembrava de quando Yixing tentou ensiná-lo a tocar piano. Suho nem mesmo conseguiu prestar atenção, apenas conseguia reparar na contração de seus músculos sempre que ele colocava o máximo de sentimento possível cada vez que o instrumento soava, junto com seus olhos se forçando para se manterem fechados diante toda a paixão da música. E, quando ele finalmente os abria,  era possível ver sempre em seu olhar a mesma paixão por Myeon.

O mesmo piano de madeira antiga havia marcado um momento importante: seu casamento, há poucos dias atrás. Quando Jun pensava que estava sonhando, Yixing fez questão de tornar tudo melhor: tocou uma música feita especialmente para aquela data, a voz angelical preenchendo a igreja branca como seu terno deixando sua masculinidade mais marcada.

Talvez, por causa de todas essas memórias, este livro que Myeon nem mesmo conseguia compreender era importante: as lembranças boas começavam a vir, uma de cada vez. Mas as más também queriam entrar nessa dança sentimental.

O choro de Yixing que o moreno podia ouvir claramente sempre que tinha a oportunidade rara de passar uma noite em sua casa. Ele sempre corria para a sala quando queria deixar as lágrimas rolarem, e fazia Myeon dormir para não ter que se preocupar com ele. Sempre tentava parecer forte na sua frente, pois para ele, precisava ser invencível se quisesse proteger seu namorado.

E, naquela noite, quando Suho acordou com seu amado aos prantos e correu para a sala, o abraçando por trás no sofá, prometeu que ele sempre iria o proteger, assim como Myeon também sempre iria protegê-lo. Isso o fez relaxar tanto que até mesmo esboçou o mais sincero dos sorrisos quando seu amado passou o dedo pelo seu rosto, secando as lágrimas e o abraçando.

Entretanto, ele voltou a chorar algum tempo depois, jogando todo o seu cansaço em música e sentimento. Jun-myeon sabia que não podia fazer nada para ajudá-lo, então apenas deixava o envolver com braços fortes. Mesmo que o calor humano fosse aconchegante, o coreano ainda arrepiava dos pés a cabeça com os sussurros de Zhang Yixing no seu ouvido. Sussurros tão provocantes que o afundava no desejo quase instantaneamente. Essa era a mágica que Lay sempre usava.

Os raios calorosos do sol atravessavam a fina cortina e atingiam um lado do rosto de Suho, o esquentando do frio. O apartamento parecia sempre ficar gelado quando seu marido não estava. Óbvio, era Yixing quem o esquentava do frio dentro do abraço mais caloroso que ele poderia oferecer, o dia inteiro apenas o abraçando sempre que conseguia uma folga. Lay esquecia de tudo quando estava com Myeon, o que era algo bem difícil de acontecer. O mais novo era extremamente responsável quando estava relacionado ao trabalho, dava tudo de si e mais um pouco. Isso sempre preocupava Suho.

O coreano se sentia culpado por estar sentindo tanta saudade de Zhang Yixing. Ele se sentia extremamente egoísta, pois só queria que seu marido parasse de se ocupar um pouco e desse toda a atenção somente para si. Eles nem conseguiram ter uma lua de mel. Myeon não sentia o calor do seu amado de forma mais íntima já havia meses, eles nem tiveram relações como casados. 

Mas Lay sempre tentava fazer o máximo de si. Sempre tentava arrumar um tempo para ficar com o amor da sua vida, – como gostava de chamá-lo – por mais que muitas vezes não fosse eficiente. Como uma forma de se redimir, continuava fazendo músicas apenas para Suho nas horas extras, e muitas vezes nem chegava gravá-las. Um presente especial, que só seria ouvido por aquele que ele amava fiel e completamente.

Jun estava deixando a televisão ligada enquanto folheava o livro devagar. Estava em um canal sem sinal, mas o ruído que o aparelho produzia ajudava a preencher o vazio do apartamento, junto com o barulho das ondas do mar logo em frente à residência. Esses pequenos barulhos do ambiente ocupavam o lugar que a risada infantil de Lay tinha em sua vida. Uma risada que o fazia ficar feliz imediatamente, apenas o ouvindo gargalhar com os olhos fechados e sua covinha ressaltando as bochechas cheinhas. Myeon já havia gravado os detalhe da face de Yixing.

Não só do seu rosto como do seu corpo. As pintas, as marcas. Aprendeu a sentir todas elas com suas próprias mãos.

Até mesmo o beijo de Zhang Yixing o deixava uma marca de saudade. Suho lembrava de cada marca dos lábios de Lay pelo seu corpo. Cada trilha que ele havia realizado. Cada mordida e chupão.

Lay fazia tanta falta.

[ . . . ]

Yixing abriu a porta do apartamento devagar, estranhando que Suho não havia atendido suas batidas. Um sorriso mais alegre que poderia oferecer insistia em ficar em seus lábios. Quando adentrou, pôde ver seu marido dormindo no sofá, segurando seu livro sobre a parte teórica dos pianos.

Lay sentou no chão, se encostando no sofá e tirando a franja dos olhos de Myeon. Seu rosto era tão relaxado, maravilhosamente angelical. Como se ele tivesse cansado depois de ter voado do Céu até ali, o sofá do seu apartamento, e por isso tinha tirado um cochilo. O chinês sorriu quando seu anjo entreabriu os lábios, deixando os dentes brancos aparecerem.

Yixing escorregou a costa da mão pela pele macia do rosto de Suho, parando em suas bochechas rosadas. Tocar aquela face deixou seu coração quente.

"Eu amo a pessoa mais linda do mundo", falou para si, com total certeza.

Os olhos de Myeon abriram devagarinho, o deixando vermelho assim que enxergou o rosto de Lay, sorrindo para ele com a mão em seu rosto. Não sabia se ele estava feliz ou surpreso, talvez algum sentimento entre os dois. Apenas agradecia a felicidade de finalmente poder estar perto daquele que amava.

O mais velho sentou-se no sofá, observando seu marido fazer o mesmo, encostando suas coxas. Virou para o lado e eles se beijaram, sem dizer uma única palavra.

Começaram com beijos curtos, simples selares, até que chegaram a um beijo em que precisaram parar apenas quando o ar foi extremamente necessário. Os lábios macios se acariciavam, transmitindo todos os sentimentos que eles armazenavam entre si. A mão de Lay na nuca de Suho, enquanto o coreano estava concentrado demais em voltar a sentir a pele de seu marido para pensar em fazer algo com as mãos.

Quando eles se soltaram e encostaram suas testas, os dois riram, com Lay acariciando o cabelo de Myeon com as duas mãos. Os olhos de Jun ainda fechados enquanto Yixing focava em observar cada aspecto daquele rosto que ele tinha sentido tanta saudade.

O apartamento de repente tinha ficado extremamente quente para Suho. Não sabia ao certo o efeito que Lay exercia sobre ele, mas queria continuar a ser hipnotizado pelo cheiro agridoce e pelos lábios calmos do seu amado, e assim criar novas lembranças para serem revividas quando eles estivessem longe um do outro.