capítulo 7: voltagem
Parada na frente da casa Schengen, Ava limpa uma lágrima. Suas roupas claras substituídas pelo moletom cinza, contrastando com a rica cor verde da fronte da mansão.
As fotos de Noah, aquela irritantemente familiar cicatriz debaixo de seu olho esquerdo em todos os registros tirados no primeiro ano, as lembranças, tudo estava naquele mural colorido e nostálgico em frente a enorme e opulente residência onde ele costumava morar.
A loira se abaixa, segurando o choro, enquanto pega a foto do loiro ainda no primeiro ano, quando ambos eram novatos no Preparatório Jefferson. As memórias a atingem em cheio, enquanto ela sente seu peito pesar.
— Não! Me larga! — Ava gritava, tentando se desvencilhar dos outros garotos. Ela poderia sentir a terra se misturando aos seus cabelos recém lavados e sujando seu vestido.
— Você não tem vergonha de dizer que é menina? — gritou um dos meninos, rindo, olhando para seus outros amigos.
— Cala a boca! — Ava gritou, com lágrimas caindo em cascatas de seus olhos, seus braços magros doloridos em todas as partes em que ela poderia sentir.
— Bichinha! — um dos meninos gritou, fazendo os outros rirem, enquanto a segurava.
Ava desistiu, puxando os braços para proteger seu rosto enquato um outro chutou sua barriga, a fazendo gritar de dor, já sentindo que não passaria daquele momento. Sua boca havia sinto quebrada, a sensação do sangue na boca era metálica e morna.
— Ei! — ela ouviu uma outra voz, mas não conseguiu se manter acordada. A única coisa que a fez saber que era o garoto foi a ferida bem debaixo dos cílios inferiores — Deixem ela em paz.
— Não é uma garota, Noah! — o valentão gritou, rindo. — É só uma bicha.
— Seu idiota! Você sabe quem ela é? Filha da vice-diretora Brown! Vocês vão se dar mal!
Ava não viu o rosto do menino. Ela nem sequer conseguia pensar; em seu cérebro o nome se repetia meio sem saber o que fazer com a informação. Noah, Noah, Noah, Noah...
— Merda! — soltou o ruivo, soltando Ava — Vamos, gente... Valeu, Noah — os garotos deram uma última olhada para Ava, sentindo uma pontada de arrependimento, depois saíram em bando.
Noah ficou ali, parado, encarando-a.
— Ei, Noah, vamos! — um dos meninos disse, se virando para trás.
— Podem ir, já alcanço vocês!
O ruivo deu de ombros, encabulado e seguiu seu caminho. Noah se abaixou, levando seu toque suave ao rosto de Ava. Em silêncio, ele a analisou.
Quando o loiro finalmente falou, sua voz veio como um sussurro:
— Qual... Qual é a sua casa?
— O quê? — Ava perguntou, a voz frágil, confusa. Tudo nela doía.
— Qual a sua casa? Albuquerque? — Ava continua sem entender, de sobrancelhas arqueadas, calada — Bom, a gente vai passar em cada casa até achar a sua então. — diz, simplesmente. Pegando a menina no colo, Ava se sentiu como se ela fosse de papel naquele momento.
Deixando que a lembrança esvaisse de sua cabeça aos poucos, a loira se levantou, colocando a foto no bolso. Deu uma última olhada para o mural. Depois saiu.
Ava estava em seu quarto. Seu lugar favorito desde que tudo aquilo do baile aconteceu, há alguns dias.
— Filha... — a diretora Brown entrou no quarto e chamou Ava, tirando a menina de seu transe — Vou fazer um comunicado... Pode, hum, vir comigo?
Ava assentiu, seguindo sua mãe enquanto desciam as escadas. Ava observou os outros alunos reunidos ali, diversas perguntas surgiram em sua mente enquanto ela pensava em porquê Edward Bowell e Hailey Winchester, dentre outros alunos de outras casas, estavam sentados no chão de carpete da residência Albuquerque.
Mesmo assim, em silêncio, Ava se sentou numa poltrona enquanto sua mãe se posicionava no meio da sala. A loira levou suas mãos até seus olhos, sentindo o inchaço. Os lábios dela tremendo com a calma dos desesperados.
— Boa tarde, alunos. Estou passando de casa em casa explicando algumas decisões que estamos tomando... Bem, primeiro de tudo, fiquem calmos! A polícia está lá fora, fazendo de tudo pra adentrar o campus... Eles têm a estimativa de conseguir isso em alguns dias, estão tentando identificar a fonte da carga elétrica. — a diretora explica.
A voz dela era lenta e calma, mas não adiantou, as pessoas estavam desesperadas, o burburinho aumentou significativamente entre os alunos.
— Silêncio! — gritou, cessando as conversas em um minuto — Vocês estão todos aqui reunidos porque nós precisamos ficar juntos, a polícia recomendou! Para que o pior não aconteça, comeremos juntos e dormiremos juntos pelos próximos dias, até que tudo seja resolvido.
— Mas, diretora Brown... — Pablo começou, chamando a atenção de todos. — Se não sabemos quem é o assassino, não é meio perigoso?
— Bom, se por acaso esse assassino aparecer, você prefere estar sozinho ou com seus colegas?
— Ah... Entendi a linha de raciocínio! Obrigado! — responde, encabulado.
— Isso será feito em todas as casas, então? Os alunos foram misturados? — Abby perguntou passando os olhos de Pablo para a diretora, a diretora Brown fez que sim, em um gesto de cabeça.
— Por que exatamente não podemos ficar só com os membros da nossa casa? — dessa vez foi Jason que perguntou.
— Concentramos os alunos entre as casas Albuquerque e Schengen, pois são as maiores em espaço!
— Vocês não percebem? As mortes que estão ocorrendo são por conta de toda essa divisão, desse mini projeto facista! — Edward exclama, num tom de acusação. — Mas, a união faz a força! Não é verdade?
— Hum... Não! — Ava disse, revirando os olhos.
— Discorda, Ava? — Edward desafiou.
— Não é uma questão de discordância... Acredito que a segregação pode ter, sim, motivado os assassinatos. Mas seu discurso se torna idiota quando nos damos conta de que os estudantes daqui não conseguiriam trabalhar juntos nem se a vida deles dependesse disso! O que, para a nossa surpresa, é nossa real situação!
— Bom, isso é verdade. — Brittany concordou.
— Ela poderia dizer que o céu é lilás e você iria concordar, então não é grande surpresa — Edward debocha.
— Você é tão idiota, Bowell! — Jason se intromete, cerrando os dentes.
— Olha como você fala com a Brittany! — Ava responde num tom alterado, se levantando.
— Ava, calma! — Abby exclama, indo até a irmã, mas ela o empurra. O moreno se desequilibra nas pernas de Billy e cai em cima de Pablo que, por causa do reflexo, o joga no chão.
— Porra, Pablo! — Abby grita.
— Você se jogou em cima de mim, babaca! — Pablo rebate, na mesma altura.
— Me desequilibrei, seu idiota! — retruca, corado a ponto de parecer um tomate.
— Não chama o Pablo de idiota! — Billy defende, colocando seus braços fortes entre Abby e Pablo.
— Você acha que eu vou bater no seu... Namoradinho? — Abby responde, com uma mistura de raiva e deboche em seu tom, enquanto se levanta.
Uma discussão generalizada se iniciou, com os alunos rejeitando completamente a ideia de estarem juntos, a diretora tentou por diversas vezes chamar a atenção de forma pacífica, mas os gritos eclipsavam totalmente sua voz.
Com um tapa na parede, a diretora fez todos calarem a boca. A mulher morena colocou as mãos sobre suas têmporas, enquanto os alunos a observavam. Ava abaixou a cabeça.
— Chega! Esperava mais de vocês! — diz, a voz ofendida, a expressão indignada. — Edward, Ava, Brittany, Abby, Jason, Pablo e Billy, vocês estão de detenção.
— Mãe... — Abby murmura.
— E calados. O resto de vocês... Se unam, — a mulher ordena, os olhos arregalados — Ou sofrerão as consequências.
••••••••
— Nós não estaríamos aqui se você não fosse tão agressivo! — Brittany exclamou, direcionada á Edward.
— Agressivo? Literalmente eu só disse o óbvio!
A porta da sala se abriu e Hailey entrou. A morena andou até uma carteira vaga entre Pablo e Billy e se sentou.
— O que você tá fazendo aqui? — Billy perguntou.
— Ah, eu pedi! — Hailey explicou. — Acho que realmente devemos nos unir... Como Edward falou, mas não todos nós. Nós podemos encontrar um jeito de tirar todos daqui!
— A polícia já está trabalhando nisso, amor... — Abby disse, desinteressado.
— Bom, eu dúvido que a polícia vá conseguir tão cedo! Não dou nem dois dias pra eles desistirem.
— Do que você tá falando? — Edward perguntou, num tom meio acusador.
— Vocês acham que a polícia vai conseguir entrar? Com todas as grades em alta voltagem? Até agora nenhum avanço foi feito, eles nem mesmo conseguem explicar de onde a corrente elétrica origina — Hailey responde, firme, parecendo pensativa.
— De qualquer forma, devemos confiar neles! — Brittany aconselhou, encarando Ava, como se pedisse aprovação.
— Não... Eu concordo com a Hailey! Talvez a gente precise tomar nossas próprias atitudes! — Ava disse, séria — Temos que nos preocupar... O baile de máscaras se transformou num filme de terror, a iniciação foi desastrosa e... Sabe, Noah sabia de algo... Ele descobriu alguma coisa e morreu por isso — Ava explicou.
Os outros ficaram em silêncio, absorvendo suas palavras.
— Bom, estamos fodidos! — Pablo finalmente diz, abaixando sua testa até encosta-la na carteira.
— Bom, eu estava fazendo umas pesquisas e... Bom, tentando criar uma teoria... — Hailey começou. — Descobri algumas coisas que datam desde 1992... Uma situação tão macabra e cruel... Que faria qualquer pessoa querer destruir o Jefferson Heights.
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