ritos iniciais
Seis da tarde e chovia bastante em Londres, sob o 221B da Rua Baker era como se Deus estivesse chorando. Talvez estivesse, é que os moradores daquele apartamento só iriam descobrir isso depois. Que se danem, os carros passavam normalmente por aquela rua, as pessoas com seus guarda-chuvas continuavam andando apressadas. Tudo estava normal.
Atravessando a porta do 221B, as escadas, e subindo as escadas você encontraria o Dr. John Watson sentado numa poltrona lendo um livro, acho que estava lendo "O Amante de Lady Chatterley", sentou para ler o livro para se distrair, mas não conseguia se concentrar na leitura de modo algum, lia poucas palavras e distraía-se olhando para o nada, poderia ser sono, não dormiu bem durante a noite por causa dos trovões. Cabul ainda estava fresco em sua memória mesmo após dois anos, não esqueceria tão rápido, na verdade, nunca esqueceria, apenas superaria. Os trovões às vezes soavam como bombas, como dormir tranquilo?
Foi tirado de seus devaneios ouvindo passos pesados subindo as escadas, John olhou para trás (já que sua poltrona ficava de costas para a entrada do apartamento) e viu seu companheiro de apartamento mais que ensopado.
ㅡ Ainda tento compreender porque prefere se molhar inteiro arriscando ficar resfriado do que usar um guarda-chuva ㅡ John comentou.
ㅡ Oh, o tempo nesta cidade é tão bipolar quanto um ímã, a culpa não é minha ㅡ ele se defendeu, sorrindo.
ㅡ Por que não sobe e toma banho lá em cima? Se ficar com essa roupa, irá acordar resfriado amanhã ㅡ ele aconselhou.
ㅡ E por que eu tenho que tomar banho no andar de cima? ㅡ Sherlock questionou.
ㅡ Porque irá molhar todo este andar do apartamento indo pro banheiro ㅡ John respondeu, virando sua cabeça para olhar para ele, encontrando-o com um olhar suspeito. ㅡ Conheço essa cara, no que pensou?
ㅡ Você é médico.
ㅡ E daí? ㅡ John levantou a sobrancelha de leve.
Sherlock pensou bem no que iria dizer, se bem que não precisava dizer nada, já tinha um nível de conexão tão grande com John que as vezes olhares bastavam.
ㅡ Oh, Deus ㅡ ele riu em descrença em seguida ao compreender.
John virou sua cabeça e tornou a ler novamente. Sei o que estão imaginando, o que há por trás de uma fala com conotação sexual entre amigos? A resposta é clara, porém é um assunto sobre o qual falaremos mais tarde.
ㅡ Não garanto que Deus gostaria de ver isso... ㅡ Riu de volta e observou o livro que ele lia ㅡ Por que está lendo pornô?
ㅡ Não é pornô, é um romance.
ㅡ Romance com pornô.
ㅡ E como sabe que este livro é um pornô, engraçadinho?
ㅡ O que se espera de um livro cujo título começa com a palavra "amante"? Você e eu sabemos bem o que a palavra "amante" significa.
John sorriu de canto com um tom subliminar de malícia.
ㅡ Quer ir tomar banho para sairmos logo?
Vendo o detetive subir as escadas para tomar banho, Watson sabia que não conseguiria prestar atenção a sua leitura, resolvendo por o livro de lado para ler mais tarde. Como Sherlock apenas subiu sem se preocupar com toalhas e roupas (se bem que John sequer o deixou entrar na sala), ele se levantou e foi até o quarto do detetive buscar roupas e uma toalha para ele, se não levasse, Sherlock ousaria usar sua toalha e seus roupões (que sequer poderiam servir).
John subiu e deixou sobre a cama tudo o que ele poderia precisar, voltando a sala, prestou atenção que a chuva lá fora estava diminuindo, assim brotou em sua cabeça a ideia de esperarem a chuva passar e irem jantar fora. Lê-se ir jantar numa cafeteria.
Não tardou até que Sherlock descer apressado até a sala. Ele usava uma camisa branca que estava um pouco úmida porque o detetive não se secou direito, calça social preta e pés descalços (reparando que ele segura seus sapatos em mãos pois seus pés ainda não estão devidamente secos), e os cabelos ainda muito molhados. Parou na frente de John e sorri.
ㅡ Por que não se secou devidamente?
ㅡ Quem precisa se secar direito quando posso me secar ao ar livre, está certo que ainda está chovendo, porém existe guarda-chuva para isso!
ㅡ Recorda-se dos guarda-chuvas e esquece da pneumonia e da gripe ㅡ John se levantou da poltrona. ㅡ Mas como bem disse, sou médico. Arrume-se e iremos sair pra jantar pois está tarde.
John falou, indo até o andar superior e apanhou seu casaco preto, o vestindo por cima de sua camisa de mangas longas acinzentada, decidiu que trocaria a calça e os sapatos pretos quando retornasse. Voltando ao andar de baixo, ainda encontra Sherlock com os cabelos molhados, porém usando sapatos e com um enorme guarda-chuva em mãos.
ㅡ Vamos? ㅡ Sherlock o questionou indo em sua direção.
ㅡ Sim ㅡ John mal respondeu e já viu o detetive tomar sua mão apressadamente e o guiar para fora, aproveitando para abrir o guarda-chuva na porta de casa.
Eles saíram juntos pela Baker Street já sabendo onde iriam jantar, na Seymour Pl., não tão distante de casa, dez minutos caminhando. Sherlock segurava o guarda-chuva preto sobre suas cabeças, ao longo do caminho, não interagiram tanto, se concentraram em ofender a si mesmos pela ideia nem tão brilhante de sair enquanto ainda estava chovendo.
Ao chegarem na cafeteria, as coisas foram diferentes, conversaram e jantaram tranquilamente ㅡ como frequentavam aquele lugar sempre, as pessoas que ali trabalhavam já os conheciam, alguns dos clientes ali os reconheceram, mas não foram inconvenientes o bastante a ponto de interromper o jantar dos Baker Street Boys.
Talvez estivessem apreciando a química e suas interações enquanto comiam seus bolinhos e tomavam café, o de Sherlock com bastante cafeína para o estimular.
Não tinham um caso em mãos para resolver e tampouco estavam auxiliando Greg Lestrade a escapar de uma enrascada, mas Holmes preferia estar preparado e com o cérebro funcionando, como médico, John diria que exercícios físicos também são estimulantes e muito mais saudáveis que cafeína, mas para ele, Watson era médico somente quando lhe convinha.
Terminando seus jantares, eles observaram que a chuva já havia parado, então John teve a brilhante ideia de darem uma volta pelas ruas ali em volta e depois seguirem para casa, Sherlock odiou a ideia porém não pôde dizer negar ir dar essa volta já que queria manter-se energizado.
Eles saíram da cafeteria juntos caminhando até a York St., depois pela Harcourt St. e virando a esquerda em Old Marylebone Rd., nessa rota Watson tentava acompanhar Holmes em seus falatórios para distraí-lo, eles pretendiam seguir na Old Marylebone até a esquina de Homer Row, de lá, seguir para casa, mas quando chegaram a esquina de Homer Row, uma gritaria e movimentação anormal vinda de dentro de uma igreja bem naquela esquina chamou a atenção dos dois, sobretudo de Sherlock, seu faro para caso novo estava ativo.
ㅡ Por que não vamos até lá? ㅡ Sugeriu.
ㅡ Religiosos são muito barulhentos, devem estar invocando Satanás ou algo do tipo ㅡ John falou.
ㅡ Seu comentário foi cômico e talvez se encaixasse, mas esta ㅡ Sherlock apontou ㅡ é uma igreja católica.
John observou melhor, haviam gravadas as palavras Catholic Church of Our Lady of The Rosary.
ㅡ Claro, católicos não gritam em suas missas... ㅡ John observou, dando-lhe razão.
Eles veem pessoas correndo para fora em desespero, aí que decidem entrar para saber o que está havendo, algumas pessoas dizem que não devem entrar ou esbarram neles.
Adentrando o lugar, eles andam pela nave central até o altar elevado (a igreja bem iluminada com velas e lâmpadas), sobre a mesa, três ambulas de ouro cujas hóstias estão espalhadas, as hóstias, cobertas de sangue tal como a toalha branca da mesa. Debruçado sobre a mesa, um velho padre (também coberto com sangue) com uma cruz processional de ouro fincada em suas costas, a cruz foi fincada no padre de modo tão violento que parecia uma empalação, e claro, havia de se notar que ela atravessou a madeira da mesa, prendendo o sacerdote ali.
Pregos maciços fincados em suas mãos que reforçavam sua prisão, entre os dedos da mão esquerda, uma hóstia maior que as outras que estava partida, esta, também com algumas gotas de sangue. No chão, uma garrada de vinho tinto quebrada, a bebida espalhada pelo chão de mármore branco e um cálice de ouro também atirado ao chão.
Embora já estivesse acostumado a ver cenas chocantes, John levou uma mão ao rosto em choque.
ㅡ Deus... Que coisa horrível... ㅡ ele expressou.
ㅡ Quem fez isso não tem respeito algum por este lugar. Não que eu tenha, mas não venho profanar o ambiente... ㅡ Sherlock comentou ㅡ É recente. Três horas ou menos. O sangue na mesa e no cadáver já está seco... Não diria que a morte foi causada pela empalação com a cruz...
Sherlock vasculhou os bolsos de seu casaco com pressa, percebendo que esqueceu seu celular em casa.
ㅡ Deixe que eu ligo para a polícia, ㅡ John saiu de seu choque e pegou o seu celular no bolso do casaco que usava, discando 999 ㅡ mas acho que alguém que saiu correndo daqui já deve ter o feito...
ㅡ Esquece a polícia, melhor chamar o Lestrade.
ㅡ OK... Mas chamar a polícia não seria o mesmo que chamar Greg Lestrade? ㅡ John apagou o número da polícia e começou a procurar o contato de Lestrade em sua agenda.
ㅡ Precisamos do Lestrade, ele nos deixa ter acesso ao local do crime, se bem que já estamos aqui extra-oficialmente... ㅡ Sherlock apontou.
ㅡ Não me diga que já solucionou o caso? ㅡ John ironizou.
ㅡ Claro que não, até porque imagino que alguém capaz de fazer algo assim já deve ter matado antes, um serial killer provavelmente... O local escolhido é bem significativo, diria que este assassino é alguém com ódio da religião para profaná-la desta forma.
ㅡ Bem, se a pessoa em questão já matou antes... Deve ter matado com essa mesma raiva. Com certeza iremos encontrar algo ㅡ John pontuou.
ㅡ Sim! Sim! Sim! ㅡ Sherlock empolgou-se, olhando em volta do ambiente, unindo e esfregando as palmas das mãos.
Aquele caso (que ainda nem era seu oficialmente) seria mais complexo e profundo do que costumavam ter em mãos, e só esse espectro de profundidade era capaz de elevar a ansiedade de Holmes sobre o caso.
ㅡ Como estamos entre nós, não vejo problema em sua clara empolgação diante do cadáver pois já estou acostumado. Mas imagino não ser de bom tom deixar clara sua aura radiante na frente da polícia ou será tomado como suspeito.
ㅡ A polícia já me conhece.
ㅡ Estamos numa igreja, Sherlock.
Ouvindo isso, franziu os lábios num biquinho discreto mostrando insatisfação em ser chamado atenção. Porém compreensível.
E foi assim que uma volta na rua levou-os até um caso novo.
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