Marca vermelha, tontura e ódio em formato de papelão
E todos sabiam.
É claro, dava para sentir o cheiro de Potter no corpo de Severus a quilômetros de distância.
Black literalmente o fuzilava da mesa da Grifinória. Como se aquilo pudesse ser culpa sua!
Dumbledore parecia levantar a cabeça do Profeta Diário a cada minuto, como se estivesse curioso sobre aquele acontecimento em específico. Era cômico.
Um pigarreou forçou Severus a olhar para trás. Madame Promfey o encarou de maneira severa e Snape desejou que ela não estivesse atraindo mais olhares para cima dele quando essa exclamou:
–Venha comigo até a Ala Hospitalar, senhor Snape!
Sem o desejo de contrariar a mulher e querendo fugir dos olhares daqueles seres hostis, Snape se levantou e a seguiu. Severus sentiu o olhar de James o enlaçar durante o percurso, o que fez sua marca pinicar.
Antes mesmo de adentrarem a Ala Hospitalar, Promfey perguntou:
–Você bebe algum meio contraceptivo, senhor Snape?
Severus sentiu o seu coração parar e voltar a bater.
–Eu não posso engravidar.--Severus engoliu em seco.--Fala que eu não vou engravidar.
–É claro que você não irá engravidar!--A mulher andou até um armário de vidro e tirou de lá uma poção.--Você ficaria surpreso com o número de ômegas que vem até aqui pedir para beber isso. Nenhuma delas engravidou.
--Nenhuma delas?--Severus engoliu em seco.--Nenhum cara chegou a pedir?
--Você é um dos únicos garotos ômegas da escola, senhor Snape. Mas não se preocupa, você não irá engravidar. A poção funciona muito bem.
Severus tirou o frasco das mãos dela e bebeu tudo em uma tacada só.
–Se sentir enjoo.--A mulher continuou a falar.--E vomitar nas próximas 24 horas. Venha até aqui.
Ela fez sinal para que ele saísse e Severus assim o fez. Estava literalmente devendo a sua vida àquela mulher.
Assim que pisou fora do recinto, Potter o fez dar um salto para trás.
–Você bebeu uma poção contraceptiva?--A pergunta pegou Severus de surpresa, porque Potter não pareceu estar próximo o suficiente da porta para vê-lo beber ou escutar a sua conversa com Promfey.
–Sim?
–Eu senti pela marca.
James parecia... Triste? A lembrança cômica de uma aula sobre alfas-lúpus fez Severus revirar os olhos. É claro. Lúpus eram territoriais e gostavam de crianças num nível que deveria assustar a Severus, que detinha a marca daquele idiota em seu pescoço.
–Bem... Não teremos filhos. Então, de nada!
Assim que Severus fez que iria se afastar, James o segurou gentilmente pelo braço.
–Vamos ir juntos à aula?
–Para gerar mais comentários?--Severus quase empurrou a criatura para longe.--Não estou afim.
–Meio que não conseguiremos gerar mais comentários do que já geramos, Severus.
–Não me chame de Severus!--Snape gritou e, se Potter tivesse orelhas em cima da cabeça, as teria abaixado feito um cachorrinho pidão.
–Desculpa, Snape. Mas, por favor, realmente está me doendo ficar longe de você. Você vai acabar desmaiando se eu não ficar por perto.
–Por causa da marca?--Severus quase cuspiu.--Eu estou bem.
–Não parece ter dormido.
Severus realmente não havia dormido, mas porque estava nervoso, não porque Potter estivesse longe. Caramba, passou a noite tentando achar uma maneira de não sentir dor nos seus países baixos! Agora a situação estava um pouquinho mais fácil, mas ainda doía quando tentava andar um pouco mais rápido.
–Não foi por sua causa.--Severus negou, embora, de certa forma, houvesse sido.
Severus começou a andar e James o seguiu de perto. O grifinório pomposo parecia doido para agarrar a sua mão, então Severus a manteve longe de seu toque.
Todos os olhavam, os alfas confusos e as ômegas deprimidas. E Lily, bem, Severus não conseguiu olhar para o rosto da garota.
Como se para provar que era um idiota, James se colocou sentado ao seu lado na aula de Transfiguração, deixando um Sirius irritado na fileira de trás. Severus o fuzilou, mas isso não foi o suficiente para afastar Potter.
Logo Severus, que odiava chamar a atenção, tinha todos os olhares grudados em seu cangote novamente. E o pior não eram os olhares dos sonserinos incrédulos e dos amigos de Potter, era o olhar de McGonagall, que parecia possuir uma opinião forte sobre a situação.
A aula transcorreu bem ou poderia ter transcorrido se Potter não tivesse tido a infeliz ideia de ficar tentando grudar-se a ele. Aquele imbecil não estava em sua melhor consciência e isso era nítido.
Em quase todas as aulas da manhã e da tarde, Potter o atormentou. Quando finalmente conseguiu se ver livre, adentrou a Sonserina como se a sua vida dependesse disso, deixando uma figura magoada para trás. Não se importou, porém. Isso até a madrugada chegar e começar a suar frio.
A princípio, Severus não entendeu o motivo para estar com dor de cabeça, tampouco a razão para a marca estar doendo. Só se importou quando o seu coração acelerou a um nível que o assustou e sua visão ficou turva.
–Snape, você está bem?--A voz de Úrsula, uma das três ômegas com quem dividia o quarto, o assustou.--Parece estar suando frio.
E Severus realmente estava. Colocou-se em pé e correu até o banheiro, onde viu o seu rosto pálido como se fosse o rosto de outra pessoa e a marca em vermelho vivo.
Ah, só podia ser brincadeira!
Severus voltou seus olhos para a mala, onde a capa da invisibilidade de Potter ainda se encontrava. Havia esquecido de devolver para a criatura odiosa.
A marca ardeu ao ponto de Severus sentir que iria desmaiar. Sem se importar com o olhar das garotas, ele abriu a mala e retirou a capa de dentro. Talvez estivesse cometendo um erro, mas se negava a morrer aos 18 anos.
Correu até a saída e vestiu a capa assim que deixou o salão comunal. A escuridão não o ajudou a se sentir melhor e se viu quase desmaiando incontáveis vezes antes de chegar ao andar onde ficava a torre da Grifinória. Não precisou descobrir a senha. Potter provavelmente sentiu o seu cheiro, porque irrompeu do quadro e o abraçou de forma nervosa e feroz.
A dor de cabeça parou, a marca deixou de arder e foi como se a cor voltasse ao rosto de Severus, que deixou-se suspirar de forma aliviada.
–Eu disse que precisávamos ficar por perto um do outro!--Potter pareceu choroso.--Deu para sentir a sua agonia a quilômetros de distância.
Severus soltou-se dos braços de James e o fuzilou.
–Então por que não correu até mim? Eu quase morri nas escadas até aqui!
–Porque o idiota do Sirius me segurou!
Severus gostou de escutar Potter xingar Black, mas se irritou tanto com aquela fala que não pôde evitar a discussão.
–Você é mil vezes mais forte do que um alfa normal. Como não se soltou dele?
–Exatamente por eu ser mil vezes mais forte. Fiquei com medo de machucá-lo gravemente. Ele quase bateu a cabeça na quina da cama por minha causa.
A imagem de Black agonizando de dor alegrou ao sonserino, que não gostou nenhum pouco de saber que James não havia feito com que ele batesse a cabeça na quina da cama.
Severus bufou e estendeu a capa para Potter, fazendo menção de dar meia volta e voltar voltar para a Sonserina.
–Ei!--James se colocou em sua frente.--Está indo aonde?
–Para a Sonserina antes que eu seja pego fora da comunal. Não é óbvio?
Potter pareceu desejar bater os pés, mas não o fez.
–Você acabou de quase morrer por estar longe de mim e quer voltar para a Sonserina? Péssima ideia.
–Eu que não vou entrar novamente na Grifinória, Potter.
James estendeu a capa por cima de ambos, deixando Severus sem qualquer expressão. Teria dado um soco na cara de Potter, mas a ideia lhe deu calafrios. Se o fizesse, talvez sentisse uma dor parecida devido àquela desgraça de marca.
–O que você acha de irmos até a cozinha comer alguma coisa?--Perguntou James.
A barriga de Severus roncou, porque em suas tentativas de não encontrar Potter, havia ficado sem jantar.
–Tudo bem.--Respondeu sem pestanejar.--Mas tenta não ficar me tocando.
Meio difícil com os dois debaixo daquela capa. Potter era alto e um tanto quanto encorpado para alguém que até um ano atrás era magricelo. Severus, embora com seus 1 metro e 67 e magro, sentia-se preso com Potter próximo daquela maneira. Imaginava que James tivesse 1 metro e 80, talvez mais.
Desceram lentamente até chegarem à cozinha, onde Severus saiu debaixo da capa e respirou aliviado. Os elfos domésticos os olharam de maneira confusa antes de se aproximarem e oferecerem comida aos dois.
Embora fosse madrugada, eles já trabalhavam a todo o vapor para o café da manhã, o que fez Severus se sentir levemente mal pelas criaturinhas. James sentou em uma das bancadas e chamou Severus com a mão, que foi até ele como se realmente quisesse ir. Era o seu estômago sendo idiota, imaginava.
–Precisamos conversar sobre o nosso futuro.--Potter falou e Severus só não foi embora correndo porque havia acabado de receber um pedaço de torta de abóbora de um dos elfos.--Porque acho que não podemos ficar um nas torres e o outro nas masmorras por causa da marca e também não podemos empurrar tudo para baixo do tapete e continuarmos com a nossa relação de ódio sem causa.
Severus revirou os olhos feito uma criança birrenta.
–Antes de falarmos sobre o nosso futuro.--Severus bufou.--Precisamos falar sobre o nosso passado, não acha? Porque eu te odeio tanto que poderia te matar.
Aquela fala teve uma reação inesperada. Potter fungou e o puxou para um abraço quase sufocante. Severus teria vomitado o pedaço inteiro de torta se James não tivesse se afastado a tempo.
–Eu entendo... Acho que te devo uma explicação.
–Você acha?!--Severus literalmente gritou, assustando aos elfos domésticos.
–Eu parei de ser um pé no saco quando você se tornou ômega ano passado.--James deu de ombros.--Eu fazia aquilo porque achava que a Evans era feita para mim e que você iria roubá-la. Bem... Aí você virou ômega e eu entendi.
Severus sentiu o olho tremer. Um estresse tão forte passou por seu corpo que ele teve que começar a balançar a perna num ritmo constante.
–Você sabia a quanto tempo?--Perguntou, embora já soubesse a resposta.
–Desde o dia que você virou ômega, eu acho. Eu apenas não podia ter certeza... Ou até podia, mas foi difícil de acreditar, a princípio.
Mesmo sabendo que poderia sentir a dor, o tapa que deu na cara de James foi satisfatório o suficiente para ele não se importar com a queimação que sentiu na marca.
James o olhou com lágrimas nos olhos, mas não disse nada.
–Ao invés de conversar comigo, você esperou até que tivesse a oportunidade de me comer, é isso?!--Severus começou a bater no peito de James, que mal se importou.-- Eu poderia ter engravidado, sua anta! Se Madame Pomfrey não tivesse ido até mim, daqui a nove meses teríamos um bebê!
James suspirou.
–Eu fiquei com medo da sua reação e da reação do Sirius, mas eu teria te contado uma hora ou outra. Não queria que tivesse sido da forma como foi.
–Então você ficou com medo da reação do idiota do Black?!--Severus mal escutou o resto do que James havia dito.--Claro, o seu amigo idiota não poderia saber que você e o seboso tinham uma espécie de companheirismo ou sei lá o nome disso.
James realmente parecia um cachorrinho pidão. Severus desejou que ele não começasse a chorar.
–Eu sei... Fui sem noção. Já conversei com ele sobre isso.
–Mas ele não aceitou, não é?
–Para Sirius não é tão fácil...
Severus pigarreou e soltou uma risada áspera.
–Ele vai aceitar.--James disse.
–Se nem eu aceitei, como você espera que Black aceite?
James arregalou os olhos, como se tivesse levado uma facada.
–Você precisa aceitar, Snape. Não tem como um de nós não aceitar.
–Essa porcaria é uma piada sem graça.
Severus se levantou e andou até a saída, mas assim que a alcançou, sentiu uma dormência nas pernas que o fez cair no chão.
Potter foi correndo até ele e o ajudou a se colocar em pé e, subitamente, Severus sentiu as pernas ficarem fortes novamente.
–Mas que porcaria é essa?!--Severus exclamou.
–Vai demorar ainda um pouquinho para você recuperar as forças do tempo que ficou longe de mim.--James deu de ombros.
Só podia ser uma piada.
James o enlaçou em uma espécie de abraço e assim permaneceu por um tempo que Severus não teve coragem de contar. Aquilo era uma espécie de pesadelo ambulante e cruel.
–Não é possível uma coisa dessas.--Severus revirou os olhos quando sentiu uma espécie de selinho em sua testa.--Você literalmente está acariciando as minhas costas?
–Ajuda com a marca.--James deu de ombros novamente.
Aquela indiferença estava custando a paciência de Snape.
–Quantos dias até eu conseguir ficar longe de você mesmo?--Perguntou com ódio.
–Uma semana.--James não pestanejou.--Sete dias.
Uma semana tendo que ficar grudado a Potter? Ele morreria antes.
–Pelo amor, você está com o pênis duro?!--Severus empurrou James, que olhou assustado para o volume nas calças do pijama.
–Eu juro que não percebi!--James tentou se defender.--É que você ainda está com um pouco dos feromônios do cio.
Severus sabia que estava. Seu cio durou apenas um dia, o que estava longe de ser o comum. Talvez tivesse acontecido isso porque havia recebido um nó, mas Severus não tinha certeza.
–Olha.--Severus respirou fundo para se acalmar da raiva que sentia.--Eu estou com muito sono, então me dá uma ideia aí.
Alguns minutos depois, estavam deitados em cima de caixas de papelão num dos cantos da cozinha, onde os elfos costumavam dormir. Não era possível um negócio desses.
–Isso é desconfortável.--Queixou-se o sonserino.
–Amanhã de manhã a gente discute com Dumbledore sobre a marca.--James respondeu, tentando sem muito êxito tocar em Severus.--Não posso te abraçar?
–É claro que você não pode me abraçar!
–É que eu dormi abraçado com você ontem.
Severus desejou socá-lo.
–Eu não estava em minha perfeita consciência, Potter.
Estava cansado de ver aquele olhar magoado.
–Tenha uma boa madrugada, Sev...Snape.--James murmurou, deitando-se virado para a parede.
Severus não se permitiu pensar na pequena frustração que sentiu ao vê-lo desistir.
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