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Capítulo Único

Na minúscula divisão, quente e abafada apesar da porta entreaberta, dois corpos jaziam sobre a fraca imitação de um colchão. Roupas e sapatos revestiam o chão cimentado, quebrando a sua monotonia. Pela fresta da entrada, os sons exteriores sobrepunham-se ao arfar cada vez mais quieto dos dois homens.

— Eu devia ir andando — disse Jackson, soerguendo-se do peito onde se aninhara. — Já não deve restar muito tempo.

Porém, o seu corpo não foi capaz de se mover. Um braço envolveu a sua cintura, puxando-o de encontro à parede de músculos sob uma camada de pele esbranquiçada.

— Jack... — disse Jiha, sedutor.

O mestiço arrepiou-se com a menção da sua alcunha, quase nem dando pela mão que percorria os desenhos gravados na sua pele suada. Mesmo depois de tanto tempo, ainda lhe parecia difícil acreditar que era o único a quem Jiha devotava tanta ternura e intimidade.

— Agora que te vais embora, não nos veremos por um tempo. — As suas mãos claras cessaram o seu movimento, dando seriedade ao momento até então sensual e provocador. — Não te atrevas a esquecer-me enquanto eu estiver aqui.

Os seus olhares cruzaram-se. Nas pérolas escuras com que o coreano-americano absorvia os detalhes das feições do amante reluzia uma vulnerabilidade habitualmente oculta. A sua voz, ainda que no seu habitual tom baixo, saíra tingida com uma ligeira súplica.

Os lábios escuros de Jack esboçaram um sorriso antes de encostarem no pulso de Jiha. Sobre a articulação do estrangeiro, no local onde as suas mãos habilidosas tinham desenhado as raízes de alguns ramos de bambu que cresciam pelo resto do antebraço, o moreno selou a sua promessa silenciosa com um beijo.

— Como é que me poderia esquecer? Vais estar comigo para o resto da minha vida.

Jackson endireitou as costas quando o aperto que o imobilizava se desfez, sentando-se sobre Jiha. Ao fazê-lo, expôs as gravuras negras que tentavam sobressair num mar de mel, incluindo o bambu que nascia na lateral da anca e que se estendia até ao seu coração.

Jiha sorriu de volta, traçando com a ponta dos dedos a outra cópia da sua tatuagem. Em resposta, o coração do mulato ficou mais leve, aliviado do peso que Jackson desconhecia que as palavras de Jiha tinham deixado para trás.

A voz de uma guarda a exigir ordem numa disputa do lado de fora chegou aos seus ouvidos.

— Vai — ordenou o mais velho. — Tens de ser um anjo nas horas que te faltam.

Guiado pela felicidade dos seus sentimentos e pelas promessas que fizeram um ao outro, Jackson inclinou-se para um último beijo antes de sair da cama para recolher os seus pertences.

— A próxima vez que nos virmos será bem longe daqui — prometeu, olhando Jiha uma última vez antes de sair da pequena cela, deixando para trás a pessoa que mudara a sua vida por completo.

■・・・・■・・・・■

A alvorada banhava a cidade, derretendo lentamente a inércia noturna.

Depois de uma friorenta viagem de autocarro, Jackson ansiava pelo calor do seu mais recente estabelecimento e do velho aquecedor que tinha conseguido instalar. Porém, antes de fugir das garras do frio invernal que ameaçava perfurar as camadas de roupa que trazia e rasgar a sua pele até aos ossos, o mulato parou em frente à porta e subiu o olhar. Ver "Permanente" em letras cursivas a sinalizar a localização do seu pequeno estúdio enchiam-no de um orgulho e de uma felicidade que, amargamente, não conseguia partilhar com quem gostaria.

— Um dia...

A tabuleta pendurada na porta de vidro continuou com a face do "fechado" voltada para o exterior quando Jackson entrou. Passaram-se alguns minutos, durante os quais ele se preparava para o dia de trabalho, até a porta da frente chiar, anunciando a entrada de alguém no estabelecimento ainda encerrado.

Jackson congelou, alerta para a visita indesejada. O seu corpo, encharcado em adrenalina pelo hábito, sentiu a falta instintiva de ter à mão uma arma de fogo com a qual acertar as contas que tivessem a intenção de lhe apresentar. Depois, consciente de que aquilo eram reminiscências de uma vida que queria deixar para trás, respirou fundo para afastar a tensão. A inação da sua visita, que devia continuar parada à porta, ajudou a que relaxasse mais depressa.

— O estúdio ainda não abriu — disse ao sair dos fundos de cabeça erguida e com um sorriso profissional.

A mulher que analisava a coleção de desenhos contida no álbum sobre o balcão levantou o rosto, encarando-o. Quando as feições dela se iluminaram em reconhecimento, a expressão amigável dele murchou.

— Trish...

Tinham-se passado vários anos desde a última vez que estiveram frente a frente. Contudo, mesmo com todas as marcas da passagem do tempo, Jackson era capaz de a reconhecer. Foram amigos de infância muito antes de Patricia permitir que ele decorasse cada curva do seu corpo e andasse com ela debaixo do braço, reclamando-a aos quatro ventos como sua.

— Jackal!

Os seus músculos recuperaram a tensão que ele tinha libertado momentos antes.

Jackson. Já não uso esse nome.

Os traços amigáveis permaneceram nas feições da negra, ainda que o brilho de divertimento genuíno se tivesse apagado.

— Como queiras. — Trish olhou em volta, sinalizando o espaço com um gesto de mão. — Tens aqui um lindo estabelecimento. Se bem que podias ter sido um pouco mais imaginativo com o nome. As tatuagens já não são tão permanentes como eram antigamente.

Jackson olhou os traços de tinta que se escapavam da gola alta da camisola de Trish em direção às suas orelhas, visíveis graças ao rabo de cavalo de tranças. Ele lembrava-se do momento em que aquela mulher, antes menina, decidira gravar no corpo um dos primeiros desenhos que ele tinha feito. Agora não era necessário um olhar atento para descobrir a falta desse vestígio do passado. A negra tinha removido a gravura nostálgica do pescoço e coberto a sua sombra com outra.

— Mas as consequências de algumas decisões são. E não há cirurgia nenhuma que repare esses danos.

A mão da mulher fechou em punho, indicando a Jackson que o seu palpite estava correto. Mesmo depois de tantos anos e de tantos milhões de dólares, Trish não tinha sido capaz de recuperar a visão no olho esquerdo, que a decisão parva de aceitar uma tarefa que não lhe competia lhe tinha roubado.

— Eu sei que ganhavas dinheiro suficiente nas esquinas e nos recados que o Bones te dava, mas pensei que tivesses sido um bom menino da mamã e dado tudo à tua família antes de ires apodrecer na cadeia, Jackal — escarneceu. — Foste rastejar até à porta do teu irmão para pedir dinheiro? Ouvi dizer que o Julian se tornou surpreendentemente bem sucedido, tendo em conta o bairro de onde viemos.

A menção do nome do antigo líder dos Black Lord Disciples lançou o mulato numa espiral de recordações. Ele, como muitos outros na sua condição, tinha decidido tentar subir na vida desde cedo através daquilo que era mais comum e acessível. Soubera-lhe bem fazer parte de uma matilha, ser temido e ter poder económico suficiente para se banhar em luxos que jovens da sua idade raramente alcançavam ao mesmo tempo que ajudava com as contas da casa e com as propinas da educação do irmão mais velho. Soubera-lhe bem fazer parte de uma irmandade que tinha algo a dizer ao mundo e que se conseguia fazer ouvir. Soubera-lhe bem estar no topo, com todos os luxos, poderes e atenções ao seu alcance.

Entrar naquela vida tinha-lhe parecido a decisão mais lógica. Tinha-lhe parecido o correto a fazer. Só mais tarde, enquanto se esvaia em sangue no passeio, com duas balas da polícia no abdómen, é que começara a questionar o caminho que escolhera para si.

— Deve ser o mais bem sucedido de todos nós — continuou a mulher, contornando o balcão para se aproximar. — Pergunto-me se continua com o mesmo ar de pacóvio enfezado ou se o fato e a gravata o tornaram num Mr. Grey?

— Deixa o Julian fora disto! — vociferou, apontando um dedo acusador, que termia em raiva mal contida, na direção da negra. — Foi o Trevor que te mandou relembrar-me do poder que ele tem agora?

Trish negou com a cabeça, continuando a aproximar-se dele vagarosamente.

— Não. Foi curiosidade genuína pelo miúdo que costumava esperar à porta da escola para me acompanhar a casa com o seu irmão mais novo.

Havia indiferença na sua voz ao evocar aquilo que antes teria sido uma memória querida. Nem o corpo que ela colara ao de Jackson quando envolveu o seu pescoço num gesto familiar, nem o olho direito, que ficou perto o suficiente para ser analisado em detalhe, traiam qualquer emoção.

— O Trevor estava à espera de uma visita tua, mas eu disse-lhe que estavas ocupado com este teu novo projetinho e ele deixou passar. Em vez disso, ele quer marcar uma sessão aqui contigo para poderem tratar logo de tudo no mesmo dia.

— Não. — Jack desenlaçou os braços da mais alta e afastou-a. Ao fazê-lo, o aroma da colónia de Trevor, que aparentemente não tinha mudado nos últimos anos, atacou o seu nariz. - O Trevor que vá fazer tatuagens noutro lado, se quiser. Ele tem o meu silêncio, como se pode ver pelo facto de ainda estar em liberdade, mas não quero ter mais nada que ver com ele ou com os Disciples.

— O Trev precisa muito mais do que o teu silêncio, Jackal! — exclamou, soltando os seus pulsos do aperto do homem à sua frente com brusquidão. — Ele está rodeado de miúdos que só querem parecer estilosos, sem perceberem realmente como funcionam as coisas, e de velhas víboras que esperam um momento de fraqueza para o atacar. Ele precisa de alguém de confiança. Ele precisa de nós. Precisa de ti.

— Trish...

— Não, Jackal. Pensa! — interrompeu, gesticulando. — Podes ter tudo na ponta dos teus dedos outra vez. Na verdade, podes até ter mais! Não precisas de fazer trabalho de rua nem de arriscar tanto o pescoço. Podes ter a tua própria equipa e fazer na mesma dinheiro para sustentar toda a gente. Podes ser grande outra vez, Jackal. Tal como nos velhos tempos!

— Eu já te disse para deixares de me chamar Jackal! O miúdo que dava por esse nome morreu.

— Queres outro nome, é isso?

— Não, Trish! Eu quero sair! — exclamou. A resposta que a mulher tinha preparada ficara-lhe presa na garganta, dando a Jackson oportunidade de revelar a verdade. — Eu quero sair. Eu fui o único a ir preso quando as coisas correram mal naquele dia, mas nunca me queixei. Eu nunca revelei fosse o que fosse durante todos estes anos, por muito insistentes e persuasivos que fossem os meus interrogadores, e vou continuar assim até morrer. Mas estou farto. Quero começar do zero, mudar de página.

Ela tranca o semblante, cruzando os braços sobre o peito.

— Estás a abandonar o teu passado? É isso? Estás a renegar tudo aquilo que aconteceu e a rejeitar quem és?

— Não. Eu só estou a abraçar o meu futuro. E tu sabes tão bem quanto eu que os Disciples me devem pelo menos isso.

— Sabes que não é assim tão simples...

— Eles que me vigiem para o resto da vida para terem a certeza de que não abro a boca, que me metam sobre a sua proteção ou que se esqueçam por completo de que eu existo. Não quero saber. Eu só quero distância dessa vida e o Trevor consegue fazê-lo acontecer se realmente o quiser. Depois de tudo, é o mínimo que ele devia fazer por mim.

A negra deu por si chocada. Ela conhecia a ferocidade de Jackson, mas não assim. Aquilo era diferente.

— És um idiota maior do que eu me lembrava! Podes ter tudo com que muitos nem sequer sonham e estás pronto para deitar isso a perder. E tudo porquê? Por causa de um capricho? Por causa de ideias estúpidas de retidão que alguém te incutiu enquanto estiveste dentro? Não és nenhum santo, por isso não finjas que virares as costas ao que fizeste vai lavar o sangue que mancha as tuas mãos.

» Se quiseres mesmo manter este estúdiozinho, podes fazer as duas coisas ao mesmo tempo! Só precisas de dirigir uma equipa para cumprir as tuas cotas. Desde que apresentes os resultados ao Trevor, podes ficar aqui encafuado o tempo todo! Ninguém vai querer saber! E mesmo que queiram, não podem dizer nada! Sempre foste o melhor de nós todos. O Trevor não teria herdado os Disciples se não tivesses ido dentro e todos o sabem. Quando voltares, terás tudo e todos a teus pés! Serás 2º em título, mas dividirás tudo comigo e com o Trev! Juntos seremos imbatíveis. Ninguém, seja civil, polícia ou rival, poderá fazer-nos frente.

Embora não permitisse visitas, Jackson tinha sabido que Trevor substituíra Bones na liderança dos Disciples poucos meses depois de ir preso. E ainda que não soubesse como tal acontecera, a notícia não o tinha surpreendido. Trev, que Jack considerava um irmão, tinha planos de ter o seu próprio gangue desde cedo. E Trish, que tinha uma ambição igualmente desmedida, estava finalmente a aquecer a cama que combinava com o seu estatuto de sonho.

Se não tivesse seguido em frente há muito tempo, Jackson ficaria amargo com tão óbvia traição.

— Vais obrigá-los a matar-te se quiseres simplesmente virar as costas, assim sem mais nem menos — continuou Trish. — Sabes que nesta linha de negócio as pontas soltas não agradam a ninguém. Queres ver o pouco sangue que ainda tens vivo a sofrer diante dos teus olhos? A agonizar numa morte lenta, enquanto te lamentas das escolhas que fizeste? Queres viver o resto da vida em fuga, com medo, a olhar sobre o ombro como se fosse uma segunda natureza? Queres viver como um rato de esgoto? Como um verme cobarde?

O mulato ofereceu um sorriso de desprezo em resposta àquelas palavras. Trish, qual Helena de Tróia, tinha este hábito: o de instigar disputas e de perturbar egos a seu bel-prazer.

— Trish, não insistas. O meu não é definitivo — disse, firme, à beira de perder a paciência com a insistência repetitiva.

O silêncio que se instalou, ainda que tenso, foi mais leve do que as palavras até então trocadas.

— Não foi só o teu físico que mudou — cuspiu a negra, depois de o analisar com atenção pela primeira vez desde que entrara pela porta do Permanente.

Jackson tinha desenvolvido músculos enquanto estivera na prisão, tal como a maioria dos reclusos. Não só era a atividade física e social perfeita para a cadeia, como ajudava a manter a hierarquia intacta. Independentemente da idade, ninguém que tivesse as mãos imaculadas queria arranjar chatices com que já tivesse ceifado vida, como era o seu caso. Porém, só uma fina linha de respeito e aparências impedia os assassinos de se virarem uns contra os outros.

O seu peito apertou de saudades e a lateral do seu tronco começou a latejar, mimetizando uma dor fantasma, quando a memória da pessoa que mais impactara a sua vida lhe surgiu de repente.

Tal com Trish fizera notar, a atitude e a mentalidade de Jackson estava diferente. E tudo se devia a Jiha.

Mesmo antes de trocar as primeiras palavras com o coreano-americano, o mulato sabia da sua existência. O físico esbranquiçado, maculado apenas na manga do braço esquerdo com desenhos orientais, não era particularmente vistoso, nem era ele barulhento ou violento em demasia, como tantos outros. Todavia, a sua presença silenciosa era a mais respeitada naquele estabelecimento. Fazia-se silêncio e abria-se espaço à sua passagem. Nada acontecia que ele não soubesse e qualquer assunto menos corriqueiro tinha de passar pela sua aprovação.

Jiha intimidava todos à sua volta, mas abordara-o pela primeira vez com um sorriso. E enquanto falavam sobre as formas que Jackson rabiscava numa folha, o à vontade do mulato com o estrangeiro foi crescendo.

Partilhavam o interesse pela arte, em todas as suas onze formas, e fora isso que os aproximara inicialmente. A atração sexual que floresceu dos seus encontros frequentes tratou de os deixar inseparáveis. E, por fim, os seus corações pareceram tornar-se um só com as confidências que fizeram um ao outro ao longo dos anos.

Admitir, para outro ser humano, as escolhas que fizera na vida e as consequências que as mesmas acarretaram levou Jackson a colocar as suas vivências em perspetiva. Mesmo que se sentisse de certo modo grato pela cadeia de acontecimentos ter culminado no seu encontro com Jiha, o mestiço lamentava algumas das suas decisões. Havia coisas que nunca deveria ter feito e, se tivesse essa escolha, não tornaria a fazer.

Não surpreendentemente, Jiha sabia como Jackson se sentia. Assim como Jack, o estrangeiro nunca dissera explicitamente que circunstâncias o tinham levado a acabar com vidas e a arruinar outras tantas. Mas a forma como discutiram o assunto vezes sem conta deixava claro que nenhum dos dois o fizera por desporto. Nenhum dos dois tinha tirado prazer nas suas ações.

Assim, a sua convivência atrás das grades acabou por os influenciar positivamente. A proteção que forneciam um ao outro tornava a sua vida mais fácil no seio dos outros reclusos. A companhia que forneciam mutuamente aliviava a sua solidão, transformando o seu tempo de reclusão mais fácil de suportar. E as suas conversas, para além de alterarem a sua forma de pensar e ver o mundo, tornavam o peso que carregavam nos ombros mais leves. Como no velho conto popular sul-coreano, eles tinham-se tornado as respetivas florestas de bambu: um porto seguro onde pudessem desabafar e partilhar aquilo que lhes fosse na alma. Mesmo que isso não os desculpasse dos seus pecados, trazia-lhes algum consolo bem vindo.

Tornaram-se pessoas tão importantes na vida um do outro que, depois de Jackson aprender com o estrangeiro a passar os desenhos da folha para a pele, decidiram tornar as suas memórias permanentes. Agora, cada vez que olhassem os ramos de bambu que lhes adornavam a pele, lembrar-se-iam um do outro e do amor que o unia.

Sim, amor. Não eram poucos os reclusos que encontravam conforto físico e emocional noutros detidos. Porém, Jackson sabia haver uma diferença. A maioria fazia-o, independentemente de ser de forma exclusiva ou não, por necessidade, não voltando a dedicar outro pensamento ao assunto se atingissem a liberdade. Mas ele e Jiha eram exclusivos e faziam-no por escolha. O que partilhavam era verdadeiro. E isso, de certa forma, era amor.

— Devias ir andando. Preciso de abrir em breve — atalhou Jackson, enterrando de novo a necessidade que sentia de ver o amante.

Trish recuou até à área de espera. Seguindo-a com os olhos, Jack reparou no agasalho que tinha passado despercebido até então e na chucha que saía de um dos bolsos, presa à peça de vestuário apenas por um acaso milagroso.

— Como queiras. — A negra agarrou o casaco que deixara na poltrona. Ao vesti-lo, guardou com naturalidade o objeto infantil no bolso de onde nunca devia ter saído, ignorando a situação por completo ao voltar a dirigir-lhe a palavra. — Tens a certeza que é esta resposta que queres que eu leve ao Trev?

A curiosidade que a chucha azul lhe despertou foi substituída por pensamentos mais sérios. Virar as costas a uma vida que se agarrava a si como uma substância viscosa era difícil e perigoso. Tanto a sua vida como a dos seus estaria certamente em risco. Mas Jackson necessitava daquilo mais do que tudo. Precisava de mudar de vida. De enterrar no seu passado quem fora e de construir um futuro do qual se pudesse orgulhar.

E se jogasse as cartas certas, talvez conseguisse fazê-lo sem implicar ninguém para além de si próprio.

— Sim. E ele que venha ajustar contas comigo se não ficar satisfeito. — Jackson aproximou-se da mulher que uma vez amara, dando ênfase às suas próximas palavras. — Se ele ou qualquer outro mexer num cabelo que seja da minha família, as coisas não vão acabar bem. Estive dentro tempo suficiente para fazer com que a minha ausência nestes anos valha alguma coisa.

A negra encolheu os ombros antes de abrir a porta e sair. Jackson cortou a distância que restava entre si e a porta, segurando-a para a ajudar a fechar. Uma rajada gélida tivera tempo de entrar, mas fora selada no exterior do estabelecimento com um estalo do trinco. O sol podia já ter subido, mas não tinha força suficiente para contrariar a contração do mercúrio.

Enquanto olhava pela porta da frente de Permanente, um veículo negro cruzou o seu campo de visão, subindo a rua com aparato desnecessário. Mesmo no curto espaço de tempo, Jackson reconheceu Trish no banco do pendura e sentiu que ela levava consigo todos os seus problemas.

Pelo menos os mais imediatos.

Para já, poderia concentrar-se na inauguração do estúdio e no prazer de tatuar.

O que viesse depois seria resolvido a seu tempo.

3500 palavras

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