Acordei. Ela ainda dormia ao meu lado. Ainda é estranho saber que a mulher que dorme ao meu lado estava me investigando esse tempo todo e que ela queria me prender!

Mas eu a amo e a desejo como nunca desejei nenhuma outra que fiquei. Olho para ela e quero que ela seja minha para sempre, quero namorar, noivar, casar, ter filhos e viver a minha vida toda do lado dela.

É estranho pensar essas porras, sempre pensei que esse tipo de pensamento fosse coisa de mulherzinha, mas estou eu aqui igual a um babaca pensando essas merdas e olhando para ela como se ela fosse um verdadeiro tesouro.

Eu sei que embora ela tivesse feito uma encenação na minha loja para me conhecer e que ela tinha que ficar comigo para descobrir se eu era o líder da quadrilha e me prender, eu sei e eu sinto que ela gosta de mim de verdade, sei que de fato foi estuprada.

Impossível ela ter fingido tamanho medo e inexperiência comigo. Eu sei que ela se entregou por amor e que ela está comigo agora por amor.

Neste momento só tem uma coisa que me aflige: eu sou cúmplice, sei que por ser réu primário, sem nenhum tipo de antecedente criminal, eu não devo pegar uma pena de muitos anos. O que vai me foder é que eu permitia que ele cozinhasse na minha loja.

Estou com medo, mas sou um homem feito e tenho que arcar com as minhas atitudes.

Está na hora de acordar. Tenho que ir para a loja. Passo a mão pelos cabelos dela e ela se mexe...
"Jú, bom dia" Ela sorri e também sorrio para ela. Ela me beija. Tomamos o café da manhã que eu trouxe para a cama. Me arrumo.

"Jú, vou para a loja." Digo.

"Ok."

"Me responde, uma coisa Jú? "

"claro!"

"Para aonde você ia quando dizia que ia para a agencia?"

Ela corou. "Para a minha casa, fazer escuta ou então encontrar o meu chefe. Hoje eu tenho que ir lá. Tenho que ligar o meu Note e entrar no programa da DEA e deletar aquela ligação do Felipe do sistema. Eu te amo e não quero que seja preso. Também tenho que contar para o meu chefe sobre o Felipe. Acho que vou marcar um encontro com ele."

Saber que ela não quer que eu vá preso me deixa aliviado e saber que, por amor, ela vai retirar uma prova que me incrimina me deixa feliz, mas ao mesmo tempo envergonhado . Devia pagar pelo o que eu fiz. Sei que não foi tão grave assim, mas foi errado.

"Você grampeou o meu celular? Mas de qualquer modo, obrigado. Sabe que vai doer muito em mim, mas se precisar pode contar comigo para prender o meu irmão. Durante todos esses anos eu tive uma falsa noção de que estava protegendo e cuidando dele, mas agora eu vejo que fiz uma grande merda e que o destino está me dando a chance de consertar."

"Sim. Foi necessário. É muito bom que você pense dessa forma, meu amor. Eu vou tentar evitar que você se envolva na prisão dele. A quadrilha é muito perigosa e eu morro se acontecer algo com você! A voz dela fraqueja, percebo que ela vai chorar e a abraço forte.

"Não pensa nisso. Nada aconteceria comigo." Nos beijamos e foi estranho...

Quando fico com ela é estranho, sempre foi. Deve ser porque eu gosto dela, mas esse beijo foi com toda a minha alma porque ela estava mal e o meu coração estava em pedaços, sentindo a dor dela. Que gay essa porra, mas é o que estava acontecendo.

Quando ela se acalmou fui para a loja. O meu motorista retornou para a minha casa e deixou Júlia em seu apartamento, que aliás quero conhecer! Estava louco para vê - la de novo! O dia estava passando rápido e o trabalho estava super tranquilo.

Até que Felipe me liga. Olho para o celular e demoro um pouco para atender, mas atendo e tento aparentar um ar de "nada aconteceu" .

" E aí,brother." Felipe diz.

"Oi."

"tudo bem?" Ele pergunta.

"Tudo e você?"

"também. Cara, estou te ligando para dizer que amanhã eu vou dar uma festa aqui na minha casa de campo. Leva a Júlia e relaxa que não vai rolar drogas. É que não tem nada o que fazer e eu não quero ficar entediado em pleno sábado. Como eu quero a sua companhia lá e agora eu sei que você só vai acompanhado abdico das drogas. Quando a festa acabar eu uso para dar uma relaxada."

"Eu vou, Felipe. Lembre-se. Sem drogas."

"Beleza".

"Até amanhã. Tchau."

"Tchau, brother."

Ligo para a julia sem pensar duas vezes. Ela atende:

"Oi, meu amor."

"Oi, Ju! Liguei para te dizer que o meu irmão vai dar uma festa na casa de campo dele. Ele também te convidou. Acho que seria perfeito para uma...uma... você sabe."

"Thiago, não fica assim, sabe que é o certo a se fazer. Só posso prender se ele tiver drogas lá, mas provavelmente vai ter."

"Eu sei, é que dói porque ele é o meu brother. Ele disse que não vai vender, mas ele tem drogas em casa."

"Amor, obrigada pela informação. Eu vou ter que desligar, preciso falar com John."
"John?" falo em tom de curiosidade misturada com ciúmes.

Ela ri. "O meu chefe."

"Ah... " Respiro aliviado.

"Beijos, Jú"

"Beijos, amor."

Duas horas se passam desde que eu falei com a Júlia e o meu trabalho acaba. Saio da loja e vou para a casa. Espero que a Júlia não demore para chegar em casa, preciso vê-la. Estou sentindo a falta dela pela primeira vez.

Tenho que tentar me acostumar com essa onda de sentimentos esquisitos que estão, aos poucos, tomando conta de mim.