39 - A audiência parte II
Para esse capítulo,
escutem a música
que está no vídeo
Ali em cima na mídia!
"E tudo que eu te dei se foi
Desabou como se fosse pedra
Achei que tínhamos construído uma dinastia
que o céu não poderia abalar,
Tudo caiu
Tudo desabou"
- Dynasty - Miia
Assim que me vê, Travis abre um sorriso sinistro no rosto e sei que ele provavelmente também deve ter me reconhecido.
Ele é muito bonito. Olhos claros, queixo anguloso, sobrancelhas grossas e uma barba aparada para a ocasião, além do corpo musculoso e essa típica pose de bad boy que é capaz de te levar ao paraíso em questão de minutos.
É uma pena que toda essa beleza seja ofuscada pela personalidade arrogante e irresponsável.
No momento em que estamos todos os interessados no processo, o juiz dá início à audiência e como já era de se esperar, primeiro são ouvidos os depoimentos das testemunhas do acidente e da vítima, no caso, eu.
Passo quase meia hora relatando tudo o que aconteceu naquela noite, as lembranças vívidas na minha mente como se tudo tivesse acontecido no dia anterior.
Meus batimentos cardíacos disparam conforme as palavras deixam meus lábios e narro um dos piores momentos da minha vida.
Como tinha previsto, o advogado de Travis não perdeu tempo e me fez perguntas ridículas, carregadas de más intenções e fiz questão de me esquivar de cada uma.
Termino meu depoimento tão esgotada mentalmente, que o único que desejo é ir para casa e dormir até amanhã.
No entanto, preciso ficar até o final para saber qual vai ser o destino do garoto que escuta tudo atentamente, sem nem piscar.
Por mais que tente dissimular, posso notar que ele está nervoso.
Seus olhos observam cada coisa que acontece e ele franze o cenho quando não gosta de algo que as testemunhas dizem.
Seu advogado tenta de todas as maneiras livrá-lo da prisão, mas basta com ver o semblante do juiz para perceber que sua decisão está praticamente tomada.
Percebo que Travis olha para mim várias vezes. E quando nossos olhares se cruzam, ele faz questão de sorrir do mesmo jeito que quando chegou, fazendo um calafrio percorrer todo o meu corpo.
Não consigo parar de pensar em qual será o envolvimento de Benjamin com toda essa história.
Eles dois obviamente se conhecem e levando em consideração a discussão acalorada no cinema, Benjamin parece saber muito bem da situação de Travis.
Minha cabeça começa a doer de tanto pensar nisso e sirvo um pouco de água da jarra disposta na nossa mesa antes de tudo começar.
Fecho os olhos e deixo minha mente se distrair enquanto o juiz fala coisas que nem me esforço por tentar compreender.
O último a prestar depoimento é o próprio Travis e quando o seu advogado pede que ele conte a sua versão dos fatos, seus olhos fixam nos meus antes dele começar a falar e é como se o tempo parasse por um milésimo de segundos.
O ambiente fica hostil, aquela calmaria que precede a tempestade, a leveza do clima minutos antes de que o furacão irrompa, destruindo tudo por onde passa.
— Eu fui desafiado para disputar um racha. -Sua voz rouca chama a atenção de todos dentro da sala e me endireito na cadeira, me preparando para o que vem a seguir.
— Estava em uma festa com um amigo, tínhamos bebido algumas cervejas e estávamos meio bêbados, então ele apostou comigo que não conseguiria chegar até a avenida principal em menos de cinco minutos. Eu errei, sei disso, e me arrependo sinceramente por ter batido naquele carro. -Seus olhos contradizem tudo o que ele diz. Sei que ele não sente nada do que afirma, no entanto, isso não me importa mais. — Me desculpe, por favor, Violet. Não quis te causar nenhum dano. -Pede sem desviar o olhar do meu e minha vontade é de apagar esse cinismo do seu rosto na base do tapa.
Como ele tem a cara de pau de mentir assim na cara dura?
Balanço a cabeça para os lados expressando todo o meu desgosto por escutar suas palavras vazias.
Sei que devo perdoá-lo não por ele, mas por mim mesma, porém é difícil deixar toda essa merda ir e esquecer todo o dano que ele me causou.
— Se eu soubesse o que aconteceria, jamais teria aceitado participar daquela corrida. E-eu... -continua com lágrimas nos olhos e me controlo para não soltar uma risada incrédula.
Será que ele pensa mesmo que todo esse teatro vai convencer o juiz?
O advogado ao meu lado suspira tão indignado quanto eu e ficamos em silêncio aguardando que Travis termine o seu showzinho de quinta categoria.
Quando isso acontece, somos instruídos a deixar a sala e esperar do lado de fora enquanto o juiz delibera.
Se passa outra meia hora até que a secretária finalmente chama a todos de volta para dentro e o juiz se prepara para ditar a sentença.
O nervosismo me invade outra vez e respiro fundo para controlar as batidas desgovernadas do meu coração.
Finalmente vou poder colocar um fim nesse sofrimento.
O juiz novamente diz um monte de palavras, e dessa vez me esforço para tentar entender cada uma delas.
Sem perceber, paro até de respirar quando ele profere a última frase.
— O réu se encontra culpado pelo delito de participação em racha, com a agravante por lesão grave, portanto, será condenado a seis anos de privação de liberdade, restando o período em que passou detido por prisão preventiva.
Seis anos.
Travis foi condenado a seis anos de prisão.
O silêncio dentro da sala é tanto que poderíamos escutar um alfinete caindo no chão.
Isso até que o garoto por fim percebe a gravidade do que acaba de escutar.
— O QUÊ? SEIS ANOS? PEDRO FAÇA ALGUMA COISA! -Seus gritos rebentam como fogos de artifício ecoando na sala de audiência e tanto o juiz quanto seu próprio advogado pedem que ele mantenha a calma, o que o deixa ainda mais furioso. — CALMA? COMO VOCÊS QUEREM QUE FIQUE CALMO SENDO QUE PASSAREI SEIS ANOS NAQUELE INFERNO POR ALGO QUE NÃO FOI MINHA CULPA? -Por um instante chego a sentir pena de Travis.
Se fosse eu no seu lugar, não sei como reagiria ao saber que perderei uma boa parcela da minha vida encarcerada.
Contudo, ele está apenas pagando por um crime que cometeu e o resultado era evidente.
Nego com a cabeça e me levanto para sair e evitar todo esse drama.
Não dou nem dois passos quando sou puxada para trás de supetão e lanço um olhar confundido para o meu braço encontrando dedos grossos e tatuados apertando minha pele fazendo-a ficar vermelha instantaneamente.
— Me solte agora ou vai ser arrepender por ter nascido. -Ameaço esquecendo completamente que estamos literalmente na presença de um juiz, advogados e uma boa quantidade de policiais que se aproximam rapidamente.
— Você se acha não é mesmo? Eu te vi no cinema, garota. Você estava lá toda iludida com o seu namoradinho sem fazer ideia de quem ele realmente é. -Suas palavras chamam minha atenção e engulo em seco ficando alerta.
— Do que diabos está falando, seu maluco?
— Oh, Benjamin não te contou, não é mesmo? Sabe o que ele me disse aquele dia? -Levanto uma sobrancelha e sinto minha respiração ficando acelerada. — Ele me pediu, ou devo dizer, ele implorou para que eu não me aproximasse de você e sabe o porquê? -Nego com a cabeça ficando zonza de repente. — Ele estava morrendo de medo de que você descobrisse o segredinho sujo que esconde a sete chaves. -Provoca e decido que não quero escutar mais nada desse verme.
— Já chega. Boa sorte na prisão, Travis, você vai precisar. -Puxo meu braço com força e ao me liberar do seu aperto, caminho em direção à porta.
— SÃO NECESSÁRIAS DUAS PESSOAS PARA DISPUTAR UM RACHA, VIOLET, E QUEM VOCÊ ACHA QUE ERA A SEGUNDA? NÃO SE FAÇA DE CEGA QUANDO A RESPOSTA ESTÁ BEM DIANTE DOS SEUS OLHOS -Meus pés se detém ao escutar a frase gritada a plenos pulmões.
Não pode ser.
De repente todas as peças vão se encaixando na minha mente como um quebra cabeças macabro e meus olhos se enchem de lágrimas ao perceber que de todas as pessoas ao meu redor, curiosamente Travis foi o único que me disse a verdade.
Empurro a porta com ambas mãos e atravesso o enorme corredor até a saída com nada mais do que ira correndo pelas minhas veias.
Estou tão ferida que não vejo para onde estou indo. Meus pés me guiam de maneira inconsciente pelo lugar que mais parece um labirinto e no instante em que avisto o estacionamento, deixo cair as lágrimas que contive para não ser ainda mais humilhada dentro do Tribunal de Justiça..
Retiro meu celular do bolso da calça e escrevo uma mensagem para Brenda pedindo para que ela venha me buscar. Meus dedos batem na tela e sequer vejo o que estou escrevendo realmente.
Minha cabeça dá voltas e sinto vontade de gritar.
Por isso Benjamin foi preso no mesmo tempo em que sofri o acidente.
Como eu não percebi isso? Como o próprio Travis disse, a resposta estava bem na frente dos meus olhos e eu fiquei tão cega que não a enxerguei.
Toco a pulseira no meu braço outra vez e sorrio amargamente lembrando das suas palavras mentirosas.
Em um ato impulsivo, puxo a jóia com força e aperto-a contra a palma da minha mão sentindo a dor penetrando meu corpo.
Quando chego no estacionamento, procuro o carro de Benjamin e no instante em que ele me vê, seus olhos se tornam sombrios e ele endireita o seu corpo se preparando para o que virá a seguir.
Ele já sabe que eu descobri tudo.
Me aproximo a passos rápidos, quase correndo e ao parar na sua frente, percebo que ele está a ponto de chorar.
— Violet por favor me deixe... -Suas palavras são interrompidas pelo eco do tapa que desfiro no seu rosto surpreendido.
— Como você teve coragem hein, Benjamin? -Engasgo me sentindo uma idiota.
— Por favor, não faça isso, só preciso que me escute. E-eu posso te explicar. -Pede outra vez e nego com a cabeça.
— O que você quer explicar? Que mentiu para mim, de novo? Que olhou dentro dos meus olhos e jurou que aquele idiota no cinema não era ninguém importante? -Ralho alterada e ele se encolhe diante do meu arrebato.
— Vi...
— Eu confiei em você, te dei uma segunda chance! Droga, Benjamin, você teve várias oportunidades de se abrir para mim, de contar a verdade e resolver de uma vez por todas esse problema, mas não, você preferiu não dizer nada e continuar com esse seu joguinho. -Aponto para o seu rosto pálido, minha mão treme e meu corpo inteiro está quase desabando no cimento gasto. — Você permitiu que eu me apaixonasse por você, mesmo sabendo que cedo ou tarde eu descobriria tudo. -Sussurro sentindo meu peito doer. — Por que fez isso, hein? Por que brincou desse jeito comigo? -Grito sem nem me preocupar com o fato de que estamos fazendo uma cena para quem quiser assistir.
— PORQUE EU TE AMO CARAMBA! -Ele exclama e dou um passo para trás quase como se tivesse sido golpeada pelas suas palavras. — Eu tinha medo justamente disso, Violet! Sabia que no momento em que você soubesse a verdade, tudo estaria acabado entre nós dois e não queria aceitar o fato de que sou um burro, um idiota por permitir isso! -Benjamin leva as mãos até os cabelos e puxa os fios castanhos em um ato desesperado.
— Você tem a coragem de se justificar dizendo que me ama? É incrível o quão baixo caiu, Benjamin. -Rosno me controlando para não acabar fazendo a besteira de lhe dar outro tapa. Sinto tanta fúria nesse momento que seria capaz de reduzi-lo a um punhado com minhas próprias mãos, contudo, se fizer isso, então serei igual ou pior que ele.
— Não estou justificando nada... sei que errei, mas eu precisava que soubesse que não fiz por mal. Eu te amo, sempre te amei. No dia do acidente eu ia me declarar para você... -Confessa cabisbaixo e meu coração erra uma batida.
Então é por isso que ele estava tão ansioso para que eu fosse até aquela maldita festa.
— Você não faz ideia da culpa que carrego em saber que por minha causa você quase... -fecho os olhos instintivamente ao pensar nessa possibilidade — de que se não fosse por minha ideia estúpida de correr embriagado, você não teria sofrido. Não tem noção de como me sinto um idiota por colocar sua vida em risco daquela maneira, Violet. Eu não queria que nada disso tivesse acontecido e me arrependo a cada dia por tudo o que eu fiz. -As lágrimas agora escorrem pelo seu rosto como duas cachoeiras incessantes e por mais que esteja furiosa com ele, indo contra todos os meus princípios, sinto a necessidade de consolá-lo, de abraçar seu corpo e dizer que tudo vai ficar bem.
Mas não posso. Não depois de hoje.
Fecho as mãos em punho e sinto a sua pulseira queimando minha pele.
— Sabe o que é mais engraçado? -Me aproximo dele com o queixo erguido. — Ao contrário do que você pensou, eu jamais ficaria brava com você por indiretamente ter participado do acidente. -Declaro abatida. — Isso realmente não foi culpa sua, poderia ter sido literalmente qualquer um. -Seus olhos se arregalam em compreensão e solto uma risada triste. — O que me machucou profundamente, foi saber que você, entre todas as pessoas, não confia em mim. -A seriedade e mágoa na minha voz são como duas facas afiadas que me dilaceram por dentro.
— Mesmo me conhecendo a vida toda, mesmo eu tendo me entregado para você de corpo e alma, mesmo assim você escolheu ir pelo caminho fácil e supôs que eu te julgaria dessa maneira. -Seguro sua mão aberta e deixo cair a pulseira que ele me deu entre seus dedos trêmulos. Ele observa o movimento sem dizer nada. — Depois de todo esse tempo, você continuou sendo o mesmo imaturo que desapareceu sem me dar uma explicação, só que agora como te disse tantas vezes, é tarde demais para voltar atrás. Adeus, Benjamin. -Me afasto em direção à entrada e agradeço aos céus por Brenda estar me esperando do outro lado da rua. Corro até o seu carro e abro a porta me jogando no assento do passageiro chorando como nunca tinha feito em toda a minha vida.
NOTA DO AUTOR
Bom, como tinha dito, se eu acabasse hoje, eu postaria o capítulo.
E aqui estamos.
Não vou nem dizer nada pq estou tão chocada quanto vocês...
Tenham todos um ótimo final de semana,
Não se esqueçam de votar e comentar!
Amo vcs😍
Bjinhosssss BF 💜💜💜
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